Uma Antiga Oração: Senhor, concede-me a força para mudar o que posso mudar, a coragem para aceitar o que não posso mudar e a sabedoria para distinguir entre ambos.
Aos nossos próprios olhos, somos indivíduos únicos e independentes. Este é um traço comum a todas as pessoas. Pensem nos séculos de batalhas que a humanidade enfrentou, apenas para finalmente obter a liberdade pessoal limitada que temos hoje.
Mas não somos os únicos que sofrem quando a nossa liberdade é retirada. Não há uma única criatura que possa ser capturada sem luta. É uma característica natural e inerente opor-se a qualquer forma de subjugação. No entanto, mesmo que compreendamos que todas as criaturas merecem ser livres, isso não garante que compreendamos o que realmente significa ser livre.
Se nos perguntarmos honestamente sobre o significado da liberdade, provavelmente descobriremos que muito pouco do que pensamos, atualmente, sobre ela resistirá, quando terminarmos de perguntar. Portanto, antes de falarmos sobre liberdade, devemos saber o que realmente significa ser livre.
Para verificar se compreendemos a liberdade, devemos olhar para dentro de nós próprios para ver se somos capazes de realizar pelo menos um ato livre e voluntário. Como o nosso desejo de receber cresce constantemente, somos sempre impelidos a encontrar formas melhores e mais gratificantes de viver. Mas, como estamos presos numa corrida desenfreada, não temos escolha neste assunto.
Por outro lado, se o nosso desejo de receber é a causa de todos estes problemas, talvez haja uma forma de controlá-la. Se pudéssemos fazê-lo, talvez pudéssemos controlar toda a corrida. Caso contrário, sem esse controlo, o jogo pareceria perdido antes mesmo de ser jogado.
Mas, se somos os perdedores, então quem é o vencedor? Com quem (ou com o quê) estamos a competir? Vivemos os nossos dias como se os acontecimentos dependessem das nossas decisões. Mas será que dependem mesmo? Não seria melhor desistir de tentar mudar as nossas vidas e simplesmente seguir o fluxo?
Por um lado, dissemos que a Natureza se opõe a qualquer subjugação. Mas, por outro lado, a Natureza não nos mostra qual, se alguma, das nossas ações é livre, e onde somos atraídos por um Mestre de Marionetas invisível a pensar que somos livres.
Além disso, se a Natureza funciona de acordo com um Plano Mestre, poderiam estas perguntas e incertezas fazer parte do esquema? Talvez haja uma razão oculta que nos faz sentir perdidos e confusos. Talvez a confusão e a desilusão sejam a forma do Mestre de Marionetas nos dizer: “Ei, olhem novamente para onde estão a ir, porque, se estão à procura de Mim, estão a olhar na direção errada.”
Poucos negarão que estamos, de facto, desorientados. Contudo, para determinar a nossa direção, temos de saber por onde começar a procurar. Isso pode poupar-nos anos de esforços inúteis. A primeira coisa que queremos descobrir é onde temos escolha livre e independente, e onde não temos. Assim que compreendamos isso, saberemos onde devemos concentrar os nossos esforços.
AS RÉDEAS DA VIDA
Toda a Natureza obedece a uma única lei: “A Lei do Prazer e da Dor”. Se a única substância da Criação é o desejo de receber prazer, então apenas uma regra de comportamento é necessária: a atração pelo prazer e a rejeição da dor.
Nós, humanos, não somos exceção a esta regra. Seguimos um desígnio pré-instalado que dita completamente cada um dos nossos movimentos: queremos receber o máximo e trabalhar o mínimo. E, se possível, queremos tudo de graça! Portanto, em tudo o que fazemos, mesmo quando não estamos conscientes disso, tentamos sempre escolher o prazer e evitar a dor.
Mesmo quando parece que nos estamos a sacrificar, na verdade estamos a receber mais prazer do “sacrifício” do que de qualquer outra opção que possamos considerar naquele momento. E a razão pela qual nos enganamos a pensar que temos motivos altruístas é porque enganar-nos a nós próprios é mais divertido do que dizer a verdade. Como Agnes Repplier uma vez afirmou, “Há poucas nudez tão desagradável como a verdade nua”.
No Capítulo Três, dissemos que a Fase Dois doa, embora seja motivada pela mesmo desejo de receber que na Fase Um. Esta é a raiz de toda ação “altruísta” que “doamos” uns aos outros.
Vemos como tudo o que fazemos segue um “cálculo de rentabilidade”. Por exemplo, calculo o preço de uma mercadoria em comparação com o benefício potencial de a adquirir. Se achar que o prazer (ou a ausência de dor) de possuir a mercadoria será maior do que o preço que devemos pagar, diremos ao nosso “corretor interno”: “Compra! Compra! Compra!”, acendendo as luzes verdes no nosso painel mental de Wall Street.
Podemos mudar as nossas prioridades, adotar diferentes valores de bem e mal, e até “treinar-nos” para nos tornarmos destemidos. Além disso, podemos tornar um objetivo tão importante aos nossos olhos que qualquer dificuldade no caminho para o alcançar se torne insignificante, intangível.
Por exemplo, se quisermos o estatuto social e os bons salários associados a ser um médico famoso, esforçar-nos-emos, suaremos e labutaremos durante anos na escola de medicina e viveremos mais alguns anos de privação de sono durante o internato, esperando que eventualmente isso resulte em fama e fortuna.
Por vezes, o cálculo da dor imediata pelo ganho futuro é tão natural que nem percebemos que o estamos a fazer. Por exemplo, se ficassemos gravemente doentes e descobrissemos que apenas uma cirurgia específica poderia salvar a nossa vida, aceitaríamos de bom grado a operação. Porque, embora a operação em si possa ser muito desagradável e apresentar os seus próprios riscos, não é tão ameaçadora quanto a nossa doença. Em alguns casos, até pagaríamos somas consideráveis para passar por esse calvário.
MUDAR A SOCIEDADE PARA NOS MUDAR A NÓS PRÓPRIOS
A Natureza não apenas nos “condenou” a uma fuga constante do sofrimento e a uma busca contínua pelo prazer, como também nos negou a capacidade de determinar o tipo de prazer que queremos. Ou seja, não podemos controlar o que desejamos, e os desejos surgem em nós sem aviso prévio e sem pedir a nossa opinião sobre o assunto.
Contudo, a Natureza não apenas criou os nossos desejos, como também nos forneceu uma forma de os controlar. Se nos lembrarmos de que todos somos partes da mesma alma, a de Adam ha Rishon, será fácil perceber que a forma de controlar os nossos próprios desejos é influenciando a alma inteira, ou seja, a humanidade, ou pelo menos uma parte dela.
Vejamos desta forma: se uma única célula quisesse ir para a esquerda, mas o resto do corpo quisesse ir para a direita, a célula teria de ir para a direita também. Isto é, a menos que ela convencesse todo o corpo, ou uma esmagadora maioria das células, ou o “governo” do corpo, de que era melhor ir para a esquerda.
Assim, embora não possamos controlar os nossos próprios desejos, a sociedade pode e controla-os. E como podemos controlar a escolha da sociedade, podemos escolher o tipo de sociedade que nos influenciará da forma que considerarmos melhor. Portanto, podemos usar as influências sociais para controlar os nossos próprios desejos. E, ao controlar os nossos desejos, controlaremos os nossos pensamentos e, em última análise, as nossas ações.
O Livro do Zohar, há quase dois mil anos, já descrevia a importância da sociedade. Mas desde o século XX, quando se tornou evidente que dependemos uns dos outros para a sobrevivência, utilizar eficazmente a nossa dependência societal tornou-se vital para o progresso espiritual. A importância suprema da sociedade é uma mensagem que o cabalista Yehuda Ashlag torna muito clara em muitos dos seus ensaios, e se seguirmos a sua linha de pensamento, compreenderemos porquê.
Ashlag diz que o maior desejo de todos, quer o admitamos ou não, é ser apreciado pelos outros e conquistar a sua aprovação. Isso não só nos dá uma sensação de confiança, como também afirma a nossa posse mais preciosa — o nosso ego. Sem a aprovação da sociedade, sentimos que a nossa própria existência é ignorada, e nenhum ego pode tolerar a negação. É por isso que as pessoas muitas vezes vão a extremos para conquistar a atenção dos outros.
E como o nosso maior desejo é obter a aprovação da sociedade, somos compelidos a adaptar-nos (e adotar) as leis do nosso ambiente. Essas leis determinam não apenas o nosso comportamento, mas moldam a nossa atitude e abordagem a tudo o que fazemos e pensamos.
Esta situação torna-nos incapazes de escolher qualquer coisa — desde a forma como vivemos, aos nossos interesses, ao modo como passamos o nosso tempo livre, e até à comida que comemos e às roupas que vestimos. Além disso, mesmo quando escolhemos vestir-nos contra a moda ou sem a considerar, ainda estamos (a tentar ser) indiferentes a um certo código social que escolhemos ignorar. Ou seja, se a moda que escolhemos ignorar não existisse, não teríamos de a ignorar e provavelmente teríamos escolhido um código de vestimenta diferente. Em última análise, a única forma de nos mudarmos a nós próprios é mudar as normas sociais do nosso ambiente.