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Deuteronómio, 3:23-7:11

VaEtchanan - Glossário
Glossário de Termos Usados na Porção VaEtchanan

Resumindo

 A porção VaEtchanan reitera a proibição imposta a Moisés de entrar na terra de Israel, sendo Josué designado para o suceder e conduzir o povo até à terra prometida. Esta porção aborda o mandamento de manter a Torá e recordar o momento em que o povo esteve no sopé do Monte Sinai, bem como o conceito de arrependimento, que aqui surge pela primeira vez. Nela encontra-se o conhecido texto da Shema Israel (Ouve, ó Israel).
Moisés profere outro discurso, no qual repete os Dez Mandamentos. Também designa três cidades de refúgio a leste do rio Jordão, adverte contra a idolatria na terra de Israel e ordena a destruição das estátuas pagãs. Recorda ainda ao povo que o Criador é quem os conduziu à terra de Israel, a terra boa que estão destinados a herdar.

 

Comentário do Dr. Michael Laitman

A porção VaEtchanan contém todas as condições para a permanência do povo de Israel na terra de Israel. O povo de Israel teve início com Abraão, que formou um grupo na Babilónia, distinguindo-se dos demais babilónios, que não desejavam unir-se “como um só homem com um só coração”, ou seja, na qualidade de Hesed (misericórdia), característica de Abraão.
Esse grupo aceitou viver em Arvut (garantia mútua), iniciando o processo de formação do povo de Israel. Após o êxodo do Egito, o grupo comprometeu-se a ser uma nação, apesar dos problemas e egos dos seus membros.
A formação de uma nação única dependia da superação da prova no sopé do Monte Sinai, um monte de Sinaa (ódio). No Monte Sinai, o povo aceitou a condição preparatória para superar esse monte — ser “como um só homem com um só coração”. Apenas cumprindo esta condição é possível receber a Torá, a força superior que une todos. Essa condição é alcançada através do ponto no coração de cada pessoa, um ponto chamado Moisés, que conduz o povo pelo deserto e, posteriormente, à terra de Israel. É nesse ponto que todos devem unir-se.
A condição que mantinha o povo unido era Arvut (garantia mútua). Mesmo hoje, para sermos uma nação, devemos cumprir a condição de cuidarmos uns dos outros, também no plano material. Este é o desafio que enfrentamos em Israel hoje — garantir que ninguém careça do sustento básico no plano material.
Quando nos unimos, entramos na terra de Israel através da correção chamada “quarenta anos no deserto”. Este é um estado em que todos se tornam uma nação e estão dispostos a viver juntos de forma global e integral, como o mundo atual exige e a Natureza requer.
Hoje, alguns possuem muito mais do que necessitam, enquanto outros mal conseguem suprir as necessidades básicas. A única forma de obtermos o que precisamos é assumindo responsabilidade uns pelos outros. Apenas através da unidade poderemos criar uma força especial que nos vai ajudar a superar as dificuldades e a dividir justamente os nossos frutos e lucros, como numa família.
“Como um só homem com um só coração” significa verdadeiramente “como uma família”. Numa família, dividimos o que temos segundo as necessidades de cada um. Sentamo-nos a uma mesa redonda e conversamos. Consideramos cada argumento e problema, avaliamos as prioridades de cada um e decidimos como repartir o que ganhámos. Fortalecemos os mais fracos e apoiamo-los.
Se gerirmos o povo e o país desta forma, vamos descobrir que a nação está conectada e que o Criador — a força de doação e amor — está entre nós. Vamos sentir como resolvemos todos os problemas e superamos todos os obstáculos. Quando assumimos o bem, geramos imediatamente novas forças entre nós, e então, “Neste dia, tornaram-se um povo” (Deuteronómio, 27:9).
A condição de unidade entre nós permite-nos resolver todos os problemas, como está escrito no final da porção, que cumprir essa condição nos leva a ser um só, “Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus, o Senhor é Um” (Deuteronómio, 6:4). Quando a força do amor está entre nós — a força da unidade, a necessidade de estarmos juntos, o Arvut — sustentamo-nos e cuidamos uns dos outros. Essa força conduz-nos, o povo de Israel, à terra de Israel — ao desejo Yashar El (direto a Deus), diretamente à qualidade de amor e doação.
Somente se gerarmos a força chamada Elokim (Deus), que é o amor universal, a Arvut, a força “O Senhor vosso Deus”, que criámos, vai caminhar à nossa frente quando entrarmos na terra de Israel. Essa força ajuda-nos a enfrentar as dificuldades ali presentes e a combater as sete nações, que são mais fortes do que nós.
De muitas formas, isto assemelha-se à situação atual de Israel, cercado por nações que desejam destruí-lo. É apenas através desta força que verdadeiramente “derrotamos” todos. No final, não só nos unimos, mas unimos também o mundo inteiro. Tornamo-nos “uma luz para as nações” ao mostrar como todos podemos estar unidos num mundo que requer uma conexão global e integral. Tal como a Natureza, o Criador [em Gematria (numeração hebraica de letras), Hateva (A Natureza) é equivalente a Elokim (Deus)], apresenta-se como um só e envolve-nos de tal forma que nos obriga a sermos como Ele, como um, em Dvekut (adesão) com Ele.
Quando geramos a força do amor entre nós através da união, tornamo-nos semelhantes ao Criador, à força universal na Natureza. Nesse estado, estamos em harmonia com a Natureza e equilibramos a ecologia, a tecnologia, a economia e tudo o mais. Tudo se alinha apenas pela força da unidade, embora isso possa não parecer evidente, e não seja claro como a força da unidade resolve qualquer desses problemas.
Ainda não compreendemos que fazemos parte da Natureza, que estamos inseridos nela. A rede em que estamos é gerida de forma integral, com todas as suas partes interligadas. Se também nós nos conectarmos em sincronia com a Natureza, seremos recompensados com os frutos da terra de Israel, como os espiões os viram, mas pensaram que não poderiam desfrutá-los porque os frutos eram tão grandes e os povos que habitavam a terra eram tão poderosos. Aqui reside a solução: se nos unirmos, essa força vai marchar à nossa frente e vai destruir todos os inimigos.
Enquanto gerarmos entre nós a força de Arvut, ela vai resolver tudo. Aconteça o que acontecer, através da força da unidade, poderemos estar todos sob o guarda-chuva do Arvut, o guarda-chuva do amor, através do qual o mundo será verdadeiramente corrigido.

 

Perguntas e Respostas

Seguindo Moisés, Josué teve de conduzir a nação para a próxima etapa, o próximo nível. Como liderar o povo mantendo todos unidos, apesar dos desafios?
A Torá não nos relata o que aconteceu após a entrada na terra de Israel, nem como destruir os ídolos, que representam a nossa inclinação ao mal. Ao praticar a idolatria, colocamos diante de nós estátuas como o dinheiro, o poder, o prestígio, a inveja e o ódio. A Torá não explica exatamente como destruí-los dentro de nós. Nada é dito sobre a construção do Templo e a conduta no seu interior.
Basicamente, temos dois caminhos a seguir. Podemos tomar o caminho curto e bom, no qual alcançamos a nossa própria correção e a correção do mundo, ou podemos tomar o caminho difícil, se não cumprirmos a condição de Arvut (garantia mútua).

Agora estamos a atravessar tempos difíceis, com problemas…
Não devemos considerar isso como um problema, mas como uma oportunidade. As condições em que nos encontramos são uma oportunidade, e nelas devemos corrigir-nos. Sem tempos difíceis, como vamos superar a inclinação ao mal, como a vamos conhecer?

Suponhamos que todos estabelecemos Arvut, que todos cuidamos uns dos outros e que as pessoas aderem porque isso resolve os seus problemas. Qual é o próximo passo?
Não há nada para além de manter o Arvut.

E quanto ao amor que devemos alcançar?
Esse amor é Arvut. A primeira etapa de Arvut é “o que odias, não faças ao teu próximo”, ou seja, pelo menos evitar prejudicar os outros. A etapa seguinte é “ama o teu próximo como a ti próprio”, que é a regra geral da Torá. Não há mais do que isso. Há duas condições a seguir: evitar prejudicar os outros e, acima disso, tratá-los com amor.

Ultimamente, temos visto muitas pessoas a admitir abertamente que o que realmente precisam é de amor.
As pessoas precisam de compreender o verdadeiro significado de Arvut. Precisamos de nos sentar juntos numa mesa redonda e discutir, explicar as definições de cada palavra até realmente sentirmos do que estamos a falar.
Arvut significa que somos todos responsáveis uns pelos outros, em tudo na vida. Quando temos a relação correta com os outros, não é necessário pensar em si próprio. Enquanto pensamos nos outros, os outros pensam em nós.
É como numa família. Numa família, o cuidado não é para si próprio, mas para toda a família: as crianças, os idosos, os doentes e os fracos. Dividimos o rendimento familiar e tudo o que temos segundo as necessidades de cada um.

Como tomamos decisões num formato de mesa redonda num país com sete milhões de pessoas?
Imagine como será quando precisarmos de tomar este tipo de decisões com sete mil milhões de pessoas! Precisamos de aspirar a ter todas as fações à volta da mesa. Devemos identificar fações cujos representantes não vieram à mesa, talvez por serem demasiado fracos ou terem perdido a esperança. Precisamos de os ajudar a fazer as suas perguntas.
Além disso, a mesa redonda deve ser algo contínuo. Devemos dar o exemplo de uma nação que discute com amor, com todos sentados juntos à mesma mesa: esquerda, direita e centro, até mesmo inimigos e adversários. O ponto comum que nos conecta é que todos pertencemos a uma nação, como está escrito, “o amor cobre todas as transgressões” (Provérbios, 10:12). A transgressão é o ódio que sentimos uns pelos outros. Ou seja, podemos sentir ódio, mas há uma regra: devemos viver todos como uma família.

Isso fará com que o ódio diminua?
Não, o ódio não vai diminuir. O princípio na sabedoria da Cabala é que “o amor cobre todas as transgressões”. Ou seja, a transgressão do ódio permanece. Ela aponta para os desacordos e para a diferença de qualidades que todos temos. Os desacordos entre nós são bons porque, acima deles, construímos um Masach [Tela], um guarda-chuva que cobre essas transgressões.
Unimo-nos apesar das nossas disputas, porque o princípio do amor deve estar acima de tudo. Esse princípio “usa” essas disputas como uma alavanca para nos elevar acima do Monte Sinai, acima da montanha do ódio. Sentamo-nos todos à volta da mesa e construímos acima de nós o conceito de “Moisés no Monte Sinai”, e Moisés eleva-nos. Quando alcançamos a qualidade do amor que nos conecta, tornamo-nos uma nação. Antes disso, não somos considerados uma nação.

Isto também é verdade para o resto do mundo?
Primeiro, sobre nós aqui, em Israel: temos o gene espiritual desde o tempo em que éramos uma nação. Hoje, não somos uma nação, mas uma coleção de exilados. Se implementarmos o princípio de Arvut e usarmos as diferenças entre nós para reforçar o conceito de Arvut, sentiremos verdadeiramente que estamos na terra de Israel.
Se estivermos unidos, ninguém poderá prejudicar-nos. Não será porque seremos fortes, mas porque a força da Natureza estará em nós, em sintonia com a Natureza global e integral, como está escrito que o Criador caminha à nossa frente e luta todas as nossas guerras, [“O Senhor vosso Deus, que vai diante de vocês, Ele vai lutar por vocês” (Deuteronómio, 30:1)], assim como Ele destrói o ódio do homem pelos outros.
Não há dúvida de que os nossos vizinhos se vão juntar a nós com prazer, e então veremos que o ódio estava lá apenas para nos unir. Nenhum outro país no mundo está numa situação semelhante. A nossa unidade acalma os nossos vizinhos, porque há apenas uma força que opera na Natureza, e o seu propósito é conduzir-nos a todos à unidade, à conexão, à harmonia e ao equilíbrio com a Natureza global.

Os Dez Mandamentos detalham como alcançar Arvut ou descrevem o que encontramos quando a alcançamos?
Os Dez Mandamentos são uma condição. O sistema de unidade entre nós consiste em dez partes, chamadas “Dez Sefirot”. Devemos interpretar cada uma delas. Precisamos de ordenar essas dez partes — as nossas conexões com os outros. Se a pessoa ordenar a sua relação com os outros em dez abordagens distintas, ela ordena toda a sua atitude para com os outros.

As dez Sefirot manifestam-se quando alcançamos Arvut?
Trata-se também de como alcançar Arvut, pois este é o objetivo. Ao descobrir Arvut, a pessoa descobre o teu próprio estado superior, onde se elevaste acima dos problemas. De repente, percebe que a Natureza já está a providenciar tudo o que precisamos. Descobrimos as fontes de energia, vitalidade, saúde e amor que existem no mundo, bem como as relações estreitas entre todas as partes da Natureza, que nós suprimimos.

Isto parece um milagre.
Se falarmos com as pessoas que vivem em ambientes selvagens, como florestas, elas dizem frequentemente que a Natureza irradia amor para elas. A unidade, o holismo nela, emanam uma atitude de amor.

Entraremos num novo domínio da realidade através do nosso desejo de alcançar Arvut?
Sim, descobriremos forças internas que atualmente nos estão ocultas, porque constantemente vemos os outros através dos nossos egos. Quando começarmos a doar como a Natureza doa, começaremos a perceber uma onda completamente diferente, como um recetor de rádio.

Como começamos? Qual é o primeiro passo para Arvut?
Temos de nos sentar a uma mesa redonda e analisar esses conceitos e como podemos alcançar a unidade. Arvut é a condição que nos fez uma nação no passado. Depois, perdemo-la com a destruição do Templo. Estivemos no exílio, e agora precisamos de nos recriar enquanto nação.
Uma nação é como uma família. Devemos ver-nos como uma grande família. Precisamos de encarar todos os problemas, e descobriremos que é bom que eles estejam a surgir agora. Os problemas dão-nos algo para conversar, uma necessidade de nos sentirmos uns aos outros. Hoje em dia, a principal necessidade das pessoas é a conexão com os outros; elas até se revoltam e protestam apenas para se sentirem conectadas.

Começaste a Mostrar
Vem e vê, o Criador entregou todas as nações do mundo a ministros designados que as governam”, ou seja, às diferentes forças da Natureza. “Mas Israel, o Criador guarda-os como Sua parte e Seu quinhão, para realmente se unirem a Ele.” Vemos o que nos tem acontecido ao longo da história. Somos um povo especial, e não há como escapar disso. “E Ele deu-lhes a sagrada Torá para se unirem em Seu nome. Portanto, ‘Vós que vos apegais ao Senhor’, e não a qualquer outro designado, como as demais nações.” Zohar para Todos, VaEtchanan, item 17.


O que é a sagrada Torá? É “ama o teu próximo como a ti próprio, esta é uma grande regra da Torá”. Não há nada além do amor entre homem e homem; esta é toda a Torá, e não há mais nada. Pensamos que se trata de diferentes ações e meios, mas essas são tradições, ações superficiais cujo propósito é sustentar o povo enquanto não compreende o que lhe é exigido, ou seja, enquanto está no exílio. Isso dura até chegarmos à situação global em que a Natureza nos exige, quando Elokim exige que nos unamos.

De que Natureza estamos a falar? O que é esta lei? O que quer dizer com “Natureza”?
“Natureza” é a força comum que gere todo o universo segundo um propósito e um plano. Vemos que todas as partes da Natureza estão conectadas. Essa conexão inclui-nos, exceto que estamos desligados do resto da Natureza. Por isso, devemos primeiro unir-nos de forma a “amar o teu amigo como a ti próprio”, tornar-nos globais, integrais, conectados como o resto da Natureza.
Quando alcançarmos isso, começaremos a sentir a força comum que opera e que tem operado ao longo da evolução. Unir-nos-emos a essa força e teremos consciência do caminho que percorremos. Nesse estado, descobriremos as razões para tudo o que aconteceu ao longo do caminho, o motivo e o significado da vida, e o objetivo para o qual somos atraídos.