Capítulo 7. As Nossas Perceções
Quando a pessoa realiza um determinado tipo de trabalho, desenvolve gradualmente uma perceção especial relativamente aos objetos e à linguagem associados a esse trabalho. Assim, não há nada no mundo que não possamos começar a experienciar por hábito, mesmo sem uma compreensão prévia do objeto em questão.
Contudo, operamos sob uma limitação essencial à nossa perceção e compreensão: vemo-nos a nós próprios como separados dos objetos que percebemos.
Existe aquele que percebe e existe o que é percecionado – o objeto que é captado pela pessoa. Da mesma forma, há quem compreenda e, separadamente, o objeto da compreensão.
Para que a perceção ocorra, é necessário um certo contacto entre quem percebe e o objeto percecionado: trata-se de um vínculo, algo que os une, algo que têm em comum durante o ato da perceção. Só conseguimos captar o que nos rodeia através da nossa perceção. O que percecionamos é tido como uma informação verdadeira e fiável.
No entanto, por sermos incapazes de ver tudo o que nos rodeia de forma objetiva, assumimos como verdadeiro o quadro que os nossos sentidos nos apresentam. Mas não sabemos como é o universo para além dos nossos sentidos, nem como se apresentaria a seres com um conjunto de sentidos diferente do nosso. Isto porque adquirimos o nosso sentido da realidade através da forma como percecionamos o ambiente; assumimos que os nossos sentidos são exatos e aceitamos como verdadeiro a imagem da realidade que nos é transmitida através deles.
Se partirmos do princípio de que nada existe no universo para além do Criador e das Suas criações, podemos dizer que as nossas perceções e imagens são os meios pelos quais o Criador se manifesta à nossa consciência. A cada etapa de elevação espiritual, essa imagem aproxima-se cada vez mais da verdadeira. Finalmente, no último nível de elevação, podemos percecionar o Criador e nada mais além do Criador.
Assim, todos os mundos, bem como tudo o que acreditamos existir fora de nós, existem, na verdade, apenas em relação a nós. Ou seja, existem em relação a quem perceciona a realidade desta forma particular.
Se não percecionamos o Criador nem o Seu domínio sobre nós no momento presente, pode dizer-se que permanecemos "na escuridão".
Ainda assim, não podemos determinar a ausência do sol no universo apenas porque as nossas perceções são subjetivas. É apenas a nossa construção da realidade que nos leva a vê-la dessa forma.
Se, porém, compreendermos que a nossa negação do Criador e da Sua governação é puramente subjetiva e suscetível de mudança, podemos então iniciar a nossa elevação espiritual através de um esforço de desejo e com o auxílio de textos e mestres. Além disso, assim que começamos a ascender espiritualmente, podemos perceber que o Criador criou a condição da escuridão precisamente para nos levar a sentir necessidade da Sua ajuda e para nos atrair para mais perto d’Ele.
Com efeito, o Criador cria tais condições especificamente para aqueles que deseja aproximar de Si. Por isso, é essencial reconhecer que a elevação de um indivíduo a partir do estado de escuridão traz alegria ao Criador, pois quanto maior for a escuridão da qual a pessoa emerge, mais clara será a perceção da grandeza do Criador e maior será a valorização do novo estado espiritual.
Mas mesmo enquanto sentimos essa escuridão, cegos à governação do Criador e sem fé n’Ele, podemos, com a nossa força de vontade, tentar encontrar um caminho para sair da escuridão com a ajuda de um livro ou de um Professor, até que consigamos percecionar, ainda que tenuemente, um pequeno raio de Luz, uma fraca perceção do Criador.
Depois, ao fortalecer progressivamente esse raio de Luz através da constante evocação do Criador, podemos escapar da escuridão e entrar na Luz. Indo ainda mais longe, se compreendermos que estes estados de escuridão são necessários para o progresso espiritual, e até desejáveis, pois são enviados pelo próprio Criador, então passaremos a recebê-los de bom grado.
Reconheceremos que o Criador nos concedeu o dom de percecionarmos sombras, ou seja, uma escuridão parcial, para que possamos procurar a origem da Luz.
Porém, se não aproveitarmos essa oportunidade para atravessar para a Luz, então o Criador ocultar-Se-á completamente de nós.
A escuridão total vai prevalecer, trazendo consigo a sensação da ausência do Criador e do Seu domínio. Então, já não compreenderemos como e porquê os objetivos espirituais alguma vez fizeram sentido, nem como a realidade e a razão pessoal puderam ser ignoradas.
Essa escuridão total vai continuar até que o Criador volte a iluminar-nos com um pequeno raio de Luz.