67. Afaste-se do Mal
Eu ouvi depois do feriado de Sukkot, 5 de Outubro, 1943, Jerusalém
Devemos ser cuidadosos com “afaste-se do mal” para manter os quatro pactos.
1) O pacto dos olhos, que consiste na cautela em olhar para as mulheres. E a proibição de olhar não se deve necessariamente ao facto de poder levar a um pensamento. A prova disto é que a proibição se aplica até a um homem de cem anos. Na realidade, a verdadeira razão é que expande de uma raiz muito elevada: esta cautela existe porque, se a pessoa não tiver o devido cuidado, pode acontecer que olhe para a Shechina [Divindade].
2) O pacto da língua – ser vigilante quanto à verdade e à falsidade. Os escrutínios que existem atualmente, após o pecado de Adam HaRishon, são escrutínios sobre o verdadeiro e o falso. Contudo, antes do pecado da árvore do conhecimento, os escrutínios eram acerca do amargo e do doce. No entanto, quando o escrutínio trata da verdade e da falsidade, é completamente diferente. Por vezes, começa doce e termina amargo, o que significa que existe uma realidade amarga que, não obstante, é verdadeira.
Por esta razão, devemos ter cuidado ao mudar as nossas palavras. Embora a pessoa pense que está a mentir apenas ao amigo, temos de saber que o corpo é como uma máquina: assim como está habituado a andar, assim continua a andar. Portanto, quando está habituado à falsidade e ao engano, é impossível que se mova de outra maneira, e isto obriga a pessoa a prosseguir com a falsidade e o engano mesmo quando se encontra só.
Por conseguinte a pessoa tem que se enganar a si própria e não consegue dizer a si própria a verdade, pois não encontra qualquer preferência especial pela verdade.
Podemos dizer que aquele que pensa estar a enganar o seu amigo está, na realidade, a enganar o Criador, pois, para além do corpo da pessoa, só existe o Criador. Isto deve-se ao facto de ser a essência da criação, que a pessoa é designada por “criatura” apenas em relação a si própria. O Criador deseja que a pessoa sinta que é uma realidade separada d'Ele; mas, para além disso, tudo é “Toda a terra inteira está plena da Sua glória.”
Assim, ao mentir ao seu amigo, está a mentir ao Criador; e ao entristecer o seu amigo, está a entristecer o Criador. Por esta razão, se a pessoa se habituar a dizer a verdade, isto vai ajudá-la em relação ao Criador. Ou seja, se prometeu algo ao Criador, vai esforçar-se por cumprir a sua promessa, pois não está habituada a mudar a sua palavra, e, por isso, será recompensado com “O Senhor é a tua sombra.” Se a pessoa mantém e faz o que ele diz, o Criador, por sua vez, também vai manter “Bem-aventurado é aquele que diz e faz” em troca.
Há um sinal no pacto da língua: não dizer tudo o que pode ser dito, pois, ao falar, revela-se o que há no coração, e isto dá um lugar aos externos para se agarrarem, pois, enquanto a pessoa não estiver completamente limpa, ao revelar algo do interior, a Sitra Achra [o outro lado] tem o poder de difamar e escarnecer do seu trabalho. A pessoa diz: “Que tipo de trabalho é este que ela está a oferecer ao alto, visto que toda a sua intenção neste trabalho é apenas para baixo?”
Isto responde a uma grande pergunta: é sabido que “uma Mitzva induz uma Mitzva”, então por que é que frequentemente vemos que a pessoa falha no seu trabalho? Como dissemos anteriormente, a Sitra Achra difama e calunia o seu trabalho e, em seguida, desce e leva-lhe a alma. Ou seja, uma vez que ela já difamou acima, afirmando que o seu trabalho não era puro, mas que a pessoa trabalhava na forma de receção para si própria, ela desce e retira o seu espírito da vida, perguntando: “Que trabalho é este?” Assim, mesmo quando a pessoa recebe alguma iluminação do espírito de vida, acaba por a perder novamente.
O conselho para isto é caminhar com humildade, de forma que ela não tenha conhecimento do seu trabalho, conforme o ditado “não se revela do coração para a boca.” Assim, a Sitra Achra também não pode conhecer o trabalho da pessoa, pois só conhece o que é revelado pela palavra ou pela ação; e é o que ela pode agarrar.
Devemos saber que a dor e o sofrimento provém, em grande parte, daqueles que difamam. Por isso, devemos ser o mais cuidadosos possível ao falar. Além disso, temos de saber que, mesmo ao proferir palavras mundanas, ainda se revelam os segredos do coração. Este é o sentido de “a minha alma saiu quando ele falou.” Este é o pacto da língua com o qual devemos ter cautela.
E a observância deve ser especialmente rigorosa durante a ascensão, pois, durante a descida, é difícil caminhar com a devida cautela em níveis elevados.