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Para realizar a tarefa de se tornar idêntico ao Criador, a primeira coisa que a criatura deve obter é o ambiente certo para evoluir e tornar-se semelhante ao Criador. Este ambiente é chamado “mundos”.
Na Fase Quatro, a criatura foi dividida em duas partes: superior e inferior. A parte superior constitui os mundos, e a parte inferior constitui a criatura, que é tudo o que existe dentro destes mundos. De forma geral, os mundos são feitos de desejos onde o Masach permitiu que a Luz entrasse na Fase Quatro, e a criatura será feita de desejos onde o Masach não permitiu que a Luz entrasse.
Mais cedo neste capítulo, dissemos que o padrão de quatro fases é a base de tudo o que existe. Portanto, os mundos evoluem pelo mesmo modelo que funcionou na criação das fases. O lado esquerdo da Figura 4 é um olhar sobre o conteúdo da Fase Quatro, mostrando a sua divisão em partes superior e inferior, e que a parte superior contém os mundos e a parte inferior contém a criatura.


Figura 4: O lado esquerdo do desenho foca-se na estrutura interna de Malchut, mostrando que é a fonte de todos os mundos espirituais, bem como do mundo corpóreo.

Superior e Inferior: Já sabemos que a Criação é feita apenas de uma coisa: um desejo de receber deleite e prazer. Portanto, superior e inferior não se referem a lugares, mas a desejos que consideramos como mais altos ou mais baixos. Ou seja, os desejos superiores são desejos que valorizamos mais do que os desejos que consideramos inferiores. No caso da Fase Quatro, qualquer desejo que possa ser usado para doar ao Criador pertence à parte superior, e qualquer desejo que não possa ser usado dessa forma pertence à parte inferior.

Porque existem cinco níveis de desejos — inanimado, vegetativo, animal, falante e espiritual — cada nível é analisado. Aqueles com os quais podemos trabalhar criam mundos, e os (ainda) não podemos trabalhar, criam a criatura.


Falemos um pouco mais sobre a Fase Quatro e como ela funciona com o Masach. Afinal, a Fase Quatro somos nós, por isso, se entendermos como funciona, podemos aprender algo sobre nós próprios.
A Fase Quatro, Malchut, não surgiu do nada. Evoluiu da Fase Três, que evoluiu da Fase Dois, e assim por diante. Da mesma forma, Abraham Lincoln não surgiu simplesmente como presidente. Ele cresceu desde bebé Abe, para criança, jovem, e adulto que finalmente se tornou presidente. Mas as fases preliminares não desaparecem. Sem elas, o Presidente Lincoln não se teria tornado Presidente Lincoln. A razão pela qual não as vemos é porque o nível mais desenvolvido sempre domina e ofusca os menos desenvolvidos. Mas o último nível, o mais elevado, não só sente a existência destes dentro de si, como trabalha com esses outros níveis.

É por isso que, por vezes, todos nos sentimos como crianças, especialmente quando tocados em lugares onde não amadurecemos. É simplesmente porque esses lugares não estão cobertos por uma camada adulta, e esses pontos frágeis fazem-nos sentir tão desprotegidos como crianças.
Esta estrutura em camadas é o que nos permite, eventualmente, tornarmo-nos pais. No processo de criar filhos, combinamos as nossas fases presente e anteriores: entendemos as situações que os nossos filhos vivenciam porque tivemos experiências semelhantes. Relacionamo-nos com essas situações com o conhecimento e a experiência que acumulámos ao longo dos anos.
A razão pela qual somos construídos desta forma é que Malchut (para usar o seu nome comum) é construída exatamente da mesma maneira. Todas as fases anteriores de Malchut existem dentro dela e ajudam a sustentar a sua estrutura.

Para se tornar o mais semelhante possível ao Criador, Malchut analisa cada nível de desejo dentro de si e divide os desejos em viáveis e não viáveis em cada nível. Mas os desejos viáveis não serão usados apenas para receber com a intenção de doar ao Criador. Eles também “ajudarão” o Criador a completar a Sua tarefa de tornar Malchut idêntica a Ele.

Há algumas páginas, dissemos que, para realizar a tarefa de se tornar idêntico ao Criador, a criatura deve criar o ambiente certo para evoluir e tornar-se semelhante ao Criador. É exatamente isso que os mundos — desejos com os quais podemos trabalhar— fazem. Eles “mostram” aos desejos com os quais não podemos trabalhar como receber para doar ao Criador e, ao fazê-lo, ajudam os desejos com os quais não podemos trabalhar a corrigirem-se.

Podemos imaginar a relação entre os mundos e a criatura como um grupo de trabalhadores da construção, onde um dos trabalhadores não sabe o que fazer. Os mundos ensinam a criatura, demonstrando como realizar cada tarefa: como perfurar, como usar um martelo, um nível, e assim por diante. No caso da espiritualidade, os mundos mostram à criatura o que o Criador lhes deu e como trabalham com isso da maneira correta. Pouco a pouco, a criatura pode começar a usar os seus desejos dessa forma, também, e é por isso que os desejos no nosso mundo emergem gradualmente, dos mais suaves aos mais intensos.


De tudo o que aprendemos até agora, ainda não sabemos qual dos cinco mundos mencionados é o nosso mundo. Na verdade, nenhum deles é o nosso. Tenha em consideração que não existem “lugares” na espiritualidade, apenas estados. Quanto mais elevado o mundo, mais altruísta é o estado que representa. A razão pela qual o nosso mundo não é mencionado em parte alguma é que os mundos espirituais são altruístas, e o nosso mundo é, como nós, egoísta. Como o egoísmo é oposto ao altruísmo, o nosso mundo está desligado do sistema dos mundos espirituais. É por isso que os cabalistas não o mencionaram na estrutura que descreveram.

Além disso, os mundos não existem realmente, a menos que os criemos ao tornarmo-nos como o Criador. A razão pela qual se fala deles no passado é que os cabalistas que ascenderam do nosso mundo aos mundos espirituais nos contam o que encontraram. Se quisermos encontrar os mundos espirituais também, teremos de recriá-los dentro de nós, tornando-nos altruístas.


Os desejos são divididos da seguinte forma: O mundo Adam Kadmon é a parte com a qual é possível trabalhar do nível inanimado, e a parte inferior do nível inanimado, a criatura, é a parte não é possível trabalhar. Na verdade, no nível inanimado não há nada a corrigir, porque é imóvel e não usa o seu desejo. O nível inanimado (em ambas as partes) é apenas a raiz de tudo o que se seguirá.

Em seguida, o mundo Atzilut é a parte com a qual é possível trabalhar no nível vegetativo, e a parte inferior do nível vegetativo, a criatura, é a parte com a qual não é possível trabalhar. O mundo Beria é a parte com a qual é possível trabalhar do nível animado, e a parte inferior do nível animado, a criatura, é a parte com a qual não é possível trabalhar. O mundo Yetzira é a parte com a qual é possível trabalhar do nível falante, e a parte inferior do nível falante, a criatura, é a parte com a qual não é possível trabalhar. Finalmente, o mundo Assiya é a parte com a qual é possível trabalhar do nível espiritual, o mais intenso dos desejos, e a parte inferior do nível espiritual, a criatura, é a parte com a qual não é possível trabalhar.

Agora sabe por que, se corrigirmos a humanidade, tudo o resto será corrigido ao mesmo tempo. Então, falemos de nós e do que nos aconteceu.