O Amor ao Criador e o Amor às Criações
O Rabi Akiva diz “Ama o teu amigo como a ti mesmo”; esta é uma grande regra da Torá” (Beresheet Rabbah 24).
Colectivo e Individual
A afirmação acima—embora seja uma das mais célebres e citadas—permanece inexplicada em toda a sua vastidão. Isto deve-se ao facto de a palavra Klal [regra/colectivo] indicar uma soma de detalhes que se relacionam com esse colectivo mencionado acima, em que cada detalhe contém uma parte dentro de si que contribui para que a união de todos os detalhes crie esse colectivo.
Se dissermos “um grande Klal[regra/colectivo] na Torá,” isso implica que todos os textos e as 612 Mitzvot [mandamentos] são a soma total dos detalhes relacionados com o versículo “Ama o teu amigo como a ti mesmo.” É difícil compreender como tal afirmação pode conter a totalidade das Mitzvot da Torá. No máximo, pode ser um Klal [regra/colectivo] para a parte da Torá e os preceitos que dizem respeito às Mitzvot entre o homem e o seu semelhante. Mas como incluir a maior parte da Torá, que se refere ao serviço entre o homem e o Criador, no versículo “Ama o teu amigo como a ti mesmo”?
Aquilo que Detestas, Não Faças ao Teu Amigo
Se, de alguma forma, conseguimos conciliar as palavras acima, surgem então as palavras do velho Hillel ao estrangeiro que foi até ele e lhe pediu que o convertesse , como está escrito na Gemara: “Converte-me para que me ensines toda a Torá enquanto estou de pé numa só perna.” Hillel respondeu-lhe: “Aquilo que detestas, não faças ao teu Amigo. Esta é toda a Torá; o resto é a sua explicação, vai estudar.” Vemos que ele disse que toda a Torá é a interpretação do versículo “Ama o teu amigo como a ti mesmo.”
Agora, de acordo com as palavras de Hillel—o mestre de todos os Tanaim [sábios dos primeiros séculos da Era Comum], que eram os que interpretavam as leis — torna-se perfeitamente claro que o propósito principal da nossa sagrada Torá é levar-nos a esse nível sublime onde possamos cumprir o versículo “Ama o teu amigo como a ti mesmo”, pois ele declara explicitamente: “O resto é a sua explicação, vai estudar.” Ou seja, os textos explicam-nos como alcançar essa regra.
É surpreendente que tal afirmação possa estar correcta na maioria das questões da Torá, que dizem respeito aos preceitos entre o homem e o Criador, quando qualquer principiante sabe que esse é o cerne da Torá e não apenas a interpretação do versículo “Ama o teu amigo como a ti mesmo.”
Ama o Teu Amigo como a Ti Mesmo
Devemos também analisar e compreender o significado do versículo em si, quando diz: “Ama o teu amigo como a ti mesmo.” O significado literal é amar o teu amigo na mesma medida em que te amas a ti próprio. Contudo, verificamos que o público não consegue cumprir isso de forma alguma. Se estivesse escrito: “Ama o teu amigo tanto quanto o teu amigo te ama,” ainda assim, haveria poucos capazes de o observar completamente, mas ainda assim seria aceitável.
Mas amar o nosso amigo tanto quanto nos amamos a nós mesmos parece impossível. Mesmo que houvesse apenas outra pessoa no mundo além de nós, ainda assim, seria impossível, quanto mais num mundo cheio de pessoas. Além disso, se alguém amasse todos como se ama a si próprio, não teria tempo para si próprio, pois é certo que a pessoa satisfaz as suas próprias necessidades sem negligência e com grande empenho, porque se ama a si própria.
Não acontece o mesmo em relação às necessidades do colectivo: a pessoa não tem uma razão suficientemente forte para estimular o desejo de trabalhar por eles. E, mesmo que tivesse esse desejo, será que conseguiria cumprir esta declaração de forma literal? Seria capaz de manter a sua força? Caso contrário, como pode a Torá obrigar-nos a fazer algo que não é alcançável de forma alguma?
Não devemos imaginar que este versículo foi dito como uma hipérbole, pois fomos advertidos e insistimos que: “Não vais acrescentar nem retirar nada.” Todos os comentadores concordam em interpretar o texto de forma literal. Além disso, disseram que se deve satisfazer as necessidades do próximo mesmo numa situação em que se está carente. Ainda assim, deve satisfazer-se as necessidades do seu amigo e permanecer carente.
A interpretação dos Tosfot em Kidushin 20: “Quem compra um escravo hebreu, é como se comprasse um senhor para si.” Os Tosfot interpretam, em nome do Talmude de Jerusalém, que “Por vezes, ele tem apenas uma almofada. Se ele próprio se deita nela, não observa, ‘Pois está contente contigo.’ Se não se deita nela e não a dá ao seu escravo, é regra sodomita. Resulta que, contra a sua vontade, deve dá-la ao escravo. Assim, comprou para si um senhor.”
Uma Mitzva [Mandamento]
Isto levanta várias questões: de acordo com o mencionado, todos nós pecamos contra a Torá. Além disso, não cumprimos nem mesmo a parte principal da Torá, pois observamos os detalhes, mas não a regra em si. Está escrito: “Quando cumprires a vontade do Criador, os pobres estarão nos outros e não em ti,” pois como pode haver pobres se todos fazem o que o Criador quer e amam os seus amigos como a si mesmos?
A questão do escravo hebreu que o Talmude de Jerusalém apresenta necessita de um estudo mais aprofundado: o significado do texto é que, mesmo que o convertido não seja hebreu, é necessário amá-lo como a si mesmo. E como se poderia explicar que a regra para o convertido seja a mesma que para o hebreu, uma vez que “uma só lei e uma só ordenança devem ser para ti e para o estrangeiro que habita contigo”? A palavra Ger [prosélito/estrangeiro] também significa “prosélito residente”, referindo-se a quem não aceita a Torá, excepto no que toca a abandonar a idolatria. Está escrito sobre tal pessoa: “Podes dá-lo ao prosélito que está dentro dos teus portões.”
Este é o significado de uma Mitzvá que o Tanna menciona quando diz: “Ao cumprir uma Mitzvá, a pessoa coloca-se a si e ao mundo inteiro do lado do mérito.” É muito difícil compreender o que o mundo inteiro tem a ver com isso. Não devemos forçar uma explicação ao dizer que se refere a quando uma pessoa é metade indigna e metade digna, e o mundo inteiro é metade indigno e metade digno, pois, se o dissermos, perdemos completamente o verdadeiro sentido da questão.
Além disso, o mundo está cheio de gentios e tiranos, então como pode alguém considerar que eles são metade indignos e metade dignos? Pode avaliar-se a si mesmo como sendo metade indigno e metade digno, mas não que o mundo inteiro é dessa forma. Além do mais, o texto deveria, pelo menos, declarar “todo o Israel.” Por que razão o Tanna inclui aqui o mundo inteiro? Somos nós fiadores das nações do mundo, para as incluir na nossa contagem de boas ações?
Devemos entender que os nossos sábios falavam apenas da parte prática da Torá, aquela que conduz o mundo e a Torá ao objetivo desejado. Portanto, quando mencionam uma Mitzvá, referem-se certamente a uma Mitzvá prática. Isto está, sem dúvida, alinhado com o que Hillel afirma, ou seja, “Ama o teu amigo como a ti mesmo.” É apenas através desta Mitzvá que se alcança o objetivo real, que é a Dvekut [adesão] com o Criador. Assim, descobrimos que com esta única Mitzvá se cumpre todo o objetivo e propósito.
Agora não há qualquer questão sobre as Mitzvot entre o homem e o Criador, porque as mitzvot práticas entre elas têm o mesmo propósito: purificar o corpo, cujo ponto culminante é amar o próximo como a si mesmo, após o qual se alcança imediatamente Dvekut [Adesão].
Aqui há um geral e um particular. Avançamos do particular para o geral, pois o geral conduz ao objetivo final. Assim, não faz diferença de que lado se começa—do particular ou do geral—desde que comecemos e não permaneçamos inativos até alcançarmos o nosso objetivo.
E para aderir a Ele
Ainda há espaço para perguntar: “Se o propósito de toda a Torá e de toda a criação é elevar a inferioridade da humanidade a um estado digno dessa maravilhosa sublimidade e aderir a Ele, para começar, Ele deveria ter-nos criado com essa sublimidade, em vez de nos sujeitar ao trabalho da criação, da Torá e das Mitzvot.”
Podemos explicar isto com as palavras dos nossos sábios: “Quem come o que não lhe pertence tem vergonha de olhar para o próprio rosto.” Isto significa que quem vive do trabalho alheio sente-se envergonhado em olhar para a sua própria forma, pois a sua forma é desumana.
Uma vez que nenhuma carência provém da Sua perfeição, Ele preparou para nós este trabalho, para que possamos desfrutar do trabalho das nossas próprias mãos. Por isso, criou a criação nesta forma inferior. O trabalho na Torá e nas Mitzvot eleva-nos da inferioridade da criação e, através dele, alcançamos a nossa sublimidade por nós mesmos. Assim, não sentimos o deleite e o prazer que recebemos da Sua generosa mão como um presente, mas como legítimos proprietários desse prazer.
No entanto, devemos ainda compreender a origem da inferioridade que sentimos ao receber um presente. Os cientistas da natureza sabem que a natureza de cada ramo se aproxima da sua raiz. O ramo ama todos os atributos da raiz, deseja-os, ambiciona-os e beneficia deles. Pelo contrário, o ramo afasta-se de tudo o que não está na raiz; não os pode tolerar e sofre por causa disso.
Como a nossa raiz é o Criador, que não recebe mas dá, sentimos tristeza e humilhação em toda a receção proveniente de outros.
Agora compreendemos o propósito de aderir a Ele. A sublimidade da Dvekut [adesão] reside apenas na equivalência entre o ramo e a sua raiz. Por outro lado, toda a questão da inferioridade reside no afastamento da raiz. Ou seja, cada ser cujas ações são corrigidas para a forma de doação aos outros, eleva-se e torna-se capaz de aderir a Ele, e cada ser cujas ações são de receção e amor-próprio é rebaixado e afastado do Criador.
Como remédio, a Torá e as Mitzvot foram preparadas para nós. No início, devemos cumpri-las Lo Lishma [não pelo Seu Beneficio], ou seja, para receber recompensa. Este é o caso durante o período de Katnut [pequenez], como uma forma de educação. Quando a pessoa cresce, aprende a cumprir a Torá e as Mitzvot Lishma [pelo Seu Benefício], isto é, para trazer contentamento ao Criador e não por amor-próprio.
Agora podemos compreender as palavras dos nossos sábios que perguntaram: “Por que razão o Criador daria importância ao facto de alguém fazer o abate pela garganta ou pela nuca? Afinal, as Mitzvot [mandamentos] foram dadas apenas para ,através delas, purificar as pessoas.”
Mas ainda não sabemos o que significa essa purificação. Com o que foi dito, entendemos que “O homem nasce como o filhote de uma mula selvagem”, completamente imerso na sujeira e baixeza da receção para benefício próprio e do amor-próprio, sem qualquer centelha de amor pelo próximo ou desejo de doar. Nesse estado, encontra-se no ponto mais distante da Raiz.
Quando a pessoa cresce e é educada em Torá e nas Mitzvot, definidas apenas pelo objetivo de trazer contentamento ao Criador e não por amor-próprio, ela alcança o grau de doação ao próximo através do remédio natural no estudo da Torá e das Mitzvot Lishma, que o Doador da Torá conhece, como disseram os nossos sábios: “Eu criei a inclinação ao mal; Eu criei para ela a Torá como tempero.”
Desta forma a criatura desenvolve-se nos níveis da referida sublimidade até que perde qualquer forma de amor-próprio e auto-receção, e cada atributo seu é de doar ou de receber para fazer doação. Os nossos sábios disseram sobre isto: “As Mitzvot foram dadas apenas para purificar as pessoas através delas,” e então a pessoa adere à sua Raiz na medida das palavras: “e para aderir a Ele.”
Duas Partes da Torá: Entre o Homem e o Criador e Entre o Homem e o Seu Amigo
Mesmo que vejamos que há duas partes na Torá—primeiro, as Mitzvot entre o homem e o Criador, e segundo, as Mitzvot entre o homem e o seu amigo—elas são, na verdade, uma e a mesma coisa. Isto significa que tanto a prática delas como o objetivo desejado são um só: Lishma.
Não faz diferença se a pessoa trabalha pelo próximo ou pelo Criador, pois está gravado no ser humano desde o nascimento que tudo o que vem de outro parece vazio e surreal.
Por esta razão, somos obrigados a começar em Lo Lishma, como afirma Nachmanides: “Os nossos sábios disseram: ‘A pessoa deve sempre envolver-se na Torá, mesmo que seja Lo Lishma, pois de Lo Lishma alcança-se Lishma.’ Assim, ao ensinar os jovens, as mulheres e os analfabetos, eles são ensinados a agir por temor e para receber recompensa. Até acumularem conhecimento e ganharem sabedoria, são-lhes revelados esses segredos gradualmente, e são habituados a este assunto com facilidade até alcançarem o Criador, conhecê-Lo e servi-Lo por amor.”
... Assim, quando alguém completa o seu trabalho no amor pelo próximo e na doação ao próximo até ao último detalhe, também completa o seu amor pelo Criador e a doação ao Criador. E não há diferença entre os dois, pois tudo o que está fora do corpo, ou seja, fora do benefício para o próprio, é julgado de forma igual — seja na doação ao próximo, seja na doação de contentamento ao Criador.
Foi isto que Hillel Hanasi assumiu, ao dizer que “Ama o teu próximo como a ti mesmo” é o objetivo final na prática de Torá e Mitzvot, pois é a forma e a natureza mais claras para o homem.
Não devemos estar enganados pelas ações, uma vez que estas estão diante dos seus olhos. Ele sabe que, se colocar as necessidades do próximo acima das suas próprias necessidades, então está na qualidade de doação. Por esta razão, ele não define o objetivo como “E vais amar o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças”, porque, de facto, estas são uma e a mesma coisa pois ele também deve amar o próximo com todo o seu coração, com toda a sua alma e com todas as suas forças, pois é isto que significa a expressão “como a ti mesmo.” Certamente, que se ama a si próprio com todo o coração, alma e forças e no que diz respeito ao Criador, pode enganar-se, mas com o próximo, isto está sempre diante dos seus olhos.
Por que a Torá Não Foi Dada aos Patriarcas?
Com isto, esclarecemos as três primeiras perguntas. No entanto, ainda resta a pergunta sobre como é possível observá-lo, pois é aparentemente impossível. É importante entender que foi por isso que a Torá não foi dada aos patriarcas, mas sim aos seus descendentes deles, a uma nação completa composta por 600.000 homens acima dos 20 anos de idade. Foi-lhes perguntado se cada um estaria disposto a assumir para si este trabalho e objetivo sublimes. Após cada um ter respondido “Faremos e ouviremos,” esta questão tornou-se possível, pois é evidente que, se 600.000 homens não têm outra ocupação na vida para além de zelar e garantir que nenhuma necessidade dos seus companheiros fique insatisfeita, e fazem isso com verdadeiro amor, com toda a alma e força, não há dúvida de que nenhuma pessoa da nação vai precisar de preocupar-se com o seu próprio sustento pois vai ter 600.000 pessoas cuidadosas e leais a garantir que nenhuma das suas necessidades fique por satisfazer.
Isto responde porque razão a Torá não foi dada aos patriarcas: com um número pequeno de pessoas, a Torá não pode ser mantida. Não é possível iniciar o trabalho de Lishma, conforme descrito acima, e por isso a Torá não lhes foi dada.
Todos em Israel são Responsáveis Uns pelos Outros
À luz do exposto, podemos compreender um ditado intrigante dos nossos sábios: “Todos em Israel são responsáveis uns pelos outros.” Além disso, o Rabino Elazar, filho do Rabino Shimon, acrescenta: “O mundo é julgado pela sua maioria.”
Isso significa que também somos responsáveis por todas as nações do mundo. Isto pode parecer inconcebível, pois como alguém pode ser responsável pelos pecados de uma pessoa que nem conhece? Está claramente escrito: “Os pais não serão mortos pelos filhos, nem os filhos pelos pais; cada um será morto pelo seu próprio pecado.”
Agora podemos compreender com toda a facilidade o significado destas palavras. Já foi explicado que é completamente impossível manter a Torá e as Mitzvot sem a participação de toda a nação.
Isso implica que cada pessoa se torna responsável pelo seu próximo. Ou seja, aqueles que a negligenciam, fazem com que os que observam a Torá permaneçam na sua impureza, pois estes não podem completar a doação e o amor ao próximo sem a ajuda dos outros. Assim, se alguns na nação pecam, fazem o resto da nação sofrer por causa deles.
Este é o significado do que está escrito na Midrash: “Israel, se um deles peca, todos sentem.” O rabino Shimon disse sobre isso: “É como pessoas sentadas num barco. Uma delas pegou numa broca e começou a perfurar o fundo do barco debaixo de si. Os outros disseram: “O que estás a fazer?” Ele respondeu: “Por que se preocupam? Estou a furar debaixo de mim!” Eles responderam: “A água está a subir e a inundar o barco.” Tal como dissemos acima, porque os negligentes estão imersos em amor próprio, as suas ações criam uma barreira que impede os que cumprem a Torá, de sequer começarem a observá-la adequadamente.
Agora podemos esclarecer as palavras do Rabino Elazar, filho do Rabino Shimon, que diz: “Dado que o mundo é julgado pela sua maioria, e o indivíduo é julgado pela sua maioria, se alguém realiza uma Mitzva, feliz é ele, pois sentenciou-se a si mesmo e ao mundo inteiro para o lado do mérito. Mas se comete um pecado, ai dele, pois sentenciou-se a si mesmo e ao mundo inteiro para o lado da culpa, como está escrito: ‘E um pecador destrói muito bem.’”
Vemos que o Rabino Elazar leva a questão da Arvut (responsabilidade mútua) ainda mais longe, afirmando que “o mundo é julgado pela sua maioria.” Isto porque na sua opinião, não basta que uma nação receba a Torá e as Mitzvot. Ele chegou a essa conclusão, quer observando a realidade perante nós, pois verificamos que o final ainda não chegou, quer recebendo-a lição dos seus professores.
O texto também o apoia, prometendo que no tempo da redenção, “A terra vai ficar plena do conhecimento do Senhor,” e também que “Todas as nações vão acorrer a Ele”, entre outros versículos. Por isso, ele condiciona a Arvut ao mundo inteiro, indicando que nenhum indivíduo pode alcançar o objetivo desejado apenas cumprindo a Torá e as Mitzvot, a não ser com a assistência de todas as pessoas do mundo.
Assim, cada Mitzva realizada por um indivíduo afeta o mundo inteiro. É como pesar feijões numa balança: cada feijão que é colocado contribui para a decisão final desejada. Da mesma forma, cada Mitzva realizada antes que a terra esteja plena deste conhecimento desenvolve o mundo para alcançar esse objetivo.
Está escrito: “E um pecador destrói muito bem”, porque, ao cometer um pecado, ele reduz o peso na balança, como se retirasse um dos feijões que tinha lá colocado. E através disto, faz retroceder o mundo.
Por que a Torá Foi Dada a Israel?
Agora podemos responder à pergunta porque a Torá foi dada à nação de Israel sem a participação de todas as nações. A verdade é que o propósito da criação se aplica a toda a humanidade, sem exceção. Contudo, devido à natureza inferior da criação e à sua influência sobre as pessoas, era impossível que os seres humanos compreendessem, determinassem e aceitassem elevar-se acima disso. Eles não demonstraram o desejo de renunciar ao amor próprio e alcançar equivalência de forma, que é a adesão aos atributos do Criador, como disseram os nossos sábios: “Assim como Ele é misericordioso, também tu serás misericordioso.”
Assim, devido ao mérito dos seus antepassados, Israel conseguiu, ao longo de 400 anos, desenvolver-se e qualificar-se, sentenciando-se ao lado do mérito. Cada membro da nação concordou em amar o próximo.
Sendo uma nação única e pequena entre as setenta grandes nações, com cem gentios ou mais para cada israelita, ao aceitarem amar o próximo, a Torá foi então dada especificamente para os qualificar, para qualificar a nação de Israel.
Contudo, através disto, a nação de Israel tornava-se uma “passagem”. Isto significa que, na medida em que Israel se purifica ao cumprir a Torá, transmite o seu poder às demais nações. E quando as restantes nações também se colocarem do lado do mérito, o Messias será revelado, cuja função não é apenas preparar Israel para o objetivo final de Dvekut com Ele, mas também ensinar os caminhos do Criador a todas as nações, conforme está escrito: “Todas as nações vão acorrer a Ele.”