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Michael Laitman

Livros
Alcançar os Mundos Superiores Cabala Revelada O Caminho da Cabala Revelando Uma Porção

Números 1:1-4:20
 

Glossário - BaMidbar
Glossário -  BaMidbar

Resumindo

 A porção BaMidbar começa com o Criador a ordenar aos filhos de Israel, organizados por tribos, que escolham homens que tenham servido no exército e tenham pelo menos vinte anos, nomeando-os como chefes de tribos e líderes. Após estas nomeações, Moisés é instruído a explicar a cada tribo a sua posição durante a viagem e nas paragens no deserto, organizando-as em torno do tabernáculo, que se encontra no centro, segundo as quatro direções e sob os seus estandartes.

A porção reforça também o papel dos levitas, que têm a função de servir no tabernáculo. A tribo de Levi é especial, pois não possui um território ou herança próprios; em vez disso, deve servir e auxiliar todos, especialmente os sacerdotes no tabernáculo. O papel dos levitas é montar e desmontar o tabernáculo em cada paragem da viagem dos filhos de Israel, seguindo regras rigorosas sobre como lidar com cada parte do tabernáculo e preservar os seus utensílios.

Comentário do Dr. Michael Laitman
A Torá divide-se em duas partes: externa e interna. A Torá externa é aquela que lemos e conhecemos. Foi a Torá que os nossos antepassados seguiram (ou seja, nós próprios em encarnações anteriores, uma vez que as nossas almas reencarnam de geração em geração). Contudo, há elementos que devem ser organizados nela. A Torá descreve a viagem dos filhos de Israel no deserto e como devem comportar-se nesse caminho. Explica em detalhe como construir o tabernáculo, como dividir o povo em sacerdotes, levitas e tribos, como organizar o acampamento e como prosseguir durante a viagem, deslocando-se sob o estandarte da tribo até alcançar os limites da terra de Israel e iniciar a sua conquista.
No entanto, a Torá interior é o mais importante. Através dela, corrigimos e ajustamos o nosso interior para descobrir a força superior, da qual realmente recebemos a Torá. Ou seja, trata-se da revelação do Criador às criaturas. A Torá fala do ser humano como um pequeno mundo, onde tudo o que nela está descrito—sacerdotes, levitas, Israel e as doze tribos—existe dentro de nós como forças internas. A Torá interior toca cada um de nós e orienta-nos sobre o que devemos fazer para alcançar a revelação da força superior aqui e agora.
Aquele que ainda não se corrigiu está inevitavelmente mergulhado no ego, na inclinação ao mal, como está escrito: “Eu criei a inclinação ao mal; criei para ela a Torá como tempero.” (Talmude Babilónico, Masechet Kidushin, 30b). Esse estado é chamado de "deserto", pois simboliza um lugar de Klipot (cascas/pele), ou seja, desejos ainda não corrigidos. Enquanto estivermos nesse estado, sentiremos que não há nada que nos revitalize ou dê vida espiritual. Mesmo que tenhamos abundância material, ainda assim poderemos sentir que estamos num deserto.
Podemos ver isso no mundo actual: apesar do progresso e da abundância, há um aumento nos divórcios, consumo de drogas e terrorismo. Muitas pessoas sentem-se infelizes e insatisfeitas com a vida. Crescemos e já não conseguimos contentar-nos com o que temos; aspiramos a algo mais. Essa sensação de vazio é precisamente o deserto.
Se podemos comparar a nossa vida a um deserto, devemos organizá-la de modo a atravessá-lo em paz e alcançar a terra de Israel. A palavra Eretz (terra) deriva de Ratzon (desejo), e Israel vem de Yashar El (directo ao Criador). Assim, devemos direcionar-nos unicamente para a revelação da divindade.
Para isso, devemos utilizar a sabedoria da Cabala, que é um método para revelar o Criador às criaturas neste mundo. Alcançar a terra de Israel significa corrigir o nosso desejo até ao ponto em que descobrimos o Criador e o mundo espiritual aqui e agora, como está escrito: “Verás o teu mundo na tua vida.” (Talmude Babilónico, Masechet Berachot, 17a).
A Torá é um conjunto de instruções. Ensina-nos que, se seguirmos as etapas descritas nesta porção, conseguiremos atravessar o deserto em paz e alcançar a revelação da divindade. Este é o propósito das nossas vidas, para o qual fomos criados e destinados a alcançar. Por isso, devemos ver todas as leis e conselhos da porção como correções internas que devemos realizar.
As doze tribos representam o nosso próprio desejo de receber, ou seja, são as nossas qualidades internas que precisam de ser organizadas segundo o Yod–Hey–Vav–Hey, através das três linhas. Essa estrutura compõe a nossa alma—HBD–HGT–NHY. O sacerdote, Levi e Israel representam HBD (Hochma, Bina, Daat). Abraão, Isaac e Jacob; Moisés, Aarão, José e David representam as qualidades da alma. Dessa forma, cada um de nós deve estruturar-se internamente de acordo com esta organização.
À medida que corrigimos os nossos desejos, gradualmente alcançamos um estado em que descobrimos as etapas da caminhada no deserto. Durante esse processo, adquirimos as qualidades de doação, Bina. Ao concluir este percurso, atingimos o estado de Moisés—um pastor fiel. Isto significa que ascendemos ao nível de fé, de doação, de plenitude.
Quando o Moisés em nós morre, ou seja, conclui o seu trabalho, esse nível permanece "do outro lado do Jordão". Nesse momento, passamos para a terra de Israel e começamos a conquistá-la.
No deserto, tal como na ocupação da terra, há Klipot (cascas/pele) e lutas. No deserto, limitámo-nos a adquirir a nova qualidade da doação sobre o nosso desejo de receber. Elevamo-nos acima do desejo de receber. Mas, na terra de Israel, devemos conquistar a terra. Ao entrar na terra de Israel, invertemos literalmente o nosso desejo de receber, transformando-o no desejo de doar. Esta conquista significa gerir o nosso ego na forma de doação e amor.
A porção explica a abordagem às primeiras grandes correções que experienciamos no nosso caminho espiritual. Todo o processo de correcção se divide em duas partes: o deserto e a terra de Israel. A nossa travessia pelo deserto durante quarenta anos representa Malchut a elevar-se para Bina, simbolizada pela letra Mem, que em Gematria (valores numéricos das letras hebraicas) equivale a quarenta.
De Bina, subimos ao nível de Keter, conquistando a terra e construindo o Templo. Neste ponto, o coração torna-se um Kli (vaso) para a recepção da luz, a revelação da divindade. Isto é chamado Beit HaMikdash (Casa do Santuário, ou simplesmente, o Templo).

Perguntas e Respostas

Porque é que a porção começa com a necessidade de nomear chefes para as tribos e contar todos os que têm vinte anos ou mais?
Este processo representa o fato de que a pessoa deve escolher quais os princípios a seguir. Somos essencialmente desejos de receber, mas possuímos também um pequeno desejo de doar, proveniente do alto. Esse desejo é chamado de “uma parte de Deus vinda do alto” (Job 31:2), e representa o início da alma.
Utilizando este início da alma como Rosh [cabeça] e início, começamos a gerir o nosso desejo egoísta geral, orientando-o para a doação, para o amor ao próximo, para a Arvut (garantia mútua). Assim, cumprimos "Ama o teu próximo como a ti próprio" (Talmude de Jerusalém, Seder Nashim, Masechet Nedarim, Capítulo 9, p. 30b) e "O que odiares, não o faças ao teu próximo" (Masechet Shabbat, 31a). Este processo divide o nosso desejo de receber de forma organizada—em tribos, milhares e dezenas. Dentro de cada tribo, esta divisão também ocorre em sacerdote, levita e Israel.
Os sacerdotes e os levitas que os auxiliam estão separados das tribos, pois servem apenas as necessidades espirituais. Por isso, são considerados a “cabeça colectiva”. Através desta estrutura interna, aprendemos a distinguir entre o que é essencial e o que é secundário, corrigindo-nos gradualmente, até que o secundário se una ao essencial e o siga.
Neste momento, talvez não sintamos esta divisão, mas à medida que começamos a trabalhar em nós mesmos, vamos começar a sentir que o nosso desejo de receber não é apenas um desejo, mas que contém realmente doze tribos—homens, mulheres, crianças, animais, o deserto e outras partes, incluindo o mundo inteiro.
Vamos descobrir que o nosso desejo de receber se divide em quatro níveis: Inanimado (Domem) Vegetativo (Tzomeach), Animal (Chai) e Falante/Humano (Medaber). O inanimado, vegetativo e animal constituem o mundo que nos rodeia, enquanto o Falante/humano representa as pessoas. Nos desejos que pertencem ao nível humano, temos livre arbítrio, pois podemos geri-los. Assim, devemos organizar os nossos desejos e progredir.
Dentro de nós não há nada além de desejos e instruções. As instruções são a Torá, ou seja, a sabedoria da Cabala, que representa a Torá interior. Ordenamos os nossos desejos para que cada desejo, cada Kli (vaso), que trouxemos do Egipto seja corrigido, transformando-se num Kli pertencente à terra de Israel, ao Templo, e funcionando totalmente para a doação e para o amor.

Do Zohar: A Contagem e o Cálculo
"E, no entanto, o mundo não estava enraizado na sua raiz até que Jacob gerou doze tribos e setenta almas, e então o mundo foi plantado. No entanto, não foi concluído até que Israel recebeu a Torá e o tabernáculo fosse estabelecido. Só então os mundos permaneceram e foram completados, e os superiores e os inferiores foram perfumados." Zohar para Todos, BaMidbar (No Deserto), item 6

Se quisermos verdadeiramente corrigir-nos e ver-nos organizados e rectificados, como a Torá descreve, em três linhas, devemos estudar para que a luz nos influencie. Estamos divididos de tal modo que, à esquerda temos o ego, e à direita temos a luz da Torá, que reforma. Quanto mais a luz da Torá reforma o ego, de acordo com o nosso esforço, mais a linha do meio, que inclui estas duas forças, acumula-se e submete o ego ao domínio da luz. Assim, forma-se um Kli (vaso) no qual aparece a força do Criador, a força superior.
Constantemente acrescentamos ego à correcção através de uma luz maior que aparece. Desta forma, subimos pela linha do meio, a linha de Jacob. Por isso, antes da chegada de Jacob, não há correspondência entre o homem e a força superior, o mundo superior. Assim que a pessoa coloca dentro de si Abraão, Isaac e Jacob na ordem destas três linhas, começa a corresponder-se com a força superior e a trabalhar em reciprocidade com ela.

O que devemos fazer até que estes discernimentos se desenvolvam?
Devemos seguir à letra o que os cabalistas nos escreveram: estudar apenas em grupo, com amor entre os amigos. As nossas três fontes principais são: O Livro do Zohar, os escritos do ARI, os escritos de Baal HaSulam. Interiormente, devemos seguir apenas o que está escrito nestes livros.

Porque foi ordenado a Israel nomear homens para o exército com vinte anos ou mais?
Ter vinte anos, na espiritualidade, significa que uma pessoa está apta para “negócios imobiliários”. Os três estágios através dos quais crescemos são: Ibur (concepção),
Yenika (amamentação) e Mochin (maturidade). Isto é semelhante a um feto que nasce após nove meses e começa a crescer. Os níveis de crescimento espiritual ocorrem da mesma forma, da infância à maturidade. A infância espiritual termina aos treze anos.
Na espiritualidade, Ibur é um nível muito elevado: significa que a pessoa se anula completamente perante o superior, sendo incluída nele como uma gota de sémen, enquanto o superior a sustenta. Para que a luz nos influencie, devemos anular-nos, como se não existíssemos. Se queremos atrair a luz para que nos eleve, devemos estudar com um grupo e fazer parte dele. Devemos desejar um bom ambiente, permitindo que a luz que passa através dele nos influencie. Desta forma, avançamos por etapas, que podem durar menos de nove meses. Tudo depende do nosso esforço.
Quando nascemos espiritualmente, o nosso desejo de receber já é maior. Desenvolvemo-nos em consciência e entendimento até atingirmos os treze anos, e a partir daí continuamos até aos vinte. Aos vinte anos, não somos apenas adultos espirituais, mas podemos ser donos da nossa terra. “Terra” refere-se ao maior, mais baixo e mais fundamental desejo de receber. A partir daqui, estamos aptos para todas as correções internas.

Existe uma conexão entre os níveis espirituais de Levi (Levita) e Cohen (Sacerdote) e os apelidos das pessoas?
Não. Os papéis de Levi e Cohen aparecem de acordo com o nível espiritual da pessoa, e não pelo seu apelido. Na espiritualidade, o filho de uma pessoa representa o resultado de um nível espiritual, pois a sabedoria da Cabala trata apenas de níveis espirituais. No mundo físico, não podemos saber quem é sacerdote, quem é levita e quem é Israel. Isso tornar-se-á evidente no tempo certo.
O estabelecimento do Templo só será possível após a nossa correção e restaurarmos o Templo nos nossos corações. Então, assim como Bezalel, seremos capazes de construir a estrutura externa a partir da nossa percepção e compreensão. Quando formos sábios de coração e os nossos corações estiverem preenchidos com a luz de Hochma (sabedoria), a revelação da divindade, saberemos que ação externa tomar, conforme os nossos sentimentos. No Templo, haverá Sacerdotes, Levitas e Israel, cada um de acordo com o seu nível espiritual.

Esta porção centra-se na tribo de Levi; o que há de tão especial nela?
Está escrito sobre Israel em relação às nações do mundo: “E vós sereis para Mim um reino de sacerdotes e uma nação sagrada” (Êxodo 19:6). De um modo geral, neste mundo, apenas nos é exigido reconhecer o negativo, tornar-nos sensíveis ao que é mau e corrigi-lo transformando-o em bem. Na medida em que descobrimos que a nossa natureza é má, desejamos livrar-nos dela. Mas o nosso problema é a educação, tanto de nós próprios como dos outros.
Por isso, o único papel dos sacerdotes e Levitas é educar o povo. Os sacerdotes ligam-se a um nível superior e trazem de lá a luz que reforma, para depois a transmitirem aos levitas. Os levitas, por sua vez, transmitem-na ao povo. Deste modo, cada nível, cada Partzuf espiritual, divide-se em três: HBD (Hochma, Bina, Daat) que são os Cohen (sacerdote), HGT (Hesed, Gevura, Tifferet) que são os Levi (Levitas) NHY (Netzach, Hod, Yesod), Israel. 
Os Levitas não possuem herança, porque o Criador é a sua herança. Eles encontram-se em Dvekut (adesão) com um nível superior, a força superior. Não possuem desejo de receber para si próprios que necessitem de corrigir, pois alcançaram um nível de correção onde o seu desejo de receber está inteiramente direcionada para a doação. Por este motivo, estão ligados à força superior. Através dos levitas, também nós, Israel, que estamos num nível inferior, podemos receber a luz e a direção para progredir.

Existe um significado na ordem das porções? Esta ordem tem relação com o nosso desenvolvimento espiritual?
Sim. O mundo está dividido de acordo com esta ordem, tanto no plano físico como no espiritual. Existem períodos e tempos específicos ao longo do ano, que estão divididos em porções. Cada um destes períodos possui uma força única. Por isso, cada semana tem a sua porção específica, pois há uma força especial que atua do Alto em conformidade. À medida que avançamos de porção em porção, corrigimo-nos progressivamente.
Assim, pela relação entre raiz e ramo, este estado também acontece no nosso mundo.
As porções não devem ser misturadas; cada porção deve ser lida no seu tempo.
Não se pode ler a porção Bamidbar (No Deserto) no Rosh Hashana, nem se pode ler no inverno uma porção que pertence ao verão.

Por vezes, ao ler uma porção, parece que já não é relevante para nós.
As porções não são algo do passado. A Torá é a lei da vida. Para alcançarmos a fonte da vida, devemos assumi-la dentro de nós. A Torá foi dada apenas para descobrirmos o Criador e nos unirmos a Ele.

Qual é o significado do “movimento constante” relativamente ao Tabernáculo: erguer-se, partir, viajar e permanecer ao redor dele?
O Tabernáculo representa o Kli [vaso] sagrado e corrigido dentro de nós. Focalizamos todos os nossos desejos, discernimentos, inclinações e qualidades num estado de doação, semelhante ao Criador, a força de doação, o Bom Que Faz O Bem. Tentamos corrigir-nos e aproximar-nos do estado onde o nosso núcleo, a nossa esperança e todo o nosso ser possuem algo semelhante à força superior e a Luz Superior virá para nos corrigir nesse estado.
O Tabernáculo é, na verdade, a alma do homem. Se, dentro de todo o nosso desejo de receber egoísta, corrigirmos uma parte para que esta esteja direcionada à doação, nessa parte vamos sentir o Criador. Essa parte é chamada “alma”, e aquilo que a preenche é a revelação do Criador.
O trabalho de correção transforma-nos num Tabernáculo e envolve-nos nele. Nós, na verdade, devemos tornar-nos no próprio Templo.

O que ou quem é o pastor nesta porção?
O pastor é o nível de Moisés, o fiel pastor. Devemos escolher este nível a cada momento. Em cada paragem, temos de escolher o que nos está a guiar e para onde, o que é a nossa vida, quem é o nosso pastor, e a quem os nossos desejos e pensamentos seguem.
A nossa correção é caminhar de uma forma conhecida como “a Torá, Israel e o Criador são um só”. Se queremos ser Israel, devemos seguir a luz que reforma. Quando a seguimos, a luz conduz-nos à qualidade do Criador, como está escrito, “regressem, ó Israel, ao Senhor vosso Deus” (Oseias 14:2).
Devemos decidir que precisamos de ter essa qualidade de doação e amor absoluto. Esta é a única razão pela qual a Torá nos foi dada, e é isso que recebemos quando a usamos. Foi dito sobre ela, “Eu criei a inclinação ao mal; Eu criei para ela a Torá como tempero”, pois “a luz nela vai reformá-los”. O que reforma é o Bom Que Faz o Bem, a qualidade de doação e amor que adquirimos. Alcançamos essa qualidade dentro de nós, não numa imagem fora de nós. Percebemos dentro de nós a qualidade de doação e amor que chamamos Boreh (Criador), das palavras Be Re’eh (venha e veja).

Essa orientação vai aparecer no nosso mundo num estado mais corrigido, e, se sim, como?
Claro que a orientação vai aparecer. Hoje, o mundo está a cair numa crise global, numa sensação de que estamos verdadeiramente no deserto. Este deserto vai empurrar-nos a avançar apenas para a terra interna de Israel, porque este é todo o propósito da crise global.