Números, 33:1-36:13
Porção Masaei - Porção Semanal da Torá - GlossárioResumindo
A porção Masaei descreve as viagens dos filhos de Israel, os locais onde acamparam no deserto e os seus preparativos finais para entrar na terra de Israel. A porção detalha vários mandamentos, como a erradicação da idolatria, as cidades de refúgio, as regras relativas ao homicídio involuntário, a nomeação de líderes para as tribos sob a liderança de Josué, filho de Nun, e Eleazar, o Sacerdote, a dedicação de cidades para o povo da tribo de Levi, e uma descrição dos limites da terra.
A porção termina com a continuação da história das filhas de Zelofehad, o receio da tribo de Manassés de que elas casassem com homens de outras tribos, o que levaria a tribo de Manassés a perder os seus lotes. Em consequência, Moisés emite uma ordem que proíbe as filhas de Zelofehad de casarem com homens de outras tribos, bem como outras proibições relativas a casamentos entre pessoas de tribos diferentes.
Comentário do Dr. Michael Laitman
A porção é uma preparação para entrar na terra de Israel. Nesta fase, iniciamos o trabalho interior, ascendendo a um nível onde o nosso desejo de receber se conecta com a força superior. Aqui descobrimos a força superior porque estamos a viver dentro desse desejo.
Está escrito que a terra de Israel é a terra onde o Criador está presente desde o início do ano até ao seu fim. Ou seja, Ele está sempre na terra de Israel – num desejo que está totalmente voltado para doar, Yashar El (direto a Deus). A pessoa descobre a força superior dentro desse desejo e está em Dvekut (adesão) com ela. Esta é a intenção da terra de Israel.
Disto podemos aprender até que ponto não estamos na terra de Israel espiritual, mas na corpórea. Os cabalistas dizem-nos que nos foi dada a oportunidade de regressar à terra de Israel corpórea (física) para ascendermos à espiritual. Para esse fim, devemos estar todos juntos, unidos como uma família, “como um só homem com um só coração”, como em “todos de Israel são amigos” e como em “ama o teu próximo como a ti mesmo”. Conectamo-nos sob a condição de garantia mútua, e só se cumprirmos este critério entraremos na terra de Israel.
Todas as condições e leis que adotamos até agora – e que tentamos manter ao lidar com os problemas que surgiram dentro de nós como desejos desfavoráveis que deveriam ser corrigidos – foram corrigidas no estado anterior, na porção Matot (Tribos). Em Matot, organizamos os Kelim [vasos] como um resumo do que passamos no período do deserto, quando ascendemos ao estado de querer doar para doar. Agora estamos perante a entrada na terra de Israel, o desejo de receber para doar.
Por esta razão, temos diante de nós um resumo das questões anteriores e um último exame das condições. Estamos coordenados no nosso estado corrigido, um estado chamado “terra de Israel”. Por um lado, a pessoa deve estar conectada com todas as tribos, com todos os outros, com os seus irmãos. Deve estar num estado de “todos de Israel são amigos”, “como um só homem com um só coração”, buscando o bem de todos, e devemos estar em equivalência entre nós.
Por outro lado, precisamos de ver as outras partes do povo – detectar as doze tribos e aderir à proibição de casamentos entre tribos. Essa proibição significa que se deve corresponder o desejo certo à ação certa. Chama-se “corresponder uma mulher a um homem” para que estejam em congruência e possam gerar resultados apropriados e bons, sem se confundirem mutuamente. Para alcançar algo, devemos trabalhar com os desejos com os quais se nasceu, e não confundir a pessoa em direção a conquistas no nível terreno.
O mesmo se aplica às cidades de refúgio, à divisão da terra e aos limites da terra. A palavra Eretz (terra) vem da palavra Ratzon (desejo). Ao conhecermos o nosso próprio desejo e o desejo geral do povo, devemos todos, como células num organismo, funcionar como engrenagens de forma uniforme para alcançar o estado de “o povo de Israel na terra de Israel”. Então, de acordo com o nível de congruência entre nós, a integração favorável e a conexão correta que teremos, sentiremos que a força superior está presente entre nós. Esse estado vai proteger-nos contra todos os problemas e adversidades, dos menores aos maiores.
Se cada um de nós – e todos juntos – alcançarmos, mesmo que ligeiramente, um estado que se assemelhe a esse desejo, um estado de doação mútua, amor mútuo, conexão mútua, um pouco como a verdadeira definição da terra de Israel, teremos a garantia de sermos recompensados com a força superior. Seremos recompensados com o mais forte “teto” espiritual sobre nós, com o qual prosperaremos e afastaremos os nossos inimigos.
Perguntas e Respostas
O povo de Israel regressou à terra de Israel há sessenta e quatro anos, mas ainda procura o verdadeiro significado de estar “na terra de Israel”. O que significa realmente estar em Israel?
O homem é composto pelo conjunto do desejo de receber (que é o coração) e pelo pensamento (que é o intelecto). Estes são os dois elementos primários que existem no homem e que distinguem os humanos dos animais, da besta. O nosso corpo é um organismo que faz parte do reino animal. Contudo, distinguimo-nos desse reino pelos nossos desejos e pensamentos. Por esta razão, são apenas os nossos pensamentos e desejos que devemos corrigir.
Os nossos desejos dividem-se em “desejos corpóreos” por comida, reprodução e família, e em “desejos sociais” por dinheiro, respeito, poder e conhecimento. Podemos desejar muitas coisas, mas, basicamente, todos os nossos desejos se enquadram nestes sete desejos primários. Queremos satisfazer todos os nossos desejos, tanto no nível físico-corpóreo – comida, reprodução (sexo) e família – como no nível social – dinheiro, respeito, poder e conhecimento. Todos eles existem em cada um, mas em combinações diferentes em cada um de nós.
Existem outros desejos do nosso dia a dia, dos quais não temos consciência, como os desejos entre pessoas. Estes desejos voltam-se para o exterior, como uma pessoa que se dá aos outros, sem procurar obter algo deles para si própria. Estes desejos são os 613 desejos entre homem e homem.
Quando nos conectamos aos outros sem o objetivo de explorar ou ganhar, mas saímos verdadeiramente de nós próprios em benefício dos outros, descobrimos esses 613 desejos. Descobri-mo-los na sua forma egoísta, e se os transformarmos para funcionar em benefício dos outros, isso é uma correção, a realização de uma Mitzva (boa ação/mandamento).
Realizamos as Mitzvot (plural de Mitzva) através da luz que nos chega quando estudamos a sabedoria da Cabala corretamente. Chama-se “a luz nela contida reforma”. A sabedoria da Cabala é chamada “Torá”, “A Torá da luz”, “a interioridade da Torá” ou “a verdadeira lei (Torá)”, pois, ao estudá-la, atraímos para nós a luz que corrige esses desejos entre nós.
Corrigir os 613 desejos nas relações entre homem e homem conduz a um desejo corrigido. O desejo corrigido inclui dentro de si os 613 desejos de amor, doação, amizade, unidade, conexão e garantia mútua. Este desejo é chamado “a terra de Israel”, onde todos os desejos são Yashar El (direto a Deus, o Criador). São Yashar El não apenas pela nossa abordagem aos outros, aos amigos, ao povo de Israel, mas porque é um desejo de doar, o mesmo desejo do Criador – um desejo de fazer o bem a todos.
Assim, quando alcançamos a terra de Israel, o desejo direcionado aos outros, podemos também viver na terra de Israel física. Isso, no entanto, deve estar condicionado à nossa conexão mútua numa ligação recíproca, chamada “a terra de Israel espiritual”, um estado de “todos de Israel são amigos”.
É por isso que cabalistas como Baal HaSulam (Rav Yehuda Ashlag) e o Rav Kook escrevem que hoje nos foi dada uma oportunidade de regressar à terra de Israel corpórea, mas ainda não a merecemos, para que possamos alcançar a correção – a conexão – no curto tempo que nos foi dado. Os cabalistas explicam que, se não refletirmos sobre isso e não nos movermos nessa direção, não vamos merecer permanecer aqui e seremos exilados.
Por que existe uma divisão tão estrita em doze tribos com a proibição de casamentos entre elas?
Conectar significa casar. Os diferentes órgãos do nosso corpo funcionam de forma muito diferente uns dos outros. Não se pode conectar os rins aos pulmões ou o fígado ao coração, porque cada órgão funciona no seu próprio sistema. É como um motor em que um pistão trabalha numa direção e outro trabalha noutra. Não se pode conectar esses opostos sem o ajuste adequado. Tem de seguir um plano geral.
O resultado final é um sistema único?
O resultado é um só: o povo de Israel na terra de Israel.
Quais são as partes?
As partes são como pistões, como componentes de um motor, movendo-se em direções opostas, mas em direção ao mesmo vetor.
Então, uma pessoa individual é como um pistão?
O indivíduo é uma parte do todo. Cada um deve apenas concretizar o seu desejo de maneira correta, e os outros, também, devem concretizar os seus desejos de maneira correta. Se todos nos realizarmos com as qualidades com que nascemos, alcançaremos o fim da nossa correção no nível pessoal, a nossa realização pessoal. Desta forma, não nos vamos confundir uns aos outros.
Isto é igualdade versus diferença?
Precisamente.
Como se faz essa igualização?
Inicialmente, não somos iguais; somos diferentes. Não há razão para negá-lo. Imaginemos uma pessoa com um dom único para algo, como a música, e lhe dissermos: “Não, tens de ser mecânico.” Pode-se forçar um mecânico a ser médico?
Como é que a pessoa conhece o seu próprio papel?
Hoje em dia, estamos “dispersados” em todas as direções. É por isso que nos é dito: “Não cases, não olhes para os outros, descobre por ti mesmo onde pertences.” Se uma pessoa nasce numa certa tribo e possui certas qualidades na alma comum chamada “o povo de Israel”, essa pessoa deve encontrar o seu destino e concretizá-lo. É então que ele ou ela será feliz.
Com as crianças, é fácil ver como cada uma é especial. Contudo, isso leva à competição.
Não pode haver competição se um é mecânico, outro é músico, um terceiro é médico, um quarto é escritor e um quinto é engenheiro. A única competição possível é em quanto cada um de nós contribui para a sociedade.
Imaginemos que dois mecânicos nascem numa tribo de mecânicos. Um deles é mais inteligente que o outro e pode inventar máquinas especiais. O mais inteligente deveria ser líder de equipa numa grande fábrica que desenvolve motores, enquanto o menos astuto deveria trabalhar numa pequena oficina ou para o dono de uma oficina.
Por que a sociedade atual valoriza muito mais o mecânico mais inteligente do que o simples?
O problema é que a nossa sociedade não é uniforme. Não podemos valorizar as pessoas segundo os seus esforços relativos. Numa família, admiramos um bebé que faz a coisa mais tola como se fosse a maior conquista. Mas para um observador desinteressado, isso não pareceria nada digno de celebrar.
O ponto é que, se nos tratarmos com amor, sentimos que, quando alguém contribui para a sociedade com todo o coração, essa pessoa deve ser muito mais valorizada do que alguém que é simplesmente talentoso e para quem a contribuição é fácil.
Hoje, não temos consideração por aqueles que contribuem para a sociedade, mas sim pelos ricos e famosos.
Este é o problema. Não estamos a concretizar o objetivo para o qual recebemos a terra de Israel. É por isso que a nossa situação é tão sombria.
É esta a idolatria que a porção menciona?
Sim, é idolatria quando admiramos pessoas famosas, ícones sociais e assim por diante.
Como podemos mudar isso? Não faz parte do mecanismo humano?
A única forma é através da educação que explique às pessoas, diariamente, ao longo de um período de tempo, até que vejam a situação como ela verdadeiramente é e mudem. Hoje, o mundo pressiona-nos. Não poderemos continuar a fazer como nos apetece; não podemos isolar-nos do mundo em declínio.
Para entrar na terra de Israel, a idolatria deve ser abolida. É uma tarefa viável?
Qualquer ato que não una a nação em igualdade e amor, ou que não coloque o conceito de unidade acima de todos os outros valores, conduz à idolatria.
Como podemos conhecer os limites do desejo chamado “terra de Israel” antes de entrarmos nele?
O nosso desejo contém em si toda a realidade. A partir disso, podemos destacar todo o desejo que está na terra. Do desejo que está na terra, podemos destacar o desejo adicional chamado “terra de Israel”, que é um país muito pequeno, se olharmos para o mapa.
Mal se consegue ver.
Isso dá-nos uma ideia do que corrigimos. Primeiro, devemos corrigir este desejo. Uma vez corrigido, podemos avançar para corrigir o desejo geral, os restantes continentes e o mundo inteiro. Este é o significado de ser “uma luz para as nações”. Aqui o texto não o menciona, mas apenas a entrada na terra de Israel, que deve ocorrer pela superação do desejo egoísta de cada um e pela prontidão para começar a corrigir os desejos em amor pelos outros.
Como se descobrem os limites desta terra?
Quando trabalhamos nas nossas conexões com os outros, começamos a ver com quais dos nossos 613 desejos podemos relacionar-nos com os outros. Esses são os limites. Dentro de nós há muitos mais desejos, chamados “desejos das nações do mundo”. São desejos muito poderosos, como o tamanho do mundo comparado com o tamanho da terra de Israel, mas corrigimo-los mais tarde.
Estes são os estágios. Quem se dedica à sabedoria da Cabala alcança ambos os tipos de desejos.
Na Torá, lemos sobre limites muito mais amplos do que o ponto que vemos no mapa hoje. É algo que algum dia alcançaremos?
Sem dúvida.
Fisicamente?
Vamos alcançá-lo fisicamente, mas já não serão limites, porque estaremos no estado de redenção completa. Ou seja, os limites vão desaparecer; não vai haver limites de todo.
Existem limites na espiritualidade, também?
Não, razão pela qual todos nós, o mundo inteiro, seremos como “um só homem com um só coração”. Os filhos de Israel serão os primeiros a iniciar a correção, mas depois, sendo “uma luz para as nações”, vão unir o mundo inteiro na correção, como está escrito: “Pois a Minha casa será chamada uma casa de oração para todas as nações” (Isaías 56:7). O que antes era limitado vai tornar-se ilimitado.
Outra questão é a das cidades de refúgio. Se a pessoa matar alguém, pode escapar para uma cidade de refúgio e ser protegida ali.
É assim quando alguém ainda não trabalha com todos os seus desejos. Se a pessoa comete um erro ou falha em algo, não é porque deixou de ser digna de estar na terra de Israel, mas porque há vários escrutínios e problemas também nela. Claramente, a pessoa entra no desejo para que este esteja diretamente voltado para o amor fraterno, o amor por todos. Isso era impossível no deserto, exceto pela lei: “Aquilo que odeias, não faças ao teu amigo.” Ao entrar na terra de Israel, aplica-se então a lei: “Vais amar o teu próximo como a ti mesmo”, a lei do amor.
É possível cometer erros aqui?
Claro. Há novos desejos, novas correções, e há a conquista da terra. Em todos esses desejos, a pessoa precisa de enfrentar os seus desejos egoístas e, verdadeiramente, explorá-los, derrotá-los, quebrá-los e expulsá-los. A pessoa precisa de realizar todo o trabalho que o povo de Israel faz na terra de Israel na narrativa, exceto que aqui se trata de uma história interna, relativa aos desejos dentro de nós, e aqui podemos errar. É por isso que nos foi dada a Torá. Tal como Israel cometeu erros repetidamente no deserto e depois se corrigiu, o mesmo se aplica à conquista da terra – cometemos erros e depois corrigimo-los.
O que significa cometer erros se dizemos que não há nada além Dele?
Significa que devemos descobrir esses desejos.
Onde começamos verdadeiramente a corrigir?
Cada vez que temos sucesso, caímos imediatamente num erro, numa transgressão.
É porque atribuímos o sucesso a nós mesmos?
Não. O erro, a transgressão, nem sequer é nosso. Somos apresentados a um novo desejo corrompido, onde nos vemos como pecadores, como o pecado dos espiões, o pecado da água, o pecado das serpentes e muitos outros pecados. O povo de Israel parece nunca ouvir o que lhe é dito.
Contudo, isso acontece apenas porque eles têm sucesso. São apresentados a mais e mais dos seus desejos corrompidos para os corrigir. Todos viemos do estilhaçamento, de Faraó. É por isso que Faraó aparece gradualmente como cruel, partido, egoísta, e precisamos de o corrigir.
Portanto, não devemos atribuir o nosso egoísmo a nós mesmos, porque “aquele que é maior que o seu amigo, o seu desejo é maior que ele”. Pelo contrário, tudo o que nos é revelado na Torá é a nossa própria alma estilhaçada, que corrigimos. E nem somos nós que o fazemos; isso foi feito antes de nós. O Criador diz-nos: “Eu criei a inclinação ao mal” e “Eu endureci o coração de Faraó” (Êxodo 10:1).
A obliteração está relacionada com a idolatria?
O nosso trabalho é corrigir. É por isso que constantemente revelamos o mal e o corrigimos.
Mas parece interminável.
Não é interminável. No final, estamos a viver na terra de Israel, e estamos a construir nela uma casa de santidade. Já há luz de Hochma preenchida com luz de Hassadim, e ela está a preencher as nossas almas, então já começamos a descobrir o mundo eterno e perfeito.
A terra de Israel é um estado de “sem erros”, um estado perfeito?
É o estado perfeito. Hoje, precisamos de chegar a um estado onde a terra de Israel se espalhe por todos os países e todos os continentes. É chamada “a terra do cervo” porque esse desejo com a intenção de doar, de amar os outros, deve eventualmente abranger toda a realidade.
Temos o método que explica como o fazer, e devemos explicá-lo a toda a humanidade. O trabalho de disseminar a sabedoria da Cabala é chamado “o Shofar do Messias”. É nosso dever realizá-lo, porque, caso contrário, a humanidade ainda vai alcançar a correção completa, mas após grandes tormentos, enquanto pelo nosso caminho, a humanidade pode alcançar a correção rapidamente, usando a luz que reforma.