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Michael Laitman

Exílio e Redenção


Harmonia entre a Religião e a Lei do Desenvolvimento ou o Destino Cego
"E entre essas nações não terás repouso, nem haverá lugar de descanso para os teus pés" (Deuteronómio 28:65). "E os Vossos pensamentos não vai acontecer de forma alguma, pois dizeis: 'Seremos como as nações, como as famílias das terras'" (Ezequiel 20:32).
O Criador vai mostrar-nos claramente que Israel não pode existir no exílio e não vai encontrar descanso, ao contrário das outras nações que se misturaram entre os povos, e encontraram descanso e se assimilaram nelas de tal forma que delas nada restou. O mesmo não acontece com a casa de Israel. Esta nação não vai encontrar descanso entre os povos até que se cumpra o versículo: "E de lá vais buscar o Senhor, teu Deus, e vais encontrá-Lo, pois vais exigi-Lo com todo o teu coração e com toda a tua alma".
Isto pode ser examinado através do estudo da Providência e do versículo que afirma sobre nós: "A Torá é verdadeira e todas as suas palavras são verdadeiras, e ai de nós enquanto duvidarmos da sua veracidade". E dizemos que todas as admoestações que nos acontecem são obra do acaso e de um destino cego. No entanto, há apenas um remédio para isto: fazer recair sobre nós tais aflições até compreendermos que não são fortuitas, mas sim Providência constante, destinados para nós através na sagrada Torá.
Devemos esclarecer esta questão à luz da própria lei do desenvolvimento: a natureza da orientação constante que recebemos através da sagrada Torá, como no caminho da Torá na Providência (ver o artigo "A Liberdade"), permitiu-nos um desenvolvimento muito mais rápido do que o das outras nações. E, dado que os membros desta nação se desenvolveram desta forma, houve sempre a necessidade de avançar e ser extremamente meticulosos no cumprimento de todos as Mitzvot [mandamentos] da Torá. Quando não o fizeram, desejando incluir o seu egoísmo estreito, ou seja, o "Lo Lishma" [não pelo Seu Benefício], causaram a ruína do Primeiro Templo, pois quiseram exaltar a riqueza e o poder acima da justiça, como fazem as outras nações.
Porém, dado que a Torá proíbe tal coisa, renegaram-na, bem como a profecia, e adotaram os costumes dos povos vizinhos, a fim de usufruírem da vida conforme as exigências do seu egoísmo. Como consequência, as forças da nação desintegraram-se: uns seguiram os reis e os oficiais egoístas, enquanto outros seguiram os profetas. Essa separação persistiu até à destruição.
No Segundo Templo, esse fenómeno tornou-se ainda mais evidente, pois a separação surgiu publicamente através de discípulos indignos, liderados por Tzadok e Bytos. A sua rebelião contra os nossos sábios girava principalmente em torno da obrigação de "Lishma" [pelo Seu Benefício], como disseram os nossos sábios: "Sábios, sede cautelosos com as vossas palavras". Não querendo afastar-se do egoísmo, formaram comunidades desta natureza deplorável e tornaram-se uma grande seita chamada "Tzdokim", composta pelos ricos e oficiais, que buscavam os prazeres egoístas, contrários ao caminho da Torá. Lutaram contra os "Prushim" e foram eles que trouxeram o domínio do Império Romano sobre Israel. Foram também eles que, ao recusarem a paz com os dominadores, como os nossos sábios aconselhavam segundo a Torá, precipitaram a destruição do Templo e o exílio da glória de Israel.


A Diferença entre um Ideal Secular e um Ideal Religioso
Um ideal secular tem origem na própria humanidade e, por isso, não pode elevar-se acima dela. Em contrapartida, um ideal religioso, que provém do Criador, pode elevar-se acima da humanidade. Isto porque a base de um ideal secular é a igualdade e o preço da exaltação do homem, que age para se vangloriar perante os outros. E, ainda que por vezes seja desprezado aos olhos dos seus contemporâneos, confia que será valorizado por outras gerações, permanecendo precioso para si, como uma joia que conforta o seu dono, ainda que ninguém a veja ou a estime.
Um ideal religioso, porém, fundamenta-se na glória aos olhos do Criador. Assim, aquele que segue um ideal religioso pode elevar-se acima da humanidade.
Assim é entre as nações do nosso exílio. Enquanto seguimos o caminho da Torá, estamos seguros, pois é sabido entre todas as nações que somos uma nação altamente desenvolvida e eles desejavam a nossa colaboração. Exploram-nos, cada qual segundo os seus interesses egoístas, mas ainda assim detínhamos grande poder entre as nações, de modo que, após toda a exploração, restava-nos uma porção digna, maior do que a dos civis da terra.
Contudo, porque as pessoas se rebelaram contra a Torá, na sua ânsia de executar planos egoístas, perderam o verdadeiro propósito da vida, que é o serviço ao Criador, substituindo esse objetivo sublime por metas egoístas e prazeres mundanos. Assim, aqueles que alcançaram fortuna elevaram o seu propósito na busca de glória e esplendor. Consequentemente, onde o homem religioso destinava os seus excedentes financeiros para caridade, boas ações, construção de seminários e outras necessidades colectivas, os egoístas dissiparam-nos nos prazeres da vida: comida e bebida, vestuário e joias, igualando-se aos mais proeminentes dessa nação.
Com estas palavras, pretendo apenas demonstrar que a Torá e a lei natural do desenvolvimento caminham juntas numa unidade maravilhosa, mesmo com o destino cego. Assim, as adversidades no exílio, sobre as quais temos muito a relatar desde os dias do nosso exílio, deveram-se exclusivamente ao facto de termos defraudado a Torá. Se tivéssemos cumprido os mandamentos da Torá, nenhum mal nos teria acontecido.


Congruência e Unidade entre a Torá e o Destino Cego, e o Desenvolvimento da Avaliação Humana
Assim, proponho à Casa de Israel que diga às suas tribulações: "Basta!" e que, pelo menos, faça uma avaliação humana relativamente a essas vicissitudes que repetidamente nos afligiram, inclusive também aqui na nossa terra. Desejamos iniciar a nossa própria política, pois não temos esperança de nos enraizarmos como nação enquanto não aceitarmos a nossa sagrada Torá sem concessões, até à última condição do trabalho Lishma, e não pelo nosso próprio benefício, sem qualquer resquício de egoísmo, como demonstrei no artigo "Matan Torá".
Se não nos estabelecermos desta forma, surgem entre nós classes distintas, e seremos inevitavelmente empurrados ora para a direita, ora para a esquerda, como acontece com todas as nações. E ainda mais, pois a natureza dos que são desenvolvidos é que não podem ser contidos, pois qualquer noção significativa proveniente de uma pessoa opiniosa não se curva perante nada e desconhece compromissos. Por isso, os nossos sábios disseram: "Israel é o mais obstinado entre os povos", pois aquele cujo intelecto é mais amplo é também o mais determinado.
Esta é uma lei psicológica, e se não me compreendem, vão estudar esta lição entre os membros contemporâneos da nação: ainda que apenas tenhamos começado a construir, o tempo já revelou a nossa obstinação e firmeza de espírito, e o que um edifica, o outro destrói.
... Isto é sabido por todos, mas há uma novidade nas minhas palavras: eles acreditam que, no fim, a outra parte vai compreender o perigo e vai ceder, aceitando a sua opinião. Mas eu sei que, mesmo se os amarrarmos juntos, um não vai ceder ao outro, nem um pouco, e nenhum perigo os vai impedir de perseguirem as suas ambições.
Em suma: enquanto não elevarmos o nosso objetivo acima da vida material, não teremos ressurreição corpórea, pois o espiritual e o material em nós não podem coexistir. Somos os filhos da ideia, e apesar de ainda estarmos imersos nos quarenta e nove portões de materialidade, jamais vamos desistir da ideia. Por conseguinte, é o propósito sagrado de “Pelo Seu Benefício” que necessitamos.