<- Biblioteca de Cabala
Continuar a Ler ->
Biblioteca de Cabala

Rabash

Artigos
1984 - 01 | O Propósito da Sociedade - 1 1984 - 01 (Parte 2) | O Propósito da Sociedade - 2 1984 - 02 | Relativamente ao Amor aos Amigos 1984 - 03 | Amor aos Amigos - 1 1984 - 04 | Cada um deve ajudar o seu Amigo 1984 - 05 | O que nos dá a regra: “Ama o teu próximo como a ti mesmo” 1984 - 06 | Amor aos Amigos - 2 1984 - 07 | Considerando o que está escrito relativamente a “Ama o teu próximo como a ti mesmo” 1984 - 08 | Qual é a Observância da Torá e das Mitzvot que Purifica o Coração? 1984 - 09 | A Pessoa Deve Sempre Vender as Vigas da Sua Casa 1984 - 10 | Qual é o nível que uma pessoa precisa de alcançar para não ter que reencarnar 1984 - 11 | Mérito Ancestral 1984 - 12 | A Questão da Importância da Sociedade 1984 - 13 | Às vezes a Espiritualidade é chamada de “Alma” [Neshama] 1984 - 14 | A Pessoa Deve Vender Tudo o Que Possui e Casar Com a Filha de Um Discípulo Sábio 1984 - 15 | Pode Alguma Coisa Negativa Descer do Alto 1984 - 16 | A Questão da Doação 1984 - 17 | Relativamente à Importância dos Amigos 1984 - 17 (Parte 2) | O Programa da Assembleia de Amigos 1984 - 18 | E Vai Acontecer Quando Vier Para a Terra Que o Senhor Seu Deus Lhe Dá 1984 - 19 | Vocês que Permanecem Aqui, Juntos 1984 - 01 | Faça para Si um Rav e Compre para Si um Amigo - 1 1985 - 02 | O Significado de Raiz e Ramo 1985 - 03 | O Significado de Verdade e Fé 1985 - 04 | Estas São As Gerações de Noé 1985 - 05 | Parte da Tua Terra 1985 - 06 | E o Senhor Apareceu-lhe nos Carvalhos de Mamre 1985 - 07 | A Vida de Sara 1985 - 08 | Faça para si um Rav e Compre para si um Amigo - 2 1985 - 09 | E as Crianças Debatiam-se Dentro Dela 1985 - 10 | E Jacó Saiu 1985 - 11 | Relativamente ao Debate Entre Jacó e Labão 1985 - 12 | Jacó Habitava na Terra Onde o Seu Pai Viveu 1985 - 13 | Rocha Poderosa da Minha Salvação 1985 - 14 | Eu Sou o Primeiro e Eu Sou o Último 1985 - 15 | E Ezequias Voltou o Rosto Para a Parede 1985 - 16 | Quanto Mais os Oprimiram 1985 - 17 | Sabe Hoje e Responde ao Teu Coração 1985 - 18 | Relativamente aos Caluniadores 1985 - 19 | Venha Até Ao Faraó - 1 1985 - 21 | Devemos Sempre Distinguir Entre a Torá e o Trabalho 1985 - 24 | Três Tempos no Trabalho 1985 - 25 | Em Todas as Coisas, Devemos Distinguir Entre a Luz e o Kli [vaso] 1985 - 29 | O Senhor está Próximo de Todos os que Chamam Por Ele 1985 - 30 | Três Orações 1985 - 31 | Ninguém Se Considera a Si Próprio Como Ímpio 1985 - 36 | E Houve o Entardecer e Houve a Manhã 1985 - 37 | Quem Vai Testemunhar Pela Pessoa? 1985 - 39 | Escuta a Nossa Voz 1986 - 02 | Inclina o Ouvido, Ó Céu 1986 - 06 | Confiança 1986 - 07 | A Importância da Oração de Muitos 1986 - 10 | Relativo à Oração 1986 - 11 | A Oração Verdadeira é Acerca de Uma Carência Verdadeira 1986 - 12 | Qual é a Principal Carência pela Qual Devemos Orar? 1986 - 13 | Venha até ao Faraó - 2 1986 - 15 | A Oração de Muitos 1986 - 17 | O Programa da Assembleia de Amigos - 2 1986 - 18 | Quem Causa a Oração 1986 - 19 | Relativamente à Alegria 1986 - 21 | Relativamente a ‘Acima da Razão’ 1986 - 22 | Se Uma Mulher Conceber 1986 - 24 | A Diferença entre Caridade e Presentes 1986 - 32 | A Razão Para Endireitar as Pernas e Cobrir a Cabeça Durante a Oração 1986 - 36 | O Que é a Preparação para as Selichot [Perdão] 1987 - 04 | É Proibido Ouvir uma Coisa Boa de uma Pessoa Má 1987 - 09 | A Grandeza de Uma Pessoa Depende da Medida da Sua Fé no Futuro 1987 - 10 | Qual é a Substância da Calúnia e Contra Quem é? 1987 - 12 | O Que Significa o Meio Shekel no Trabalho- 1 O Significado da Proibição Estrita de Ensinar a Torá aos Idólatras O Que Significa no Trabalho a Gravidade da Cabeça? 1987 - 28 | O Que Significa no Trabalho: "Não Acrescentar Nem Diminuir" O que Significa “De Acordo com a Dor, Assim é a Recompensa”? 1988 - 03 | O Que Significa que o Nome do Criador é “Verdade” 1988 - 04 | Qual é o Significado da Oração por Ajuda e Perdão no Trabalho? 1988 - 05 | O que Significa no Trabalho “Quando Israel Está no Exílio, a Shechina Está com Eles”? 1988 - 06 | Qual a Diferença no Trabalho Entre um Campo e um Homem do Campo? 1988 - 08 | Qual é o Significado de que Aquele Que Ora Deve Explicar as Suas Palavras Corretamente? 1988 - 10 | Quais São os Quatro Atributos, no Trabalho, Para Aqueles que Vão ao Seminário? 1988 - 13 | O Que Significa no Trabalho que “O Pastor do Povo é Todo o Povo”? 1988 - 14 | A Necessidade de Amor aos Amigos 1988 - 15 | O que Significa no Trabalho que “Não Há Benção Num Lugar Vazio”? 1988 - 16| Qual é a Fundação na Qual a Kedusha é Construída? 1988 - 21 | O que Significa, no Trabalho, que a Torá foi Dada a Partir da Escuridão? 1988 - 23 | O Que Significa no Trabalho Que Começamos em Lo Lishma? 1988 - 30 | O Que Procurar na Assembleia de Amigos 1988 - 32 | Quais São as Duas Ações Durante a Descida? 1989 - 03 | Qual é a Diferença entre o Portão das Lágrimas e os Restantes Portões 1989 - 04 | O que é um Dilúvio de Água no Trabalho? 1989 - 05 | O que Significa que a Criação do Mundo foi por Generosidade? 1989 - 06 | O Que é o ‘Acima da Razão’ no Trabalho 1989 - 12 | O que é a Refeição do Noivo? 1989 - 19 | O que é no Trabalho “Não Há Bênção no que é Contado”? O que Significa no Trabalho que um “Homem Embriagado Não Deve Orar”? 1989 - 22 | Quais São as Quatro Perguntas que Fazemos Especificamente na Noite de Pesach? 1989 - 23 | O que é Significa no Trabalho: Se Engoliu a Maror [Erva Amarga], Não Cumpriu? 1989 - 40 | O que Significa no Trabalho que “Cada Dia Eles Serão Como Novos aos Teus Olhos” 1990 - 05 | O Que Significa no Trabalho Que a Terra Não Deu Fruto Antes do Homem Ser Criado O Que Significa no Trabalho, Colocar a Vela de Chanukah à Esquerda Por que razão a Torá é chamada de ‘Linha do Meio’ no Trabalho? - 2 O Que Significa no Trabalho Que a Bênção Não Se Encontra em Algo Que Está Contado? O que Significa no Trabalho que a “Taça de Benção Deve Estar Cheia”? O que Significa no Trabalho “Regressa Ó Israel ao Senhor Teu Deus”? O Que Significa no Trabalho: “As Boas Ações dos Justos São as Gerações”? O Que Significa no Trabalho que “O Rei Permanece no Seu Campo Quando a Colheita está Pronta”? Estas Velas São Sagradas O Que Significa "Entregaste os Fortes Nas Mãos dos Fracos" no Trabalho Espiritual? 1991 - 25 | O que Significa que Aquele que Se Arrepende Deve Fazê-lo em Alegria? 1991 - 27 | O que Significa no Trabalho: “Se a Mulher Conceber Primeiro, Dará à Luz um Filho”? O que significa no trabalho: 'Coma dos seus frutos neste mundo, e o principal permanece para o Mundo Vindouro'? O Que Significa no Trabalho “Torá” e “O Estatuto da Torá”

Michael Laitman

Biblioteca de Cabala "Principal" / Rabash / Artigos / 1986 - 21 | Relativamente a ‘Acima da Razão’

Relativamente a ‘Acima da Razão’


Artigo 21, 1986
Relativamente a ‘Acima da razão’, devemos usar esta ferramenta tanto entre amigos como entre um indivíduo e o Criador. Contudo, existe uma diferença entre eles. Entre um indivíduo e o Criador, esta ferramenta deve permanecer para sempre. Ou seja, nunca se deve subestimar esta ferramenta, chamada "fé acima da razão". Mas entre amigos, se ele puder ver a virtude do seu amigo dentro da razão, tanto melhor.
E, no entanto, a natureza do corpo é ao contrário, vê sempre o defeito do amigo e não as suas virtudes. É por isso que os nossos sábios disseram: "Julga cada pessoa favoravelmente." Ou seja, embora dentro da razão veja que o seu amigo está errado, ainda assim deve tentar julgá-lo favoravelmente. E isso pode ser acima da razão. Portanto, embora logicamente ele não o consiga justificar, acima da razão ele pode justificá-lo mesmo assim.
Todavia, se ele puder justificá-lo dentro da razão, isso é certamente melhor. Se, por exemplo, ele vir que os amigos estão num nível mais elevado do que o seu, ele vê dentro da razão como está em total inferioridade comparado com os amigos, que todos os amigos cumprem o horário de chegada ao seminário, e demonstram maior interesse em tudo o que acontece entre os amigos, para ajudar qualquer um de qualquer forma que possam, e implementam imediatamente cada conselho dos Professores para o trabalho na prática, etc., isso certamente afeta-o e dá-lhe força para superar a sua preguiça, tanto quando precisa de acordar antes do amanhecer como quando é despertado.
Também, durante a lição, o seu corpo está mais interessado nas lições, pois caso contrário ficará atrás dos seus amigos. Além disso, com tudo o que diz respeito à Kedusha [santidade], ele deve levá-lo mais a sério porque o corpo não tolera a inferioridade. Para além disso, quando o seu corpo olha para os amigos, vê dentro da razão que todos eles estão a trabalhar para o Criador, e então o seu corpo também o deixa trabalhar para o Criador.
E a razão pela qual o corpo o ajuda a mudar para a forma de doação é como mencionado, o corpo não está disposto a tolerar a inferioridade. Pelo contrário, cada um tem orgulho, e ele não está disposto a aceitar uma situação em que o seu amigo seja maior do que ele. Assim, quando vê que os seus amigos estão num nível mais elevado do que o seu, isso faz com que ele ascenda em todos os aspectos.
Este é o significado do que os nossos sábios disseram: "A inveja dos escritores aumenta a sabedoria." Ou seja, quando todos os amigos olham para a sociedade como estando num nível elevado, tanto em pensamentos como em ações, é natural que cada um deva elevar o seu nível a um nível superior ao que possui pelas qualidades do seu próprio corpo.
Isto significa que, mesmo que de forma inata ele não tenha anseio por grandes desejos ou não seja intensamente atraído pela honra, ainda assim, através da inveja, ele pode adquirir poderes adicionais que não possui na sua própria natureza. Em vez disso, a força da qualidade da inveja nele, gerou novos poderes dentro dele, que existem na sociedade. E através deles, ele recebeu essas novas qualidades, ou seja, poderes que não lhe foram inscritos pelos seus progenitores. Assim, agora ele tem novas qualidades que a sociedade gerou nele.
Conclui-se que a pessoa tem qualidades que os seus pais legaram aos seus filhos, e tem qualidades que adquiriu da sociedade, que é uma nova posse. E isto chega-lhe apenas através da ligação com a sociedade e da inveja que ele sente em relação aos amigos quando vê que eles têm melhores qualidades do que as suas. Isso motiva-o a adquirir as boas qualidades deles, que ele não tem e das quais tem inveja.
Assim, através da sociedade, ele ganha novas qualidades que adota ao ver que eles estão num nível mais elevado do que o seu, e ele tem inveja deles. Esta é a razão pela qual agora, ele pode ser maior do que quando não tinha uma sociedade, pois adquire novos poderes através da sociedade.
Contudo, isto pode ser dito se ele realmente vir os amigos num nível mais elevado do que o seu. Mas, ao mesmo tempo, a inclinação ao mal mostra-lhe a inferioridade da sociedade e fá-lo pensar: "Pelo contrário, esta sociedade com a qual desejas ligar-te não é para ti. Eles estão muitos níveis abaixo do teu. Assim, de tal sociedade, não só não ganharás nada, mas, pelo contrário, até as forças inatas que tens, que são pequenas, são maiores do que as que existem nesta sociedade."
"Assim, deverias, de facto, manter-te afastado deles. E se quiseres mesmo ligar-te a eles, pelo menos assegura-te de que todos te obedeçam, ou seja, que sigam a tua compreensão de como a sociedade deve comportar-se: como se sentam quando se reúnem, como estudam e como oram. Ou seja, ou são todos sérios, e Deus nos livre que sequer sorriam ou alguma vez discutam os assuntos mundanos dos amigos, se ganham a vida, ou como a ganham, com facilidade ou com dificuldades, se ele tem um emprego onde não sofre, ou um senhorio difícil que lhe dá dificuldades, ou se os colegas de trabalho não o ridicularizam por ser ortodoxo," etc.
Todos esses assuntos não têm importância e é uma perda de tempo pensar neles, pois são apenas questões corpóreas. Ele, por outro lado, veio participar numa assembleia de Israel com um propósito nobre, que é ser um verdadeiro servo do Criador."
Conclui-se que, quando ele deseja esquecer a sua corporeidade, quando, na verdade, a sua corporeidade o preocupa profundamente e ele a deixa de lado e não quer lembrar-se dela, os amigos vêm e começam a discutir a corporeidade dos seus amigos. E ele não se importa com a corporeidade dos amigos, pois agora quer espiritualidade, "Então, por que estão os amigos de repente a perturbar-me a mente com coisas mundanas que não me dizem respeito algum? Foi por isso que quis esquecer a minha corporeidade, para ter tempo de pensar na corporeidade dos amigos, será possível?" Assim, "É melhor ouvires-me e manteres-te afastado deles", diz-lhe o seu corpo, "E certamente terás mais sucesso. Por que perturbar a tua mente com tais disparates?"
Portanto, quando o corpo lhe mostra a inferioridade dos seus amigos, o que pode ele responder ao seu corpo quando este vem com argumentos de um justo? Ou seja, o corpo não o aconselha a afastar-se da sociedade porque o corpo está a sugerir que ele seja mau. Pelo contrário, o corpo diz-lhe, "Ao manteres-te afastado da sociedade, serás justo e pensarás apenas na tua espiritualidade, e, quando necessário, na tua corporeidade também."
Por conseguinte, se a pessoa acredita que sem uma sociedade é impossível avançar e alcançar o amor do Criador, pois esta é a base para sair do amor-próprio e entrar no amor do Criador, ele não tem outra escolha senão ir acima da razão. Ele deve dizer ao seu corpo, "O facto de tu veres que eles não estão realmente no nível de desejar alcançar o amor do Criador como tu o desejas, ou seja, como tu és o meu corpo, vejo em ti que és mais sagrado do que os restantes corpos dos amigos, pois desejas ser um servo do Criador.
"Vejo que me estás a aconselhar a deixar os amigos porque os seus corpos já mostram a sua inferioridade e eles não têm força para esconder as suas tendências impróprias, pois as pessoas normalmente escondem o mal que há nelas umas das outras para que os outros as respeitem por terem qualidades notáveis. Mas aqui, o mal deles é tão grande que não conseguem superar o mal e escondê-lo para que os outros não os vejam. Assim, do meu ponto de vista, eles são certamente ignóbeis.
"Contudo, sem uma sociedade eu não vou ganhar nada, apesar de todas as minhas boas qualidades. Assim, acima da razão, vou manter o que os nossos sábios disseram (Avot, Capítulo 4), ‘Sê muito, muito humilde.’ Ou seja, devo ir acima da razão e acreditar que eles estão num nível mais elevado do que o meu. E então, na medida da minha fé, poderei receber encorajamento e força da sociedade e receber deles o que a sociedade pode dar."
Conclui-se que a única razão pela qual ele aceita o amor dos amigos acima da razão é por necessidade, por falta de outras opções, mas dentro da razão ele vê que está certo.
No entanto, é precisamente aqui, ou seja, em relação aos amigos, que dentro da razão é mais importante do que o nível de acima da razão. Isto acontece porque, na verdade, quando a pessoa deseja aproximar-se da Dvekut [adesão] com o Criador, através do trabalho que deseja fazer apenas para a doação, o mal começa a aparecer nele. E a questão do reconhecimento do mal não é uma questão intelectual. Pelo contrário, é uma sensação no coração.
Isto significa que ele deve sentir acerca de si próprio que é pior e mais inferior do que todo o mundo. E se ele não o chegou a sentir, mas pensa que há alguém que ainda é pior do que ele, então provavelmente não obteve o reconhecimento do mal. Ou seja, o mal ainda está escondido no seu coração e ainda não foi revelado nele.
Isto acontece porque é possível ver o mal apenas quando ele tem algum bem. Por exemplo, é impossível detectar qualquer sujidade na casa se estiver escuro. Mas quando acendemos uma lâmpada, podemos ver que há sujidade ali.
Também, se alguém não faz boas ações, não se dedica à Torá e à oração, e não deseja aproximar-se do Criador, ele não tem luz para iluminar o seu coração e permitir-lhe ver o mal no seu coração. Conclui-se que a razão pela qual ele ainda não vê que há mais mal no seu coração do que em todos os amigos é que ele precisa de mais bem. Por esta razão, ele pensa que é mais virtuoso do que os seus amigos.
Conclui-se, portanto, que o facto de ele ver que os seus amigos são piores do que ele provém da sua falta de luz, que vai brilhar para ele, para que veja o mal em si próprio. Assim, toda a questão do mal que existe no homem não está em encontrar o mal, pois todos têm este mal, chamado "desejo de receber para receber", que é o amor-próprio. Pelo contrário, a diferença está totalmente na revelação do mal. Ou seja, nem todas as pessoas veem e sentem que o amor-próprio é mau e prejudicial, pois a pessoa não percebe que o envolvimento em satisfazer o seu desejo de receber, chamado "amor-próprio", lhe causará dano.
Contudo, quando ele começa a realizar o trabalho sagrado no caminho da verdade, ou seja, quando deseja alcançar a Dvekut [adesão] com o Criador, de modo que todas as suas ações sejam para o Criador, através disto ele recebe um pouco mais de luz que brilha para ele a cada vez, e então começa a sentir o amor-próprio como algo mau.
É um processo gradual. Cada vez que ele vê que é isso que o impede de alcançar a Dvekut [Adesão] com o Criador, ele vê mais claramente a cada vez como isso, o desejo de receber, é o seu verdadeiro inimigo, tal como o Rei Salomão se referiu à inclinação ao mal como "um inimigo". Está escrito acerca disto: "Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe pão, pois vais amontoar brasas ardentes sobre a sua cabeça."
Vemos, portanto, que, em verdade, a pessoa deveria sentir que é pior do que os outros, porque esta é, de facto, a verdade. E também devemos compreender o que os nossos sábios disseram: "A inveja dos escritores aumenta a sabedoria." Isto é precisamente dentro da razão. Mas acima da razão, o mérito do seu amigo não é suficientemente evidente para dizer que ele tem inveja do seu amigo, de modo que isso o levasse a trabalhar e esforçar-se porque o amigo o obriga, devido à inveja.
Baal HaSulam interpretou uma frase do Rabi Yohanan: "O Criador viu que os justos eram poucos. Ele permaneceu e plantou-os em cada uma das gerações", como é dito: "Pois os pilares da Terra são do Senhor, e Ele colocou o mundo sobre eles." RASHI interpreta: "Espalhou-os por todas as gerações", para serem uma base, sustento e a fundação para a existência do mundo (Yoma 78b). "Poucos" significa que estavam a diminuir. Assim, o que fez Ele? "Ele permaneceu e plantou-os em cada uma das gerações." Deste modo, ao plantá-los em cada geração, eles multiplicar-se-iam.
Devemos compreender como se multiplicariam se Ele os plantou em todas as gerações. Devemos entender a diferença entre todos os justos estarem numa única geração e estarem espalhados por todas as gerações, como se entende das palavras do comentário de RASHI, que ao espalhá-los por todas as gerações os justos aumentariam.
Ele, Baal HaSulam, disse: "Ao haver justos em cada geração, haverá um lugar para pessoas que não têm as qualidades inatas para alcançar a Dvekut [Adesão] com o Criador. No entanto, ao ligarem-se aos justos que estarão em cada geração, através da adesão a eles, vão aprender com as suas ações e poderão adquirir novas qualidades através dos justos que estarão em cada geração. É por isso que Ele espalhou os justos em cada geração, para que deste modo os justos aumentassem."
E como foi dito, o mesmo pode ser obtido pela adesão aos amigos, novas qualidades pelas quais eles se vão qualificar para alcançar a Dvekut [Adesão] com o Criador. E tudo isto pode ser dito enquanto ele vê os méritos dos amigos. Nessa altura, é pertinente dizer que ele deve aprender com as suas ações. Mas quando ele vê que está mais qualificado do que eles, não há nada que ele possa receber dos amigos.
É por isso que disseram que, quando a inclinação ao mal vem e lhe mostra a inferioridade dos amigos, ele deve ir acima da razão. Mas certamente seria melhor e mais bem-sucedido se ele pudesse ver dentro da razão que os amigos estão num nível mais elevado do que o seu. Com isso podemos compreender a oração que o Rabino Elimelech escreveu para nós: "Que os nossos corações vejam as virtudes dos nossos amigos, e não os seus defeitos."
Todavia, entre um indivíduo e o Criador, é uma questão completamente diferente. Ou seja, acima da razão é melhor. Isto significa que, se ele assumir a fé acima da razão, o seu trabalho está na direção certa. Não é assim dentro da razão, embora o intelecto da pessoa compreenda de forma diferente. Ou seja, cada pessoa sabe e entende que, se não tivesse de acreditar, mas a Providência Dele fosse revelada em todo o mundo, ou seja, a todas as criaturas, certamente todo o mundo se dedicaria à Torá e às Mitzvot, e não haveria lugar para pessoas seculares. Pelo contrário, todos seriam ortodoxos.
No entanto, a Sua Providência não é revelada aos inferiores. Em vez disso, eles devem acreditar. Contudo, a fé é algo difícil, pois o Criador deu-nos intelecto e razão para vermos cada coisa segundo os nossos próprios olhos. Consideramos tudo o que diz respeito às relações humanas segundo o nosso melhor julgamento, e não há nada que nos dê distinções exceto os nossos intelectos, como disseram os nossos sábios: "Um juiz tem apenas o que os seus olhos veem" (Baba Batra 131). Conclui-se que conduzimos todos os nossos assuntos dentro da razão, e não acima da razão.
E por esta razão, quando a pessoa começa o trabalho do Criador e lhe é dito que deve assumir a fé acima da razão, ele começa a pensar: "Mas eu vejo que o Criador nos deu a razão para entendermos tudo segundo o intelecto, ou seja, segundo a forma como os nossos intelectos compreendem. Assim, como posso assumir algo que vai contra o meu intelecto?" É algo muito difícil para o corpo compreender que é do seu interesse realizar o trabalho de santidade acima da razão.
Acima da razão aplica-se tanto ao intelecto como ao coração. É por isso que nem todas as pessoas podem entrar no trabalho de santidade na forma de doação, que é o trabalho acima da razão. Portanto, ao ensinar o resto do mundo o trabalho do Criador, a ordem é como disse Maimónides, que começam em Lo Lishma [não pelo Seu Benefício] até que ganhem conhecimento e adquiram muita sabedoria, e então é-lhes dito que a essência do trabalho é para a doação, o que é chamado "trabalho para o Criador".
Todavia, devemos compreender por que acima da razão é melhor. O contrário parece fazer mais sentido, que se servir o Criador estivesse revestido dentro da razão, mais pessoas viriam e iriam querer ser servos do Criador. Baal HaSulam disse acerca disso que não devemos pensar que, quando o Criador nos dá o Seu trabalho na forma de acima da razão, que isso é um nível baixo. Pelo contrário, devemos acreditar que é um nível muito elevado, pois só assim se tem a oportunidade de poder trabalhar para a doação. Caso contrário, ele teria de cair na forma de receção.
Portanto, embora mais pessoas estivessem a servir se o trabalho fosse dentro da razão, elas nunca conseguiriam alcançar a Dvekut [Adesão] com o Criador, que é o trabalho para a doação. Assim, embora houvesse um aumento em quantidade, em termos de qualidade, seria impossível para o homem receber o deleite e o prazer que o Criador deseja dar às criaturas, segundo o Seu desejo: fazer o bem às Suas criações.
Deste modo, para que o deleite e o prazer que as criaturas vão receber sejam impecáveis, ou seja, para evitar ter o pão da vergonha, houve a correção do Tzimtzum [restrição], que a abundância superior não brilhasse a menos que houvesse equivalência de forma. Isto é considerado que as criaturas recebem a abundância em vasos de doação. E quando não há vasos de doação nas criaturas, elas devem permanecer na escuridão, o que é chamado "vão morrer sem sabedoria".
Contudo, devemos saber que, embora haja a luz da Torá em Lo Lishma também, sobre a qual os nossos sábios disseram: "A pessoa deve sempre dedicar-se à Torá e às Mitzvot em Lo Lishma porque de Lo Lishma chegamos a Lishma, pois a luz nela vai reformá-lo", depois, devemos alcançar Lishma. Ou seja, ele deve alcançar o trabalho acima da razão no intelecto e no coração.
Mas entre um homem e o seu amigo, se ele puder trabalhar no amor aos amigos dentro da razão, ou seja, se ele tentar ver os amigos como estando num nível mais elevado de santidade do que ele próprio, isso é certamente melhor. Ou seja, se ele vê, dentro da razão, que os amigos estão mais próximos da Dvekut [Adesão] com o Criador do que ele, é certamente melhor do que se tivesse de acreditar acima da razão.
Assim, em verdade, ele vê que está num nível mais elevado do que os amigos. Dentro da razão, ele sempre vê os amigos como inferiores. No entanto, ele acredita acima da razão que deve dizer, porque é uma Mitzva [mandamento/boa ação], que deve acreditar que não é como ele vê. Certamente, se ele puder ver dentro da razão que os amigos estão em níveis de santidade, tanto melhor.
Do mesmo modo, podemos interpretar o versículo (Samuel, 16:7): "Mas o Senhor disse a Samuel, ‘Não olhes para a sua aparência nem para a altura da sua estatura, porque Eu rejeitei-o; pois não é como o homem vê, pois o homem olha para os olhos, mas o Senhor olha para o coração.’"
Vemos, portanto, que quando o Criador enviou Samuel para ungir um dos filhos de Yishai [Jessé], Samuel entendeu pelo que viu com os seus olhos que Eliav, filho de Yishai, era apto para ser o rei de Israel em vez do Rei Saul, mas o Criador discordou da sua percepção. No final, trouxeram David, que estava a pastorear o gado, e David era ruivo, com olhos claros e de boa aparência, "E o Senhor disse, ‘Levanta-te, unge-o; pois este é ele.’"
O que nos ensina isto? Há duas coisas que vemos aqui:
1) Do ponto de vista de Samuel, ele compreende as virtudes de Eliav, segundo o seu intelecto, como sendo adequadas para ser rei sobre Israel. Mas o Criador disse-lhe: "Não, não sigas a tua própria razão", pois, quando se trata do Criador, a razão não tem valor. Pelo contrário, como o Criador queria elevar ao trono um rei, isto é chamado "entre um indivíduo e o Criador", onde não há lugar para a razão, "Pois os Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os Meus caminhos os vossos caminhos." Ao invés, o que lhe disse o Criador? "Pois não é como o homem vê, pois o homem olha para os olhos, e o Senhor olha para o coração."
De acordo com o acima exposto, podemos interpretar que "Pois o homem olha para os olhos" é bom entre uma pessoa e o seu amigo. Nesse caso, é bom se alguém puder ir dentro da razão, que esteja de acordo com o que vê.
Não é assim com "E o Senhor olha para o coração." Ou seja, no que diz respeito às questões do Criador, é acima da razão e não se deve olhar segundo os seus próprios olhos, mas acima da razão. Assim, devem ser feitos aqui dois discernimentos: 1) Entre a pessoa e o Criador, acima da razão é melhor; 2) entre a pessoa e o seu amigo, dentro da razão é melhor.
É por isso que o Criador lhe disse: "Não olhes para a sua aparência", pois seguir os seus olhos é bom entre um homem e o seu amigo. Se puderes ver os méritos do amigo dentro da razão, tanto melhor. Mas não é assim aqui, quando quero ungir alguém como rei. Esta operação pertence-Me. Eu quero-o como rei. Isto é chamado "entre uma pessoa e o Criador". Aqui, o trabalho apropriado é acima da razão, pois precisamente deste modo é possível alcançar a recepção para doação. Caso contrário, ele vai cair em receber para receber, o que causa separação e afastamento da Kedusha [santidade].
No entanto, aqui surge uma questão, depois de alguém ter decidido ir acima da razão e não olhar para todas as perguntas que o corpo começa a fazer. Quando ele começa a trabalhar no caminho da doação e da fé acima da razão, e supera os obstáculos, as questões que o corpo lhe traz do mundo, e fecha os olhos e não deseja olhar para nada que contradiga o seu intelecto e o coração, mas decidiu ir apenas acima da razão, após esta decisão, por vezes, subitamente, ele traz grandes desculpas com as quais o corpo tem de concordar.
Assim, ele vê que agora está a ir dentro da razão. Mas o que pode ele fazer quando agora vê, através das desculpas que recebeu do Alto, que diz a si próprio: "O que posso fazer agora que não tenho um lugar onde possa trabalhar acima da razão? Vejo agora que tudo o que faço para doar é como deve ser."
Deste modo, ele já não tem quaisquer perguntas sobre servir o Criador, que o forcem a trabalhar acima da razão. Mas como o trabalho é principalmente acima da razão, o que pode ele fazer quando está num estado assim?
Baal HaSulam disse que quando a pessoa é recompensada com alguma revelação do Alto e agora sente que vale a pena ser um servo do Criador, conclui-se que até então ele tinha trabalho na forma de acima da razão: o corpo discordava deste trabalho e ele tinha sempre de superar, e precisava que o Criador lhe desse força acima da razão. Mas agora ele já não precisa da ajuda do Criador, pois agora sente que tem uma base sobre a qual construir a sua estrutura. Ou seja, ele já tem um suporte no qual se apoiar.
Assim, agora ele está a macular a fé que usava antes, pois agora já pode dizer: "Graças a Deus livrei-me do fardo da fé, que era um peso e uma carga para mim." Mas agora já tenho uma base dentro da razão porque agora recebi um despertar do Alto para que o corpo concorde que vale a pena manter a Torá e as Mitzvot. Conclui-se que, com isso, ele está a macular a fé.
E Baal HaSulam disse que nessa altura, devemos dizer: "Agora vejo que o verdadeiro caminho é, na verdade, ir acima da razão. E a prova disso é o facto de que agora fui agraciado com alguma iluminação do Alto, apenas porque assumi ir acima da razão. Foi por isso que fui recompensado com o Criador me aproximar um pouco mais Dele e me dar algum despertar do Alto."
E esta iluminação que ele agora recebeu dá-lhe uma resposta a todas as perguntas. Conclui-se que isto testemunha o acima da razão. Assim, o que devo fazer agora para continuar acima da razão? Há apenas que reforçar e começar a procurar formas de revestir o seu trabalho em acima da razão.
Conclui-se que, com isso, ele não maculou de forma alguma a sua fé, pois estava a caminhar nela antes de ser agraciado com qualquer iluminação do Alto, uma vez que mesmo agora ele não está a receber a iluminação como uma base sobre a qual construir a estrutura do seu trabalho. Pelo contrário, ele está a receber a iluminação como um testemunho de que está no caminho certo, de que está em fé acima da razão. Só nesta forma de trabalho é que o Criador aproxima a pessoa de Si e lhe dá um lugar para se aproximar Dele, pois esta aproximação não o vai deixar cair nos vasos de recepção, que são chamados "dentro da razão", uma vez que o Criador vê que ele está a tentar ir apenas acima da razão.
Conclui-se de tudo o que foi dito acima que, no que diz respeito a acima da razão, há uma diferença entre uma pessoa-e-o-Criador e uma pessoa-e-o-seu-amigo. Entre a pessoa e o seu amigo, se ele puder ver os méritos dos amigos dentro da razão, é melhor. Mas se dentro da razão ele vê apenas os defeitos dos amigos, não tem escolha senão ir acima da razão e dizer: "O que eu vejo, ouço e sinto está tudo errado e não é verdade. É impossível que eu me tenha enganado sobre os amigos que escolhi para me unir, ou seja, que eu tenha calculado mal.
"Ou seja, pensei que me tornaria mais rico em espiritualidade através deles, pois eles tinham posses que eu não tinha. Assim, se me ligasse a eles, poderia elevar-me a um nível mais elevado do que pensava. Mas agora vejo que, na verdade, estou a discernir de outra forma. E ouvi que Baal HaSulam disse que a única coisa que pode ajudar a pessoa a sair do amor-próprio e ser agraciada com o amor do Criador é o amor pelos amigos. Por isso, não tenho escolha senão unir-me a esses amigos, embora, na minha opinião, seria melhor para mim manter-me afastado deles e não me ligar a eles.
"Contudo, não tenho escolha e devo acreditar acima da razão que, de facto, todos os amigos estão num nível elevado, mas eu não consigo ver a sua virtude com os meus olhos." É por isso que ele deve acreditar acima da razão. Mas quando ele vê o mérito dos amigos dentro da razão, pode certamente tirar grandes benefícios dos amigos. Mas o que pode ele fazer? Não tem escolha.
Todavia, é uma ordem diferente entre a pessoa e o Criador. Num lugar onde se pode ir acima da razão, é melhor. Portanto, onde se pode ser auxiliado dentro da razão, sendo recompensado com alguma iluminação do Alto, então ele pode dizer: "Agora vejo que vale a pena ser um servo do Criador porque sinto um bom sabor no trabalho."
Conclui-se que ele tomou esta sensação, que encontra significado no trabalho, como uma base e fundação sobre os quais construir o seu Judaísmo. E agora que ele compreende com a sua razão que vale a pena cumprir a Torá e as Mitzvot, toda a sua fundação está construída nesta condição. Isto significa que, quando ele encontra significado no trabalho, deve obedecer à voz do Criador. Assim, se ele não encontrar significado no trabalho, não poderá manter as Mitzvot do Criador.
É sabido que assumir o reino dos céus deve ser feito "Com todo o teu coração e com toda a tua alma." Ou seja, mesmo que Ele tire a alma de alguém, ou seja, mesmo que ele não tenha sustento, nem mesmo Nefesh, ele ainda está comprometido em ser um servo do Criador e em não apresentar quaisquer condições perante o Criador, dizendo-Lhe: "Se fizeres como eu desejo, segundo o que eu entendo que preciso, ou seja, que sinto uma carência nisso, e se Tu satisfizeres a minha necessidade, prometo ser um servo do Criador. Mas se não satisfizeres todos os meus desejos, aqueles que eu entendo que preciso, não poderei assumir tudo o que me comandas através de Moisés."
Contudo, devemos assumir o fardo do reino dos céus sem quaisquer condições, ou seja, mesmo acima da razão. Além disso, devemos dizer: "O facto de termos de trabalhar acima da razão não é porque o Criador não nos possa dar razão." Pelo contrário, devemos acreditar que tudo é para nosso benefício. Conclui-se que entre a pessoa e o Criador devemos tentar manter o acima da razão, e se ele receber alguma razão, deve fazer como mencionado acima.