<- Biblioteca de Cabala
Continuar a Ler ->
Biblioteca de Cabala

Michael Laitman

Livros
Cabala Revelada O Caminho da Cabala Revelando Uma Porção

Êxodo, 6:2-9:35

Glossário - VaEra
Glossário - VaEra

Resumindo

Na porção VaEra ("E Eu Apareci"), o Criador aparece perante Moisés e promete libertar os filhos de Israel do Egito e levá-los para a terra de Canaã. Moisés dirige-se aos filhos de Israel, mas eles não o escutam “por causa da impaciência e do trabalho árduo” (Êxodo 6:9).
O Criador instrui Moisés a dirigir-se ao Faraó e pedir que deixe os filhos de Israel saírem do Egito. Moisés teme não ter sucesso na sua missão e pede ao Criador um símbolo. O Criador diz a Moisés que ele será como um deus para Faraó, enquanto que Aarão será como o profeta que vai falar em seu nome. O Criador avisa que vai endurecer o coração de Faraó e vai enviar muitos sinais e símbolos sobre o Egito. O Criador dá a Moisés e Aarão um cajado, e quando Moisés lança o cajado ao chão, este transforma-se numa serpente.
Quando Moisés e Aarão vão ter com Faraó, Moisés tem oitenta anos e Aarão tem oitenta e três. À volta de Faraó há muitos magos e adivinhos. Quando Moisés e Aarão chegam, lançam o cajado ao chão, e este transforma-se numa serpente. Os magos de Faraó fazem o mesmo, e os seus cajados também se transformam em serpentes, mas a serpente de Moisés e Aarão engole as serpentes dos magos.
Apesar dessa demonstração, Faraó permanece desafiador. É então que começam as dez pragas do Egito. Esta porção menciona sete delas: o sangue, as rãs, os piolhos, as moscas, a pestilência, as úlceras e o granizo. Após cada praga, Faraó volta atrás na sua palavra e recusa deixar os filhos de Israel saírem do Egipto.

Comentário do Dr. Michael Laitman

Embora esta descrição seja gráfica e vívida, ela transmite o interior da Torá, a verdadeira lei que nos ensina como sair do Egito dentro de nós. A Torá não nos dá instruções para deixar um lugar físico em detrimento de outro, mas sim como nos libertarmos dos nossos egos.
A porção trata acerca da pessoa que trabalha arduamente e descobre que está no Egito. Também aborda o desejo dessa pessoa, que não aceita permanecer no Egito — o ego, a essência do mal. Assim, a pessoa tenta escapar dali, enquanto debate com o próprio ego. Tal pessoa não consegue tolerar o ego, temendo que ele a enterre ou a mate. Por isso, ela eleva-se acima dele e começa a afastar-se.
Existem duas forças dentro de nós. A primeira é o ego, representado por Faraó e todo o Egito. A segunda é um ponto “saliente” chamado “o ponto no coração.” Todos os nossos desejos que estão no Egito e que são alimentados por ele, enquanto há “fome na terra de Canaã” (Génesis 42:6), criam um conflito interno em nós. Esta é a guerra da qual procuramos escapar, tentando elevar-nos acima do ego com todos os nossos desejos. Na verdade, apenas Moisés, o ponto no coração, se escapa e se eleva acima do ego, fugindo do Egito para Jetro e tudo o que há em Midiã.
Após quarenta anos, durante os quais nos fortalecemos em Midiã a trabalhar no fortalecimento da força de Moisés, o Criador aparece-nos na sarça ardente. Através da nossa voz interior, ouvimos e compreendemos que precisamos regressar, lutar contra o nosso ego e sair dele, ou não seremos capazes de alcançar a espiritualidade. A espiritualidade é alcançada apenas corrigindo os nossos desejos, transformando as nossas intenções de egoístas — direcionadas a receber — em altruístas — direcionadas a dar e a amar o próximo. Devemos alcançar a regra: “Ama o teu próximo como a ti mesmo; esta é uma grande regra da Torá.” O ponto no coração, o Moisés em nós, sente que é hora de agir. Ouvimos a voz do Criador e começamos a trabalhar com os nossos desejos egoístas, enfrentando Faraó.
Nesse estado, estamos completamente confusos. É muito difícil confrontar a nossa natureza. A natureza e o mundo parecem prender os nossos pés ao chão, mostrando-nos o quão impossível é, pois, para onde quer que olhemos, estamos cercados pelos nossos egos. Estes são os adivinhos de Faraó, os seus sábios, que nos fazem acreditar que o caminho espiritual, de nos elevarmos acima do ego e alcançarmos o amor ao próximo, é irrealista. Afinal, onde encontramos amor ao próximo no mundo? Alguém o apoia? O Israel em nós é uma força muito fraca. Embora pareça que conseguimos fazer tudo através da nossa espiritualidade, também podemos fazê-lo — e até com mais sucesso — através das forças do ego.
Por vezes, provamos a nós próprios que conseguimos elevar-nos através do grupo que construímos, através do ambiente bom e correto em que nos encontramos. Assim como Faraó, que consente em deixar os filhos de Israel partirem, mas muda de ideia e captura-os novamente, nós passamos por altos e baixos que nos impedem de sair dos nossos egos. Vivemos sete golpes que nos purificam e corrigem. Estes são o ZAT do nível, as sete Sefirot inferiores — Hesed, Gevura, Tiferet, Netzah, Hod, Yesod e Malchut — correspondentes às sete pragas do Egito: sangue, rãs, piolhos, moscas, pestilência, úlceras e granizo.
As últimas três pragas são como o GAR do nível; as três primeiras pertencem ao Rosh (cabeça), e não ao Guf (corpo) do nível. Quem passa por elas torna-se verdadeiramente livre.
No nosso trabalho interior enfrentamos lutas difíceis, escrutínios entre o ego e o ponto no coração, que nos atrai para a liberdade, para o altruísmo, até ao que Baal HaSulam descreve nos ensaios Arvut ("Garantia Mútua") e Matan Torá ("A Entrega da Torá"), como “do amor ao próximo ao amor a Deus.” É assim que saímos da nossa natureza para a natureza do Criador.
Existem apenas duas forças na existência: a força de doação e a força de receção. Estamos imersos na força de receção, que nos conduz à morte, tornando as nossas vidas amargas, limitadas e curtas, até que nos questionamos sobre o propósito da vida.
A espiritualidade oferece uma resposta à pergunta relativa ao sofrimento no nosso mundo. Chegamos à espiritualidade devido a perguntas como “Qual é o sentido da minha vida?” ou “Para que serve a vida?” Na espiritualidade, examinamos constantemente estas perguntas e, através delas, saímos para o mundo eterno e iluminado. Fazemos isso apesar da força do ego que nos aprisiona e nos puxa "pelos pés" de volta, impedindo-nos de escapar.
Os livros de Cabala falam aprofundadamente acerca dessas lutas. Este é o nosso trabalho interior e a razão pela qual estudamos a sabedoria. A luz que reforma, que obtemos, ajuda-nos a superar as pragas, de uma para outra, de baixo para cima, enfrentando golpes cada vez mais intensos. Quanto mais avançamos, mais difícil se torna o trabalho e mais duras são as provas.
Embora sintamos como a força do mal dentro de nós nos mata e destrói, mantendo-nos num nível animalesco, não conseguimos libertar-nos dela. Por fim, chegamos a um estado em que sentimos que, a menos que fujamos, agora, com a ajuda da força superior, ficaremos aprisionados para sempre, pois não conseguimos fugir sozinhos. O Criador torna as coisas difíceis para nós, de forma deliberada, como está escrito: “Vai ter com o Faraó” (Êxodo 7:26), “pois endureci o seu coração” (Êxodo 10:1).
O Criador endurece propositadamente o coração de Faraó, o nosso ego — o coração com todos os nossos desejos — para precisarmos da força Dele, para que sintamos cada vez mais a necessidade de nos conectarmos a Ele e que dependemos Dele para nos libertar do Egito.
Como mencionado acima, há apenas duas forças na realidade: a força negativa, Faraó, e a força do Criador, e depende de nós a qual delas nos apegamos. Através da guerra entre essas forças, aprendemos que não temos outra escolha senão alcançar Dvekut (adesão) através da força do Criador. É assim que saímos do Egito.
Desde o início, vemos que Moisés se dirige ao povo de Israel e lhes diz que o Criador apareceu diante dele, e é por isso que ele lhes propõe sair do Egito. Eles recusam; não querem ouvir.
A recusa pode parecer-nos estranha, pois seria razoável que o povo de Israel quisesse sair do Egito. No entanto, devemos lembrar que este é o povo de Israel no exílio, sob o domínio de Faraó. Se o povo de Israel estivesse em Canaã, a situação seria bem diferente. Mas em Canaã também havia problemas: havia conflitos e fome, pois o desejo de receber estava a crescer e já não podia ser usado. É por isso que se diz que havia "fome" lá. Assim, para utilizar o desejo, o povo de Israel teve de descer ao Egito, pois só adicionando o ego poderiam sair do Egito com as qualidades de Israel em nós, o Yashar El (direto a Deus).
Devemos sair com o desejo egoísta que tínhamos e com o qual descobrimos o mundo espiritual. Não temos nada além da nossa essência natural. Após a destruição, o estilhaçamento, o pecado da Árvore do Conhecimento e os outros pecados, a nossa natureza ficou completamente arruinada. Está completamente fragmentada, como o mundo hoje, que está a descobrir gradualmente a crise em que nos encontramos. Este é o início do sistema egoísta que nos separa uns dos outros.
Os filhos de Israel tiveram de descer ao Egito para renascer as suas almas. Contudo, por enquanto, eles ainda são como José, como os filhos de Israel. Viviam afastados dos desejos egoístas até começarem a misturar-se com o ego. Aqueles que estudam a sabedoria da Cabala, que seguem o que está escrito nos textos e os conselhos dos cabalistas para descobrir o mundo espiritual, que sentem cada vez mais abaixo à medida que se esforçam para ascender. Este estado é chamado de "os filhos de Israel no Egito".
Os filhos de Israel tiveram de permanecer no Egito durante quatrocentos anos, como foi dito a Abraão. Esses quatrocentos anos representam quatro níveis desde a raiz — 1, 2, 3, 4 — ou Yod–Hey–Vav–Hey, que devemos atravessar no exílio para revelar todo o Kli (vaso) e alcançar a redenção com ele, num Kli corrigido. Ou seja, todas as nossas almas vão conectar-se e descobrir, nessa conexão, a luz superior, o Criador. É assim que a alma se une à força superior, à luz; esta é a redenção completa.
Primeiro, precisamos misturar-nos com os nossos quatro níveis de Aviut (desejo de receber, egoísmo). Passámos apenas 210 anos no Egito, portanto houve exílios adicionais após o Egito até que o total dos quatrocentos anos fosse completado. Atualmente, estamos no final desse período.
É necessário descer ao Egito e absorver esses quatrocentos níveis, que são como os quatrocentos shekalim de prata, o preço pelo qual a Caverna de Machpelah foi vendida. É uma medida especial do nosso ego, que Faraó simboliza de forma fragmentada na alma corrigida. No final, trazemos esses Kelim (vasos) do Egito, pois saímos de lá com grande substância, corrigimos os vasos e descobrimos neles a terra de Israel.

Perguntas e Respostas

Por que por um lado, o Criador quer que saiamos do Egito, e, por outro, endurece o coração do Faraó, tornando mais difícil para os filhos de Israel saírem?
Vemos que quando as pessoas começam a estudar Cabala, chegam com grande desejo de aprender, mas logo sentem como é difícil e não conseguem avançar. Começam a "adormecer". O ego cresce, elas cedem a ele e afundam-se. Não conseguem entender que o que aconteceu foi que entraram no Egito. Precisamos de continuar a trabalhar mesmo quando estamos afundados no ego; não devemos concordar em permanecer nele.
Há também aqueles que se desligam das correções e da sabedoria da Cabala por completo. Eles seguem a vida, talvez adotando novos hábitos. Mas, se quando a pessoa é perseverante, atravessa grandes rupturas, golpes internos, até sentir que é necessário sair do Egito, como está escrito: "E os filhos de Israel gemeram por causa do trabalho" (Êxodo 2:23), e clama internamente pela força superior para que o venha resgatar, essa pessoa vai sair.

A sabedoria da Cabala lida com factos e leis naturais e os filhos de Israel veem sinais como o cajado que se transforma em serpente. Isso simboliza algo sobrenatural?
É um estado interno que frequentemente experienciamos. O cajado tornar-se uma serpente representa momentos em que a espiritualidade e perfeição aparecem diante de nós. Sentimos que compreendemos e alcançamos algo da qualidade de doação, prontos para conectarmos com os outros, "como um homem com um só coração". Mas logo depois vem a descida, como uma nuvem negra que desce sobre a pessoa. Assim como o cajado e a serpente alternam, também alternamos nesses estados.

Pode-se dizer que a atitude de alguém em relação à espiritualidade é chamada de "cajado" ou "serpente"?
Sim, é assim que somos lançados de um lado para o outro.

Como os magos do Egito fizeram o mesmo que Moisés com seus cajados?
O nosso ego apresenta-nos estas situações para mostrar quem está certo. Assim como está escrito na história de Ester, quando não sabiam quem estava certo, devemos decidir acima da razão. Não queremos sair do Egito para ganhar algo, mas também não queremos permanecer nele para obter benefícios. Isso significa que a motivação não vem nem do lado da recepção nem do lado da doação.
Muitos desejam conectar-se à espiritualidade e alcançar o mundo espiritual para ter tudo. No entanto, somos levados a entender que, tanto na recepção quanto na doação, não vai haver ganho pessoal para o ego. À medida que avançamos, como os magos do Egito, avançamos em direção à Klipa (casca/pele), à doação com intenção de receber, tentando conquistar também o próximo mundo. Mas a doação verdadeira significa elevar-se acima de qualquer recompensa.

O que significa que a serpente de Moisés e Aarão engole as serpentes dos magos egípcios?
Significa que, no final, precisamos avançar com fé acima da razão. Isso é chamado de "cajado", e com ele elevamos a importância da doação, afastando-nos dos vasos de recepção.

Todos experienciamos esses golpes, cada um de nós, mesmo agora?
A Torá fala sobre tudo o que acontece a uma pessoa que estuda a sabedoria da Cabala. A crise que o mundo enfrenta hoje está a preparar-nos para entender que não temos alternativas; precisamos de avançar. Exceto pelos filhos de Israel, o mundo não avança conforme os passos que aprendemos na Torá. O mundo avança unindo-se aos filhos de Israel, como está escrito: "E os povos vão levá-los e trazê-los ao seu lugar; e a casa de Israel vai possuí-los na terra do Senhor" (Isaías 14:2). O mundo inteiro vai precisar de apoiar esse processo.

O que precisamos fazer para sair do Egito agora?
A Torá diz-nos que, enquanto não sofrermos todos os golpes, não poderemos clamar de forma desesperada para que o Criador nos salve. Quando isso acontecer, a força superior, a luz que reforma, vai influenciar-nos tão intensamente que vamos conseguir desprender-nos do ego.
Do Zohar: Eu vou trazer, Eu vou libertar, Eu vou redimir, Eu vou tomar
"O Criador quis primeiro contar-lhes o mais belo — o êxodo do Egito. O mais belo de tudo é: 'E Eu tomá-los como o Meu povo, e serei vosso Deus.' Mas Ele disse-lhes isso depois. Naquele momento, não havia nada mais belo para eles do que sair porque achavam que nunca iriam sair da escravidão, pois viam que todos os prisioneiros entre eles estavam presos por laços mágicos que nunca poderiam romper. Por isso, primeiro foi-lhes dito aquilo que mais desejavam." (Zohar para Todos, VaEra [E Eu Apareci], itens 52-53).
É o trabalho do Criador. Não somos nós que fazemos o trabalho, nem o trabalho que o Criador faz ao corrigir-nos. Em vez disso, é o trabalho que o Criador faz "nos bastidores". Isso é simbolizado pela nuca. Ou seja, endurecer o coração do Faraó é o trabalho que o Criador faz para que precisemos Dele.

É nesse momento que queremos sair do Egito?
Sim, é quando queremos sair do Egito e também quando definimos essa saída corretamente. Se perguntarmos a uma pessoa comum: "Por que ora?" "O que é a redenção?" ou "O que ou quem é o Messias?", ouviremos muitas respostas. Cada um tem o seu próprio Messias. Mas aqui estamos a falar de alguém que precisa de alcançar um estado de Messias, que leva ao amor ao próximo, ao estado de "ama o teu próximo como a ti próprio", a regra que nos inclui a todos, já que devemos estar todos mutuamente contidos nela, em garantia mútua.
Esta é a razão pela qual a garantia mútua é tão importante para nós; ela é como o êxodo do Egito, como redenção. Enquanto não houver garantia mútua, não vai haver redenção. Por isso, todos precisamos trabalhar para a alcançar, explicando a todos que, quanto mais nos aproximarmos desse ideal, maiores serão nossas hipóteses de sair do Egito em breve.