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Michael Laitman

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O Que Significa no Trabalho: “As Boas Ações dos Justos São as Gerações”?


Artigo Nº 5, 1991
RASHI cita as palavras dos nossos sábios sobre “Estas são as gerações [descendência] de Noé; Noé era um homem justo.” Por que não menciona os nomes dos filhos, Sem, Cam e Jafé, mas sim “Estas são as gerações [descendência] de Noé; Noé era um homem justo”? É para ensinar que a descendência dos justos são, primordialmente, boas ações.
Devemos compreender se dizer que a descendência dos justos são boas ações é uma informação para que outros saibam ou é algo que os próprios justos devem saber? Sabemos que, no trabalho espiritual, aprendemos tudo dentro de uma única pessoa. Portanto, o facto das outras pessoas terem de saber que a descendência dos justos são boas ações também se encontra no mesmo corpo. Ou seja, o próprio justo deve saber que a sua descendência deve ser composta por boas ações. Devemos compreender isto em relação ao próprio justo, o que esta informação lhe acrescenta no trabalho.
Para entender isto, primeiro precisamos de saber o que são boas ações ou más ações no trabalho. Boas ações significa que é sabido que, na observância da Torá e das Mitzvot [mandamentos/boas ações], devemos discernir a prática, ou seja, quando a pessoa cumpre a Torá e as Mitzvot na prática, ou seja, acredita no Criador, cumpre os Seus mandamentos e dedica tempo à Torá. Contudo, não presta atenção à intenção, ou seja, para quem está a trabalhar, se é para seu benefício, para ser recompensado por cumprir a Torá e as Mitzvot, o que é chamado “benefício próprio”, ou se está a trabalhar em benefício do Criador, o que significa não receber recompensa.
A diferença entre ambos é que, quando a pessoa ainda trabalha para o seu próprio benefício e está imersa na recepção para si própria, sobre esta recepção houve Tzimtzum [restrição] e ocultação. Ou seja, em relação ao propósito da criação, que é fazer o bem às Suas criações, ela não pode receber o deleite e o prazer. Assim sendo, as ações cujo objetivo é o benefício próprio, são chamadas “más ações”, pois estas ações afastam a pessoa de receber o deleite e prazer. Consequentemente, quando a pessoa realiza estas ações, deveria ganhar, mas neste caso está a perder, pois está separada do Criador.
Mas se a pessoa faz tudo pelo benefício do Criador, para que o Criador desfrute, então está a caminhar numa linha e num caminho que conduz ao Dvekut [adesão] com o Criador, o que é chamado “equivalência de forma”. Quando há equivalência de forma, o Tzimtzum e a ocultação são removidos, e a pessoa é recompensada com o deleite e o prazer que estavam no pensamento da criação, que é fazer o bem às Suas criações. Por esta razão, o que a pessoa faz em benefício do Criador é chamado “boas ações”, pois estas ações levam-na a ser recompensada com o bem.
De acordo com o exposto, devemos interpretar que o justo deve saber que a descendência dos justos são boas ações. Descendência é chamada “frutos”, que são os resultados do estado anterior. Isto é chamado “causa e consequência” ou “pai e descendência”. Portanto, quando a pessoa cumpre a Torá e as Mitzvot e deseja ser justa, como pode saber se é ou não justa, como disseram os nossos sábios (Berachot 61), “Raba disse: ‘Cada um deve saber no seu coração se é justo ou ímpio’”? Contudo, como pode alguém saber isto?
Por esta razão, eles disseram: “as gerações [descendência] dos justos são boas ações”. Se a pessoa vê que o seu envolvimento na Torá e nas Mitzvot lhe produz boas ações, ou seja, que a Torá e as Mitzvot que realiza a levam a fazer tudo para doar, o que é em benefício do Criador, isso é um sinal de que ela é justa.
No entanto, se a Torá e as Mitzvot que ela realiza não lhe produzem a descendência de boas ações, mas sim más ações, ou seja, se trabalha apenas para o seu próprio benefício e isso não lhe concede a capacidade de realizar boas ações, que são em benefício do Criador, então ela não se enquadra na categoria de “justa”, mesmo que cumpra a Torá e as Mitzvot em todos os seus detalhes e precisões. Contudo, isto aplica-se apenas ao trabalho. Para o público em geral, aquele que cumpre a Torá e as Mitzvot com todas as precisões é considerado justo.
É por isso que, em relação ao versículo “Noé era um homem justo, completo nas suas gerações”, RASHI cita as palavras dos nossos sábios: “Uns louvam-no e outros condenam-no”. Devemos interpretar por que o louvam e por que o condenam, ou seja, qual é a verdade.
No trabalho, quando tudo é relacionado a uma única pessoa, a descendência também não se refere a vários corpos, mas a um único corpo em vários momentos. Portanto, qual é o significado de louvar e condenar? Está escrito na “Introdução do Livro do Zohar” (Item 140): “‘Dia após dia derrama discurso, e noite após noite revela conhecimento.’ Frequentemente, a orientação do bem e do mal causa-nos ascensões e descidas. Devem saber que, por esta razão, cada ascensão é considerada um dia separado, porque, devido à grande descida que teve, ao ponderar o início, durante a ascensão ele é como uma criança recém-nascida. É por isso que cada ascensão é considerada um dia específico, e, da mesma forma, cada descida é considerada uma noite específica. No final da correção, serão recompensados com o arrependimento por amor, pois completarão a correção dos vasos de recepção, de modo que trabalharão apenas para doar contentamento ao Criador, e todo o grande deleite e prazer do pensamento da criação vai aparecer para nós. Nessa altura, veremos claramente que todos aqueles castigos do tempo das descidas, esses pecados, serão invertidos em méritos reais. E isto é ‘Dia após dia derrama discurso’”.
De acordo com o exposto, devemos interpretar “Noé era um homem justo, completo nas suas gerações”, que aqui deve haver louvor, assim como condenação, e ambas são verdadeiras. Por conseguinte, se está escrito “nas suas gerações”, no plural, significa que a geração se dividiu em vários intervalos. Assim, há muitas gerações. Isto é possível quando, durante o trabalho, ele teve altos e baixos; por isso, dividiram-se em várias gerações.
Portanto o tempo de descida é considerado uma condenação, como ele diz no Sulam [comentário ‘Escada’ sobre O Zohar], que por vezes chegamos a um estado de “ponderar o início”. Não há condenação pior do que esta. Conclui-se que as condenações pertencem às descidas. Também há louvores, ou seja, o tempo das ascensões. É um louvor porque então ele tem conexão com a Kedusha [santidade].
“Completo” significa que todas as gerações se tornaram completude, o que é chamado “completo”. Ou seja, ele foi recompensado com o fim da correção, ou seja, completaram a correção dos vasos de recepção para receberem para receber com a intenção de doação. Portanto a proliferação de gerações, onde houve intervalos entre elas, ou seja, descidas, foi corrigida, e ele tornou-se completo na sua geração. Este é o significado de condenar e louvar, e ambos são verdadeiros, e ambos se tornam uma só questão, chamada “completo nas suas gerações”.
No entanto, na maioria das vezes, aqueles que se dedicam à Torá e às Mitzvot na prática não têm ascensões nem descidas ao ponto de chegarem a um estado de ponderar o início, pois enquanto não desejarem macular o desejo de receber, o corpo não se opõe tanto ao trabalho espiritual. Assim, essas pessoas consideram-se completas. Quando olham para a Torá, veem-se como não muito maus, mais ou menos bem.
Isto é chamado “Ayin [olho/setenta] faces da Torá”, o que significa que há dois discernimentos a fazer aqui:
1) O de ‘olhos estreitos’ volta o seu rosto para a Torá. Ou seja, ele interpreta a Torá à maneira de um de ‘olhos estreitos’, chamado “estreito em Hassadim [misericórdia]”. Por conseguinte, ele não compreende como pode haver algo para além do benefício próprio. Por esta razão, interpreta a Torá de modo a que nenhum mal aconteça ao seu benefício próprio. Isto é como disseram os nossos sábios (Avodá Zará 19), “Cada um aprende apenas onde o seu coração deseja”. Ou seja, se ele é de ‘olhos estreitos’, as Ayin [olho/setenta] da Torá são de tal modo que produzirão amor-próprio.
2) Há o Ayin [olho/setenta] abençoado, como está escrito, “O de ‘olhos bons’, ele será abençoado”. Isto significa que aquele que tem um ‘olho bom’, que gosta de doar, o oposto do de ‘olhos estreitos’, pois deseja trabalhar para doar, quando olha para a Torá, vê que em todos os lugares da Torá, a pessoa deve trabalhar para doar. Isto é considerado aprender a partir do lugar onde ele se encontra. Ou seja ele vê que devemos trabalhar apenas para doar. Por conseguinte o de ‘olhos bons’ é recompensado com as bênçãos chamadas Hesed [misericórdia/graça], ou seja, com Dvekut [adesão]. Através disto, ele é posteriormente recompensado com o deleite e o prazer que se encontram no pensamento da criação.
Conclui-se que a pessoa deve trabalhar para obter a necessidade de que o Criador a ajude e lhe dê a segunda natureza, chamada “desejo de doar”. No entanto, cada pessoa deseja primeiro a recompensa e depois o trabalho. Ou seja, cada um quer que primeiro lhe seja dado o desejo de doar, embora ainda não compreenda que precisa desse desejo, mas ouviu que a recompensa que se recebe pelo trabalho é que, do alto, lhe é dado o desejo de doar. Assim, ele quer que lhe seja dado esse desejo, mas a sua intenção é apenas que não tenha de trabalhar para o obter.
Contudo, não há luz sem um Kli [vaso]. Ou seja, a pessoa deve primeiro esforçar-se para ter um desejo e uma necessidade disso, pois não há preenchimento sem uma carência. Portanto, a pessoa deve aceitar as descidas em cada momento, pois através das descidas ela adquire uma necessidade de que o Criador a ajude e lhe dê a força para derrotar o desejo de receber dentro dela, para que seja recompensada com o desejo de doar.
Por isso, pedimos ao Criador que nos dê o desejo de doar para que tenhamos Dvekut com o Criador, enquanto, da nossa parte, somos incapazes de superar a nosso desejo de receber e subjugá-lo para que se anule e dê lugar ao desejo de doar para governar o corpo.
A ordem da oração é como está escrito, “Nosso Pai, nosso Rei, faz pelo Teu benefício, se não pelo nosso benefício”. Esta expressão é intrigante. Normalmente, quando pedimos um favor a uma pessoa, dizemos-lhe, “Faz-me um favor por ti, ou seja, por teu benefício. Se não quiseres fazer-me um favor porque será para teu benefício, faz apenas pelo meu benefício”.
Mas é certo que, se ele não quer ajudá-lo embora também seja para seu próprio benefício, e ainda assim não quer, então, se não tirar qualquer benefício disso, não lhe fará o favor. Então, o que significa “Faz por Teu benefício”, e se não, ou seja, se não for por Teu benefício, então “Faz pelo nosso benefício”, ou seja, apenas para nosso benefício? Pode isto ser?
Devemos interpretar isto: Dizemos, “Nosso Pai, nosso Rei, faz pelo Teu benefício”. Pedimos ao Criador que nos dê a força para que possamos realizar todas as nossas ações por Ti, ou seja, em benefício do Criador. Caso contrário, ou seja, se não nos ajudares, todas as nossas ações serão apenas para o nosso próprio benefício. Ou seja, “Se não”, significa “Se não nos ajudares, todas as nossas ações serão apenas para nós próprios, para o nosso próprio benefício, pois somos impotentes para superar o nosso desejo de receber. Portanto, ajuda-nos a podermos trabalhar para Ti. Assim, Tu deves ajudar-nos”. Isto é chamado “Faz por Teu benefício”, ou seja, faz isto, dá-nos o poder do desejo de doar. Caso contrário, estamos condenados; permaneceremos no desejo de receber para nosso próprio benefício.
No entanto, a pessoa deve saber que não há luz sem um Kli, não há preenchimento sem uma carência. Por esta razão, ela deve primeiro sentir que lhe falta o desejo de doar. Ou seja, ela não deve considerar o desejo de doar como um acessório, que está, na verdade, bem, mas gostaria de ser mais completa. Devemos saber que isto não é considerado uma carência no que diz respeito à espiritualidade. Na espiritualidade, tudo deve ser completo, ou seja, uma luz completa, uma carência completa. Acessórios não são considerados carências completas, e, portanto, a luz completa não pode entrar.
Assim, a luz, considerada como o Criador dando à pessoa o desejo de doar, é chamada “luz do arrependimento”, pois antes da pessoa receber o desejo de doar, ela está sob o domínio do desejo de receber, que é o oposto da Kedusha [santidade], chamada desejo de doar, pois o desejo de receber pertence às Klipot [cascas]. É por isso que os nossos sábios disseram: “Os ímpios, em vida, são chamados ‘mortos’.”
Este é o significado do que está escrito no Estudo das Dez Sefirot (Parte 1, Histaklut Pnimit, Item 17): “Por essa razão, as Klipot são chamadas ‘mortas’, pois a sua oposição de forma em relação à Vida das Vidas separa-as d’Ele, e elas não têm nada da Sua Abundância. Assim, o corpo, que se alimenta dos restos das Klipot, também está separado da Vida das Vidas. Tudo isso por causa do desejo de apenas receber. Portanto, ‘Os ímpios, em vida, são chamados ‘mortos’.”
Consequentemente, a pessoa não pode adquirir o desejo de doar, que o Criador lhe doará, antes de ter uma carência completa, ou seja, sentir que é ímpia porque está sob o domínio do desejo de receber e está separada do Criador, e deseja arrepender-se, aderir novamente ao Criador para não estar separada, pois a separação causa a morte, como foi dito: “Os ímpios, em vida, são chamados ‘mortos’.”
Por conseguinte, a menos que a pessoa se sinta como ímpia, ela não tem uma carência  completa para que o Criador lhe dê a ajuda, o poder do desejo de doar, que Baal HaSulam chama “uma segunda natureza”. Assim, em termos do trabalho, não se considera que ela se arrependeu antes de primeiro sentir que é ímpia.
Depois, ela pede ao Criador que a ajude porque deseja arrepender-se. Contudo, vê que é impotente para se arrepender sem a ajuda do Criador. Nesse estado, ela tem uma carência completa, chamada “um Kli completo”, e então está apta a receber a ajuda completa do Criador, ou seja, o desejo de doar.
No entanto, os nossos sábios disseram: “A pessoa não se considera ímpia” (Ketubot 18). A razão é que, no trabalho, “transgredir e repetir”, os nossos sábios disseram, “torna-se para ela como permitido”. Assim, a pessoa não se vê como ímpia e pode dizer que tem um Kli completo, que está verdadeiramente tão afastada do Criador que se sente como morta. Ou seja, devemos interpretar que “Os ímpios, em vida, são chamados ‘mortos’” é quando a pessoa pode dizer que se sente ímpia perante o Criador. Isto é, quando ela se sente como morta — que não tem vitalidade de Kedusha — ela sente-se como ímpia.
Mas de onde vem tal sentimento? A resposta é como dissemos em artigos anteriores: Tal consciência e sentimento vêm do Alto, como está escrito no Zohar sobre o versículo, “Ou, dai-lhe a conhecer que pecou”. Ele pergunta, “Quem lhe deu a saber?” E responde, “O Criador foi que lho fez saber”. Portanto, a consciência e o sentimento de que pecou também vêm do Alto. Ou seja, tanto a carência quanto o preenchimento, tanto a luz quanto o Kli, vêm do Alto.
No entanto, é sabido que tudo requer um despertar de baixo. A resposta é que primeiro a pessoa deve realizar boas ações. Ou seja, o trabalho começa quando a pessoa deseja realizar boas ações, o que é considerado querer trabalhar para o benefício do Criador, chamado trabalhar pelo benefício do Criador. Então, ao querer aproximar-se do Criador e pensar que precisa apenas de um pouco de completude, mas que, na verdade, está bem, uma vez que se vê, do Alto, que ela deseja aproximar-se do Criador, é-lhe dada, a cada momento, a carência que se encontra nela — que, na verdade, está completamente afastada do Criador.
Não é como ela pensava antes, que lhe faltava um pouco de completude. Pelo contrário, é-lhe mostrado, do Alto, que está afastada do Criador ao ponto da oposição de forma, ao ponto da pessoa sentir que é ímpia perante o Criador e não pode fazer nada para trazer contentamento ao seu Criador.
Nesse momento, ela alcança o nível de “ímpia” e vê que não tem vitalidade de Kedusha, e que está verdadeiramente “morta”. Então, ela tem uma carência completa, chamada “um Kli completo”, e então o Criador pode dar-lhe uma luz completa, ou seja, a ajuda completa, que é o desejo de doar. Isto é considerado que ela se arrependeu.
No entanto, devemos saber que, no trabalho espiritual, devemos discernir que há a fé, que está acima da razão, chamada “lei”, e há a Torá, chamada “sentença” [veredicto]. Baal HaSulam disse que “lei significa fé acima da razão, e sentença significa a Torá”, onde esta é especificamente dentro da razão. Ele disse que “Aquele que não conhece o mandamento do superior, como o servirá?” Portanto, a pessoa deve esforçar-se por compreender as palavras da Torá, chamadas “sentença”.
Com isto, devemos interpretar o que está escrito (Génesis 4:19), “Lameque escolheu para si duas mulheres: o nome de uma era Adá, e o nome da outra, Tzilá”. Devemos compreender o que isto nos ensina no trabalho espiritual, quantas mulheres ele tinha, assim como os seus nomes. A questão é que Lameque tem as letras de Melech [rei], o que implica que a pessoa deve fazer boas conjunções, ou seja, ser recompensada com a sensação de que há um Rei no mundo, e é um grande privilégio para a pessoa se for recompensada com servir o Rei do mundo.
“Mulheres” significa assistentes, como está escrito, “Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajuda que lhe seja oposta”, pelo que uma mulher significa uma assistente. Ou seja, como é que ela ajuda? Ela é chamada “mulher” na sua assistência a ele, ou seja, ela completa o seu trabalho quando ele usa a sua qualidade. É por isso que se considera que ela o ajuda a alcançar a sua completude.
Devemos saber que a plenitude do trabalho está em dois discernimentos: 1) Mitzva [singular de Mitzvot], 2) Torá. É sabido que a Mitzva é chamada “fé acima da razão”, e “razão” é considerada “sol”, como está escrito, “Se o assunto lhe é tão claro como o dia”. Portanto “acima da razão” é o oposto do sol. Isto é chamado “uma sombra”.
Com isto, devemos interpretar que, se a pessoa deseja sentir que há um rei, deve usar uma sombra, ou seja, a fé acima da razão. Este é o significado das palavras, “e o nome da outra, Tzilá [sombra]”. Ou seja, ela recebe ajuda para ser recompensada com o serviço ao Rei através da fé. No entanto, isto ainda não é considerado completude, porque a sombra sobre o sol, ou seja, o acima da razão, que deve estar na fé, ainda não é considerado um trabalho completo.
A Torá também é necessária, que é chamada “sentença” e conhecimento, pois o que não compreendemos não cai na categoria de Torá, mas na categoria de fé. A Torá, por outro lado, é chamada “testemunho”. É sabido que não há testemunho por ouvir, mas por ver, pois ver é considerado conhecer.
Este é o significado das palavras “O nome de uma era Adá”, da palavra Edut [testemunho], onde a pessoa deve receber ajuda da assistente, chamada “mulher”, que o ajuda de uma forma da Torá, que é luz e não sombra. Precisamente quando ele tem Torá e Mitzva, é considerado um ser humano completo.
Adá = Ed [testemunha] do Criador acerca do Criador é a Torá, chamada Edut.
Tzilá = Tzel [sombra] do Criador é uma sombra no Criador, ou seja, fé.