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Michael Laitman

Biblioteca de Cabala "Principal" / Michael Laitman / Livros / Revelando Uma Porção / Porção BeHa'alotecha - Porção Semanal da Torá

Números 8:1-12:16

Porção BeHa'alotcha - Porção Semanal da Torá - Glossário
Glossário de Termos Usados na Porção BeHa'alotcha

Resumindo

 A porção BeHa’alotcha acontece um ano após a receção da Torá. O povo de Israel prepara-se para partir e realiza uma cerimónia especial para a inauguração do altar. A porção detalha as leis relativas à oferta da Segunda Pesach [Páscoa Judaica], destinada àqueles que estavam longe e não puderam participar na Pesach.
A porção fala do tabernáculo, sobre o qual permanecia constantemente uma nuvem. Esta servia de indicação aos filhos de Israel sobre quando deviam levantar-se e partir, e quando deviam assentar. A porção menciona também as duas trombetas de prata utilizadas para convocar as pessoas em tempos de guerra, para a apresentação de ofertas, nos Shabbatot, festivais e ocasiões especiais.
Na parte final da porção, ocorrem vários acontecimentos que evidenciam o aumento do ego. Os ímpios da nação queixam-se contra Moisés e contra o Criador, e um fogo devorador é enviado aos ímpios na extremidade do acampamento. A multidão de pessoas diversas, um grupo de prosélitos que se juntou aos filhos de Israel aquando da saída do Egito, lamenta-se da sua situação, e o Criador faz chover codornizes sobre o acampamento. Quem se atira às codornizes com avidez é condenado à morte. Por isso, o local recebe o nome de “as sepulturas da luxúria”.
No final da porção fala acerca de Miriam, irmã de Moisés e Aarão, caluniando Moisés. Ela diz a Aarão: “O Criador apareceu-me, assim como a ti, então porque é Moisés o líder? Porque o ouvimos apenas a ele?” Como castigo, recebe lepra, e a nação espera sete dias até ao seu regresso.

 

Comentário do Dr. Michael Laitman

Todos os acontecimentos representam estados espirituais dentro de nós. Cada pessoa precisa de se corrigir e alcançar equivalência de forma com o Criador, como está escrito: “Regressa, ó Israel, ao Senhor teu Deus” (Oseias 14:2). O texto fala apenas da correção. Não se trata de atravessar o deserto, chegar ao rio Jordão, atravessá-lo e entrar na terra de Israel, mas sim de ascender, como indica o nome BeHa’alotcha.
Ascender significa construir a alma. Cada um de nós constrói a sua alma. Fá-lo gradualmente, e essa alma é chamada “uma parte de Deus vinda do Alto” (Job 31:2). A pessoa começa o trabalho espiritual desejando edificar-se, alcançar a doação e o amor ao próximo, conectar-se com todos, pois, através destes atos, torna-se semelhante ao Criador. Como está escrito: “Do amor ao próximo ao amor ao Criador” [Rav Yehuda Ashlag (Baal HaSulam), Os Escritos de Baal HaSulam, “O Amor ao Criador e o Amor ao Próximo,” p. 482].
O amor é alcançado por etapas, apesar de o rejeitarmos, pois somos o seu completo oposto. É este o percurso descrito em todas as porções. A Torá fala apenas do momento em que a pessoa recebe a centelha chamada “ponto no coração”. A partir desta centelha, começamos a corrigir-nos. A Torá descreve o caminho que percorremos até ao final da correção, chegando ao que é chamado “aos olhos de todo Israel” (Deuteronómio 34:12), o fim da Torá.
Assim, quando começamos a trabalhar e a corrigir-nos, encontramos de imediato diversos problemas dentro de nós. Na porção, lê-se que, um ano após todas as preparações, quando os filhos de Israel iniciam a mudança, começam a surgir dificuldades no acampamento. A pessoa apenas encontra os problemas depois de toda a preparação, quando lhe parece estar pronta para a ascensão espiritual. Depara-se então com numerosos obstáculos, sob a forma de pensamentos e desejos que se opõem à ascensão espiritual.
Os obstáculos que surgem são, na verdade, revelações dos desejos e pensamentos que devemos corrigir. E é precisamente ao corrigi-los que ascendemos. Por isso, não os devemos ver como dificuldades, mas sim como oportunidades de ascensão, um trampolim. Podemos observar que, tanto em nós como nos grupos em Israel e em outras partes do mundo, os problemas começam no momento em que tudo parece estar organizado, quando todos estão preparados e ansiosos por agir no centro do grupo e corrigir as ligações. É então que as dificuldades aparecem. Mas este é o caminho certo, o único caminho para a ascensão.
Os problemas que surgem revelam diferentes camadas de desejos dentro de nós. O nosso desejo geral divide-se em múltiplas camadas, pelo que não é surpreendente que “pessoas” apareçam de repente, ou seja, que determinados desejos dentro de nós. Todo Israel é chamado Adam. Ele inclui tudo, até as nações do mundo dentro de nós. No entanto, Israel refere-se aos desejos com os quais podemos avançar no momento, enquanto as nações do mundo permanecem “congeladas” até que possamos lidar com elas.
Quando desejamos avançar apenas com os desejos que nos permitem ascender à espiritualidade, descobrimos que, mesmo assim, não é tão simples. Existem desejos que ainda não se santificaram, e este é o propósito da Segunda Páscoa. Todos aqueles que não o fizeram aquando do Êxodo do Egito podem agora ser corrigidos, pelo que os santificamos. Santificar significa elevar os desejos à qualidade de doação, que é chamada Kodesh (santidade), doação ou amor ao próximo.
Devemos aprender a discernir os desejos que estão prontos para ser corrigidos na pessoa e os que ainda não estão. O mesmo se aplica aos pensamentos, ao trabalho na tenda da congregação e no tabernáculo. Estes são trabalhos de exame e correção.
O trabalho dos sacrifícios ou as Mitzvot (mandamentos) relacionados com as ofertas são os mais importantes, pois fornecem instruções sobre como separar cada desejo do resto dos desejos, como processá-lo e compreendê-lo, qual a sua natureza e se é ou não possível avançar com ele.
O único caminho para avançarmos é transformar os nossos desejos egoístas em desejos de doação e amor. Neste processo, surgem sempre dificuldades, como a lepra ou as pragas mencionadas no caso de Miriam ou do povo que desejava carne. Isto acontece porque o nosso desejo se divide nos níveis de inanimado, vegetativo, animal e falante. O nível falante refere-se aos diferentes tipos de pessoas que a Torá menciona: sacerdote, levita e Israel. No entanto, vemos que também existem estrangeiros, prosélitos, a multidão de pessoas diversas e outros que, aparentemente, não pertencem a Israel, mas que se juntaram a ele.
A separação e o escrutínio dos desejos não se realizam de uma só vez aquando do Êxodo do Egito, mas mais tarde, quando se revela que há ainda mais a corrigir. Devemos separar a parte santificada do resto dos nossos desejos, os quais mantemos temporariamente “em suspenso”. Alguns desses desejos podem ser corrigidos e, através deles, podemos santificar-nos e avançar. Com eles, podemos doar, ascender na escada espiritual. Mas com outros desejos, tal não é possível.
As partes que já podem estar em doação e receber para doar já despertaram. A luz brilha nelas, como está escrito: “Quando acenderes as velas” (Números 8:2). Existem sinais claros no processo de escrutínio que indicam quando agir. Se estivermos sob a nuvem, sentados, isso representa preparação. Se a nuvem desperta, desperta em nós a dificuldade e o escrutínio, e podemos começar a mover-nos. Toda a Torá trata apenas de como corrigir o desejo de receber, quais as partes a corrigir e como esse escrutínio se realiza.

 

Perguntas e Respostas

O que é a Segunda Pesach [Páscoa Judaica]? Os desejos que não revelamos anteriormente revelam-se agora com uma perceção mais elevada, descobrindo que também eles merecem sair?
Não se trata de uma perceção mais elevada, mas de um escrutínio mais preciso e refinado. Descobrimos que alguns desejos com os quais pensávamos poder sair do Egito e continuar rumo à receção da Torá e à terra de Israel não suportavam realmente a doação. Eretz (terra) significa Ratzon (desejo), e Israel significa Yashar-El (direto ao Criador). Após avançarmos alguns passos, descobrimos certas impurezas em nós que antes não notavamos. Apenas agora, ao progredirmos, discernimos desejos com os quais não podemos continuar, pelo que os separamos e corrigimos.
Fazemos este processo de separação e correção dos desejos por etapas. Podemos eliminar os desejos, anulá-los, separá-los ou corrigi-los de alguma forma, tal como no trabalho das ofertas. Dividimos os nossos desejos nos níveis de inanimado, vegetativo, animal e falante e, no nível falante, classificamo-los como sacerdote, levita e Israel. Devemos também lembrar-nos da multidão de pessoas diversas, dos prosélitos e das nações do mundo, ou seja, os vários povos que despertam dentro de nós.
Há desejos fundamentais no nível animal, pois a alma compõe-se de Shoresh (raiz), Neshama (alma), Guf (corpo), Levush (vestimenta) e Heichal (palácio), ou, segundo outra divisão, de Moach (medula), Atzamot (ossos), Gidin (tendões), Bassar (carne) e Or (pele). No que toca a Moach, Atzamot, Gidin, Bassar e Or, não podemos corrigir a Or diretamente. A sua correção consiste em transformá-la em pergaminho, no qual se escreve o livro da Torá. A Or divide-se em duas partes—o exterior e o Duchsustus (parte interna). Assim, alcança a sua correção.
Antes disso, corrigimos um Kli (Vaso) de Bassar, no nível animal. Este é o nosso principal trabalho no altar. Embora nele existam sal, água e outros elementos, o principal é a carne. Esta representa o Kli pelo qual corrigimos o nosso desejo de receber, que é o mais importante. A carne é vermelha, pois a sua estrutura representa um grande desejo de receber. Por isso, o trabalho das ofertas descrito na Torá centra-se no Kli de Bassar.
Antes disto, a pessoa não sabe ou não pensa que há necessidade de realizar estas correções. Apenas à medida que avança em cada etapa, pára nos pontos intermédios, organiza os acampamentos—cada um com a sua bandeira e no seu devido lugar—é que começa a compreender. Se observarmos o povo de Israel, dividido em acampamentos e tribos, segundo a sua posição e forma, veremos que ora avançam, ora permanecem parados. Em vez de encontrarem a tenda da congregação, todos os desejos se alinham à volta dela. Os levitas, os sacerdotes e todo o acampamento representam apenas a estrutura da alma.
Problemas maiores surgem continuamente no acampamento—sejam pensamentos e desejos externos que pretendem juntar-se, tribos ao longo do caminho que os atacam, ou pessoas no deserto que ainda não se corrigiram, transformando os seus desejos num desejo totalmente Yashar-El. Este representa a terra que está plena de leite e mel, ou seja, onde há luz de Hassadim e luz de Hochma. No deserto, porém, tudo é árido—não há água, não há luz de Hassadim; por isso, tudo se resume a escrutínios.

Há muitas descrições “físicas”, como a nuvem que vai à frente do acampamento e, quando os filhos de Israel descansam, ela também descansa.
Isto representa a ocultação: apenas percebemos a nossa própria medida de ocultação em relação à revelação do Criador. Se a nuvem, ou seja, a ocultação, se afasta de nós, avançamos. Se a ocultação desce sobre nós, inclinamos a cabeça, sentamo-nos e realizamos os nossos escrutínios internos. De fato, a maior parte dos quarenta anos no deserto foi passada a permanecer imóvel e a realizar discernimentos, apenas para avançar um pouco e voltar a parar para fazer o escrutínio.

Porque está escrito que a nuvem vai à frente do acampamento?
Seguimos a ocultação porque desejamos aceitá-la, pois é através dela que descobrimos o processo pelo qual estamos a caminhar.

O que é a ocultação em relação a nós?
A Ocultação ocorre quando a pessoa o recebe do seu desejo de receber, quando deseja permanecer nele, como está escrito: “a sabedoria está com os humildes” (Provérbios 11:2), ou Safra de Tzniuta (O Livro da Modéstia, parte do Zohar), que significa revelações. Safra significa livro (em aramaico), e um livro é revelação, uma Meguilá (rolo), da palavra Gilui (revelação). Quando a pessoa se oculta, aceitando a ocultação do Criador, é então que avança.
Isto, na verdade, contradiz o senso comum, pois o que significa caminhar em doação? Significa que a pessoa não deseja qualquer revelação, como que a rejeitando. Essa pessoa avança com Ohr Hozer (Luz Refletida), porque nos encontramos nos quarenta anos no deserto.

O que nos dá isto?
É assim que Malchut se eleva a Bina. Adquirimos as qualidades de Bina, as qualidades de doação, no nosso Kli de Malchut. Com estas qualidades de doação, caminhamos de olhos fechados, pois seguimos a ocultação, a nuvem, até chegarmos à entrada da terra de Israel. Ao entrar na terra de Israel, a luz de Hochma começa a aparecer através da luz de Bina adquirida durante os quarenta anos no deserto. É então que começamos a ver.
A terra de Israel é a terra onde o Criador está presente, um desejo preenchido pelo Criador, quando já O descobrimos. Mas antes disso, quando Malchut apenas se eleva a Bina, adquirimos a ocultação e aceitamos trabalhar apenas em doação, sem receber nada em troca.

De onde vem a força para caminhar nessa ocultação?
A força é concedida do Alto. É a força da luz quando se recebe a qualidade de doação. O problema é que a espiritualidade não é como a corporeidade, onde tudo está nas nossas mãos, nos nossos Kelim [Vasos] de receção, e é assim que avançamos. Não é difícil avançar desta forma, pois permanecemos no ego. Mas na espiritualidade não avançamos de forma egoísta. Em vez disso, devemos receber forças adicionais do Alto, um desejo acrescido, um novo desejo chamado “uma nova terra”, “um novo céu”. Tudo é renovado. Passar pelo deserto significa que não encontramos respostas no nosso desejo de receber, nem qualquer preenchimento.

O que, então, nos motiva? Porque avançamos?
A motivação surge quando começamos a sentir que seguimos a força superior. Sentir isso é bom, mas apenas se estivermos dispostos a seguir a nuvem, a ocultação, de olhos fechados.

O que significa caminhar “de olhos fechados”?
Caminhar de olhos fechados significa que não recebemos qualquer justificação para avançar em doação, nem no intelecto nem no coração. As nossas mãos, ou seja, os nossos Kelim (Vasos) corpóreos e egoístas, representam o que sentimos no coração e compreendemos no intelecto. Aqui, porém, não sentimos nem compreendemos nada. Tudo o que queremos é a oportunidade de nos elevarmos acima destes Kelim mundanos e ascender a outra dimensão superior. Existimos ali em Kelim completamente diferentes dos que sentimos e compreendemos agora.

Como sabemos que estamos realmente a progredir?
A nuvem, a ocultação, mostra-nos o caminho, mas apenas na medida em que estamos dispostos a fazer constantes sacrifícios. Isto significa que a pessoa sacrifica partes da carne, dos vários desejos. Se a pessoa os sacrifica, se não quer envolver-se neles e está disposta a deixá-los para trás sem qualquer explicação racional, então, como resultado desses sacrifícios, ela vai aproximar-se. Korban (sacrifício/oferta) vem da palavra Karov (próximo). Assim nos aproximamos da qualidade do Criador, da doação pura, Bina.

Qual o significado do que acontece a Miriam, a profetisa? Ela faz uma queixa justa acerca da liderança de Moisés. Se a pessoa deseja liderar, porque apenas Moisés?
A qualidade de Bina em Moisés é perfeita, completa, GAR de Bina. Nenhum outro desejo está nesse estado.

Como fala o Criador com Moisés, e como Moisés fala com Ele?
Isto é a revelação. Na espiritualidade, não existem visão, audição, paladar, olfato e tato, mas sim: “prove e veja que o Senhor é bom” (Salmos 34:9). A pessoa não prova com a boca, mas sim com os novos Kelim que surgem.

A pessoa sente para além dos cinco sentidos físicos?
Existe Hochma, Bina, Zeir Anpin e Malchut, Yod–Hey–Vav–Hey. Hochma corresponde à visão, Bina à audição. Alguns profetas disseram: “Vi”, e outros disseram: “Ouvi”. O Criador falou com Moisés. Moisés representa o nível de Bina, GAR de Bina, Bina pura e fiel. Ele era fiel no nível da fé. Ele ouvia, pois estava principalmente no nível da audição, que é o nível de Bina. Foi assim que o Criador se revelou a ele.

Miriam não sabia disto? Qual foi a punição que recebeu? Sabemos que não há punições, então como é que, após a lepra, ela compreendeu?
Todas as punições são correções. Quando Miriam adoece e fica sete dias fora do acampamento, todo o acampamento espera pelo seu regresso e só então prossegue caminho no deserto. “E caminharam” significa correções. A Nukva (feminino) representa a carência que se coloca diante de Moisés. Ela não fala a partir do nível de GAR de Bina, como Moisés, mas sim do nível de VAK de Bina. Ou seja, todo o nível está ligado a essa audição. O Criador fala com todos, mas Moisés também sabe porque está na parte de Bina onde a luz de Hochma se reveste, em GAR de Bina.

Aarão e Miriam não estão em GAR de Bina?
Não. Por isso, Moisés é considerado o administrador da casa do Criador, como está escrito: “Ele é fiel em toda a Minha casa” (Números 12:7).

Miriam é uma mulher, e quase em toda a Torá são os homens que lideram.
Não exatamente. As mulheres estão presentes em todas as etapas e em todas as ações, mas nem sempre são mencionadas. Por exemplo, Abraão gerou Isaac, mas também teve filhas.

Onde a Torá escreve Et (o/a), isso refere-se ao feminino?
Sim, claro. A mulher é a parte central da Torá; ela carrega a carência que o homem corrige. A razão pela qual falamos mais dos homens do que das mulheres é que a parte masculina é o Masach (Tela) que traz a Ohr Hozer (Luz Refletida), que revela o Zivug de Hakaa (acoplamento por impacto) sobre a carência da mulher. Nesta porção, fica bastante claro que sem Miriam, a profetisa, não seria possível aproximar-se. Ou seja,  ela está no nível de Bina, o nível da revelação do Criador.