<- Biblioteca de Cabala
Continuar a Ler ->
Biblioteca de Cabala

Deuteronómio, 32:1-32:52

Glossário - Haazinu
Glossário de Termos Usados na Porção Haazinu

Resumindo

 A porção Haazinu trata da entrada na terra de Israel. Moisés inicia com um cântico que serve como lembrança ao povo para quando, no futuro, abandonar o trabalho do Criador. O cântico exalta a orientação do Criador e a Sua escolha do povo de Israel, apresentando, porém, o povo de Israel como obstinado e inclinado à idolatria.

Segue-se uma explicação do castigo em caso de idolatria, com a afirmação de que o Criador não ajudará Israel contra os seus inimigos nessa situação. Contudo, na medida em que Israel se arrepender, o Criador vai salvá-lo de todos os seus inimigos.

Ao concluir a leitura do seu cântico, o Criador ordena a Moisés que suba ao Monte Nevo e contemple dali a terra de Israel. Diz-lhe que morrerá e não lhe será concedida a entrada na terra de Israel.


Comentário do Dr. Michael Laitman

A Torá contém todos os segredos do mundo. Torá significa instrução; ela guia-nos sobre como devemos comportar-nos para progredir. A Torá fala de toda a criação; ajuda-nos a enfrentar dificuldades e mostra-nos o que fazer.
A grande questão é por que a Torá termina antes da entrada na terra de Israel. Na verdade, as lutas, os problemas, os grandes dilemas e as dificuldades de lidar com tudo o que espera o povo daqui em diante — especialmente nesta porção — já estão em nós.
O povo alcançou um estado em que está pronto para avançar e entrar na terra de Israel, enfrentar todos os problemas e superá-los. É precisamente através desta guerra que o povo adquire a terra de Israel. A narrativa fala dos nossos desejos, das nossas forças, que se tornam corrigidas pela luz, por tudo o que fizemos e atravessámos no deserto para estarmos prontos a entrar na terra de Israel.
O cântico Haazinu louva o Criador, a força da doação. Sublinha que devemos sempre lembrar-nos de interpretar corretamente o que acontece e exaltar a força da doação, o valor do amor ao próximo, que é a grande regra da Torá e pela qual fazemos tudo o que fazemos. “Amar o próximo como a si próprio” é mais do que um preceito; é o propósito de cada ação, uma regra que abrange todos os nossos esforços.
O cântico louva o povo de Israel, aqueles desejos em nós que querem elevar-se, ser como o Criador, doando com o objetivo de doar ou mesmo recebendo com o objetivo de doar. O cântico exalta todos esses desejos chamados “povo de Israel”, pois são os mais elevados e importantes.
Devemos lembrar-nos, de tempos a tempos, que o Criador nos apoia apenas em atos de doação. Ou seja, se desejarmos receber algum apoio ou bênção no nosso caminho, só os mereceremos se avançarmos para a conquista da terra, para dominar todos os nossos desejos egoístas — que atualmente nos governam — e transformá-los na intenção de doar.
Devemos ver isso também no nosso mundo hoje. Estamos a ser confrontados com o nosso próprio sistema corrompido, a crise global inclusiva, que só pode ser resolvida através da união entre nós. Esta é a única forma de superarmos a crise geral e construirmos o que se chama a “terra espiritual de Israel”.
Sair da crise é a nossa própria saída do Egito — através dos grandes problemas que enfrentamos, da incerteza, da incompreensão e da desorientação, tal como no deserto. Não sabemos para onde ir nem como lá chegar, sem objetivos claros, sem ideia do que devemos fazer, e, ainda assim, chegamos à terra de Israel. Atravessamos o deserto quando renunciamos a tudo pelo desejo de estar verdadeiramente no objetivo de doar, na unidade entre nós. Quando começamos a conectar-nos, construímos entre nós um desejo que é Yashar El (direto a Deus), Ysrael (Israel).
Eretz (terra) vem da palavra Ratzon (desejo). É Yashar El quando todos os nossos desejos se dirigem uns aos outros e a rede de conexões entre nós constrói o Kli chamado Eretz Ysrael (terra de Israel).
Por isso, está escrito que, quando a humanidade completar o processo de correções e discernimentos, a terra de Israel se expandirá por todo o mundo como “a terra da beleza”. [“Naquele dia, levantei a Minha mão para eles, para os tirar da terra do Egito e os trazer a uma terra que Eu tinha procurado para eles, que está plena de leite e mel; é a beleza de todas as terras.”] No final, todos os desejos da humanidade se unirão e se tornarão um, “como um só homem com um só coração”, e este é o tema principal do grande cântico, Haazinu.
Se não avançarmos para isso, enfrentaremos problemas e tribulações, que não só nos farão recuar e nos dirigirão impiedosamente de volta ao objetivo sem apoio favorável, mas também nos mostrarão onde erramos a cada vez e como devemos avançar.
Moisés é apenas um observador. Não pode fazer mais do que isso. Ele realiza apenas a correção geral de contemplar a terra de Israel. Moisés é chamado o “pastor fiel”, a qualidade pura da doação. Por isso, ele só pode ver a terra de Israel na luz que está em GAR de Bina, pela qual ajudará a preparar o caminho para o povo de Israel, através do seu olhar.
Olhar refere-se a correções. Ser o Rosh (cabeça) do nível é o que Moisés faz. É também como entramos na terra de Israel e a atravessamos, usando o poder de Moisés.


Perguntas e Respostas

O título da porção é Haazinu (Escutai). O que é Haazinu e o que é o cântico?
Não há visão antes da terra de Israel. Todos os nossos Kelim (vasos) são Kelim de audição e visão. A audição é o nível de Bina, e a visão é o nível de Hochma. Depois, ambos ascendem juntos a Keter.
Nós próprios estamos em Malchut, pelo que, primeiro, Malchut ascende a Bina. Ascendemos a Bina através do deserto. A força da doação vai à frente, e nós vamos atrás dela, esforçando-nos por alcançá-la contra a nossa vontade.
Esse estado, essa jornada, é verdadeiramente um deserto: seco, sem vida, vazio, e tudo acontece com grande dificuldade. Contudo, esta é a única forma de obtermos a força da doação acima do nosso desejo de receber.
O homem é construído para querer desfrutar da vida. Por isso, todos nós procuramos satisfazer-nos. Não queremos ser atenciosos com ninguém, como se o nosso desejo de receber nos dissesse: “Quero o mundo inteiro e o mundo vindouro, e não há ninguém no mundo além de mim e do Criador, que me servirá.”
Devemos corrigir-nos para o oposto, avançando de modo que todo o nosso “eu”, os nossos desejos, pensamentos, qualidades e tudo o que está em nós e sobre nós vise doar. Estas correções permitir-nos-ão conectar-nos ao grande Kli e descobrir o mundo espiritual e as nossas próprias vidas espirituais, onde estamos incluídos nesta imensa força chamada “Criador”, de modo a não nos sentirmos pertencentes ao nível animal, mas a outro nível de existência.
Construímos o que se chama o “falante” ao adquirir a força da fé, para apenas doar, para nos conectarmos com os outros, para encontrarmos apenas canais de doação e conexões que ainda não estamos a ativar.
No deserto, precisamos do poder de Moisés, que é como o sol. Josué, com quem entramos na terra de Israel, é como a lua. Quando nos elevamos acima do Egito, enfrentamos o nosso próprio desejo egoísta e adquirimos o nível de Bina, o nível de Ozen (ouvido), a audição.
Moisés, que iniciou o nível no Monte Sinai, é também aquele que agora o conclui, na entrada da terra de Israel, no Monte Nevo, que é a sua última paragem. Haazinu é a transmissão da força de Moisés, que adquirimos uma a uma durante os quarenta anos no deserto.
Quarenta é o sinal de que ascendemos ao nível de quarenta, o nível de Bina. Por isso, foi dito que um homem está proibido de estudar a Torá (Cabala) antes dos quarenta anos. O nível de quarenta significa que a pessoa ainda não adquiriu o nível de Bina e, portanto, não pode ver. Não adquiriu a visão, mas apenas a audição, e a Torá é chamada a “obtenção do Criador”.

É Haazinu uma espécie de conclusão do nível de Bina?
Conclusão significa a conexão de todos os níveis do deserto, que são dados ao povo de Israel em conjunto e o preparam para entrar do deserto na terra de Israel.

Moisés Revelado no Dia em que Partiu do Mundo
“No momento em que Moisés disse, ‘Escutai, ó céus, e falarei’, os mundos tremeram. Uma voz surgiu e disse, ‘Moisés, Moisés, por que estás a alarmar o mundo? És filho do homem, e por tua causa o mundo estremecerá.’ Ele começou e disse, ‘Pois invocarei o nome do Senhor.’ Nesse momento, calaram-se e escutaram as suas palavras.” Zohar para Todos, Haazinu, item 22

Isto conclui o papel de Moisés, e ele entrega tudo a Josué, o nível da lua. Josué não doa por si próprio, mas apenas do que recebeu de Moisés. Josué adquiriu de Moisés a força da doação apenas porque lhe era devoto. Ele não estudou, mas serviu-o.
Nós, também, precisamos compreender que, se servirmos o mundo, então ascenderemos e adquiriremos toda a criação. Este é o papel da nação de Israel, ser “uma luz para as nações”, corrigir-nos e ser “um reino de sacerdotes e uma nação sagrada” (Êxodo 19:6).
No nível do deserto, corrigimo-nos e preparamo-nos para servir os outros. No nível da terra de Israel, começamos a trabalhar com os desejos de receber e transformá-los em desejos que tem a intenção de doação. Estes níveis testemunham que já estamos a trabalhar com as nações do mundo, ou seja, com toda a humanidade.

O que significa que o Criador ajuda ou não ajuda a nação a enfrentar os seus inimigos? Como saber se Ele está a ajudar ou não?
Estamos sempre num estado constante onde tudo está pleno de luz e o Criador está sempre presente. Contudo, tudo isso nos é ocultado porque o escondemos com os nossos Kelim não corrigidos, com os nossos desejos e pensamentos. Quanto mais nos corrigirmos — conectados entre nós na doação, no amor e na unidade — mais descobriremos a força que preenche toda a realidade, mesmo agora.
Portanto, se Ele ajuda ou não depende da direção da pessoa. Se a pessoa se mover em direção a Ele, esforçando-se por ser como Ele, na medida da sua equivalência de forma com o Criador — de acordo com as leis da equivalência de forma — vai descobri-Lo. É como funciona um receptor de rádio: quando está sintonizado para receber a frequência certa, ouvimos o que está presente nessa frequência.

Basta querer ou é também necessário concretizar?
Precisamos de realizar certas ações, mas não para dizer, “Eu quero”, mas para realmente querer. Portanto, querer é suficiente, mas não é simples dizer, “Eu quero”. Não é uma questão de palavras. Pelo contrário, dentro desse desejo deve estar também a decisão de que tudo o que queremos é que isso aconteça.
Por exemplo, se a pessoa deseja conectar-se com os outros apenas para beneficiar os outros, em “amar o próximo como a si próprio”, essa pessoa deve examinar como está a tentar usar toda a realidade em favor de outro, e depois em favor de mais e mais pessoas. Isto é o oposto do modo como as pessoas agem agora, quando usamos toda a realidade para nós próprios.

Ou seja, o outro torna-se mais importante do que o próprio eu?
Este é o significado de “como a si próprio”, mais do que a si próprio. É como uma mãe trata o seu bebé.

Deve estar nas intenções? Não basta dar fisicamente aos outros tudo o que temos?
Não se trata do mundo físico. Este mundo é completamente insignificante aqui. Trata-se da conexão dos corações, das nossas almas, das nossas emoções, pois toda a realidade — toda a matéria que foi criada — consiste em desejo. Por “desejo” entendemos a sua direção e como o usamos. Não precisam de nada além de querer, como está escrito, “O Senhor completará por mim” (Salmos 138:8).
A força superior que descobrimos como estando aqui entre nós é o que constrói a rede. Este é o trabalho de Deus. Não precisamos de fazer nada; não há ações em nós; não podemos fazer nada além de pedir que seja feito. Vimo-lo com o povo que errou em diferentes atos durante a travessia do deserto, quando não sabia como pedir, como exigir, como revelar.

Há aqui um elemento que parece educativo. O Criador parece dizer, “Sei que pecarás na tua direção, de alguma forma. Serás punido por isso e depois arrepender-te-ás.” Que bem fará isso?
Quando educamos uma criança, não dizemos tal coisa, mas sim, “Ouve, é melhor fazeres isto ou aquilo,” dando um exemplo pessoal. Quando a criança erra, deixamo-la compreender que foi um erro. Não vamos ter com uma criança e dizemos, “Sabemos que vais errar, por isso tem cuidado porque serás castigado, mas depois arrepender-te-ás e ficará tudo bem.” Estas não são palavras úteis.
Não nos é exigido ser bons. O Rabino Akiva sabia da destruição do Templo com antecedência, por isso, quando a destruição chegou, ele riu. Jacob quis contar a todos os seus filhos o que lhes estava a acontecer. O Rabino Shimon sabia que tipo de livro estava a escrever, para que tempos, e o que aconteceria pelo caminho, e nós, também, precisamos de vivenciar estes eventos. A partir deste momento, começamos a descobrir que tudo está diante de nós e foi preparado para nós.
É claro que cometeremos erros a cada passo, e cada um de nós descobrirá o pecado de Adam HaRishon em todos os nossos 613 desejos. Contudo, o nosso erro será se não pedirmos, se não solicitarmos e exigirmos da Força Superior, o Criador. Só quando nos conectarmos com os outros tanto quanto pudermos, descobrimos como os odiamos e repelimos. Portanto, devemos exigir do Criador que mantenha a conexão, e não nós, ou o resultado será ou a corrupção ou a descoberta de que é o oposto, e fugiremos.
Não devemos temer revelar o estilhaçamento entre nós, o grande ego. Também não devemos prostar-nos perante outros deuses. Pelo contrário, devemos pedir a correção aqui, em vez de fugir.
Se fizermos isto, faremos tudo corretamente e não cometeremos erros. Contudo, na verdade, erramos a cada vez porque não conseguimos descobrir exatamente o nosso ponto de contacto com o Criador. Devemos esforçar-nos também pela abordagem correta, onde tentamos agir como bebés. Mas, após grandes esforços e um trabalho tremendo, ainda assim devemos errar, revelar o estilhaçamento e aprender que somos incapazes. Só então descobrimos o tipo certo de mal.
Descobrimos o tipo certo de mal do estilhaçamento, o apropriado. Para isso, também, precisamos da luz, da revelação do Criador. Quando isso acontece, vemos o lugar que o Criador precisa de corrigir. Vemos o grande estilhaçamento, a grande correção, e recebemos tudo já preparado. Na verdade, estamos apenas presentes no processo enquanto ele ocorre — o nosso grande ego, as revelações, até ao lugar do estilhaçamento e da sua correção.

Qual é a ideia por trás da subida ao Monte Nevo? Moisés subiu e contemplou, mas não lhe foi permitido entrar na terra de Israel. Isto soa um pouco cruel, porque lhe foi permitido ver a beleza de longe, mas não alcançá-la.
O Criador disse a Moisés com antecedência que estavam a aproximar-se da terra de Israel, que ele iria morrer, e que Josué o substituiria. Parece desumano, insensível, mas o nível de Moisés não está diretamente relacionado com a terra de Israel no fim da correção.
Moisés representa toda a luz do sol, toda a luz. Mas, por agora, a terra de Israel precisa de ser conquistada e corrigida, e apenas a força da doação pode entrar na terra de Israel, apenas Josué, a luz da lua. Ao permitir e corrigir essa força, a luz da lua, o papel de Josué termina, e só então chega o fim da correção.
Uma vez que o povo de Israel entrou na terra de Israel, há apenas ruínas, expulsões e exílios. Após algum tempo, há um regresso à terra de Israel, e só agora estamos a implementar todas as correções e a chegar a um estado onde há revelações da verdadeira terra de Israel, no desejo de receber com o objetivo de doar. É quando alcançamos o estado conhecido como (Samuel 2, 23:20) “um homem valente de Kabzeel” (Rav Pe’alim Mekatze’el).
Todas as correções que fizemos ao longo das gerações reunir-se-ão numa única correção, a rede de conexões entre nós, entre todas as almas, aparecerá de uma só vez, e todos estarão verdadeiramente conectados. É quando a força de Moisés irromperá, a luz do sol, juntamente com Josué, a força da lua — “as duas grandes luzes” (Génesis 1:16) — e chegaremos a um dia que é completamente bom.

Fizemos alguma correção ao longo do caminho? Parece que a nossa situação atual é pior do que nunca.
Até agora, apenas nos estivemos a preparar. Não fizemos correções até agora, e não revelamos todas as corrupções. Só agora, nesta crise, começamos a desvendá-las. A corrupção e a correção estão próximas; estão ligadas uma à outra. Se quisermos, podemos fazê-lo muito rapidamente, porque não há necessidade de que sejam demoradas.

Depende de nós? Parece que o Criador faz tudo.
Depende do nosso pedido. Nós apressamos os tempos. Está escrito (Masechet Berachot, 49a) que Israel santifica (apressa) os tempos. Devemos “convocar” o Criador para corrigir. É a força da doação que está entre nós, a luz oculta que está presente mesmo agora, e que devemos convocar para nos corrigir.

Resumo
Entre nós, precisamos da conexão de “amar o próximo como a si próprio”. Esta é toda a correção que precisamos de realizar. Não é simples, mas é a maior coisa, a grande regra da Torá. É toda a realidade que deve unir-se. Hoje, estamos a descobrir que todos precisamos disso. O mundo inteiro precisa disso, e esta é a única forma de sairmos das crises em que estamos hoje.
Estamos verdadeiramente num estado despedaçado, o que é ótimo. Estamos a descobrir o negativo em nós, e precisamos apenas exigir do Criador, juntos, com a nossa força comum, que tente conectar-nos. Então, descobri-Lo-emos, descobriremos a vida espiritual, perfeita, pacífica, em harmonia infinita, para todos, aqui e agora.