214. Reconhecido nos Portões
Eu ouvi no Shavuot [Festival das Semanas], 1939, Jerusalém
"Eu sou o Senhor, teu Deus." Também está escrito no Zohar: "Reconhecido nos portões." Pergunta: Por que é que os nossos sábios alteraram a designação escrita para a festa da assembleia, chamando-lhe “a entrega da nossa Torá”? Na Torá, esta festividade é nomeada “oferta dos primeiros frutos”, como está escrito: “Também no dia dos primeiros frutos.” No entanto, os nossos sábios vieram e chamaram-lhe “a entrega da nossa Torá.”
A questão é que os sábios não mudaram nada; apenas interpretaram o significado da oferta dos primeiros frutos. Está escrito: “Que o campo se regozije e tudo o que há nele; então, todas as árvores do bosque vão cantar de alegria.” A diferença entre um campo e um bosque é que o campo dá frutos, ao passo que o bosque é constituído por árvores estéreis, que não produzem frutos.
Isto significa que um campo é discernido como a Malchut, que se refere à aceitação do jugo do reino dos céus, ou seja, a fé acima da razão.
Mas qual é a medida da fé? Tem uma medida específica, o que significa que deve preencher a pessoa na mesma proporção que o conhecimento. Então, será chamada “um campo que o Senhor abençoou”, ou seja, um campo que dá frutos. Este é o único meio através do qual é possível aderir a Ele, pois não impõe limites ao homem, uma vez que está acima da razão.
O conhecimento, no entanto, é limitado. A medida da grandeza é de acordo com o conhecimento. E isto é chamado “um outro deus é estéril e não dá frutos”, sendo por isso designado “bosque”. Contudo, em qualquer caso, ambos são chamados de “extremos”. Assim, deve haver um discernimento do pilar do meio, o que significa que o homem precisa também do conhecimento, mas com a condição de que este não prejudique a fé acima da razão.
No entanto, se trabalhar com o conhecimento um pouco mais do que com a fé, perde tudo imediatamente. Ao invés, ambos devem ser iguais para ele, sem qualquer diferença. Então, “Que o campo se regozije etc, e todas as árvores do bosque vão cantar de alegria”, pois então há correção mesmo para o “outro deus”, discernido como o “bosque”, uma vez que será fortalecido pela fé.
Isto é o significado do que está escrito acerca de Abraão: “Caminha perante mim, e sê de coração integro.” RASHI interpreta que ele não precisava de apoio. Sobre Noé, está escrito: “Noé caminhou com Deus”, indicando que ele precisava de apoio, ainda que, em qualquer caso, fosse um apoio vindo do Criador. Contudo, o pior que pode acontecer é depender do apoio das pessoas.
Há dois aspectos:
1) Um presente
2) Um empréstimo
O presente que alguém recebe das pessoas é o apoio, e não deseja devolvê-lo, mas sim utilizá-lo para o resto da sua vida.
O empréstimo é quando alguém recebe algo provisoriamente, ou seja, enquanto não possui força ou poder próprios. No entanto, espera que, através do esforço e do trabalho em santidade e pureza, venha a obter a sua própria força. Nessa altura, vai devolver o apoio que recebeu. No entanto, isto também não é bom, pois, se não for recompensado com essa obtenção, acabará por cair.
Voltemos à questão da "entrega da Torá" e não da "receção da Torá". Isto deve-se ao facto de que, nesse momento, foram recompensados com o Doador da Torá, como está escrito: "Queremos ver o nosso Rei." Assim, o principal com que foram recompensados foi o “Doador da Torá”. Então, isso é chamado de "um campo que o Senhor abençoou", ou seja, um campo que dá frutos.
Este é o significado dos primeiros frutos: o primeiro fruto do campo. É um sinal de que se foi recompensado com o “Doador da Torá” e com uma consciência plena. Por isso, diz-se: "Um arameu errante foi meu pai." Anteriormente, tinha descidas e astúcia, mas agora existe uma ligação sustentada. É por isso que os nossos sábios interpretam o conceito dos primeiros frutos como a "entrega da Torá", pois é nesse estado que se é recompensado com o “Doador da Torá”.