Carta 32
2 Iyar Tav-Reish-Peh-Zayin, 4 de Maio de 1927, Londres
Para os honoráveis estudantes, que o Senhor esteja convosco:
Ontem recebi as 200 cópias de Pticha [Prefácio à Sabedoria da Cabala], e hoje a vossa carta. Sois todos unânimes em considerar as minhas cartas breves, enquanto eu próprio escrevi com detalhe, pois leva tempo, já que a natureza de todas as coisas elevadas é exigir muito tempo para serem concebidas.
O que o rav escreveu... que não compreendeu a minha carta por ser toda feita de iniciais, parece que ele ainda não sabe, que ele não sabe, pois, na verdade, são os finais das palavras e não os seus inícios, porque cada dia espero que o Criador termine por nós, pois não somos livres para nos livrarmos Dele.
A respeito do seu comentário sobre a minha escrita, que seria uma maravilha para eles quando fossem recompensados com tudo o que está escrito, e que então precisariam de receber a Sua luz através de mim, ele escreveu que não está minimamente surpreendido. Isto porque não compreendeu os meus escritos, como ele próprio admite. Mas como compreenderá a maravilha? Contudo, digo que também para mim é uma maravilha, e que ele seja experiente e ponha à prova as minhas palavras.
E quanto ao que ele escreveu sobre estabelecer-se em Israel, eu concordo. Eu também sou a favor de gozar do mérito ancestral, pois o pacto dos pais não terminou e o trabalho é abundante.
E o que... escreveu como interpretação da minha carta, que Dror [liberdade] em Gematria é Kodesh [santidade], deveria ter dito o contrário — que ‘Kodesh’ em Gematria é ‘Dror’. Quanto ao que escreveu sobre querer saber quando regressarei a casa, quero saber se ele já está preparado para me receber e beneficiar de mim, e, se Deus quiser, informá-lo-ei a seu tempo.
Também recebi a carta de... e o que ele escreveu, exceto Yakir [reconhecerá] e Yakir [apreciará], que ele não pode apoiar adequadamente, ele deve saber que é o cerne de todas as minhas cartas, e se não compreender isto, não poderá entender plenamente os assuntos.
... Diz-se em RASHI, Chayei Sarah [A Vida de Sara]: “Cem anos de idade, como vinte anos para o castigo (para pecar),” (e em Baba Batra, 58a), “Tudo antes de Eva é como um macaco perante um homem.” São apenas alusões, mas, dito de de forma simples, o Chaf é substituído por um Kof porque provêm da mesma pronúncia, GICHAK. Assim, “Efraim, meu filho querido”, pode ser interpretado como o filho que aprecia o pai ou o filho que reconhece [conhece] o seu pai, pois, na verdade, são uma só expressão: aquele que aprecia reconhece, e aquele que reconhece aprecia, sem qualquer diferença.
Há um sinal claro dado em nome do Baal Shem Tov para saber o quanto o Criador brinca com a pessoa — ver no próprio coração o quanto ele brinca com o Criador. Assim são todas as coisas, como em “O Senhor é a tua sombra.” É por isso que aquele que ainda sente alguma diferença entre apreciar e conhecer necessita da unificação do coração, pois, na perspetiva do Criador, ambos são um só.
Este é um assunto profundo, que o Criador está verdadeiramente no coração de cada um de Israel. Mas isto é da parte Dele, então o que necessita o homem? Apenas conhecê-lo — o conhecer transforma, e o conhecer completa. Este é o significado de “O Senhor é a tua sombra.”
E o que ele perguntou — qual vem primeiro, a revelação de Elias ou a ressurreição dos mortos, ou se ambos vêm como um só — não é o mesmo para todos e há vários níveis nisso. Requer muita elaboração para explicar isto, e não há mais nada a acrescentar aqui.
O Rav ... fez bem ... mas parece que vocês também não leram os panfletos corretamente, pois não podem mostrar-lhes que todas as minhas palavras estão presentes na ‘Árvore da Vida’, e não acrescentei uma única palavra, exceto ao escrever explicitamente que Malchut em todos os lugares é o desejo de receber. Mas isto já é aceite nos escritos do ARI em geral, sem necessidade de o referenciar com precisão. Está apresentado explicitamente no Zohar e nos Tikkunim, e além disso não há alteração de formulação.
A sua comparação do meu livro com O Vale do Rei, vi-a aqui pela primeira vez, e na semana passada escrevi a partir dela. Contudo, todos os fundamentos deste livro são renovados e organizados segundo a Cabala dos Gueonim, que começa com Tzimtzum Aleph [primeira restrição], seguido pelo mundo de Malchut, depois Avir Kadmon, depois Tehiru, e depois Atzilut. No entanto, ele preenche essas questões com ordens do ARI ... que verdadeiramente não são semelhantes, pois o ARI não falou de nada mais, para além de uma linha e Tzimtzum, e só então AK, Akudim, Nekudim e Atzilut, como está apresentado nos ‘Oito Portões’ e em todos os escritos do ARI.
Os estudos de Atzilut atribuídos ao ARI não são de todo do ARI, mas de alguma abreviação do próprio livro ‘O Vale do Rei’. É por isso que os cabalistas que seguem o ARI não gostaram deste livro.
Escrevi-vos que primeiro devem estudar o panfleto até que possam explicar cada um e mostrar-lhes a sua ignorância, pois verdadeiramente poderem encontrar tudo na ‘Árvore da Vida’ e em ‘Oito Portões’, especialmente se examinarem de perto o Ramo 3 e os Ramos 4 e 5 em ‘Panim Meirot’. O Ramo 3 explica a Ohr Hozer [luz refletida], o Ramo 4 — as quatro Behinot de Ohr Yashar [luz direta], e os Ramos 5 e 6 explicam o Hizdakchut [purificação/enfraquecimento] do Masach através do qual se faz o Histaklut [olhar] de Ohr Hozer, e podem provar a qualquer um que deve ouvir o que está a dizer. Se o fizerem, certamente vão provar que têm razão.
O livro ‘O Meu Desejo Está Nela’, de Rav Chaim Vital, foi encontrado entre os meus livros, atado ao livro de Cabala de ‘Hacham Mas’ud’, que mo deu como presente. Preciso muito dele, por isso peço que mo enviem o mais depressa possível.
Yehuda Leib