Números, 22:2-25:9
Porção Balak - Porção Semanal da Torá - GlossárioResumindo
A porção Balak começa com o povo de Israel a conquistar a terra dos Amoritas. Balak, rei de Moab, compreende que os filhos de Israel se aproximam dele e prepara-se para enfrentar a nação que saiu do Egito. Envia mensageiros a Balaão, filho de Beor (famoso pela sua grande sabedoria e pelo poder das suas maldições) e pede-lhe que amaldiçoe o povo de Israel.
Balaão parte para a terra de Moab, aceitando a dura condição de dizer apenas o que o Criador lhe permitir. No caminho, a sua burra pára. Balaão bate-lhe, mas a burra não se move. Balaão não consegue ver o anjo que impede a burra. A burra abre a boca e fala com ele, e, em vez de amaldiçoar Israel, Balaão abençoa-os.
Balak fica furioso com Balaão. Como compensação, Balaão sugere que Israel tem um ponto fraco: as filhas de Moab. Balak envia as filhas de Moab, e o povo de Israel entrega-se à fornicação com elas, a tal ponto que até Zimri, filho de Salu, um dos líderes da tribo de Simeão, toma uma mulher Midianita.
Esta situação não deixa alternativa a Pinchas, filho de Eleazar. Ele pega numa lança e mata-os, detendo assim a praga que se espalhara pela nação, ceifando vinte e quatro mil vidas.
Comentário do Dr. Michael Laitman
Esta história não ocorre no plano corpóreo. Não se trata de um processo entre duas nações, mas sim de um processo interno de correção que cada um vivencia. A narrativa vem mostrar-nos como corrigir a inclinação ao mal. Não é uma história sobre crianças ou adultos, nem sobre nações, países, guerras, prostitutas ou burras. Tudo o que descreve é a correção da inclinação ao mal. É a única coisa que a Torá (Pentateuco) descreve desde o início, desde Adão, que começou a correção, até ao fim.
O texto fala de uma pessoa que percorreu este caminho como Adam HaRishon (Adão), como Abraão e como Moisés, e que passou por todo o processo no Egito e no deserto. Durante a correção gradual do desejo, a pessoa aproxima-se gradualmente da terra de Israel até se deparar com a “conquista” da terra.
O “deserto” é um desejo que a pessoa ainda não consegue usar corretamente e, por isso, não pode ver os frutos do trabalho com ele. Estas correções precedem aquelas conhecidas como a “terra de Israel”.
Os espiões descobriram que a terra de Israel é um desejo que, se totalmente direcionado ao Criador, produz belos frutos [Israel significa Yashar El (direto a Deus)]. A pessoa que se aproxima dessa correção adquire primeiro a terra dos Amoritas e depois a terra de Moab, que é um nível superior. O desejo egoísta do homem, conhecido como “o rei de Moab”, Balak, começa a rebelar-se aparentemente contra ele, pois não deseja as correções.
Todos os nossos desejos são inicialmente a inclinação ao mal, como está escrito: “Eu criei a inclinação ao mal.” É por isso que o desejo chamado Balak procura uma forma de resistir. É a resistência à pessoa que tenta corrigir um desejo de cada vez, nível a nível, até que todos os desejos sejam Yashar El, diretos ao Criador, com a intenção de doar ao Criador.
O desejo chamado Balak não pode fazer nada por si só. Um desejo é apenas isso, um desejo, desprovido de qualquer força. O poder está na intenção que dirige o desejo e trabalha com ele. O desejo é chamado Balak, e a intenção é chamada Balaão. A intenção de trabalhar na doação para receber é chamada “maldição”. Desta forma, a inclinação ao mal opera na sua forma mais completa.
É por isso que Balak convida Balaão e lhe diz: “Vem, vamos trabalhar juntos.” Entretanto, surge um conflito entre a substância (burra) e o anjo (humano) que caminha diretamente para o Criador, apontando para o sucesso. Por um lado, dentro do homem está o próximo nível, Moab, o desejo de receber em Moab, que é Balak. Por outro lado, a pessoa pretende controlar o desejo para receber, que é Balaão, que obtém o verdadeiro benefício egoísta disso.
A substância interna nesse nível, a burra, não pode avançar porque deteta a resistência, o anjo que está diante dela, impedindo-a de avançar, que é uma ajuda do Alto. No entanto, o homem não consegue detetá-la porque está no nível de Balak e Balaão. Ou seja, não podemos avançar na intenção, mas a inclinação ao mal já não nos pode fazer falhar com a intenção, porque o nível anterior, o Amorita, foi corrigido e não há razão para cairmos agora.
A pessoa está numa posição em que não comete erros nas intenções ou desejos. O povo de Israel estava diante do próximo nível, mas não podia avançar mais. Por um lado, estavam bloqueados por Balaão e Balak; por outro, não havia outra forma de avançar.
Após a sua bênção, Balaão não permitiu que Israel avançasse porque a bênção não tinha nada em que se apoiar. A bênção deve “cavalgar” sobre o desejo de receber do próximo nível para que o avanço aconteça. “Eu criei a inclinação ao mal, criei para ela a Torá como tempero”, porque “a luz nela reforma”. É assim que avançamos com um desejo maior, um desejo corrigido para doar, e continuamos nível a nível.
É por isso que não há nada que possamos fazer no próximo nível. Avançamos ao falhar, mas esse falhar não se deve a uma intenção corrompida. Pelo contrário, é devido ao desejo de receber intensificado na linha da esquerda.
É por isso que Balaão aconselha Balak a fazer o povo falhar, intensificando a inclinação ao mal, as “mulheres” neles. As carências começam por endurecer os corações dos filhos de Israel com um desejo mais egoísta, mais voltado para si próprio. Este desejo é chamado de “mulher fornicadora”. Uma mulher tem duas “direções”: ou é justa, ou é uma prostituta, ou seja, com a intenção de doar ou de receber. É por isso que é possível fazer a pessoa tropeçar e cair, pois, na verdade, é impossível avançar sem cair.
A Torá fala-nos dos níveis que todos devemos experienciar. Todas as ações e nomes na Torá são sagrados. Quando beijamos uma palavra num livro da Torá durante um serviço, não prestamos atenção à palavra que estamos a beijar. Pode muito bem ser Balak ou Balaão, mas beijamo-la e fazemos a bênção da Torá.
As etapas do progresso visam todas a nossa correção. No entanto, há passos ao longo do caminho chamados Balaão, Balak, países, midianitas, as suas mulheres, e chegamos a um estado em que os corrigimos.
Quando matamos os desejos de receber com a intenção de receber, estamos, na verdade, a matar a intenção. Juntamente com esses desejos, devemos matar a ligação entre Israel e Midiã, que é um nível de vinte e quatro mil, doze e doze, correspondendo às tribos, na Luz Direta e na Luz Refletida. O “mil” é a altura do nível elevado de doze-doze no nível de Zeir Anpin. Elevar-se ao nível elevado de Arich Anpin, é chamado “mil”.
Perguntas e Respostas
A Diferença entre uma Bênção e uma Maldição
Uma bênção é um ato que a pessoa pode realizar, um ato que visa a doação. Uma maldição, porém, é um ato para a receção. Devemos notar que um ato para a receção é necessário, porque sem ele nunca descobriríamos a inclinação ao mal. Em cada nível, há um processo de revelação do mal e de sua correção através da Torá. É assim que somos reformados, que nos elevamos ao próximo nível, como está escrito: “Eu criei a inclinação ao mal, criei para ela a Torá como tempero”.
Uma vez nesse nível, o “ritual” de esquerda-direita-meio repete-se, ou seja, uma maldição da qual se é corrigido e se ascende. A correção é impossível sem maldições, sem a inclinação ao mal. Sem o Inferno, é impossível elevar-se ao nível do Céu.
Pinchas, Filho de Eleazar, o Sacerdote: o Poder ou a Luz?
Pinchas, filho de Eleazar, é o nível mais elevado que aparece. A luz é o que realiza a correção usando o Kli [vaso]. Tudo acontece nos Kelim (plural de Kli). Mesmo quando falamos de “luzes”, referimo-nos, na verdade, a uma impressão dos Kelim, uma impressão que chamamos “luz”.
Da mesma fora, não podemos sentir a eletricidade que corre numa lâmpada, mas sentimos a sua manifestação. Ou seja, só podemos sentir manifestações, não as forças em si. As forças devem “exprimir-se” através de uma substância.
No nosso caso, Pinchas, filho de Eleazar, era dos sacerdotes, de onde provêm todas as correções.
Pode uma pessoa amaldiçoar outra, lançar um mau-olhado sobre outra?
Se falamos do nosso mundo, independentemente desta porção da Torá, então, claro que sim. Todos os nossos desejos têm um impacto, mesmo os menores. As pessoas estão conectadas; os nossos pensamentos estão conectados. Vivemos numa rede global e integralmente conectada.
Podemos provar, de facto, que há casos em que pessoas pensam em algo num extremo do mundo, e pessoas no outro extremo pensam na mesma coisa ao mesmo tempo. Foi dito que este conceito também foi comprovado em macacos. O livro O Centésimo Macaco relata um estudo sobre macacos numa ilha perto do Japão em 1952. Os cientistas observaram que alguns macacos aprenderam a lavar batatas-doces, um comportamento que se espalhou pelo grupo. Quando se espalhou entre um número crítico de macacos (o chamado centésimo macaco), esse comportamento espalhou-se instantaneamente para macacos em ilhas próximas.
Não Temas, Meu Servo Jacob
“Aquele ímpio, Balak, era sábio em todos os níveis superiores, naqueles que estabelecem laços pelos quais se realizam feitiçaria e magia, em todos esses níveis acima deles pelos quais forçariam os níveis inferiores. …Balak e Balaão disseram-lhe: ‘Todo esse tempo, nós, feiticeiros, magos e adivinhos, temos certos níveis e certos anjos conhecidos por feiticeiros e magos. Mas doravante, deves olhar para outro lugar, mais acima.’” Zohar para Todos, Novo Zohar, Balak, itens 60-61
A pessoa conhece apenas o seu próprio nível, que é o nível de Balak. Aqui, Balak governa sobre a parte chamada Moab. O desejo de receber para receber, que opera na pessoa de um nível para o seguinte, com o objetivo de receber, é chamada Moab.
A pessoa sabe da limitação, que existe noutro lugar, um lugar mais elevado?
Sim, é por isso que precisamos atrair uma força maior e não permitir que a correção aconteça.
Poderemos ver Moab à medida que avançamos nos nossos estudos e examinamos interiormente?
Mesmo sem ler a porção semanal da Torá, descobriríamos a Torá dentro de nós. Foi assim que os cabalistas descobriram e escreveram, sentindo-a interiormente. A Torá resulta do desejo receber que é gradualmente corrigido.
Quando a pessoa descobre a porção Balak dentro de si, descobre também uma burra falante?
Ele ou ela vai falar tal como está escrito na Torá e, ao mesmo tempo, vai compreender os detalhes no seu verdadeiro sentido.
O que significa na pessoa que a burra fala?
É o desejo de receber. A burra é a fêmea do burro. Ou seja, das dez Sefirot de Malchut, nove são o burro e a décima é a burra.
É especificamente o desejo de receber que sente o anjo?
Sim.
O desejo de receber é incapaz de ver? É cego?
É precisamente o desejo de receber que vai realizar o ato, que vai sentir, seja para receber, seja para doar. É aí que todas as operações das forças ocorrem. Por isso, todas as forças de correção ou corrupção se dirigem a ela.
É por isso que se diz que o Messias virá montado num burro branco?
Um burro branco significa que a pessoa precisa de tornar o burro branco. Só então o vai sentir.
O que significa o branqueamento?
Significa que a pessoa “branqueia” completamente a substância, tornando-a inteiramente para doar, o que é chamado “branco”.
Há aqui um processo estranho. Balaão é o desejo de receber para receber, ou mesmo o desejo de doar para receber. Balaão passa por um processo: no início, quer amaldiçoar, mas depois jura que vai agir apenas conforme o comando do Criador e, por fim, abençoa. Balaão age com a intenção de doar.
Ele foi corrigido?
Não, ele não pode fazê-lo no próximo nível. Na verdade, Balaão não realiza ações aqui, nem Balak, nem o Criador. Apenas Israel age. Ou seja, se quisermos elevar-nos ao próximo nível, a bênção está diante de nós e podemos avançar, exceto que não temos a força.
Precisamos de descobrir que não podemos avançar usando Balaão, Balak, o Criador, a burra ou qualquer outro fator, até ficarmos perplexos, sem saber como avançar para o próximo nível, como adquirir este desejo chamado Moab. Os filhos de Israel devem conquistar Moab, algo precisa de surgir, e isso surge apenas ao conectarem-se com as mulheres de Moab.
A pessoa precisa de obter as fêmeas de lá, as carências desse nível. Ao obter essas carências, há substância suficiente para avançar. Quando a pessoa se conecta a toda a substância, surge uma correção conhecida como “a morte da intenção de receber”. Corrigimos o desejo de receber para que ela tenha a intenção de doar. Este ato é chamado “a conquista de Moab”.
Há aqui um elemento sexual. Por um lado, o desejo sexual é muito natural, mas, por outro, parece ser um mau exemplo, porque usaram as mulheres midianitas.
Não estamos a lidar com moralidade ou ética aqui. No nosso mundo, a sexualidade é animalística, ou seja, existe nos animais.
Mas nesta porção, a sexualidade é apresentada como um obstáculo, com o líder trazendo uma mulher midianita para a tenda.
É verdade, que parece negativo. No entanto, todas as medidas discutidas aqui são passos necessários ao longo do caminho. Não podemos ter sucesso sem elas. Está escrito: “Não há homem justo na terra que faça o bem e não peque.” Ou seja, devemos passar pelo pecado; não temos escolha, mesmo que não o queiramos.
A ordem dos níveis é tal que a pessoa cai e depois ascende. Mas a queda não é por vontade própria, embora seja assim que se constrói a ascensão.
Portanto, Israel não procurou misturar-se com os midianitas; simplesmente não tinham escolha, porque a pessoa deve misturar-se com todas os femininos do próximo nível. Misturar-se significa estar no nível feminino, Malchut do próximo nível, a mulher fornicadora, totalmente imersa na sua intenção de receber, e depois corrigi-la.
Ao subir de um nível para o próximo, a pessoa precisa, aparentemente, desesperar e depois pedir ajuda. Claramente, há uma força que o abre diante de nós e ajuda, mas esquecemo-nos disso de um nível para o próximo.
Por que esquecemos? Por que parece tornar-se mais difícil? Afinal, se compreendemos uma vez, deveria ser mais fácil. O problema é que compreendemos, mas no pecado anterior que corrigimos. No pecado atual, não percebemos nada. Tudo o que tínhamos está no passado, e é como se tivéssemos esquecido tudo, porque estamos a subir de baixo para cima. Não é que realmente esqueçamos, mas as velhas formas simplesmente não funcionam no novo nível.
Na correção de “matar a midianita”, o líder da tribo de Simeão também é morto. Porquê? Afinal, ele fazia parte de Israel e deveria ser corrigido.
Ele pertence ao nível anterior.
Então, ele não conseguiu lidar com o novo nível?
Não conseguiu lidar com ele porque se conectou a ela, e ambos estão na intenção de receber. Ambos precisam de correção. Não é apenas a inclinação ao mal que é corrigida; é também a força que desce à inclinação ao mal e se conecta a ela. Ambos se elevam juntos.
A pessoa que desce, desce completamente para a intenção de receber, até à Klipa (casca) com todo o sucesso anterior. Depois, a luz atua e salva ambos, o que é considerado como se, no caminho, os matasse, porque estão voltados para receber.