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Michael Laitman

Livros
Cabala Revelada O Caminho da Cabala Revelando Uma Porção

Êxodo, 21:1-24:18

Glossário - Mishpatim
Glossário - Mishpatim

Resumindo
Na porção Mishpatim, o Criador dá a Moisés um conjunto de leis e julgamentos sobre vários tópicos: relações entre homem e homem, escravos hebreus, servas hebreias, assassinato, roubo, empréstimos de dinheiro, entre outros. O Criador também dita leis referentes às relações entre o homem e Deus, alimentos de carne e leite, o Shabat, a Shmita (ano de omissão, abstinência de cultivar a terra), etc.
Moisés transmite aos filhos de Israel a mensagem de que o Criador os vai ajudar a entrar na terra de Israel e adverte-os sobre a prática da idolatria. Ele lê para o povo do Livro do Pacto, e eles respondem: “Vamos fazer e vamos ouvir” (Êxodo 24:7). Moisés constrói um altar e oferece sacrifícios ao Criador, firmando assim um pacto entre o povo e o Criador. Moisés cumpre o comando do Criador, sobe ao Monte Sinai para receber as tábuas do pacto, acompanhado pelo seu servo, Josué, e permanece lá por quarenta dias e quarenta noites.

Comentário do Dr. Michael Laitman
Na porção Mishpatim, Moisés sobe ao Monte Sinai, embora já tivesse recebido todas as leis e ordenanças, e os filhos de Israel já estivessem a cumprir a Torá e as leis relativas às oferendas. Isso mostra-nos que leis e ordenanças são uma coisa, e a Torá é outra.
A porção detalha todas as leis do mundo espiritual, tudo o que a pessoa precisa de fazer. Para ser capaz de as realizar, é necessário receber a Torá. A Torá foi dada porque, conforme está escrito: “Eu criei a inclinação ao mal; Eu criei para ela a Torá como tempero”. [Talmude Babilônico, Tratado Kidushin, 30b.] Isso significa que nos é mostrado quem somos em comparação ao que devemos ser no nível de “homem”, num estado de amor ao próximo e de conexão entre todos, um estado de correção de todos os desejos egoístas.
Por isso, as leis vêm primeiro. Quem começa a estudar a sabedoria da Cabala compreende que primeiro se deve corrigir a si mesmo, a sua atitude em relação ao grupo, às pessoas e ao mundo. Existem muitas correções internas da inclinação ao mal que precisam de ser feitas. Quando entendemos o que devemos fazer, chega o momento de receber a Torá. É então que aprendemos a receber a luz que nos corrige durante o estudo.
Assim, obtemos gradualmente o mundo superior, o Criador, a força superior que preenche o mundo superior. Por isso foi dito: “Vamos fazer e vamos ouvir”, primeiro, devemos agir; depois, nos Kelim (vasos) corrigidos que construímos, descobrimos o Criador que preenche esses Kelim (vasos).
A porção explica a estrutura da alma porque isso é tudo o que existe. Embora já estejamos a viver na alma, ainda assim sentimos e compreendemos este mundo dentro dela de maneira muito limitada, num nível ainda inanimado. A porção ensina-nos como abrir a alma, o Kli (vaso), e como o corrigir e expandir. Isso permite-nos transcender as fronteiras deste mundo.
Ao corrigirmos todos os níveis da alma, ou seja, os desejos corrompidos, abrimo-los e descobrimos neles uma dimensão mais elevada, o mundo superior. Assim, para além da nossa percepção deste mundo, também sentimos o mundo superior, conforme está escrito: “Vais ver o teu mundo na tua vida.”[Tratado Berachot, 17a.] A Torá foi-nos dada para que possamos abrir-nos à percepção do mundo espiritual e viver em ambos os mundos através da nossa percepção presente, através dos nossos corpos, até entendermos que o corpo não é, de fato, o que somos.
Hoje, o mundo inteiro, toda a humanidade, está em crise. Este é um estágio de transição da percepção deste mundo para a percepção adicional de um mundo espiritual.
Em conferências sobre o futuro do mundo, cientistas e psicólogos afirmam que toda a humanidade está em transição para uma nova percepção. Por isso, estamos a testemunhar uma mudança para novas leis e uma nova percepção da realidade.
Mishpatim é pertinente ainda hoje, pois estamos a descobrir que não conhecemos as regras que regem o nosso mundo, o que torna difícil lidar com ele. Quando começarmos a conhecer o mundo, perceberemos que, para lidar com ele, precisamos da Torá, uma orientação, pois está escrito: “Eu criei a inclinação ao mal; Eu criei para ela a Torá como tempero”.
Devemos reconhecer que não possuímos o poder da luz que reforma, a Luz da Torá, nomeadamente, a sabedoria da Cabala, através da qual podemos alcançar a correção da natureza humana. Com a natureza corrigida, veremos uma realidade nova e expandida.
Quando Moisés chega ao Monte Sinai com Josué, ele deixa-o em baixo e sobe. Moisés permanece na montanha por “quarenta dias e quarenta noites” (Génesis, 7:4) para receber o poder da Torá. Isso é considerado que ele se elevou um nível.
O homem é um pequeno mundo. Assim, devemos perceber que toda a realidade está em nós. Dentro de nós estão todas as leis, todas as ordenanças, o povo de Israel, todas as partes do nosso desejo de receber, que devemos organizar como a estrutura da alma. Deixamos o que é considerado “Josué” em baixo, enquanto Moisés sobe ao topo da montanha. Quando configuramos corretamente esta imagem, no estágio do nosso progresso espiritual chamado “a porção, Mishpatim”, avançamos para alcançar o objetivo da criação. Nesse estado, sentimo-nos como alguém que está a subir a montanha e já está em contacto com o Criador.

Perguntas e Respostas

A porção detalha muitas regras, como as referentes aos escravos hebreus e aos alimentos de carne e leite. Estas dividem-se em duas partes: entre o homem e o homem, e entre o homem e Deus. Por um lado, dizemos que tudo diz respeito às relações entre as pessoas. Por outro, que tudo diz respeito à conexão com o Criador. Por que fazemos essa divisão?
Todas as regras têm como objetivo a correção da alma, ou seja, do nosso desejo de receber. Tudo o que foi criado é o desejo de receber, e cada um de nós está imerso no seu próprio desejo de receber. O desejo de receber divide-se em dez Sefirot: Keter, Hochma, Bina, Hesed, Gevura, Tiferet, Netzah, Hod, Yesod e Malchut. Também se divide em três linhas, em cinco Behinot (discernimentos), e em Aviut (espessura, níveis de desejo) Shoresh (raiz)-1-2-3-4. Contém tudo.
Vivemos dentro do nosso desejo de receber, que é chamado uma Neshama (alma), e o Criador é a força geral de doação, de amor. Quando estamos dentro do nosso desejo de receber, e não em doação e amor, não descobrimos o Criador na nossa alma; Ele está oculto. Só podemos descobri-Lo se corrigirmos o nosso desejo de receber para que opere em doação, em amor pelos outros. Nesse processo, aparece a força de doação e amor, chamada “o Criador”.
Como a corrigimos e nos aproximamos da correção? O mundo inteiro está enganado nessa pergunta. Todos pensam que sabem o que devemos fazer na vida, e é por isso que existem tantas religiões e sistemas de crenças. Mas apenas verdadeiros cabalistas têm uma noção clara.
Na verdade, a nossa Torá é muito simples. Está até escrito: “É algo único e fácil.” [Midrash Raba, Devarim, Porção 11, item 11.] Uma pessoa precisa unir-se a um grupo que se dedique apenas ao amor pelos amigos, e esse é o objetivo. Se formos “como um homem com um só coração,” [RASHI, Êxodo, 19b.] receberemos a Torá. Caso contrário, aqui será o nosso enterro, conforme está escrito: “Se receberdes a Torá (lei), muito bem; se não, aqui será o vosso enterro.” [Talmude Babilônico, Tratado Avodá Zará, p. 2b.] Tudo está relacionado com a conexão.
Há dois estágios no amor pela humanidade. Primeiro, “aquilo que odeias, não faças ao teu amigo.” [Tratado Shabat, 31a.] E depois, “Ama o teu próximo como a ti mesmo ... este é um grande princípio da Torá.” [Talmude de Jerusalém, Seder Nashim, Tratado Nedarim, Capítulo 9, p. 30b.] Ambos os estágios devem ser realizados num grupo. É no grupo que aprendemos todas as regras relativas ao homem e ao homem.
Quando entendemos, conhecemos e dominamos estas leis, podemos sentir e percebê-las. Assim, vamos compreender como avançar do amor ao próximo para o amor ao Criador. Nesse momento, ascendemos ao estado de “E vais amar o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força” (Deuteronómio, 6:5). Nesse estado, em que nos dedicarmos ao amor ao próximo, obtemos o intelecto, o coração, o entendimento e a inclinação para isso. Por isso, passamos do amor pelas pessoas para o amor ao Criador.

Há regras relativas ao homem e ao homem, e regras relativas ao homem e a Deus. Por que sentimos que é mais fácil cumprir os mandamentos relativos a relação entre o homem e Deus?
É mais fácil porque, ao realizar Mitzvot relativas ao homem e a Deus, sentimos que podemos dizer qualquer coisa. Basta colocar um bilhete numa fenda do Muro das Lamentações em Jerusalém para nos sentirmos tranquilos. É agradável; não recebemos resposta, ninguém nos diz se estamos certos ou errados, ou se foi suficiente ou não.
No entanto, em relação aos amigos, familiares, pessoas em geral, à nação, ao estado e à humanidade, precisamos realmente alcançar o objetivo — examinar se os amamos ou não.
Amar significa pegar nos desejos dos outros e satisfazê-los da melhor forma possível, cuidando deles antes de cuidar de nós próprios. Este é o verdadeiro significado de amor: servir os outros em todas as formas, em vez de nos servirmos a nós mesmos. Hoje, isso parece impossível, então é mais fácil mascarar esta dificuldade dizendo: “Não te preocupes, eu lido diretamente com o Criador.” Contudo, isso afasta-nos muito da verdadeira Torá.

Do Zohar: Administrar Justiça pela Manhã
Por que motivo o Criador viu como necessário dar os Dinim (juízos) a Israel, ou seja, a porção Mishpatim (ordenanças), depois dos Dez Mandamentos? A Torá foi dada a Israel pelo lado de Gevura (força, severidade). Por isso, eles devem estabelecer a paz entre si através de juízos e ordenanças, para que a Torá seja cumprida em todos os seus aspectos. O mundo existe apenas no Din (julgamento), porque sem o Din ele não existiria. Por esta razão, o mundo foi criado em Din e nele existe. Zohar para Todos, Mishpatim (Ordenanças), item 517

O mundo segue o julgamento porque o Criador criou apenas o desejo de receber, um desejo egoísta que quer satisfazer-se e sentir-se bem. Não existe nada na realidade além do desejo de doar, que é a força superior, e do desejo de receber, que é a força da criatura. Tudo o que existe é o equilíbrio entre estas duas forças. Também podemos observar como isso se desenvolve na ordem dos mundos, em Yod–Hey–Vav–Hey, como está enraizado e desce até este mundo. 
Este mundo também está elaborado sobre quatro princípios básicos. Sem eles, não seria possível sustentar o universo com todas as suas estrelas, a Terra e a vida sobre ela. Estes quatro princípios existem nos átomos e nas relações entre as partes do átomo.
O desejo de receber é a fundação. Quando começamos a trabalhar com essa fundação para doar, permeamos a criação. Nunca fizemos isso porque sempre utilizámos essas leis de forma egoísta.
Até agora, temos seguido o caminho que a natureza nos traçou. Agora, pela primeira vez, ao chegarmos à sabedoria da Cabala, estamos a começar a trabalhar aparentemente contra a nossa natureza. Por isso, este trabalho é chamado “Os Meus filhos derrotaram-Me”, [Talmude Babilônico, Tratado Nezikin, Baba Metzia, 59b] porque, aparentemente, estamos a ir contra o Criador.
O Criador criou a inclinação ao mal, que nós transformamos em inclinação ao bem. Abrimo-nos para uma realidade completamente nova. Somente neste mundo sentimos apenas a nossa natureza.
Como está escrito no Zohar, as correções vêm através da correção de Gevura, razão pela qual nos tornamos Gevarim (Homem), da palavra hebraica Hitgabrut (superar). Ou seja, erguemo-nos acima dos nossos egos e entramos no mundo que está acima do ego, o outro mundo, o mundo da doação.
O Livro do Zohar é especial devido à influência da luz na nossa correção. Nunca na história houve outro acontecimento em que dez grandes cabalistas se reuniram, cada um correspondendo a uma Sefira diferente, encabeçando o sistema de governação. Eles reuniram-se e escreveram o plano mestre da governação e orientação de toda a realidade, em primeira mão. Na verdade, eles estavam nessa própria origem.
Assim, ao ler o que eles escreveram, atraímos sobre nós essa luz para que ela nos santifique e nos eleve ao nível de Bina, que é chamado “sagrado” ou “santificado", o que significa doação, amor ao próximo. É então que recebemos a nossa melhor arma contra os nossos egos.

Do Zohar: O Avô
Muitas são as pessoas no mundo cujos intelectos estão confusos e que não veem a verdade na Torá. Cada dia, a Torá clama por elas com amor, mas elas não querem virar a cabeça e ouvi-la. Na Torá, algo sai da sua bainha, aparece brevemente e rapidamente se esconde. Quando aparece da bainha e se esconde rapidamente, a Torá faz isso apenas para aqueles que a conhecem e que são conhecidos nela.
… Assim é uma palavra da Torá: ela aparece apenas para aquele que a ama. A Torá sabe que o sábio de coração circunda o portão da sua casa todos os dias. O que faz ela? Mostra-lhe o rosto de dentro do palácio, dá-lhe uma dica, e rapidamente retorna ao seu lugar e esconde-se. Todos os outros de lá não sabem nem olham, mas apenas ele, cujas entranhas, coração e alma a seguem. Por isso a Torá aparece e cobre-se, e vai ao seu amado com amor, para despertar o amor nele.
Zohar para Todos, Mishpatim (Ordenanças), itens 97–99

Quando precisamos de revelar, também precisamos de ocultar. E, ainda assim, é precisamente ao ocultar que revelamos. Esta é a Torá, a Meguilá de Ester (a porção de Ester). Torna-se Meguleh (revelada) precisamente no ocultamento. Quanto mais uma pessoa oculta o seu ego, mais ela revela o lugar acima do ego, onde o Criador aparece. Esta é a oposição que as pessoas não compreendem. Os nossos sentidos não conseguem percebê-la porque a técnica de ocultamento e revelação está construída sobre a oposição.

O que significam os mandamentos discutidos na porção?
Todos os mandamentos são leis relativas à alma. Carne e laticínios correspondem ao lado direito e esquerdo, e cumprir o Shabat está relacionado à proibição de tocar na última parte do desejo de receber, que por enquanto permanece intocado porque não temos forças para lidar com ele. Apenas quando completarmos todas as nossas correções e atingirmos o sétimo milênio, após seis mil anos, os seis dias de trabalho nas nossas correções, no nosso desejo de receber, vamos chegar ao Shabat, ou seja, ao descanso. No Shabat, evitamos tocar nos desejos que pertencem à sétima parte.

A porção descreve a humanidade aparentemente a saltar um nível; o que significa esse salto?
Quando Moisés e o povo de Israel se aproximam do Monte Sinai, a natureza em que se encontram, que precisam de corrigir, aparece diante deles. Hoje, esse estado de correção necessária está gradualmente a aparecer perante a humanidade, e muitas conferências académicas e científicas em todo o mundo falam sobre a correção que a humanidade está a atravessar.

Vão surgir novas leis perante a humanidade?
Sim, e as pessoas vão começar a falar sobre isso. Elas vão compreender e sentir. Estamos a mudar todos os dias. Uma nova consciência, uma nova sensação, uma nova perceção está a surgir no mundo, tornando as pessoas mais sensíveis. De repente, percebemos que há uma outra dimensão fora de nós, que vivemos nos nossos egos, dentro do nosso desejo de receber, e que é aí que percepcionamos a realidade. Sentimos através dos nossos desejos. Se esses desejos mudarem, vamos percepcionar uma realidade diferente, como está escrito: “Eu vi um mundo ao contrário”. [Talmude Babilónico, Tratado Nezikin, Baba Batra, 10b.]

O que significa ver um mundo oposto?
Todas as leis da Torá existem apenas para explicar como descobrir leis que são opostas a nós, como passar do amor a nós próprios para o amor aos outros. Este é o significado de ser oposto.