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Capítulo 5. O Objetivo do Estudo da Cabala

A Luz que emana dos escritos dos grandes cabalistas vai ajudar-nos a superar dois desafios: a nossa teimosia e a tendência para esquecer o sofrimento causado pela nossa obstinação. A oração é o caminho para toda a correção, que o Criador verá nos nossos corações.
Quando nos dedicamos inteiramente à oração, alcançamos o alívio que procuramos e a correção de que necessitamos.
Mas, para alcançar a correção, devemos entregar-nos completamente a esse esforço – em corpo, mente e espírito. A verdadeira oração e a resposta a ela, ou seja, o alívio, só surgem quando a pessoa emprega o máximo esforço, entregando-se totalmente a essa busca, tanto em quantidade como, sobretudo, em qualidade.
No entanto, só através do estudo adequado da Cabala podemos aprender a erradicar o nosso ego e, assim, alcançar a redenção pessoal. O nosso anseio pelo alívio deve ser tão intenso que nos comprometemos com o estudo de forma absoluta, sem nos deixarmos distrair um instante da busca por nós próprios na sabedoria da Cabala.
Se ainda não tivermos sido encurralados pelo sofrimento, como um animal assustado na sua jaula, e continuarmos a ansiar pelo prazer nos recantos mais profundos do nosso coração, então não reconheceremos que o egoísmo ainda vive dentro de nós. O egoísmo é o inimigo que devemos derrotar.
Até o fazermos, não conseguiremos atravessar através do nosso sofrimento e empenhar um esforço total para encontrar na Cabala a força e o caminho para escapar aos limites do nosso próprio egoísmo. A liberdade não será nossa enquanto não vencermos o ego que habita em nós.
Embora possamos começar os estudos cheios de determinação, essa motivação pode escapar-nos ao longo do percurso. Como já foi mencionado, os nossos desejos determinam os nossos pensamentos, e o nosso intelecto atua apenas como um instrumento de apoio. O intelecto procura apenas os meios para satisfazer as vontades e os desejos do coração.
Qual é a diferença entre estudar Cabala e outros sistemas? A resposta é simples: apenas ao estudar Cabala encontramos a força para nos libertarmos das correntes do egoísmo.
Durante o estudo da Cabala, podemos analisar diretamente as descrições dos atos do Criador, as Suas características, as nossas próprias características e a sua disparidade em relação ao espírito. A Cabala revela-nos o objetivo do Criador para a criação e os meios para corrigirmos o nosso ego.
Só quando estudamos Cabala conseguimos ver a sua Luz, a força espiritual que nos ajuda a vencer o egoísmo. Os restantes elementos destes ensinamentos apenas nos arrastam, contra a nossa vontade, para uma discussão sobre ações materiais e questões legalistas.
Alguns podem estudar Cabala apenas para expandir o seu conhecimento; se assim for, só vão conseguir abordá-la como uma narrativa direta. Não serão capazes de extrair a Luz da Cabala das suas páginas. Apenas aqueles que estudam Cabala para se aperfeiçoarem poderão receber esse benefício.
A Cabala é o estudo do sistema das nossas raízes espirituais. Este sistema emana do Alto. Podemos estudá-lo segundo leis rigorosas que, quando conjugadas, apontam para um único propósito supremo: “a revelação da grandeza do Criador, para que a Sua magnificência seja compreendida pelas Suas criaturas neste mundo.”
A Cabala, a percepção do Criador, compõe-se de duas partes: os escritos dos cabalistas, que já alcançaram o Criador, e o corpo de conhecimento que só pode ser alcançado por aqueles que adquiriram os vasos espirituais e os anseios altruístas que lhes permitem receber sensações espirituais, ou seja, perceções do Criador.
Se, após alcançarmos uma elevação espiritual, voltarmos a cair em desejos impuros, então os bons desejos que tivemos durante a nossa elevação juntar-se-ão aos desejos impuros. A acumulação desses desejos impuros vai diminuir gradualmente até que sejamos capazes de permanecer permanentemente no estado elevado de desejos puramente altruístas.
Quando tivermos concluído o nosso trabalho e revelado todos os nossos desejos, vamos receber uma Luz do Alto tão imensa que nos vai arrancar para sempre da prisão deste mundo, permitindo-nos habitar permanentemente no mundo espiritual. No entanto, aqueles que nos rodeiam nem sequer terão consciência disso.
A "linha da direita" representa um estado em que o Criador é sempre justo aos nossos olhos; justificamos a Sua providência em tudo. Esse estado chama-se "fé". Desde os primeiros passos no nosso desenvolvimento e elevação espiritual, devemos esforçar-nos por agir como se já tivéssemos alcançado uma fé completa no Criador.
Devemos imaginar que já sentimos, com toda a nossa essência, que o Criador governa o mundo com infinita benevolência e que todo o mundo recebe apenas bondade d’Ele. No entanto, ao analisarmos a nossa própria situação, podemos ver que ainda nos falta tudo o que desejamos. Olhando em redor, vemos um mundo em sofrimento, cada pessoa à sua maneira.
Apesar disso, devemos dizer a nós próprios que o que vemos é uma imagem distorcida do mundo, ampliada pelo prisma do nosso próprio egoísmo, e que a verdadeira realidade só se vai revelar quando alcançarmos um estado de completo altruísmo. Apenas então veremos que o Criador governa o mundo com um propósito: conduzir as Suas criaturas à plenitude absoluta.
Nesse estado, quando a nossa fé na bondade absoluta do Criador se sobrepõe ao que vemos e sentimos, estamos a experienciar um estado chamado "fé acima da razão."