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Carta 17


6 Tevet, Tav-Reish-Peh-Vav, 23 de Dezembro, 1925

Caro…
…Permita-me, contudo, escrever-lhe acerca do pilar central na obra de Deus, para que seja sempre um objectivo para vós entre a direita e a esquerda. Isto porque há aquele que caminha, que é pior do que aquele que permanece sentado sem fazer nada. Trata-se daquele que se desvia do caminho, pois o caminho da verdade é uma linha muito fina que se percorre até se chegar ao palácio do Rei.
Aquele que começa a caminhar no início da linha, precisa de grande precaução para não se desviar nem para a direita nem para a esquerda, mesmo que seja um milímetro, pois se no início, o desvio for tão pequeno quanto um milímetro, mesmo que depois continue completamente a direito, é certo que não vai chegar ao palácio do Rei, uma vez que não está a pisar na linha verdadeira, como, por exemplo:

Isto é uma comparação verdadeira. 
Permitam-me explicar-vos o significado do pilar central, que é o significado de “A Torá, o Criador e Israel são um.” O propósito da alma ao revestir-se num corpo é ser recompensada com o regresso à sua raiz e com Dvekut [adesão] com Ele enquanto ainda está revestida no corpo, conforme está escrito: “Vais amar o Senhor teu Deus, andar em todos os Seus caminhos, manter os Seus mandamentos e aderir a Ele.” Vemos que o assunto termina com “e aderir a Ele”, ou seja, como era, antes do revestimento no corpo.
Contudo, é necessária uma grande preparação, que consiste em andar em todos os Seus caminhos. Mas, quem conhece os caminhos do Criador? Na verdade, este é o significado de “a Torá que tem 613 caminhos.” Aquele que os percorre será finalmente purificado até que o seu corpo deixe de formar uma barreira de ferro entre ele e o seu Criador, conforme está escrito: “E Vou tirar o coração de pedra da vossa carne.” E então vai unir-se ao seu Criador como estava antes do revestimento da alma no corpo.
Conclui-se que há três discernimentos: 1) Israel é aquele que se esforça para regressar à sua raiz; 2) O Criador, ou seja, a raiz pela qual a pessoa anseia; 3) Os 613 caminhos da Torá pelos quais se purificam a alma e o corpo. Estes são o tempero, conforme está escrito: “Eu Criei a inclinação ao mal; Criei para ela a Torá como tempero.”
Contudo, estes três são, na verdade, um só e o mesmo. No final, qualquer servo do Criador alcança-os como um discernimento único e unificado, e apenas parecem estar divididos em três devido à incompletude no trabalho do Criador.
Permita-me esclarecer algo: Vereis a sua ponta, mas não a sua totalidade, exceto quando Ele vos salvar. Sabemos que a alma é uma parte de Deus do alto. Antes de chegar a um corpo, está unida como um ramo à raiz. Vejam no início de Árvore da Vida, que Ele criou os mundos porque desejava manifestar os Seus Nomes Sagrados, “Misericordioso” e “Gracioso”, etc., e se não houvesse criaturas, não haveria quem recebesse misericórdia. Estas palavras são de facto muito profundas.
Contudo, tanto quanto a pena permite, é conforme disseram os Sábios “Toda a Torá são os nomes do Criador”. O significado de realização é, “Aquilo que não alcançamos, não definimos por um nome.” Está escrito nos livros que todos estes nomes são a recompensa das almas, que é obrigada a vir para um corpo, pois é precisamente através do corpo que podem alcançar os nomes do Criador.
A sua estatura é de acordo com a sua realização. Há uma regra: O sustento de qualquer coisa espiritual é conforme o mérito de a conhecer. Um animal corpóreo sente-se a si mesmo porque consiste em mente e matéria.
Assim, uma sensação espiritual é um discernimento conhecido, e a estatura espiritual é medida pelo valor do que é conhecido, conforme está escrito: “Uma pessoa é louvada conforme o seu intelecto.” Contudo, o animal sabe; mas não sente de todo.
Compreendam a recompensa das almas: Antes de uma alma vir ao corpo, é um pequeno ponto, embora esteja ligada à raiz como um ramo a uma árvore. Este ponto chama-se “a raiz da alma e o seu mundo.” Se não tivesse entrado neste mundo num corpo, teria apenas o seu próprio mundo, ou seja, a sua própria parte na raiz.
Contudo, quanto mais for recompensada ao andar nos caminhos do Criador, que são os 613 caminhos da Torá que voltam a ser os próprios nomes do Criador, mais cresce o seu estatuto conforme o nível dos nomes que alcançou. Este é o significado das palavras: “O Criador atribui a cada justo 310 mundos.”
Interpretação: A alma consiste em dois justos: justo superior e justo inferior, assim como o corpo se divide do Tabur [umbigo] para cima e do Tabur para baixo. Assim, é recompensada com a Torá escrita e a Torá oral, que são duas vezes 310, sendo 620 em Gematria. Estes são os 613 Mitzvot [mandamentos] da Torá e os sete Mitzvot de Rabanan [dos nossos grandes mestres].
Está escrito em ‘Árvore da Vida’: “Os mundos foram criados apenas para revelar os nomes do Criador.” Assim, vemos que desde que a alma desceu para revestir esta substância imunda, não podia mais aderir à sua raiz, ao seu próprio mundo, como antes de vir a este mundo. Ao invés, deve aumentar a sua estatura 620 vezes, como anteriormente estava na raiz. Este é o significado da perfeição total, todo o NRNHY até Yechida, para o qual Yechida é chamado Keter, remetendo para o número 620 [Keter é 620 em Gematria].
Assim, vemos que o significado dos 620 nomes, sendo os 613 Mitzvot da Torá e os sete Mitzvot de Rabanan, são, de facto, as cinco qualidades da alma, ou seja, NRNHY. Isto porque os Kelim [vasos] do NRNHY provêm de todos os 620 Mitzvot acima mencionados, e as luzes do NRNHY são a própria luz da Torá em cada Mitzva [sing. de Mitzvot]. Conclui-se que a Torá e a alma são uma só.
Contudo, o Criador é a luz de Ein Sof, revestido na luz da Torá, que se encontra nos 620 Mitzvot acima mencionados. Compreendam bem isto, pois este é o significado das palavras deles: que “Toda a Torá são os nomes do Criador.” Isto significa que o Criador é o todo, e os 620 nomes são partes e itens. Estes itens estão de acordo com os níveis e estágios da alma que não obtém a sua luz de uma só vez, mas gradualmente, um de cada vez.
De tudo o que foi dito acima, concluímos que a alma está destinada a obter todos os 620 nomes sagrados, toda a sua estatura, que é 620 a mais do que possuía antes de vir. A sua estatura aparece nos 620 Mitzvot onde a luz da Torá está revestida, e o Criador na luz colectiva da Torá. Assim, vemos que “a Torá, o Criador e Israel” são, de facto, um.
Examinem estas palavras cuidadosamente, pois requerem apenas uma explicação simples. É sobre isso que eles disseram: “Não vou explicar o literal”, e será feliz se compreender o que está diante de vós.
Voltemos à questão de que, antes da completude na obra do Criador, a Torá, o Criador e Israel aparecem como três discernimentos. Por vezes, a pessoa anseia completar a própria alma e devolvê-la à sua raiz, o que é considerado Israel. Por vezes, a pessoa deseja compreender os caminhos do Criador e os segredos da Torá, “pois aquele que não conhece os mandamentos do seu Mestre, como o vai servir?” Isto é considerado Torá.
Por vezes, a pessoa deseja alcançar o Criador, ou seja, aderir a Ele com percepção completa. Basicamente, a pessoa lamenta apenas isto e não se agoniza por alcançar os segredos da Torá. Também não se agoniza por devolver a alma à sua origem, como estava antes do revestimento num corpo.
Portanto, aquele que caminha na linha verdadeira de preparação para a obra do Criador deve sempre colocar-se à prova para ver se deseja as três distinções acima de forma completamente igual, pois o fim do acto iguala-se ao seu início. Se uma pessoa deseja uma delas mais do que a segunda ou a terceira, então desvia-se do caminho da verdade.
Assim, será melhor que se mantenha firme no objetivo de ansiar pelo mandamento do Mestre, pois “Aquele que não conhece os caminhos do seu Mestre e os mandamentos do seu Mestre, que são os segredos da Torá, como o vai servir?” Entre os três, é isto que garante mais o caminho do meio.
Este é o significado de “Abre para mim uma abertura de arrependimento, como a ponta de uma agulha, e Eu abrirei para ti portões onde carros e carruagens possam entrar.” Interpretação: O orifício da agulha não serve para entrada e saída, mas para inserir a linha para coser e para o trabalho.
Da mesma forma, deve ansiar apenas pelo mandamento do seu Mestre, para o fazer o trabalho, e então Eu abrirei para vós uma porta como uma entrada para um salão. Este é o significado do nome explícito no versículo: “Mas na verdade (escrito como Salão em hebraico) Eu vivo, e a glória do Senhor vai encher toda a terra.”
Yehuda Leib