Capítulo 8. A Estrutura da Espiritualidade
Os desejos da pessoa são chamados de Kelim [Vasos], e estes podem conter Luz espiritual, ou prazer. No entanto, na sua essência, os desejos da pessoa devem ser semelhantes às qualidades da Luz espiritual. Caso contrário, a Luz não pode entrar neles, de acordo com a Lei da Equivalência de Forma dos Objetos Espirituais.
A atividade dos objetos espirituais, seja de aproximação, afastamento ou fusão e unificação – é sempre baseada no princípio da semelhança de propriedades.
O Criador vai conceder à pessoa aquilo que ela deseja – o regresso ao Criador.
Por conseguinte, o coração ou Kli [Vaso] da pessoa será preenchido com a percepção do Criador na mesma medida em que o egoísmo tenha sido expulso. Isto está em conformidade com a Lei da Equivalência de Qualidades entre a Luz e o Kli [Vaso].
Na realidade, podemos começar a nossa ascensão espiritual a partir de qualquer estado em que nos encontremos. Devemos apenas compreender que, de todas as condições possíveis, desde a mais elevada à mais baixa, o Criador escolheu esta em particular como a melhor para iniciarmos o caminho do avanço espiritual.
Por isso, não pode haver outro estado de espírito, humor ou circunstâncias externas mais adequadas ou mais benéficas ao nosso progresso do que as nossas condições atuais, por mais desesperantes ou sombrias que possam parecer. Ao compreender isto, podemos alegrar-nos com a oportunidade de recorrer ao Criador para obter ajuda e de Lhe agradecer, mesmo que estejamos na mais miserável das situações.
Algo é considerado “espiritual” se for eterno e não desaparecer do universo, mesmo ao atingir o objetivo final. Por outro lado, o egoísmo (todos os desejos inatos originais e a essência de um ser humano) é considerado meramente material, porque, uma vez corrigido, desaparece.
A nossa essência permanece até ao fim da correção, quando apenas a forma é alterada. Se os nossos desejos forem corrigidos e se tornarem altruístas, então até as nossas qualidades inatas negativas permitir-nos-ão compreender o Criador.
A existência de um lugar espiritual não está relacionada com qualquer espaço físico. Todos os que alcançam este estado após corrigirem as suas qualidades espirituais podem ver e perceber as mesmas coisas.
A escada do Criador tem 125 níveis. Estes níveis estão divididos uniformemente entre cinco mundos espirituais. Estes mundos são:
O Mundo de Adam Kadmon
O Mundo de Atzilut
O Mundo de Beria
O Mundo de Yetzira
O Mundo de Assiya
Cada nível proporciona uma percepção diferente do Criador, dependendo das propriedades particulares desse nível. Assim, aqueles que adquirem as qualidades de um determinado nível vêem a Cabala e o Criador de uma forma completamente nova. Todos os que alcançam um determinado nível do mundo espiritual recebem a mesma percepção que os demais nesse mesmo nível.
Quando os cabalistas disseram: "Assim disse Abraão a Isaac", isto indicava que os cabalistas estavam situados no mesmo nível que Abraão. Assim, os cabalistas compreenderam como Abraão respondeu a Isaac, pois no seu estado espiritual eram como Abraão.
Durante a sua vida, o cabalista Rav Yehuda Ashlag alcançou todos os 125 níveis. A partir desse lugar elevado, ele prescreveu a Cabala, que agora podemos estudar nesta geração. Foi deste nível que escreveu o seu comentário ao Zohar, o texto fundamental da Cabala.
Cada um dos 125 níveis existe objetivamente; todos os que percebem cada um deles vêem as mesmas coisas, tal como todos os que habitam o nosso mundo vêem os mesmos cenários quando estão no mesmo lugar.
Assim que alcançamos o mais pequeno desejo altruísta, podemos embarcar num caminho de ascensões e descidas espirituais: num momento, estamos prontos para nos anular completamente perante o Criador, mas no momento seguinte nem sequer pensamos nisso. De repente, a ideia de elevação espiritual torna-se-nos absolutamente estranha e é expulsa do nosso intelecto.
Isto é semelhante à forma como uma mãe ensina o seu filho a andar. Ela segura-o pela mão para que ele sinta o seu apoio e, de seguida, solta-o. Quando a criança se sente totalmente desamparada e sem apoio, é obrigada a dar um passo na direção da mãe. Apenas assim pode aprender a andar de forma independente.
Deste modo, mesmo que nos pareça que o Criador nos abandonou subitamente, na verdade Ele está à espera que demos um passo por nós próprios.
Diz-se que o Mundo Superior está num estado de repouso absoluto. A palavra "repouso", no mundo espiritual, implica a ausência de mudanças no desejo.
Contudo, o desejo de doar o bem nunca muda. Todos os actos e movimentos, tanto no nosso mundo emocional interior (egoísta) como no mundo espiritual (altruísta), envolvem a substituição de um desejo anterior por um novo.
Se tal mudança não ocorreu, então nada de novo aconteceu e nenhum avanço foi feito. Isto aplica-se mesmo se o desejo original, constante, for por si só muito intenso e vívido, tirando-nos a paz.
Mas, se esse desejo permanecer inalterado e constante, então não há movimento.
Por conseguinte, quando se diz que a Luz Superior está em estado de repouso absoluto, isto significa que o Desejo do Criador de nos beneficiar é inabalável e constante.
Existimos num Mar de Luz. Mas o ponto em nós que chamamos "eu" está encerrado numa concha de egoísmo. Neste estado, somos incapazes de desfrutar da Luz e estamos apenas a flutuar.
Prazeres Falsos
Os prazeres do nosso mundo, tal como são vistos pela sociedade, podem ser divididos em vários tipos: símbolos de estatuto (riqueza, fama), naturais (família), criminosos (prazeres obtidos à custa da vida de outros), ilícitos (prazeres obtidos à custa da propriedade alheia), amorosos (prazeres românticos), entre outros. Todos estes são compreendidos pela sociedade, ainda que alguns sejam condenados e punidos.
No entanto, existe um certo tipo de prazer, inaceitável em qualquer tipo de sociedade, que provoca sempre protesto. Leva à despesa de enormes quantias de dinheiro em tentativas de o combater, embora os danos que causa à sociedade sejam, talvez, dos menos significativos.
Por exemplo, os toxicodependentes são, regra geral, pessoas pouco exigentes, profundamente absorvidas nas suas sensações interiores. Porque, então, não permitimos que os nossos semelhantes se entreguem a prazeres que representam apenas uma pequena ameaça à sociedade? Porque não lhes damos simplesmente a oportunidade de desfrutar dos seus prazeres modestos e pacíficos, que não prejudicam os outros, ao contrário dos prazeres criminosos, ilícitos e outros?
A resposta é que os prazeres falsos desviam-nos dos nossos verdadeiros objetivos. Fazem-nos esquecer quem somos e levam-nos a gastar toda a nossa vida a persegui-los como se estivéssemos atordoados.
Será então verdade que todos os objetos que nos atraem são prazeres falsos? Em vez de procurarmos o verdadeiro prazer e nos voltarmos para as coisas espirituais, procuramos satisfação em modas sempre mutáveis, em melhorar o nosso estilo de vida e em fabricar novos artigos.
É como se estivéssemos numa corrida para perpetuar suportes atractivos de novos prazeres, com receio de que a vida não nos proporcione gozo suficiente.
Assim que alcançamos aquilo pelo qual nos esforçamos, temos de definir de imediato um novo objetivo, pois o que obtivemos, depressa perde o seu encanto.
No entanto, sem esperança de novos prazeres, sem os procurar e perseguir, aparentemente não temos qualquer incentivo para viver. Então, não poderá dizer-se que todas as nossas modas e estilos de vida, tudo aquilo que constantemente perseguimos, são apenas outra forma de droga?
Qual é a diferença entre o prazer de um toxicodependente e o prazer derivado do mundano e do material? Porque se opõe o Criador, o Supervisor Divino, aos prazeres proporcionados pelas drogas? Porque nos leva Ele a aprovar legislação antidroga neste mundo? Porque não aplicamos a mesma abordagem a todos os outros prazeres materiais provenientes dos objectos comuns deste mundo?
As drogas são proibidas no nosso mundo precisamente porque nos permitem escapar à realidade. Tornam-nos incapazes de enfrentar os golpes e a beleza da vida, que resultam da ausência de prazeres egoístas. Estes golpes são, na verdade, um meio de nos reformarmos, pois apenas uma pequena parte da população recorre à religião e à Cabala para mudar.
Paradoxalmente, recorremos ao Criador nos momentos difíceis, quando somos abalados pelo sofrimento. É estranho que não nos afastemos do Criador nesses tempos difíceis, dado que foi Ele quem nos enviou o nosso sofrimento.
As drogas são uma fonte de prazer ilusório e, por isso, são proibidas. Aqueles que caem sob a sua influência vivem numa ilusão de prazer que os impede de encontrar o caminho para o verdadeiro prazer espiritual. Por esta razão, as drogas são subconscientemente vistas pela sociedade como o vício mais perigoso, ainda que não representem um perigo imediato para outras pessoas.