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Capítulo 6. Progresso Espiritual

Assim como somos incapazes de avaliar corretamente a nossa verdadeira condição, também não conseguimos discernir se nos encontramos numa fase de ascensão ou de descida espiritual. Pois, ainda que nos sintamos em declínio espiritual, pode, na verdade, tratar-se da Vontade do Criador a mostrar-nos o nosso verdadeiro estado. Isto demonstra que, sem indulgência própria, somos incapazes de funcionar e caímos de imediato no desespero. Até mesmo a depressão e a ira podem surgir, caso os nossos corpos não recebam prazer suficiente da existência.
Mas, na realidade, esta carência representa uma ascensão espiritual, pois, nesse momento, estamos mais próximos da verdade do que antes, quando nos sentíamos felizes neste mundo. Diz-se que “aquele que aumenta o conhecimento, aumenta também a dor.” Por outro lado, a sensação de ascensão espiritual pode não ser mais do que um estado de indulgência própria e complacência mal interpretado.
Somente quem já alcançou o Criador e a Sua Providência Divina sobre todas as criaturas pode avaliar corretamente o seu estado espiritual. Com base nisto, torna-se evidente que, quanto mais avançamos no caminho do aperfeiçoamento interior para corrigir o nosso egoísmo, e quanto mais nos esforçamos para nos melhorar e estudar, mais compreendemos as nossas próprias características.
A cada tentativa, a cada dia que passa, a cada desvio no caminho, tornamo-nos cada vez mais desiludidos quanto à nossa capacidade de alcançar algo por nós próprios. E quanto mais desesperamos nas nossas tentativas, maiores se tornam as nossas queixas contra o Criador. Exigimos então ser retirados desse abismo negro, dessa prisão de desejos materiais onde nos encontramos.
Os acontecimentos progridem desta forma até que, tendo esgotado todas as nossas possibilidades e feito tudo o que estava ao nosso alcance, reconhecemos que somos incapazes de nos ajudar. Devemos, então, voltar-nos para o Criador, que coloca estes obstáculos no nosso caminho para nos compelir a pedir a Sua ajuda e despertar em nós o desejo de estabelecer um vínculo com Ele.
Mas, para que tal aconteça, os nossos apelos devem brotar das profundezas do nosso ser. Isto só se torna possível quando tivermos esgotado todas as alternativas e reconhecermos a nossa completa impotência.
Apenas um clamor que surja das profundezas da nossa alma – tornando-se o nosso único desejo, pois compreendemos que apenas um milagre do Alto nos pode salvar do nosso maior inimigo, o nosso próprio ego – será atendido pelo Criador. E então Ele vai substituir o coração egoísta por um coração espiritual, “um coração de pedra por um coração de carne.”
Até que o Criador corrija a nossa condição, quanto mais avançamos, pior nos sentimos em relação a nós próprios.
Na verdade, sempre fomos assim, mas, ao compreendermos, ainda que em pequena medida, os atributos dos mundos espirituais, começamos a sentir o quão hostis são os nossos desejos pessoais à entrada nesses mundos.
No entanto, apesar de nos sentirmos cansados e desanimados, podemos ainda recuperar o controlo sobre os nossos corpos. Então, ao refletirmos cuidadosamente e concluirmos que, aparentemente, não há saída para o nosso estado, poderemos compreender a verdadeira causa dessas emoções e forçar-nos a sentir leveza e otimismo.
Ao fazê-lo, testemunhamos a nossa confiança na justiça da governação do mundo, na bondade do Criador e no Seu domínio sobre tudo. Assim, tornamo-nos espiritualmente aptos para receber a Luz do Criador, pois estamos a basear toda a nossa perceção da realidade na fé, elevando a fé acima da razão.
Não há momento mais precioso na vida daquele que busca a espiritualidade do que aquele em que compreende que todas as forças foram esgotadas, todos os esforços foram feitos, e ainda assim o objetivo não foi alcançado. Pois, somente nesse instante, pode apelar sinceramente ao Criador do fundo do seu coração, uma vez que se torna evidente que os seus próprios esforços não servirão de ajuda alguma.
Antes de reconhecer a derrota, aquele que busca a espiritualidade ainda acredita que não precisará de qualquer ajuda externa para alcançar o objetivo desejado. Incapaz de implorar por auxílio com sinceridade suficiente, acaba por sucumbir à voz enganadora do ego, que o leva a pensar que, em vez de pedir ajuda, o melhor será redobrar o esforço para alcançar o objetivo por conta própria.
Por fim, aquele que busca a espiritualidade vai compreender que, na luta contra o ego, este é o mais forte dos dois combatentes, e que é necessária ajuda para vencer este inimigo. Só então reconhece a sua insignificância e a sua incapacidade de superar o ego, tornando-se pronto para se curvar perante o Criador e implorar a Sua ajuda.