<- Biblioteca de Cabala
Continuar a Ler ->
Biblioteca de Cabala

Michael Laitman

Biblioteca de Cabala "Principal" / Baal HaSulam / Artigos / Uma Serva que é Herdeira da Sua Senhora

Uma Serva que é Herdeira da Sua Senhora


Isto requer uma explicação profunda. Para tornar o assunto claro para todos, vou escolher interpretá-lo com base no que nos é revelado por esta razão e se expande até nós na conduta deste mundo.


Interioridade e Exterioridade
A questão é que as raízes superiores expandem o seu poder em concatenação até que os seus ramos apareçam neste mundo, conforme está escrito na explicação sobre ramo e raiz. Enquanto um todo, os mundos são considerados como interioridade e exterioridade, tal como uma carga pesada que ninguém pode levantar ou mover de um lugar para outro. Assim, o conselho é dividir a carga em pequenas partes e transferi-las subsequentemente, uma de cada vez.
O mesmo se aplica ao nosso caso: dado que o propósito da criação é inestimável, pois uma centelha minúscula, como a alma do homem, pode ascender na sua realização acima dos próprios anjos superiores, como os nossos sábios disseram sobre o versículo: "Agora será dito a Jacob e a Israel: ‘Que fez Deus!’" Eles interpretaram que os anjos superiores vão perguntar a Israel: "Que fez Deus?"


A Evolução de Israel (Interioridade) – Um de Cada Vez
Esta abundância chegar-nos-á apenas através do desenvolvimento de um de cada vez. Tal como na alegoria acima, até a carga mais pesada pode ser levantada se for dividida em partes e elevada uma a uma. Não apenas o propósito geral nos é revelado desta forma, mas também o propósito físico, que não é senão uma preparação para o propósito geral, e chega até nós através de um desenvolvimento gradual e lento.
Por essa razão, os mundos foram divididos em interioridade e exterioridade, onde cada mundo contém iluminações adequadas para operar num desenvolvimento gradual e lento, e são chamadas “a interioridade do mundo”.


A Evolução das Nações do Mundo (Exterioridade) – De Uma Só Vez
Em oposição a estas, existem iluminações que apenas podem actuar de uma só vez; por isso, quando aparecem aqui nos seus ramos mundanos e lhes é concedido domínio, não só não corrigem, como até corrompem.
Os nossos sábios chamam a isto “imaturo”, como está escrito acerca da Árvore do Conhecimento e de Adam HaRishon, que comeram um fruto ainda verde. Isto significa que é verdadeiramente uma delícia requintada, incomparavelmente agradável, e está destinada a deleitar o homem, mas no futuro, não no presente, pois ainda está em crescimento e desenvolvimento. É por isso que a compararam a um fruto verde, pois também o figo, que é a fruta mais doce e saborosa, se for comido antes do tempo, vai causar um mal-estar no estômago e poderá levar à morte.
Com efeito, devemos perguntar: “Quem é aquele que introduz tal acto no mundo?” Afinal, sabemos que não há nenhuma ação no nosso mundo que aconteça sem um golpe da raiz superior. Devem saber que isto é o que chamamos de “o domínio da exterioridade”, como diz o versículo: “Deus fez um em oposição ao outro.” Contém uma força que impele e apressa a revelação da orientação interna, como disseram os nossos sábios: “Coloco sobre eles um rei tal como Hamã, e contra a sua vontade, vão arrepender-se.”


A Interioridade São o Povo de Israel
Tendo esclarecido as raízes superiores, vamos agora esclarecer os ramos neste mundo. Devem saber que um ramo que se expande da interioridade é o povo de Israel, que foi escolhido como operador da correção e do propósito geral. Eles contêm a preparação necessária para crescer e desenvolver-se até moverem as nações a alcançar o objetivo universal.


A Exterioridade São as Nações do Mundo
O ramo que se expande da exterioridade é o resto das nações. Elas não receberam as qualidades que as tornariam aptas a receber as condutas do desenvolvimento do propósito uma de cada vez. Em vez disso, estão preparadas para receber a correção de uma só vez e em plenitude, de acordo com a sua raiz superior. Por isso, quando recebem domínio da sua raiz, destroem as virtudes nos filhos de Israel e causam sofrimento no mundo.


Um Escravo e uma Serva
As raízes superiores, chamadas “Exterioridade”, conforme explicamos acima, são normalmente designadas como “serva” e “escravo”. Isto significa que elas não têm intenção de causar dano, como pode parecer numa observação superficial. Pelo contrário, servem a interioridade, tal como um escravo e uma serva servem o seu senhor.


A Exterioridade Governa Quando Israel Não Exige Profundidade no Seu Trabalho
O domínio da exterioridade, referido acima, é chamado “o exílio de Israel entre as nações do mundo”. Através dele, infligem muitas formas de sofrimento, degradação e destruição à nação israelita. No entanto, para sermos concisos, vamos explicar apenas o que é revelado numa observação geral, que se refere ao propósito universal. Trata-se da idolatria e da superstição, como está escrito: “Misturaram-se com as nações e aprenderam os seus atos.” Este é o veneno mais terrível e perigoso, pois destrói as almas de Israel ao aproximar as suas vaidades da razão humana. Ou seja, estas não exigem grande profundidade para serem compreendidas e, assim, plantam os alicerces do seu trabalho nos corações dos filhos de Israel. Embora um israelita esteja pouco apto a aceitar as suas vaidades, no final acabam por induzir idolatria e impureza, descendo até à heresia aberta, até que ele diga: “Todos as faces são iguais.”


A Razão para a Ocultação da Cabala
Agora podem compreender a questão da ocultação da sabedoria do oculto aos olhos dos externos, bem como a afirmação dos sábios: “Não se deve ensinar a Torá a um gentio.” Pode parecer haver uma contradição entre esta afirmação e o que foi dito pelo Tanna Devei Eliyahu (um grande Sábio dos primeiros anos da Era Comum): “Mesmo um gentio, mesmo um escravo e mesmo uma serva que se sentam e estudam a Torá, a Shechina [Divindade] está com eles.” Então, porque proibiram os sábios o ensino da Torá aos gentios?


Ensinar a Torá aos Gentios
Na verdade, o Tanna Devei Eliyahu refere-se a um gentio convertido ou, pelo menos, a alguém que se afastou da idolatria e da superstição. Os nossos sábios, por outro lado, referiam-se àquele que não se afastou da idolatria e queria conhecer a lei e a sabedoria de Israel para fortalecer e consolidar a sua idolatria. Podem perguntar: “Porque deveríamos preocupar-nos se este gentio se tornou mais devoto na sua idolatria devido à nossa Torá? Se não lhe trouxer benefício, que mal poderá causar?”


O Pranto de Rashbi
Com efeito, foi sobre isto que Rashbi chorou antes de explicar um segredo importante na sabedoria do oculto, como está escrito: “O Rabino Shimon chorou e disse: ‘Ai de mim se revelar, e ai de mim se não revelar. Se revelar, os pecadores vão saber como servir os seus ídolos; e se não revelar, os amigos vão perder esta matéria.’”
Ele temia que este segredo chegasse às mãos dos idólatras e que eles praticassem a sua idolatria com a força deste intelecto sagrado. Isto é o que prolonga o nosso exílio e traz sobre nós todas as aflições e destruições, como vemos agora diante de nós, pois os sábios das nações estudaram todos os livros dos filhos de Israel e transformaram-nos em iguarias para fortalecer a sua fé, ou seja, a sua sabedoria, chamada “teologia”.


Dois Danos Causados pela Divulgação da Sabedoria de Israel às Nações do Mundo
Eles causaram dois danos:
A) Além de se revestirem com o nosso manto, alegando que toda essa sabedoria foi alcançada pelo seu próprio espírito sagrado, esses imitadores ganharam reputação à nossa custa. Assim, fortaleceram o seu ensino falso e adquiriram poder para negar a nossa sagrada Torá.
B) E sobreveio-nos um dano ainda maior: Quem observa a sua teologia descobre nela conceitos e sabedoria sobre o serviço a Deus que parecem mais verdadeiros e genuínos do que a nossa sabedoria. Isto deve-se a dois motivos: O primeiro é que são uma sociedade numerosa, e entre eles há grandes e experientes filólogos que sabem como tornar os seus ensinamentos apelativos para os incultos. A filologia provém dos ensinamentos externos e, naturalmente, uma sociedade de oito mil milhões de pessoas pode produzir muito mais e melhores filólogos do que a nossa sociedade de quinze milhões. Por isso, quem observa os seus livros pode cair na dúvida de que talvez eles estejam certos, ou pior ainda. O segundo e mais importante motivo é que os sábios de Israel ocultam a sabedoria da religião das massas, resguardando-a a portas fechadas. No entanto, os sábios de cada geração oferecem explicações simples às massas e rejeitam-nos com todos os meios possíveis da tentativa de se aproximar e tocar na sabedoria oculta.


Ai de Mim se Revelar
Eles fazem isto por receio de que tais matérias cheguem às mãos dos idólatras, como Rashbi escreveu: “Se revelar, os pecadores saberão como servir os seus mestres.” Afinal, já sofremos bastante mesmo pelas pequenas coisas que roubaram dos nossos vasos, que lhes chegaram apesar de toda a cuidadosa vigilância.


A Razão para a Ocultação da Cabala
Isto esclarece o que nos aconteceria se os nossos sábios revelassem a sabedoria oculta a todos. E, dado que ocultamos, enquanto o nosso homem comum não estiver apto a receber os segredos da Torá, ele não terá qualquer conhecimento na sabedoria da religião. Por isso, é natural que esse indivíduo se sinta inspirado e encantado quando encontra as trivialidades da teologia deles e as suas explicações, cuja essência não passa de uma coleção de conceitos roubados do nosso oculto, adornados com refinamentos literários. Quando a pessoa vê isto, diz e rejeita a nossa lei prática e acaba na heresia total.


Uma Serva Que é Herdeira da Sua Senhora
Isto é chamado de “uma serva que é herdeira da sua senhora”, pois o próprio poder da senhora—o domínio da interioridade—vem pela força da nossa sabedoria e conhecimento, como está escrito: “Somos distintos, eu e o Teu povo, de todos os povos que há sobre a face da terra.” Agora, a serva ergueu-se e vangloria-se em público de ser a herdeira desta sabedoria. Devem saber que este poder que adquiriram é a corrente com a qual prendem os pés dos filhos de Israel no exílio sob o seu domínio.


Correntes do Exílio
Assim, a essência das correntes do exílio e a sua força vêm da sabedoria da Torá e dos seus segredos, que eles conseguiram roubar e inserir nos seus vasos, apesar de toda a cuidadosa vigilância que estabelecemos. Com isto, iludem as massas, dizendo que herdaram o trabalho do Criador, lançando também a dúvida e heresia nas almas de Israel.