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Biblioteca de Cabala

Michael Laitman

Tempo de Agir


Há já muito tempo que a minha consciência me pesa com a exigência de expor e elaborar uma obra fundamental sobre a essência do Judaísmo, da religião e do conhecimento da sabedoria da Cabala autêntica, e de a difundir entre a nação, para que as pessoas possam conhecer e compreender devidamente estes assuntos sublimes no seu verdadeiro significado.
Anteriormente, em Israel, antes do desenvolvimento da indústria da impressão, não havia entre nós livros falaciosos sobre a essência do Judaísmo, pois dificilmente existiam escritores entre nós que pudessem sustentar as suas palavras, pelo simples facto de que, na maioria dos casos, uma pessoa sem credibilidade não alcançava renome.
Por isso, se, por acaso, alguém ousasse escrever uma obra desse género, não valeria a pena para nenhum escriba copiá-la, pois não seria remunerado pelo seu trabalho, que, na maioria das vezes, representava um custo considerável. Assim, uma obra dessas estava condenada desde o início.
Naqueles tempos, mesmo os sábios não tinham interesse em escrever tais livros, uma vez que o público em geral não necessitava desse conhecimento. Muito pelo contrário, havia interesse em ocultá-lo em câmaras secretas, pois “É a glória de Deus ocultar uma coisa.” Foi-nos ordenado ocultar a essência da Torá e do trabalho daqueles que não necessitam dela ou não são dignos dela, para não a degradar nem a expor em montras para os olhos cobiçosos dos vaidosos, porque assim o exige de nós a glória de Deus.
Mas desde que a impressão de livros se tornou comum e os escritores já não necessitam de escribas, o preço dos livros reduziu-se. Isto abriu caminho para que escritores sem credibilidade publicassem os livros que lhes aprouvesse, fosse por dinheiro ou por glória. No entanto, não consideram os seus próprios atos nem examinam as consequências do seu trabalho.
Desde então, as publicações deste género aumentaram consideravelmente, sem qualquer aprendizagem ou receção boca-a-boca de um Rav [Professor, Grandioso, Sábio] qualificado, nem sequer o conhecimento dos livros antigos que trataram deste tema. Esses escritores fabricam teorias a partir das suas próprias conchas vazias e relacionam as suas palavras aos assuntos mais elevados, tentando assim retratar a essência da nação e o seu fabuloso tesouro. Como insensatos, não sabem ser meticulosos nem forma de o aprender. Incutem visões distorcidas em gerações inteiras e, em troca das suas pequenas cobiças, pecam e fazem pecar as nações por gerações vindouras.
Recentemente, o seu fedor elevou-se ainda mais, pois cravaram as suas garras na sabedoria da Cabala, sem se importarem com o facto de que esta sabedoria permaneceu fechada e trancada por trás de mil portas até aos dias de hoje, ao ponto de ninguém ser sequer capaz de compreender o verdadeiro significado de uma única palavra, quanto mais a conexão entre uma palavra e a seguinte.
Isto porque, em todos os livros autênticos escritos até hoje, há apenas indícios que mal são suficientes para que um discípulo esclarecido possa compreender o seu sentido a partir da boca de um sábio cabalista qualificado. E, mesmo assim, “o porco-espinho faz aí o seu ninho, põe os seus ovos, choca-os e cria-os à sua sombra.” Nestes dias, tais conspiradores multiplicam-se e criam deleites que causam repulsa a quem os observa.
Alguns chegam ao ponto de assumir o lugar de líderes da geração, fingindo saber discernir entre os livros dos primeiros sábios, determinando quais são dignos de estudo e quais não são, por estarem, segundo eles, repletos de falácias, incitando assim o desprezo e a ira. Até hoje, a tarefa de tal escrutínio esteve limitada a um em cada dez líderes de uma geração, e agora é profanada pelos ignorantes.
Por isso, a perceção pública destes assuntos tem sido profundamente corrompida. Além disso, instalou-se um ambiente de leviandade, e as pessoas acreditam que um simples olhar ocasional basta para o estudo de matérias tão sublimes. Percorrem com superficialidade o oceano da sabedoria e a essência do Judaísmo num único olhar, como aquele anjo, e tiram conclusões baseadas nos seus próprios estados de espírito.
Estas são as razões que me levaram a sair do meu caminho e a decidir que chegou o momento de “agir pelo Criador” e resgatar o que ainda pode ser salvo. Assim, assumi sobre mim a tarefa de revelar uma certa parte da verdadeira essência que se relaciona com este assunto e de a difundir entre a nação.