<- Biblioteca de Cabala
Continuar a Ler ->

Capítulo 2.7 – Corrigir os Nossos Desejos

Capítulo 2.7 – Corrigir os Nossos Desejos
Utilizar o meu desejo de uma forma diferente chama-se “correção”. Este é um estado em que estamos completamente libertos dele, como se o observássemos de fora, sem sermos governados por ele.
Por exemplo, podemos olhar para o desejo de receber como um desejo de dar. Se eu sei que tu terás prazer com a minha aceitação do teu presente, eu aceitá-lo-ei. Ao aceitar o teu presente, transformo-me de um recetor num doador de deleite.
Para devolver o prazer a ti, devo expressar grande alegria ao receber o teu presente. Assim, o meu desejo não muda, apenas a sua implementação.
Os desejos são sempre divididos em leves (finos) e pesados (espessos), conforme a forma como são usados, o prazer que deles se extrai e a possibilidade de os transformar de desejos de receção em desejos de doação. É importante separar o desejo do seu revestimento, considerando apenas o desejo em si. Só então podemos usar todas as suas partes – finas e espessas. Mas devemos primeiro restringir cada novo desejo que surge e dizer: “Sim, isto é de facto um prazer, mas posso abster-me de o realizar, posso resistir-lhe.”
Ao fazer isto, traçamos uma linha de separação entre nós e o prazer, e entre nós e o doador do prazer. É como um jogo – quando um certo desejo aparece, devemos rejeitá-lo e, depois, aceitá-lo apenas na medida em que o possamos fazer pelo anfitrião.
É por isso que o nosso trabalho é denominado Zivug de Hakaa (acoplamento por impacto), porque usamos o Masach [Tela] para deter e rejeitar o prazer, e só depois o aceitamos na medida em que o podemos usar para dar ao benfeitor. Devemos usar corretamente cada vaso à nossa disposição, mas primeiro devemos separar-nos do prazer que nos chega.
Quando pensamos no propósito da Criação, no contacto com o Criador, dirijo cada ato nosso para Ele. É isso que devemos fazer com cada desejo, e isso intensificará muitas vezes o prazer que extrairemos. Dessa forma, aumentamos efetivamente os nossos vasos de doação.
Basta-nos aprender a usar corretamente os nossos desejos e analisar constantemente a nossa situação. Os ensaios e cartas de Baal HaSulam e do Rabino Baruch Ashlag (Rabash) são muito úteis para isso.
Progredimos ao compreender a situação. Não somos donos dos nossos desejos e prazeres. Apenas um estudo constante das situações nos permite usar os nossos desejos corretamente. O nosso pensamento deve estar voltado para as perguntas: “Porque nos foi enviado este desejo?” “Como devemos reagir a ele, e porquê?”
Devemos observar as coisas como se fosse de fora, por assim dizer. Estes exercícios ensinam-nos por que razão o Criador faz o que faz. Por vezes, temos desejos que não conseguimos dominar, e outras vezes temos alguns que podemos. Por vezes, sentimos indiferença, inveja, ódio, e assim por diante. Devemos apenas manter tudo sob controlo.
Por vezes, não é o que fazemos que é importante, mas a experiência que ganhamos ao fazê-lo. Não importa se avaliamos uma situação corretamente, nem se consideramos algo como um pecado ou uma má ação. Isso porque tal incidente, independentemente do que seja, pode ser de grande ajuda para nós. Cada sentimento é-nos dado pelo Criador para que possamos adquirir a experiência e o conhecimento necessários.
No final, compreenderemos que, sempre que tentamos fazer algo sem nos conectarmos com o Criador, colocamo-nos num estado terrível de reconhecimento do nosso mal, ao ponto de querermos renunciar ao nosso prazer pessoal de uma vez por todas.
Mas o Criador quer que desfrutemos; esse é o desígnio da Criação, e o prazer deve ser genuíno! No entanto, a nossa intenção deve ser dar esse prazer ao Criador e não permanecer num nível animal, egoísta. O que deve mudar é o princípio da receção, a abordagem ao prazer.
Toda a Criação consiste num desejo de receber; há uma raiz feminina na forma como nos relacionamos com o Criador (no sentido de que somos recetores). O desejo de dar é a nossa raiz masculina (no sentido de que queremos dar). Consequentemente, a própria Criação está dividida numa parte feminina e numa parte masculina. Se a criação se adaptar à Luz e se tornar semelhante a ela, então é considerada a parte masculina. Se permanecer fora da Luz como recetora, então é considerada a sua parte feminina.
Tudo o que acontece neste mundo é uma consequência da divisão da alma de Adam ha Rishon em 600.000 almas espirituais. Estas partes encontram-se em diferentes níveis de correção e devem cumprir, de forma alternada, papéis masculinos e femininos, o que significa que, por vezes, devem seguir a linha da direita (doação, parte masculina) e, outras vezes, a linha da esquerda (receção, parte feminina).
Todos os nomes na Torá são nomes de conquistas espirituais na escada espiritual. Contudo, para alcançar um certo nome, é necessário desempenhar tanto a parte masculina como a feminina, ou seja, as linhas da direita e da esquerda. Por exemplo, nos niveis de Faraó, Moisés, Israel e um Gentio, existe tanto uma parte feminina como uma masculina. Mas cada nome só pode ser alcançado uma vez e num certo nível.
Homem e mulher são a união de Zeir Anpin e Malchut do mundo de Atzilut. A sua essência e nivel criam diferentes nomes e um nível espiritual superior. Os estados masculino e feminino estão definidos em cada um dos 125 niveis. Se assim é, como devem os homens e as mulheres comportar-se neste mundo? Cada um deve agir conforme as possibilidades que lhe foram dadas no seu sexo específico.
Embora sejamos egoístas e procuremos apenas o nosso proveito pessoal, devemos ser gratos ao Criador por nos permitir ver como realmente somos, por mais desagradável que isso seja. Devemos tentar aprender a reagir às coisas com moderação, observando-nos como se fosse de fora.
Esse é, de facto, todo o nosso trabalho – tornarmo-nos donos das nossas situações e controlar as nossas emoções. Podemos, por vezes, perder a paciência, mas devemos analisar por que razão as coisas acontecem e o que deve ser feito daqui em diante. Isso ensina-nos a separar o intelecto do coração e as emoções da razão. Introdução ao Livro do Zohar (item 11): “E os mundos encadearam-se até à realidade deste mundo corpóreo, ou seja, até um lugar onde há um corpo, uma alma, um tempo de corrupção e um tempo de correção.”
O corpo é chamado “o desejo de receber para nosso próprio benefício”. Ele expande-se a partir da raiz do pensamento da Criação, através de todo o sistema dos mundos impuros, tornando-se cada vez mais espesso. Este período de tempo, quando está sob o controlo do desejo de receber para nosso próprio benefício, é chamado “o tempo de corrupção”.
Mais tarde, através da prática e do estudo da Cabala, que visam dar ao Criador, o corpo (desejo de receber) começa a purificar-se do desejo de receber inicialmente impresso nele e adquire, gradualmente, um desejo de doar. Isso dá-lhe a possibilidade de receber a Luz do Criador, a alma que se expande a partir da raiz do desígnio da Criação. A alma passa pelo sistema dos mundos puros e reveste um corpo. Este período é chamado “o tempo de correção”.
Nesse estado, enfrenta-se a escada dos níveis espirituais, que se expande de acordo com o pensamento da Criação a partir do mundo de Ein Sof. Isso ajuda a continuar na aquisição da intenção de dar ao Criador, até que cada ato de doação (mesmo a receção) seja apenas para dar ao Criador, sem tomar nada para si próprio.
A receção para doar é considerada uma doação completa. Assim, ao alcançar isso, atinge-se a equivalência das propriedades com as do Criador, ou seja, a adesão a Ele. Quando isso acontece, recebe-se a abundância eterna completa que o Criador pretendia doar quando desenhou a Criação.
É impossível transformar o desejo de receber num desejo de doar. Porquê? Porque receber é a nossa essência e permanece connosco. Deve, portanto, ser revestida com uma intenção de doar, o que significa que a direção da bênção recebida deve ser alterada. Nessa situação, o corpo (desejos) iniciará o seu processo de correção, ou purificação.
Se, por exemplo, dez gramas do corpo forem purificados, então esses dez gramas do corpo podem agora ser preenchidos com Luz. Quando a Luz desce, também se restringe a dez gramas para se ajustar à parte corrigida do corpo e revesti-la. Os dois sistemas de mundos – puro e impuro – atuam de forma síncronizada e ajudam-se mutuamente no processo de correção. Cada novo nivel espiritual obtido ajuda a ascender ao próximo, até finalmente alcançarmos o último nivel, a conquista da eternidade, da perfeição e da plenitude, a capacidade de ver a vida e a morte sob uma nova perspetiva.