Paz no Mundo
Escrutínios e investigações sobre as questões que causam a ausência de paz, sugestões dos reformadores do mundo e a sua verificação em relação à realidade, observando o “bem” que se baseia em “misericórdia e verdade, justiça e paz,” conforme implícito no livro dos Salmos.
“A misericórdia e verdade encontraram-se; a justiça e paz beijaram-se. A verdade vai brotar da terra, e a justiça foi refletida do céu. O Senhor também, dará o bem, e a nossa terra dará o seu fruto” (Salmos 85).
Tudo é Avaliado Não pela Sua Aparência Num Determinado Momento, mas de Acordo o Seu Nível de Desenvolvimento.
Tudo na realidade, seja bom ou mau, e até mesmo o mais prejudicial no mundo, tem direito a existir e não deve ser destruído e erradicado do mundo. Devemos apenas consertá-lo e reformá-lo, pois qualquer observação do trabalho da criação é suficiente para nos ensinar sobre a grandeza e a perfeição do Seu Operador e Criador. Portanto, devemos entender e ser muito cautelosos quando lançamos um defeito sobre qualquer item da criação, dizendo que é redundante e supérfluo, pois isso seria caluniar o Seu Operador, Deus nos Livre!
É de conhecimento comum que o Criador não completou a criação quando a criou. E podemos ver em cada canto da realidade, no geral e no particular, que ela segue leis de desenvolvimento gradual, da ausência até a conclusão do crescimento. Por esta razão, quando o fruto tem um sabor amargo no início do seu crescimento, não o consideramos um defeito do fruto, pois todos sabemos a razão: o fruto ainda não completou o seu desenvolvimento.
Assim é com cada elemento da realidade: Quando um elemento nos parece mau e prejudicial, é apenas um testemunho próprio desse elemento, que ainda está numa fase de transição no processo do seu desenvolvimento. Por isso, não devemos decidir que é mau, e não é sensato lançarmos um defeito sobre ele.
A Fraqueza dos “Reformadores do Mundo”
Esta é a chave para compreender a fraqueza dos reformadores do mundo ao longo das gerações. Eles viam o homem como uma máquina que não está a funcionar corretamente e que precisa de reparação, ou seja, remover as suas partes quebradas e substituí-las por outras, que funcionem.
Esta é a tendência de todos os reformadores do mundo—erradicar tudo o que é prejudicial e mau na espécie humana… e é verdade que, se o Criador não se tivesse oposto a eles, certamente já teriam purificado o homem completamente, deixando nele apenas o que é bom e útil.
Mas porque o Criador protege de forma meticulosa todos os elementos da Sua criação, não permitindo que ninguém destrua uma única coisa no Seu domínio, mas apenas reformá-la e torná-la útil e boa, todos os reformadores do tipo mencionado acima vão desaparecer da terra, e as qualidades más não vão desaparecer. Elas existem e contam os graus de desenvolvimento que ainda precisam de percorrer até completar o seu amadurecimento.
Naquela altura, as próprias qualidades más vão transformar-se em boas e úteis, como o Criador as planeou inicialmente. É como um fruto na árvore que fica à espera e conta os dias e meses que ainda deve aguardar antes de completar o seu amadurecimento, momento em que o seu sabor e doçura se vão tornar evidentes a cada pessoa.
Recompensado—Eu vou Acelerar, Não Recompensado—No Seu Devido Tempo
Devemos saber que a lei de desenvolvimento mencionada acima, que está estendida sobre toda a realidade, é certa para reformar todo o mal em bem e útil, e atua através do poder da autoridade celestial do alto, ou seja, sem pedir permissão às pessoas, aos habitantes da terra. No entanto, o Criador colocou o conhecimento e a autoridade nas mãos do homem e permitiu-lhe aceitar a referida lei de desenvolvimento sob a sua própria autoridade e governação, concedendo-lhe a capacidade de acelerar o processo de desenvolvimento conforme o desejar, livre e completamente independente das limitações do tempo.
Acontece que existem duas autoridades a atuar nesta conduta de desenvolvimento mencionada acima: uma é a autoridade do céu, que é certa para transformar qualquer coisa prejudicial e má, em boa e útil, mas isso vai acontecer no seu devido tempo, à sua maneira, de forma árdua, e depois de um longo tempo. Depois, existe a autoridade da terra. Quando o "objeto em evolução" é um ser vivo e sensível, ele sofre tormentos e dores horríveis enquanto está sob a "pressão do desenvolvimento", que entalha o seu caminho sem piedade.
A "autoridade da terra", no entanto, consiste de pessoas que tomaram esta lei de desenvolvimento sob a seu própria autoridade e podem libertar-se completamente das correntes do tempo, acelerando grandemente o tempo, ou seja, a conclusão da maturação e correção do objeto, que é o fim do seu desenvolvimento.
São estas as palavras que os nossos sábios disseram (Sanhedrin 98) sobre a redenção completa e a correção completa de Israel, e assim esclareceram o versículo "Eu, o Senhor, vou acelerá-lo no seu tempo": Recompensado—Eu vou Acelerar, Não Recompensado—No Seu Devido Tempo.
Eles querem dizer que, se Israel for recompensado e aceitar a lei de desenvolvimento através da qual os seus atributos maus devem passar, para serem invertidos em bons, eles vão trazê-la para a sua própria autorizade. Ou seja, vão concentrar os seus intelectos e corações em corrigir todos os atributos maus que existem neles e transformá-los em bons por si próprios. Então, "Eu vou Acelerar", significa que serão completamente libertados das correntes do tempo. E, a partir de agora, este fim depende da sua própria vontade, ou seja, apenas pela grandeza da ação e da consciência. E desta forma, apressam o fim.
Mas se não forem recompensados com desenvolver os seus atributos maus sob a sua própria autoridade, mas deixarem isso sob a autoridade do céu, também vão alcançar certamente o fim da sua redenção e o fim da sua correção. Isto porque há total certeza na governação do céu, que opera pela lei do desenvolvimento gradual, nível após nível, até transformar todo o mal e prejudicial em bom e benéfico, como o fruto numa árvore. O fim está garantido, mas no seu tempo, ou seja, está completamente ligado e dependente do tempo.
De acordo com a lei do desenvolvimento gradual mencionada acima, é necessário que a pessoa passe por muitos níveis, que tendem a ser árduos e muito lentos, e que se estendem por um longo período de tempo, antes de a pessoa alcançar o fim. Como os objetos de que estamos a falar são seres em evolução, sensíveis e vivos, eles também devem sofrer uma grande agonia e dores nesses estados de desenvolvimento, pois a força compulsória que existe nesses níveis para elevar a pessoa de um nível inferior para um nível superior é apenas uma força impulsionadora da dor e tormentos que se acumulou no nível inferior e que já não pode ser suportada. Por isso, devem deixar esse nível e ascender a um nível superior. Como disseram os nossos sábios: “O Criador coloca sobre eles um rei cujos decretos são tão severos como os de Hamã, Israel arrepende-se, e Ele reforma-os.”
Portanto, o fim está certo de chegar a Israel pela lei de desenvolvimento gradual mencionada acima, e é chamado de "no seu tempo devido", ou seja, ligado às correntes do tempo. E o fim garantido para Israel, ao agarrar o desenvolvimento das suas qualidades sob a sua própria autoridade, é chamado de "Eu vou Acelerar", ou seja, completamente independente do tempo.
O Bem e o Mal São Avaliados Pelas Acções do Indivíduo em Relação à Sociedade
Antes de analisarmos a correcção do mal na raça humana, devemos primeiro determinar o valor desses termos abstractos de “bem” e “mal”. Quando definimos um acto ou um atributo como bom ou mau, devemos esclarecer em relação a quem esse atributo ou acto é bom ou mau.
Para compreender isto, devemos conhecer profundamente o valor proporcional entre o indivíduo e o coletivo, entre o indivíduo e o coletivo em que o indivíduo vive e do qual se nutre, tanto em substância como em espírito.
A realidade mostra-nos que um indivíduo não pode existir de forma isolada sem um número suficiente de pessoas à sua volta para o servir e ajudá-lo a suprir pelas suas necessidades. Daí que o homem, pela sua natureza, tenha nascido para levar uma vida social. Cada indivíduo na sociedade é como uma roda ligada a várias outras rodas colocadas numa máquina. Esta única roda não tem liberdade de movimento em si própria, mas continua com o movimento das restantes rodas numa determinada direcção, qualificando a máquina para realizar a sua função geral.
E se houver alguma avaria na roda, a avaria não é avaliada em relação à roda em si, mas de acordo com o seu serviço e papel em relação à máquina como um todo.
E no nosso assunto, o benefício de cada pessoa dentro do seu coletivo é avaliado não de acordo com o seu próprio benefício, mas de acordo com o seu serviço ao público. E vice-versa, apreciamos a medida do mal de cada indivíduo apenas de acordo com o mal que causa ao público em geral, e não pelo seu próprio valor individual.
Estas questões são cristalinas tanto da perspectiva da verdade nelas contida, como da perspectiva do bem nelas contido. Isto porque o que se encontra no coletivo é apenas o que se encontra no indivíduo, e o benefício do coletivo é o benefício de cada um dos indivíduos. Quem prejudica o coletivo assume a sua parte no mal, e quem beneficia o coletivo assume a sua parte no benefício, já que os indivíduos são partes do todo, e o todo não vale de forma alguma mais do que a soma dos seus indivíduos.
Assim, verifica-se que o coletivo e o indivíduo são um e o mesmo, e o indivíduo não é prejudicado devido à sua submissão ao coletivo, pois a liberdade do coletivo e a liberdade do indivíduo são também uma e a mesma coisa, e tal como partilham o bem, também partilham a liberdade. Assim, os atributos bons e maus, as boas ações e as más ações são avaliados apenas em relação ao benefício ao público.
Claro que as palavras acima se aplicam se todos os indivíduos cumprirem o seu papel em relação ao público, na sua totalidade, e não receberem mais do que merecem, nem se apropriarem da parte do seu amigo. Mas se uma parte do coletivo não se comportar apropriadamente, como consequência, não só prejudicam o coletivo, como também a si próprios.
Não devemos discutir mais, algo que é conhecido por todos, e o que foi dito acima é apenas para mostrar o ponto negativo, o lugar que precisa de correcção, ou seja, que cada indivíduo compreenda que o seu próprio benefício e o benefício do coletivo são uma e a mesma coisa, e através disto, o mundo vai alcançar a sua correcção total.
Os Quatro Atributos, Misericórdia, Verdade, Justiça e Paz, no Indivíduo e no Coletivo
Considerando que conhecemos muito bem qual o atributo de bondade desejado, devemos examinar as coisas e os meios à nossa disposição para acelerar esse deleite e felicidade.
Para esse propósito são fornecidos quatro atributos: misericórdia, verdade, justiça e paz. Até hoje, estes atributos têm sido utilizados por todos os reformadores do mundo. É mais correcto dizer que é com estes quatro atributos que o desenvolvimento humano avançou até ao momento, através da governação do céu, num caminho gradual, até que trouxe a humanidade ao seu estado actual.
Já foi escrito que seria melhor assumirmos a lei do desenvolvimento nas nossas próprias mãos e autoridade, pois assim livrar-nos-íamos de qualquer tormento que a história do desenvolvimento nos reservasse daqui em diante. Assim, deveríamos escrutinar e examinar esses quatro atributos para compreender a fundo o que nos foi dado até agora e, através deles, saber qual a ajuda que devemos esperar receber deles no futuro.
Dificuldades Práticas em Determinar a Verdade
Quando falamos sobre bons atributos, em teoria, não há certamente nenhum atributo melhor do que o atributo da verdade. Isto porque todo o bem que definimos acima na relação entre o indivíduo e o coletivo ocorre quando o indivíduo dá e desempenha a sua parte totalmente para com o coletivo, e também recebe a sua parte, do coletivo, de forma justa e honesta. Tudo isto é, na realidade, a verdade, mas a desvantagem é que, na prática, o coletivo não aceita este atributo de todo. Assim, a dificuldade prática, na verdade mencionada, é provada por si própria: Há alguma desvantagem e uma causa aqui que torna este atributo inaceitável para o coletivo. Devemos examinar qual é essa desvantagem.
Quando examinamos de perto a verdade mencionada acima, sob a perspectiva da sua viabilidade prática, verificamos inevitavelmente que é vaga e complicada, sendo impossível para o olho humano escrutiná-la, pois a verdade exige que os indivíduos no coletivo sejam igualados, de modo que recebam a sua parte de acordo com o seu trabalho, nem mais nem menos. Esta é a única base verdadeira que não pode ser colocada em causa, pois é certo que quem deseja aproveitar-se do trabalho do seu amigo, os seus atos são contra a razão e a verdade evidente, mencionadas acima.
Mas como pensamos que podemos escrutinar essa verdade de uma forma que seja aceitável para o coletivo? Por exemplo, se avaliarmos algo de acordo com o esforço aparente, ou seja, de acordo com o número de horas, e obrigarmos cada um a trabalhar um número igual de horas, ainda assim não vamos descobrir o atributo da verdade, de forma alguma. Além disso, há aqui uma mentira evidente, por duas razões: A primeira é o lado físico, e a segunda é o lado intelectual do trabalhador.
Isso porque, por natureza, a capacidade de trabalhar não é igual em cada pessoa. Uma pessoa na sociedade trabalha numa hora muito mais do que outra que trabalha em duas horas ou mais, devido à sua fraqueza.
E há também uma questão psicológica aqui, pois aquele que é muito preguiçoso por natureza esgota-se numa hora, mais do que o seu amigo em duas horas ou mais. De acordo com a perspectiva da verdade evidente, não devemos obrigar uma parte da sociedade a trabalhar mais do que a outra parte para satisfazer as necessidades da sua vida. Mas, na verdade, os mais fortes e ágeis na sociedade beneficiam do trabalho dos outros e exploram-nos maliciosamente contra o atributo da verdade, pois trabalham muito menos em comparação com os fracos e preguiçosos da sociedade.
E se também considerarmos a lei natural, “Seguir a maioria”, então tal verdade que usa o número de horas de trabalho aparente como base, é completamente inviável, uma vez que os fracos e os preguiçosos são sempre a grande maioria na sociedade, e não vão permitir que a minoria ágil e forte explore a sua força e trabalho. Assim, vemos que a base mencionada acima, que é o esforço do indivíduo sob a condição da verdade evidente, e com ela a maioria na sociedade, é completamente inviável, pois não pode ser examinada nem avaliada de forma alguma.
Assim, verificamos que o atributo da verdade não tem capacidade prática para organizar o caminho do indivíduo e o caminho do coletivo de forma absoluta e satisfatória. Além disso, é completamente insuficiente para organizar a vida no fim da correção do mundo.
Além disso, há dificuldades ainda maiores aqui, pois não há verdade mais clara do que a própria natureza. E é natural que cada pessoa se sinta no mundo do Criador, como uma autoridade única, e que todos os outros foram criados apenas para facilitar e melhorar a sua vida, sem sentir qualquer obrigação de dar algo em troca.
Em palavras simples, diremos que a natureza de cada pessoa é explorar a vida de todas as outras pessoas no mundo para seu próprio benefício, e tudo o que dá ao outro é apenas por necessidade. Mesmo assim, há exploração dos outros nisso, mas feito de forma astuta, para que o seu amigo não perceba e consinta de bom grado.
A razão para isso é que a natureza de cada ramo está próxima à sua raiz. Como a alma do homem se expande do Criador, que é um e único, e tudo é Dele, igualmente, o homem, que emana Dele, sente que todas as pessoas no mundo devem estar sob a sua própria autoridade e para seu benefício privado. Esta é uma lei inquebrável. A única diferença está nas escolhas das pessoas: umas escolhem explorar as pessoas obtendo desejos desprezíveis, outras obtêm controlo, enquanto outras obtêm respeito. Além disso, se alguém pudesse fazer isso sem muito esforço, concordaria em explorar o mundo com os três juntos—riqueza, controlo e respeito. No entanto, é forçado a escolher de acordo com as suas possibilidades e capacidades.
Esta lei pode ser chamada de “a lei da singularidade no coração do homem”. Ninguém escapa dela (na verdade, cada um tem a sua parte nessa lei), o grande de acordo com o seu tamanho e o pequeno de acordo com o seu tamanho.
Assim, a lei da singularidade na natureza de cada pessoa, mencionada acima, não é nem condenada nem elogiada, pois é uma realidade natural e tem o direito de existir como todas as partes da realidade. E não há esperança de a erradicar do mundo ou até mesmo de atenuar um pouco a sua forma, assim como não há esperança de erradicar toda a raça humana da Terra. Portanto, não estaremos a mentir de forma alguma se dissermos sobre esta lei que é a verdade absoluta.
E como é assim, sem qualquer dúvida, como podemos sequer tentar aliviar o intelecto de alguém prometendo-lhe igualdade com todas as pessoas no coletivo? Nada está mais distante da natureza humana do que isto, enquanto a única tendência da pessoa é elevar-se mais alto, acima de todo o coletivo.
Esclarecemos assim, de forma completa, que não há uma verdadeira possibilidade de trazer condutas boas e alegres para a vida do indivíduo e para a vida do coletivo seguindo o atributo da verdade, de uma forma que alivie o intelecto de cada indivíduo, de modo que ele concorde completamente com isso, como deveria ser no fim da correção.
Na ausência da capacidade de estabelecer o atributo da verdade, tentaram estabelecer os atributos básicos
Agora, vamos voltar-nos para os três atributos restantes: misericórdia, justiça e paz. Parece que, para começar, foram criados apenas para servir de apoio ao atributo da verdade, que é muito fraco no nosso mundo. A partir daqui, a história do desenvolvimento começou a subir os seus níveis desfasados e lentos no seu progresso em direção à organização das vidas do coletivo.
Em teoria, toda a sociedade concordou e assumiu voluntariamente não se desviar de forma alguma da verdade. Mas, na realidade, comportaram-se de forma completamente oposta à verdade, tal como estava acordado. Desde então, o destino da verdade tem sido estar sempre nas mãos dos mais enganadores e nunca nas mãos dos fracos e justos, para que estes pudessem até ser ajudados em parte, pelo atributo da verdade.
Quando não conseguiram estabelecer o atributo da verdade na vida do coletivo, os explorados e fracos aumentaram dentro da sociedade, e daqui surgiram os atributos de misericórdia e justiça para agir nas condutas da sociedade, já que a existência de toda a sociedade obrigava os bem-sucedidos entre eles a apoiar os que estavam em dificuldades, para não prejudicar a sociedade em geral. Portanto, comportaram-se com indulgência, ou seja, com misericórdia e caridade.
Mas é natural que, sob tais condições, os que estão em dificuldades e os explorados proliferem, até que sejam suficientes para protestar contra os bem-sucedidos e começar disputas e lutas. Daqui surgiu o atributo de "paz" no mundo. Assim, todos esses atributos—misericórdia, caridade e paz—emergiram e nasceram da fraqueza do atributo de verdade.
Foi isso que causou a divisão da sociedade em seitas. Alguns adotaram os atributos de misericórdia e caridade, dando das suas próprias posses aos outros, e outros adotaram o atributo da verdade, ou seja, "O que é meu é meu e o que é teu é teu."
Em palavras mais simples, podemos dividir as duas seitas em ‘construtores’ e ‘destruidores’. Os construtores são aqueles que desejam a construção, o benefício do coletivo, pelos quais muitas vezes estão dispostos a dar das suas próprias posses aos outros. Mas aqueles que são naturalmente propensos à destruição e à imprudência estavam mais confortáveis apegando-se ao atributo da verdade, ou seja, "O que é meu é meu e o que é teu é teu", para o seu próprio benefício, e nunca queriam abdicar de nada que fosse seu em benefício dos outros, sem considerar o risco para o bem-estar do coletivo, pois são destruidores por natureza.
Esperanças de Paz
E dado que estas condições trouxeram à sociedade uma grande quantidade de conflitos e puseram em risco o bem-estar da sociedade, apareceram os ‘pacificadores’ na sociedade. Eles assumiram o controlo e o poder e renovaram a vida social com base em novas condições, que consideraram verdadeiras, para garantir a existência pacífica da sociedade.
No entanto, a maioria desses ‘pacificadores’, que surgem após cada disputa, provêm naturalmente de entre os ‘destruidores', ou seja, entre aqueles que procuram a verdade, através do “O que é meu é meu e o que é teu é teu.” Isto porque eles são os poderosos e corajosos da sociedade, chamados “heróis” e “corajosos”, por estarem sempre dispostos a renunciar às suas próprias vidas e à vida de todo o coletivo, caso o coletivo discorde das suas opiniões.
Mas os ‘construtores’ na sociedade, que são os homens de misericórdia e caridade, que se preocupam com as suas próprias vidas e com a vida do coletivo, recusam a arriscar-se a si próprios ou ao público para impor a sua opinião ao coletivo. Assim, estão sempre do lado fraco da sociedade, sendo chamados “fracos” e “covardes.”
É, portanto, óbvio que a mão dos imprudentes corajosos estará sempre por cima, e é natural que todos os ‘pacificadores’ venham de entre os ‘destruidores’ e não de entre os ‘construtores’. Através disto, vemos como a esperança pela paz, que a nossa geração tanto anseia, é vã tanto da perspetiva do sujeito como da perspetiva do predicado.
Pois os sujeitos, que são os ‘pacificadores’ do nosso tempo e em qualquer geração, ou seja, aqueles que têm o poder de fazer a paz no mundo, são para sempre constituídos da substância humana que chamamos ‘destruidores’, pois são aqueles que procuram a verdade, ou seja, estabelecem o mundo com o atributo de “O que é meu é meu e o que é teu é teu.”
É natural que essas pessoas defendam de forma firme as suas opiniões, a ponto de arriscar as suas próprias vidas e a vida de todo o coletivo. E é isso que lhes dá o poder de prevalecer sempre sobre a substância humana chamada ‘construtores’, os que procuram misericórdia e caridade, que estão dispostos a abdicar do que é seu pelo bem dos outros para salvar o mundo, pois são os fracos e os covardes.
Acontece que procurar a verdade e a destruição do mundo são uma e a mesma coisa, e procurar misericórdia e a construção do mundo são igualmente uma e a mesma coisa. Portanto, não devemos esperar que os ‘destruidores’ estabeleçam a paz.
E é inútil esperar pela paz do predicado, ou seja, pelas condições da paz em si própria, dado que as condições adequadas para o bem-estar do indivíduo e para o bem-estar do coletivo, de acordo com o critério da verdade que esses ‘pacificadores’ tanto desejam, não foram estabelecidas. E é certo que vai sempre haver uma grande minoria na sociedade que ficará insatisfeita com as condições que lhes são oferecidas, como já mostramos anteriormente, em relação à fraqueza da verdade. Eles serão sempre um combustível pronto e disponível para os novos indivíduos conflituosos e para os novos ‘pacificadores’ que vão sempre surgir.
O Bem-Estar de um Certo Coletivo e o Bem-Estar do Mundo Inteiro
Não se surpreenda se eu misturar o bem-estar de um coletivo particular com o bem-estar do mundo inteiro, pois, na verdade, já chegámos a um nível tal que o mundo inteiro é considerado um único coletivo e uma única sociedade. Ou seja, porque cada pessoa no mundo retira a nutrição da sua vida e o seu sustento de todas as pessoas do mundo, torna-se, assim, escravizada, para servir e cuidar do bem-estar de todo o mundo.
Provamos acima que a total subordinação do indivíduo ao coletivo é como uma pequena roda numa máquina. Ele extrai a sua vida e a sua felicidade desse coletivo, e, portanto, o bem-estar do coletivo e o seu próprio bem-estar são um e o mesmo, e vice-versa. Assim, na medida em que uma pessoa está escravizada a si própria, ela torna-se necessariamente escravizada ao coletivo, como já dissemos extensivamente acima.
E qual é a extensão desse coletivo? Isto é determinado pelo perímetro do qual o indivíduo extrai. Por exemplo, em tempos anteriores, esse perímetro era apenas o perímetro de uma família, ou seja, o indivíduo necessitava apenas da ajuda dos membros da sua própria família. Nessa altura, ele tinha de ser subordinado apenas à sua própria família.
Em tempos mais recentes, as famílias reuniram-se em cidades e concelhos, e o indivíduo ficou subjugado à sua cidade. Mais tarde, quando as cidades e os concelhos se uniram em estados, a felicidade da vida de um indivíduo passou a ser sustentada por todos os seus compatriotas. Assim, ele tornou-se subjugado a todas as pessoas do país. Portanto, na nossa geração, quando a felicidade de cada pessoa é apoiada por todos os países do mundo, é necessário que, nessa medida, o indivíduo se torne submisso ao mundo inteiro, como uma roda numa máquina.
Assim, a possibilidade de realizar condutas boas, felizes e pacíficas num estado é inconcebível quando não o é em todos os países do mundo, e vice-versa. No nosso tempo, os países estão todos interligados na satisfação das suas necessidades básicas, tal como os indivíduos estavam com as suas famílias em tempos antigos. Portanto, já não podemos falar ou lidar apenas com condutas que garantam o bem-estar de um país ou uma nação, mas sim com o bem-estar do mundo inteiro, pois o benefício ou mal de cada pessoa no mundo depende e é medido pelo benefício de todos os indivíduos do mundo.
Embora isto seja, de facto, conhecido e sentido, as pessoas no mundo ainda não o compreenderam adequadamente. Porquê? Porque tal é a conduta do desenvolvimento na natureza: o ato vem antes da compreensão, e apenas as ações vão provar e impulsionar a humanidade para a frente.
Na Vida Prática, os Quatro Atributos Contradizem-se
Se as dificuldades práticas mencionadas acima, que enquanto seres impotentes nos perturbam no nosso caminho, não forem suficientes, temos ainda uma mistura e uma grande batalha a respeito das predisposições psicológicas. Ou seja, os próprios atributos, dentro de cada um de nós, individualmente, são únicos e contraditórios entre si, pois os quatro atributos acima, misericórdia, verdade, justiça e paz, que foram divididos na natureza das pessoas, seja pelo desenvolvimento ou pela educação, são em si próprios contraditórios entre si. Se tomarmos, por exemplo, o atributo de misericórdia na sua forma abstrata, verificamos que a sua governação contradiz todos os outros atributos, ou seja, pelas leis da regra da misericórdia, não há lugar para a manifestação dos outros atributos no nosso mundo.
Qual é o atributo da misericórdia? Os nossos sábios definiram-no (Avot 5), “O que é meu é teu e o que é teu é teu”—Hasid [com a qualidade de Hesed (misericórdia)]. E se todas as pessoas no mundo se comportassem de acordo esta qualidade, ela aniquilaria toda a glória do atributo da verdade e do julgamento, pois se cada um estivesse naturalmente disposto a dar tudo o que tivesse aos outros, e não receber nada de outro, então todo o interesse em mentir uns aos outros desapareceria. Além disso, seria irrelevante discutir a qualidade da verdade, pois a verdade e a falsidade são relativas uma à outra. Se não houvesse falsidade no mundo, não haveria conceito de verdade. Nem é necessário dizer que todos os outros atributos, que surgiram apenas para fortalecer o atributo da verdade devido à sua fraqueza, seriam anulados.
A verdade é definida pelas palavras “O que é meu é meu, e o que é teu é teu.” Isto contradiz o atributo da misericórdia e não pode tolerá-lo totalmente, pois na verdade, é injusto trabalhar e esforçar-se pelo outro, uma vez que além de falhar com o seu amigo e habituá-lo a explorar os outros, a verdade dita que cada pessoa deve preservar os seus próprios bens para um tempo de necessidade, para que não tenha de ser um peso para o seu semelhante.
Além disso, não há pessoa sem familiares e herdeiros que, na verdade, devem vir antes dos outros, pois assim a natureza dita, e aquele que dá a sua propriedade aos outros mente aos seus familiares e herdeiros ao não lhes deixar nada.
Além disso, a paz contradiz a justiça, porque para fazer paz no público, devem existir condições que, pelo conteúdo, prometem aos espertos e inteligentes, que investem a sua energia e sabedoria, tornarem-se ricos, e aos negligentes e ingénuos, tornarem-se pobres. Assim, aquele que é mais enérgico toma a sua parte e a parte do seu amigo negligente e desfruta de uma vida tão boa que não sobra o suficiente para que o negligente e o ingénuo possam apenas providenciar o sustento necessário. Assim, eles permanecem completamente despojados e desamparados de várias maneiras.
É, sem dúvida, injusto punir os negligentes e os ingénuos de forma tão severa sem qualquer mal, pois qual é o pecado deles e qual é o crime desses infelizes, se a Providência não lhes concedeu agilidade e perspicácia, de modo que deveriam ser punidos com tormentos mais duros do que a morte?
Assim, não há justiça alguma nas condições de paz. Portanto, a paz contradiz a justiça e a justiça contradiz a paz, pois se ordenarmos a divisão da propriedade de forma justa, ou seja, dar aos negligentes e ingénuos uma parte substancial da parte que os ágeis e enérgicos têm, então essas pessoas poderosas e iniciadoras certamente não vão descansar até derrubar o governo que escraviza os grandes e enérgicos, explorando-os em favor dos fracos. Portanto, não há esperança para a paz do coletivo. Assim, a justiça contradiz a paz.
O Atributo da Singularidade no Egoísmo Afeta a Ruína e a Destruição
Vemos como os nossos atributos colidem e lutam uns contra os outros. Não só entre as seitas, mas dentro de cada pessoa, os quatro atributos dominam-na ao mesmo tempo ou um de cada vez, e lutam dentro dela até que se torne impossível para o senso comum organizá-los e levá-los a um consentimento completo.
A verdade é que a raiz de toda essa desordem dentro de nós é o mencionado atributo da singularidade, que existe em cada um de nós, seja em menor ou maior proporção.
Embora tenhamos esclarecido que provém de uma razão sublime, e que este atributo se expande até nós, diretamente do Criador, que é único no mundo e a Raiz de todas as criações, ainda assim, dado que a sensação de singularidade se instalou no nosso egoísmo estreito, ela afeta a ruína e a destruição até se tornar a origem de todas as ruínas que existiram e vão existir no mundo.
De facto, não há uma única pessoa no mundo que esteja livre disso, e todas as diferenças residem apenas nas formas como é utilizado: para os desejos do coração, para a governação, ou para a honra, e é isso que separa as pessoas umas das outras.
Mas o ponto comum em todas as pessoas do mundo é que cada um de nós está pronto para explorar todas as outras pessoas para o seu próprio benefício privado, com todos os meios ao seu dispor, sem considerar que está a construir-se na ruína do seu amigo. É completamente irrelevante o que cada um de nós se permite a si próprio, de acordo com a sua direção escolhida, pois o desejo é a raiz do intelecto e não o intelecto a raiz do desejo. Na verdade, quanto maior e mais destacada a pessoa for, precisamente por essa razão, maior e mais destacado será o seu atributo de singularidade.
A forma de utilização da Natureza da Singularidade como o Tema de Evolução no Coletivo e no Indivíduo
Agora vamos penetrar na compreensão das condições directas que, vão finalmente ser aceites pela humanidade no momento em que aparecer a paz mundial, e para saber como estas condições são boas para trazer uma vida de felicidade ao indivíduo e ao público, e a disposição da humanidade para finalmente querer assumir sobre si própria estas condições especiais.
Voltemos à questão da singularidade no coração de cada pessoa, que está pronta para engolir o mundo inteiro para o seu próprio prazer. A sua raiz expande diretamente do Único para o povo, que são os Seus ramos. Aqui há uma questão que exige uma resposta: Como pode ser que tal forma corrompida apareça em nós a ponto de se tornar o pai de todo o mal e a ruína no mundo, e como é que da Origem de toda a construção se expande a Origem de toda a destruição? Não podemos deixar esta pergunta sem resposta.
De facto, existem os dois lados da moeda na singularidade acima mencionada. Se a examinarmos do seu lado superior, da perspectiva da sua equivalência com o Único, ela age apenas na forma de doação aos outros, pois o Criador apenas doa e não tem nada da forma de recepção. Ele não carece de nada nem precisa de receber nada das criaturas que Ele criou. Portanto, a singularidade que se expande até nós a partir Dele deve também agir apenas na forma de doação aos outros, e não de todo para receber para nós próprios.
Por outro lado, no lado oposto dessa moeda, ou seja, no que diz respeito à forma como realmente funciona dentro de nós, verificamos que ela opera na direção completamente oposta, já que só opera na forma de recepção para si própria, tal como o desejo de ser a pessoa mais rica do mundo. Assim, os dois lados acima mencionados estão tão afastados entre si como o este está do oeste.
Isto dá-nos a solução para a nossa pergunta: "Como é possível que dentro dessa singularidade, que provém e chega até nós Daquele que é Único no mundo, Que É a Origem de toda a construção, nos sirva como a origem de toda a destruição?" Isso ocorre porque usamos essa preciosa ferramenta na direção oposta, que é a recepção para benefício próprio.
Não estou a dizer que a singularidade em nós nunca vai actuar na forma de doação, pois não se pode negar que entre nós há pessoas cuja singularidade opera nelas na forma de doação aos outros, tal como aquelas que gastam o seu dinheiro para o bem comum, ou aquelas que dedicam todos os seus esforços ao bem comum, etc.
No entanto, esses dois lados da moeda que descrevi falam apenas dos dois pontos no desenvolvimento da criação que trazem tudo à sua completude, começando na ausência, e subindo gradualmente os degraus do desenvolvimento, de um nível para o nível acima dele, e de lá para o mais alto ainda, até que chegue à sua altura final, que é a medida de completude pré-estabelecida, onde vai permanecer para sempre.
A ordem do desenvolvimento desses dois pontos é, A) o ponto de partida, o nível mais baixo, que está próximo da ausência completa. É descrito como o segundo lado da moeda. B) O ponto de altura final, onde repousa e existe para sempre. Este é descrito no primeiro lado da moeda.
Mas esta era em que nos encontramos, já se desenvolveu consideravelmente e já se elevou muitos níveis. Já se elevou acima da sua fase mais inferior, que é o segundo lado acima mencionado, e aproximou-se significativamente do primeiro lado.
Por esta razão, já existem pessoas entre nós que usam a sua singularidade na forma de doação aos outros. No entanto, ainda são poucas, pois ainda estamos a meio do caminho do desenvolvimento. Quando alcançarmos o ponto mais alto dos níveis, todos vamos usar a nossa singularidade apenas na forma de doação aos outros, e não haverá um caso em que alguém a use na forma de receção para benefício próprio.
De acordo com estas palavras, encontramos uma oportunidade para examinar as condições da vida na última geração: o tempo da paz mundial, quando toda a humanidade alcança o nível do primeiro lado e vai usar a sua singularidade apenas na forma de doação aos outros, e de forma alguma para a receção para benefício próprio. E é bom copiar aqui a forma de vida mencionada acima para que nos sirva de lição e modelo para acalmar os nossos intelectos sob a torrente das ondas das nossas vidas; talvez seja útil e possível na nossa geração também, experimentar em sermos semelhantes a essa forma de vida acima descrita.
A Condição de Vida na Última Geração
Em primeiro lugar, cada um deve compreender profundamente e explicar ao seu círculo que o bem-estar da sociedade, que é o bem-estar do estado, e o bem-estar do mundo, são totalmente interdependentes. Enquanto as leis da sociedade não forem satisfatórias para cada um dos indivíduos no estado e deixarem uma minoria insatisfeita com a governação do estado, essa minoria vai conspirar contra o governo do estado e vai tentar derrubá-lo.
Se o seu poder não for suficiente para lutar contra o governo do estado de forma directa, vai procurar derrubá-lo de forma indirecta, como incitando países uns contra os outros e levando-os à guerra, pois é natural que em tempos de guerra haja muitos mais insatisfeitos com os quais terão esperança de alcançar a massa crítica para derrubar o governo do estado, e estabelecer uma nova liderança que seja conveniente para eles. Assim, o bem-estar do indivíduo é uma causa direta para o bem-estar do estado.
Para além disso, se tivermos em consideração aquela parte sempre presente no estado, para quem a guerra é o seu ofício e a sua esperança de sucesso—como os soldados profissionais e os fornecedores de munições—que são sempre uma minoria muito proeminente em termos de qualidade social, e se lhes acrescentarmos a minoria insatisfeita com as leis atuais, então, a qualquer momento, temos uma vasta quantidade de pessoas a desejar guerra e derramamento de sangue.
Assim, a paz no mundo e a paz no país são interdependentes. Daí, verificarmos obrigatoriamente que mesmo aquela parte do estado que atualmente está satisfeita com a vida, que são os ágeis e os inteligentes, ainda tem muito com que se preocupar para a segurança das suas vidas, devido às tensões com aqueles que se esforçam para os derrubar. Se entendessem o valor da paz, ficariam felizes em adoptar a conduta da vida na última geração, pois “tudo o que um homem tem dará pela sua vida.”
Dor vs. Prazer na Receção para Benefício Próprio
Por conseguinte, quando examinamos e compreendemos profundamente o plano acima, veremos que toda a dificuldade reside em mudar a nossa natureza de um desejo de receber para nosso próprio benefício, para um desejo de doação aos outros, pois essas duas coisas negam-se mutuamente. À primeira vista, o plano parece imaginário, algo que está acima da natureza humana. Mas, ao aprofundarmos o assunto, vamos descobrir que toda a contradição entre a recepção para si própria e a doação aos outros não é nada mais do que psicológica, pois, na verdade, doamos aos outros sem nos beneficiarmos. Isto é assim porque, embora a Receção para Benefício Próprio se manifeste em nós de várias formas, como propriedade, bens que o coração, o olho e o paladar cobiçam, etc., todos esses são definidos por um nome: “prazer”. Assim, a própria essência da recepção para si própria que a pessoa deseja, não é senão o desejo de prazer.
Agora, imagine que, se reuníssemos todos os prazeres que a pessoa sente durante os seus setenta anos de vida e os colocássemos de um lado, e reuníssemos toda a tristeza e o sofrimento que a pessoa sente, do outro lado, se pudéssemos ver o equilíbrio, teríamos preferido não ter nascido. Se isto for assim, então, o que é que se recebe durante a vida? Se supusermos que a pessoa obtém vinte por cento de prazer na vida em comparação com oitenta por cento de sofrimento, então, se os colocássemos um em frente ao outro, sobram sessenta por cento de sofrimento sem recompensa.
Mas isso é tudo um cálculo privado, como quando a pessoa trabalha para si própria. Mas, num cálculo global, o indivíduo produz mais do que recebe para o seu próprio prazer e sustento. Assim, se a direção mudasse de receção para benefício próprio para a doação, o indivíduo desfrutaria de toda a produção que ele gera, sem muito sofrimento.