Êxodo, 18:1-20:22
Glossário - YitroResumindo
A porção Jetro começa com Jetro, sacerdote de Midiã, acompanhado com Zípora e os dois filhos de Moisés para se encontrar com Moisés e a nação, que saíram do Egito. Jetro dá a Moisés algumas dicas organizacionais sobre como julgar as pessoas, explicando que ele deve dividi-los em juízes de mil, juízes de cem, juízes de cinquenta e juízes de dez.
Os filhos de Israel chegam ao deserto do Sinai no terceiro mês após a sua saída do Egito, como está escrito: “E Israel acampou ali, diante do monte” (Êxodo 19:2). Moisés sobe ao Monte Sinai, e o Criador diz-lhe: “Agora, se ouvirem atentamente a Minha voz e mantiveram o Meu pacto, sereis para Mim uma Segula [virtude, remédio] entre todos as nações, porque toda a terra é Minha. E sereis para Mim um reino de sacerdotes e uma nação sagrada. Estas são as palavras que dirás aos filhos de Israel” (Êxodo 19:5-6).
Moisés informa os anciãos do povo sobre as palavras do Criador, e eles respondem: “Tudo o que o Senhor disse, faremos” (Êxodo 19:8). O Criador ordena ao povo, através de Moisés, que se santifiquem durante dois dias e estejam prontos no terceiro dia, pois nesse dia o Criador vai aparecer diante de toda a nação.
No terceiro dia, os filhos de Israel estão no sopé do monte, mas não querem encontrar o Criador face a face. Assim, Moisés e Aarão sobem ao Monte Sinai, e Moisés desce com os Dez Mandamentos.
Os filhos de Israel pedem a Moisés que lhes fale em lugar do Criador, pois têm medo de morrer. Moisés explica-lhes que não precisam temer, pois o Criador está a descer para os colocar à prova e para que o temor a Ele esteja neles, impedindo-os de pecar.
O Criador instrui Moisés a dizer aos filhos de Israel que, porque O viram falar com eles, é-lhes proibido fazer deuses de prata e de ouro. Em vez disso, devem construir um altar no chão e oferecer sacrifícios sobre ele.
Comentário do Dr. Michael Laitman
Jetro, sacerdote de Midiã, não é de Israel. Ele vem do desejo de receber pelo benefício de receber, uma Klipa (casca/pele) que foi mitigada por Moisés. Jetro eleva-se e conecta-se a Moisés através da sua Nukva (feminino), a sua filha Zípora, com quem Moisés tem dois filhos. Este é o desejo de receber grande e fragmentado que o Moisés dentro de nós vai corrigindo gradualmente.
Quando Moisés vai até Jetro, depois de ele fugir, é estabelecida uma conexão entre o ponto no coração, Moisés, e o ego. Assim, é feita uma correção para que, mais tarde, seja mais fácil para uma pessoa realizar correções em estágios mais avançados.
A correção ajuda a pessoa a começar a dividir-se em dezenas, cinquenta, centenas e milhares, ou seja, a construir a estrutura da alma. Toda a Torá trata da construção de nossa alma e de como transformamos o desejo egoísta num desejo com a intenção de doar. Quando o desejo adquire a intenção de doar, ele é chamado de “alma.”
A força de recepção é chamada de “eu”, “este mundo.” Tudo o que vemos e sentimos é a força de recepção. A força de doação é a saída da recepção. Quando trabalhamos para doar, em “ama o teu próximo como a ti mesmo”, [“Ama o teu próximo como a ti mesmo. O rabino Akiva diz: ‘É uma grande regra na Torá’” (Talmude de Jerusalém, Seder Nashim, Masechet Nedarim, Capítulo 9, p. 30b).], obtemos a nossa alma. O nosso Moisés interior afasta-se da qualidade de recepção em direção à qualidade de doação, levando-nos para fora de nós mesmos e permitindo-nos ver o mundo superior e começar a sentir o Criador.
O Livro do Zohar fala disso em grande detalhe na porção de Jetro, mas ainda é difícil compreender. Trata-se das três linhas, da estrutura da alma, da recepção, da doação, e da linha do meio, que é a combinação correta entre elas. O Zohar descreve como dividir a alma—primeiro em dez Sephirot, de acordo com os Dez Mandamentos, depois de acordo com as três linhas, que são trinta. Há também uma divisão em Rosh, Toch, Sof (cabeça, interior, fim, respectivamente), e muitas outras divisões internas que incluem a Sephira (singular de Sephirot) Daat.
Quando nos relacionamos com nós mesmos como saindo do Egito e nos examinamos do exterior, analisamos como podemos usar os nossos egos para avançar espiritualmente, em direção à intenção de doar. Passamos por situações difíceis, como a fuga do Egito e a travessia do Mar Vermelho, até chegarmos ao Monte Sinai. É assim que nos construímos no caminho da correção—através dos conselhos de Jetro, bem como das ações.
Estar no sopé do Monte Sinai exige preparação. Este é o “acontecimento principal”, o momento em que encontramos o Criador. Enquanto estamos na escuridão, não entendemos por que precisamos avançar. Seguimos o ponto no coração, Moisés.
De certo modo, Moisés ajuda-nos a sair do Egito quando escapamos na escuridão. Contudo, não somos participantes conscientes desse processo. O sopé do Monte Sinai, é quando a força superior aparece pela primeira vez. É o momento em que começamos a entender a nossa própria essência e a essência da força superior, além de como nos relacionar com nossa situação e como devemos avançar.
Nesta porção, surge a primeira consciência. Com ela, despertam todos os desejos do homem, chamados de “o povo” ou a “nação”, e eles têm medo. Esses desejos ainda não conseguem conectar-se ao Criador; não podem vê-Lo ou ouvi-Lo. Eles dizem a Moisés: “Fala Tu”. Este é o estado que alcançamos após o exílio, o Egito, o nosso ego. Começamos a ouvir um pouco apenas ao descer de Keter (coroa), que é o Criador. Este processo ocorre através de Hochma e Bina—quando Moisés e Aarão começam a trazer a grande luz que aparece ao desejo de receber como leis, como os Dez Mandamentos, começando pelo primeiro mandamento: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão” (Êxodo 20:2), e terminando com o último mandamento.
Os Dez Mandamentos incluem todas as 620 Mitzvot (mandamentos). Estas são 620 correções, que são 613 mais sete Mitzvot de nossos sábios, pelas quais devemos corrigir nossos desejos. Ou seja, consistimos de 620 desejos que se dividem em 613+7.
As 613 Mitzvot conectam-se dentro deles em 248 e 365, que compõem a estrutura da alma. A alma em si mesma consiste em dez partes, dez Sephirot, e a sua correção é chamada de Dez Mitzvot ou Dez Mandamentos, que são os mandamentos principais dados ao homem. Ascendemos de acordo com a nossa posição, conforme estamos diante da luz que nos aparece. Ouvir é o nível de Bina, e ver é o nível de Hochma.
Quem passou por todo o processo e saiu do Egito eleva-se acima do ego e está disposto a receber o programa de doação, o programa de conexão com toda a humanidade. Essa pessoa está pronta para a revelação da Divindade na conexão entre todas as pessoas, como está escrito: “Ama o teu próximo como a ti mesmo; o rabino Akiva diz: ‘É uma grande regra na Torá.’” (Talmude de Jerusalém, Seder Nashim, Masechet Nedarim, Capítulo 9, p. 30b.) Esta regra é tanto a fundação quanto o resultado de cumprir os Dez Mandamentos, sendo o objetivo Keter, alcançar o amor, e através do amor ao próximo alcançar o amor ao Criador.
No estado atual, parte da humanidade está a descobrir que está no Egito, outra parte está a descobrir que deseja sair do Egito, e uma parte está a descobrir como sair e avançar em direção ao Monte Sinai. Estamos a começar a sentir que estamos na escuridão, num processo que não compreendemos. A cada dia cresce a nossa necessidade pela luz, pela revelação do Criador, para que ilumine um pouco as nossas vidas e possamos entender o que está a acontecer conosco.
Precisamos de corrigir Jetro, o desejo egoísta de receber, como está escrito: “Se alguém te disser: ‘Há sabedoria entre as nações, acredita.’” (Midrash Rabah, Eicha, Parasha 2, Parágrafo 13.) Se Moisés não se conectar ao desejo chamado Jetro, não receberia dele o conhecimento do julgamento e da liderança, que é uma parte necessária para a recepção da Torá.
Através da disseminação do método de correção para as nações do mundo, o método de Arvut (garantia mútua), e ao circular a necessidade pela sabedoria da Cabala, estamos a fazer o trabalho que Moisés fez com Jetro. Por isso, seremos recompensados por estarmos no sopé do Monte Sinai.
Perguntas e Respostas
Na porção Jetro, o povo de Israel recebe os Dez Mandamentos. Esta pode ser a porção mais importante, pois a Torá é a correção. Então, por que se chama Jetro, o nome de um desejo “externo”?
Jetro é o sacerdote de Midiã, uma Klipa que está do lado oposto. Ele é um dos servos do Faraó, semelhante a outras forças que estavam ao lado do desejo de receber e ajudaram o Faraó a conectar e extrair o máximo possível do desejo de doar—Israel. O Zohar parece estar a dizer coisas negativas sobre ele, mas Jetro é uma ajuda feita para nos desafiar. Afinal, tudo está dentro de nós.
O que sai do Egito são os Kelim (vasos), ou seja, os desejos. Nos desejos que saem, ainda não há intenção de trabalhar com o desejo de receber. Moisés, a força de Bina, quer julgar o desejo de receber, que está separado dele. Mesmo diante do Faraó, Moisés quis atrair o desejo de receber, mas não para o conectar ou extrair algo dele, mas para o julgar. No entanto, ele não teve sucesso.
Quando chegamos ao estado que existe entre Moisés e a nação que saiu do Egito, incluindo a multidão de pessoas diversas e todas as camadas que se opõem ao processo de doação e amor ao próximo, é necessário construir um sistema especial de acordo com o desejo de receber, de acordo com a corporeidade. Moisés não pode construí-lo; ele só pode dar desde o alto, como que “derramando”. Isso, porém, não é absorvido pelo povo. Como está escrito, Moisés cansa-se, e o povo, que não consegue encontrar a conexão correta, fica ao lado dele o dia todo.
Não conseguimos encontrar a relação adequada entre o nosso desejo de ascender, em direção ao Criador, e os nossos egos — na família, no trabalho e no resto da vida mundana. Precisamos de um sistema que nos proporcione Jetro. A sabedoria deve vir especificamente do desejo de receber, como está escrito: “Se alguém te disser: ‘Há sabedoria entre as nações, acredita.’” Embora essa sabedoria não pertença ao nível de Bina, foi incluída nele anteriormente, quando Moisés passou quarenta anos com Jetro. Moisés cresceu ao nível de Bina com Jetro; agora Jetro está aparentemente a retribuir.
Jetro organiza a relação entre Moisés e os desejos para que Moisés se liberte para o que é realmente importante — a receção da Torá?
Jetro devolve a Moisés o que recebeu dele enquanto Moisés esteve com ele. Moisés foi até Jetro depois de fugir do Faraó. Ele cresceu enquanto esteve com Jetro, passando do nível de Malchut ao nível de Bina, de pura doação. Ele cresceu na casa de Jetro e “acima” de Jetro, através da sua conexão com Zípora e os dois filhos que teve — da direita e da esquerda, estando ele no meio. Tudo o que Moisés deu a Jetro e incutiu nele está a voltar a ele—Jetro, Zípora e os dois filhos. Houve uma mistura de Bina em Malchut, e agora Malchut devolve a Bina.
Dessa forma, Moisés pode agora construir todo o sistema de conexão entre Bina e Malchut, e ele está pronto para receber a Torá. É por isso que o primeiro encontro com o Criador é nomeado em homenagem a Jetro, pois, precisamente devido ao sistema construído anteriormente, é possível agora alcançar o estado de estar no Monte Sinai.
Por um lado, os filhos de Israel tinham medo de se voltarem ao Criador por receio de morrer. Por outro lado, sabemos que o Criador recebe especificamente orações que vêm do coração. De onde vem, então, esse medo? Por que tinham medo os filhos de Israel?
O nosso desejo de receber ainda não está equipado com um Masach (tela) que possa suportar a luz. Ou seja, a luz ainda nos parece escuridão. O que significa o êxodo do Egito no escuro? Não há escuridão, mas parece escuro para nós porque ainda não estamos corrigidos. A palavra aramaica Ohrta (noite) é muito semelhante à palavra hebraica Ohr (luz). Ou seja, num momento é noite, e no outro é luz, dependendo de como a pessoa a experiencia.
Do Zohar: E Jetro Ouviu "Todos tremeram e olharam para Jetro, que era sábio e o grande encarregado de todos os ídolos do mundo. Quando o viram aproximar-se e servir ao Criador, dizendo: ‘Agora sei que o Senhor é maior que todos os deuses’, todos se afastaram das suas obras e souberam que eram fúteis. Então a glória do Nome sagrado do Criador foi glorificada de todos os lados. É por isso que esta porção foi escrita na Torá, e o início da porção é com Jetro." (Zohar para Todos, Jetro, item 42)
Jetro é o primeiro desejo de receber que se rende e aceita a soberania do Criador. Por isso esta porção leva o seu nome. O Zohar também menciona Gematria, explicando por que Jetro é chamado de Jetro, por que Zípora é chamada de Zípora e todos os outros eventos da porção.
Nesta porção, ouvimos que os filhos de Israel acamparam no sopé do Monte Sinai. O que significa acampar ali?
Acampar é semelhante ao que ocorre no Hanucá. Está claro que não podemos corrigir o nosso ego naquele momento, mas apenas receber um conselho, um caminho, um programa, um objetivo que pode ser implementado ao longo do tempo, de acordo com o nível do nosso entendimento do programa. Somente no final do deserto, à entrada da terra de Israel, o povo descobre tudo o que Moisés lhes disse nas suas palavras finais, antes de sua morte.
Do Zohar: Não Matarás; Não Cometerás Adultério
"Quando aquela imundície foi removida deles, Israel permaneceu como corpos puros, sem qualquer imundície, e a alma dentro do corpo era como o brilho do firmamento para receber luz. Assim era Israel, que viram e contemplaram a glória de seu Mestre. Não foi assim no mar, porque naquela época a imundície ainda não tinha sido removida deles; porém, aqui no Sinai, quando a imundície parou de influenciar o corpo, até mesmo os fetos no ventre de suas mães olharam e contemplaram a glória de seu Mestre. Todos eles, cada um deles, receberam conforme lhes era apropriado." (Zohar para Todos, Jetro, itens 572–573)
A ascensão espiritual pode ser o resultado de dois estados—um despertar de cima e um despertar de baixo. No despertar de cima, a luz brilha do alto e santifica a pessoa, dando-lhe a força de doação através da qual começa a olhar para longe, contra o seu ego. Essa pessoa vê o mundo fora de si mesma, o mundo espiritual. Ela conhece a força superior, o Criador. Já um despertar de baixo vem da própria pessoa, através de um trabalho extenso na conexão com os outros. Quando se recolhem despertares de todos, alcança-se o mesmo despertar que poderia ser recebido do alto.
Naturalmente, o nosso próprio trabalho, de baixo, é mais desejável e apreciado, porque se recolhemos forças dos amigos, e cada um deles recolhe forças dos outros, e cada um possui as suas próprias forças, essa força torna-se deles permanentemente. Aqui, a pessoa está aparentemente apenas acampado para receber conselhos sobre o que fazer. Para ouvir o conselho, é necessário despertar. É semelhante ao êxodo do Egito, através de uma força que vem do alto, uma força externa que nos empurra e puxa. Mas, depois disso, devemos concretizar as forças que recebemos ao longo dos quarenta anos no deserto.
Algo especial acontece no Monte Sinai: uma purificação, uma força especial que recebemos.
A luz que nos afeta é chamada de “a luz que reforma.” Está escrito: “Eu criei a inclinação ao mal; Eu criei para ela a Torá como tempero” (Talmude Babilônico, Masechet Kidushin, 30b), porque “a luz nela contida reforma” (Midrash Rabá, Eicha, ‘Introdução,’ Parágrafo 2). Ela reforma a inclinação ao mal e transforma-a em boa. Inicialmente, todos estamos na inclinação ao mal, somos egoístas, e tudo o que precisamos é da Torá, assumindo que é a verdadeira Torá. Como está escrito: “Se alguém te disser: ‘Há sabedoria entre as nações, acredita; há Torá entre as nações, não acredita.” (Midrash Rabá, Eicha, Parashá 2, Parágrafo 13).
Um “homem das nações” é um desejo de receber que quer receber para si mesmo. Israel é aquele que se esforça para alcançar a doação, o amor ao próximo, e do amor ao próximo alcançar o amor ao Criador.
Por isso, aqueles que desejam profundamente são chamados de “Israel” e aprendem a sabedoria da Cabala, pois ela traz a luz que reforma. Assim nos santificamos, adquirimos a força de doação e ascendemos através dela. Quanto maior a força de doação que uma pessoa possui, maior o amor ao próximo, e mais sagrada essa pessoa é considerada.
Resumo
Desta porção podemos aprender que, em certa medida, a nossa conexão entre o desejo de doar e o desejo de receber precisa existir constantemente. A sabedoria da Cabala não nos diz para destruirmos os nossos egos, mas sim para os usar corretamente. É por isso que ela é chamada de Hochmat haKabbalah (a sabedoria de como receber); é a sabedoria de como usar os vasos de recepção.
Não precisamos evitar usar os vasos de recepção ou estar “acima” da vida mundana. Precisamos, sim, descobrir a inclinação ao mal que nos separa da conexão com o resto do mundo, como foi dito a Moisés: “E sereis para Mim um reino de sacerdotes e uma nação sagrada” (Êxodo, 19:6). Ou seja, o papel do povo de Israel é oferecer-se ao serviço do resto do mundo.