381. Pois o Senhor escuta os Pobres
29 de Janeiro de 1972
O Rabino Hiya disse: “Pergunto-me acerca deste texto que afirma: ‘Porque o Senhor escuta o pobre.’ Será que Ele escuta os pobres e não os outros?” O Rabino Shimon respondeu: “É porque eles estão mais próximos do Rei, como está escrito: ‘Ó Deus, não vais desprezar um coração partido e arrependido’”. O Rabino Shimon acrescentou: “Vem e vê, todas as pessoas no mundo são vistas perante o Criador em corpo e alma, mas o pobre apresenta-se diante do Criador apenas com a alma, pois o seu corpo está quebrado, e o Criador está mais próximo da alma do que do corpo.”
O Sulam [Comentário da Escada sobre o Zohar] interpreta que o pobre é visto perante o Criador apenas com a alma porque o seu corpo está quebrado, e o Criador está mais próximo da alma do que do corpo (O Zohar, BeShalach, Item 367).
Para compreender o exposto acima, devemos saber o que significa “pobre.” Sabemos que, normalmente, uma pessoa pode realizar ações que lhe vão proporcionar dois resultados: 1) Conhecimento, ou seja, que vai compreender com o seu intelecto o trabalho que está a realizar, nomeadamente o benefício dessa ação. Por outro lado, se tiver de fazer algo que o seu intelecto indica ser o contrário do que lhe é ordenado, terá dificuldade em fazê-lo. 2) Prazer. Uma pessoa pode fazer coisas que lhe vão trazer prazer. Contudo, se fizer algo de que não desfruta, terá dificuldade em realizá-lo.
Portanto, quando ambas as condições da ação são cumpridas, ou seja, conhecimento e prazer, essa ação é considerada um estado de “riqueza,” pois proporciona-lhe conhecimento e prazer, e não há nada mais na realidade que as criaturas desejem.
Se apenas uma das condições for cumprida, ou seja, se a ação não lhe proporcionar conhecimento – ou seja, que o intelecto não o vai obrigar a fazê-la –, mas ainda assim lhe der prazer, isso ainda é considerado uma ação, pois ele supera o intelecto e realiza a ação porque o ato ainda não é considerado pobre, uma vez que a ação ainda lhe dá algo, ou seja, prazer.
Por vezes, a ato não lhe proporciona prazer, mas ainda lhe dá conhecimento, ou seja, o intelecto aprova a ação. Nesse caso, necessita de um reforço maior para seguir o intelecto e não depender do prazer.
No entanto, quando a ação não lhe proporciona nem conhecimento nem prazer, ou seja, está acima da razão e acima do prazer, isso é chamado de “pobre e indigente,” quando a ação não lhe traz qualquer recompensa.
O homem tem um corpo e uma alma. O corpo é chamado de Kli [vaso] do desejo de receber prazer e conhecimento. A alma é considerada o poder de doação que existe no homem. E o homem tem corpo e alma.
Por conseguinte, quando alguém ora ao Criador e espera que o Criador lhe conceda abundância, mas, na sua situação, tem um corpo saudável, ou seja, o corpo ainda consegue encontrar conhecimento e prazer no trabalho, ou pelo menos um deles, isso ainda não é considerado pobre e indigente, pois o corpo vai receber recompensa pelo seu trabalho.
No entanto, quando alguém deseja caminhar no caminho da verdade, ou seja, acima da razão e com a intenção de doar, o corpo não tem nada a receber, sendo então considerado como quebrado. Nesse momento, ele ora ao Criador para que o ajude a seguir com a alma, ou seja, com o desejo de doar. Mas o corpo interfere porque vê que nada tem a ganhar deste caminho, em que a pessoa deseja seguir no caminho da verdade.
O Criador, que é o doador, está próximo da alma. Isto significa que há equivalência com a alma, pois a alma quer caminhar no caminho da doação, e é daí que provém toda a sua oração. Por isso, o Criador ouve a sua oração.
Este é o significado de “Pois o Senhor escuta os pobres.” Porém, quando o homem é rico, ou seja, quando a ação lhe proporciona conhecimento e prazer, ou pelo menos um deles, então a sua oração é apenas em prol do corpo, ou seja, para o desejo de receber. É por isso que não está escrito que “Ele escuta a oração dos ricos”, mas apenas a dos pobres, porque Ele está próximo apenas dos pobres, pois proximidade significa equivalência de forma.