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Capítulo 9: Um Apelo por Ajuda 

Um Apelo por Ajuda 

A única coisa que o Criador criou em nós é o nosso egoísmo. Se conseguirmos anular os efeitos do nosso egoísmo, voltaremos a perceber apenas o Criador, e o elemento egoísta deixará de existir.
Ao trabalharmos em nós mesmos, devemos procurar cultivar tanto uma sensação de inferioridade em relação ao Criador como uma sensação de orgulho pelo facto de, enquanto seres humanos, sermos o centro da criação. Esta posição é-nos concedida se cumprirmos o propósito de toda a criação; caso contrário, não somos mais do que meros animais.
Como resultado da vivência destes dois estados contraditórios, desenvolvemos duas respostas em relação ao Criador. A primeira é um apelo por ajuda. A segunda é uma expressão de gratidão pela oportunidade de elevação espiritual.
O principal através do qual podemos progredir espiritualmente é através do apelo ao Criador, pedindo-Lhe que aumente o nosso anseio pelo desenvolvimento espiritual. Este pedido pelo dom da força vai ajudar-nos a superar os nossos receios em relação ao futuro. Além disso, ao contrariarmos as inclinações do nosso ego, devemos reforçar a nossa fé na grandeza, no poder e na Unidade do Criador.
Por isso, devemos suplicar ao Criador que nos conceda a capacidade de reprimir os impulsos constantes para agir de acordo com a nossa própria razão. Alguns de nós poderão começar a concentrar-se em diferentes intenções durante as orações (kavanot), súplicas ou até certas ações.
No entanto, o Criador não ouve as palavras que proferimos, mas sim os sentimentos que se encontram no nosso coração.
Assim, é inútil gastar energia a pronunciar belas frases sem verdadeiro significado interior ou a ler símbolos obscuros ou kavanot dos livros de oração cabalísticos. A única coisa que nos é exigida é dirigirmo-nos ao Criador com todo o nosso ser, compreendermos a essência dos nossos desejos e pedir-Lhe que os transforme. Acima de tudo, nunca devemos interromper a nossa comunicação com o Criador!

Em Memória do Cabalista Rav Baruch Ashlag

O Criador não atua sobre nós apenas através das pessoas à nossa volta, mas usa tudo o que existe no nosso mundo. A estrutura do mundo é tal que o Criador pode influenciar-nos e aproximar-nos do objetivo da criação.
Raramente sentimos a presença do Criador nas situações quotidianas que enfrentamos. Isto acontece porque os nossos atributos colocam-nos em oposição ao Criador, tornando impossível senti-Lo. Assim que adquirirmos atributos semelhantes aos d’Ele, começaremos a senti-Lo proporcionalmente.
Por isso, quando enfrentamos dificuldades, devemos perguntar-nos: "Porque é que isto me está a acontecer?" e "Porque é que o Criador está a fazer isto comigo?" Na verdade, não existem castigos, apesar de muitos serem mencionados na Bíblia (que inclui os Cinco Livros de Moisés, os Escritos e os Profetas).
Existem apenas "incentivos" que nos obrigam a avançar contra os nossos desejos egoístas. A nossa perceção das coisas é apenas um mecanismo auxiliar que nos ajuda a compreender corretamente o que sentimos.
Sempre que imaginamos a nossa vida, devemos pensar numa sala de aula gigantesca, onde o Criador omnisciente atua como professor, concedendo-nos conhecimento à medida que estamos preparados para o receber. Isto desperta gradualmente, nos nossos órgãos sensoriais espirituais recém-nascidos, a perceção do Criador.
O Criador criou uma escada para a nossa ascensão. É uma escada em movimento. Esta escada apareceu no sonho de Jacob e foi descrita por Baal HaSulam, o Rabino Yehuda Ashlag, e pelo seu filho Baruch Ashlag.
Muitas vezes, viramos as costas à fonte do conhecimento simbolizada por esta escada e, apenas com grande esforço, conseguimos voltar-nos e começar a caminhar em direção ao Criador. É por isso que Ele nos envia professores, livros e companheiros de estudo.
Os alunos que seguem os ensinamentos da Cabala vivem no mundo físico, mas estão sobrecarregados pelo seu egoísmo. Por isso, não conseguem compreender corretamente os sábios que estão fisicamente próximos deles, mas que também evoluem nos mundos espirituais.
Aqueles que conseguem deixar de lado a razão e as suas próprias opiniões, e seguir os caminhos dos autores dos livros autênticos da sabedoria, poderão ligar-se inconscientemente ao espiritual. É precisamente por não vermos nem sentirmos o Criador no nosso mundo, que não conseguimos entregar-Lhe plenamente a nossa consciência.
Os pensamentos dos professores ou mestres podem penetrar nos seus alunos e induzir neles a fé. Isto corresponde ao AHP espiritual do mestre: Awzen (ouvido), Hotem (nariz) e Peh (boca), que representam os vasos de receção, descendo até ao GE (Galgalta ve Einayim), que representam os vasos de doação do nível inferior (ou seja, o nível do aluno).
Subir ao nível do AHP do mestre significa conectar-se à sua sabedoria e pensamentos. Da mesma forma, quando os alunos mergulham no AHP de um texto de sabedoria, elevam-se temporariamente e o espiritual é-lhes revelado.
Sempre que lemos as obras de cabalistas como Baal HaSulam ou Shimon Bar Yochai, ligamo-nos diretamente a eles através da Luz circundante. Somos então iluminados, e os nossos vasos de receção purificados.
É importante, ao ler, ter presente a estatura do autor, esteja ele vivo ou não. Podemos sempre ligar-nos ao autor através dos nossos sentimentos enquanto estudamos a sua obra.
Existem muitos caminhos que conduzem ao Criador, e Ele utiliza inúmeros meios para agir sobre nós. Qualquer dificuldade ou obstáculo no caminho do aluno, em particular a morte de um mestre, pode ser visto como uma oportunidade de transformação a nível individual.