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Michael Laitman

Biblioteca de Cabala "Principal" / Baal HaSulam / Artigos / O Significado do Chaf [Letra Hebraica] em “Anochi”

O Significado do Chaf [Letra Hebraica] em “Anochi” (1)


Malchut, quando revestida nos mundos, é chamada Ani [eu]. Ela expande até Assiya, que representa a separação, onde cada pessoa se percebe como uma entidade distinta, sentindo o “eu” e, através da sua expansão, deseja conquistar o mundo inteiro para sua própria vontade e prazer. Este é o poder da fragmentação em Assiya, "Eu vou reinar", ou seja, provenientes de centelhas sagradas que ainda não foram discernidas. Isto é chamado "a pele da serpente", que representa o bem e o mal na Klipa [casca/pele], Noga.
Há na criatura duas almas, nas quais adquire e se revestem dois espíritos.: a "alma vital" e a "alma intelectual". Uma provém da Klipa Noga e a outra é uma centelha divina, uma parte de Deus do Alto. Também é chamada "A alma de toda a carne é o seu sangue", que se refere à alma vital. Já a alma intelectual é o ponto no coração (antes da sua conclusão, como no versículo “E o meu coração está desperto”). Como a alma vital se expande da Klipa Noga, é chamada "acidental", ou seja, o oposto do eterno. Já a alma sagrada é chamada "eterna", pois é uma porção de Deus do Alto.


A Diferença entre os Corpos dos Idólatras e os Corpos de Israel
Agora devemos fazer o escrutínio de acordo com o que está escrito: "Nenhum dedo se ergue abaixo, a menos que tenha sido mencionado acima". E também: "As nações são como uma gota num balde e são contadas como o pó fino da balança".
Como podem ambas as afirmações coexistir? Pois é evidente que a Providência e "o pó da balança" ou "uma gota no balde" não parecem estar de acordo, pois no Criador não há pensamento sem acto, nem acto sem propósito, mesmo como nas pessoas?
De facto, é por isso que existe uma diferença entre os corpos dos idólatras e os corpos de Israel. O corpo de um servo do Criador é julgado por Ele em Providência Particular, de acordo com a Vontade Divina e com o propósito desejado. Assim, ainda que o corpo seja, desde a sua origem, uma Klipa insignificante, mesmo assim ele apareceu no pensamento do Criador como um instrumento de trabalho. Já os corpos dos idólatras, que não são adequados para servir o Criador e que não possuem eternidade, a Providência Particular é unifica neles apenas de forma geral, e não em particular. É como uma pessoa que pesa carne numa balança: ela sabe no seu intelecto, que, com o tempo, vai permanecer algum pó na balança, mas esse pensamento não tem qualquer relevância, pois não há intenção nisso, afinal, para que precisaria ela do pó, e não necessita do corpo de forma alguma!
Vejamos a seguinte alegoria: uma pessoa compra uma caixa com letras de tipografia e entrega-as ao operário para que imprima livros com elas. Assim, toda a impressão ocorre sob a supervisão do proprietário, ainda que ele próprio não seja o operador.
Mas uma coisa é lidar com letras imóveis, que não estão sob a supervisão do Senhorio, pois nunca foi essa a sua intenção. Todos os pensamentos a esse respeito referem-se apenas a ações e não ao vazio e a nulidade. Além disso, o mérito do Senhorio não diminui devido a letras inativas, uma vez que naturalmente, ele não é o operador. No entanto, o mérito do operador é de facto diminuído, pois permanece inativo e faz pouco uso da bênção que se expande a partir da preparação direta que lhe é concedida.
A lição é que o operador da impressão representa a alma vital, que se expande da Klipa Noga sob duas formas: bem ou mal. Os pontos são extraídos do ponto no coração, enquanto os corpos das letras provêm dos espaços do mundo inteiro.


Ani [Eu]—Anochi [Também significa ‘Eu’]
Se o tipógrafo se aproxima de bons vizinhos, que lhe indicam caminhos e sugestões para boas combinações, esse tipógrafo adquire uma nova forma, chamada “um prato de ouro de dez shekels, cheio de incenso”. A forma inicial da sensação de ‘Ani’ é absorvida por uma nova forma, ‘Anochi’, e esse é o seu galardão pelo bom acto. Nesse momento, o seu mérito alcança o mérito do autor, como um tipógrafo iletrado que imprime livros. Com o tempo, ao estudar os livros pela sua própria necessidade, torna-se erudito e escreve livros como os seus antigos Senhorios. Além disso, passa a oferecer os seus livros a outros tipógrafos, elevando-lhes o salário.
Mas se o tipógrafo se encontra num mau ambiente e é levado a imprimir más combinações, extraídas da Klipa do ponto nos seus corações, o vazio da esquerda, torna-se tão perdido e abandonado quanto eles, como o pó de um balde.


Uma Forma Acidental e uma Forma Eterna
Disto se pode compreender que tanto o tipógrafo como a caixa de letras são formas acidentais e não eternas, e o autor não os considera em si próprios. Da mesma maneira, quando se contrata um trabalhador para uma determinada tarefa, não se tem em conta a beleza do seu rosto ou a sua aparência, pois isso não é relevante. O que importa é a sua força e lealdade, e nisso se foca a orientação do Senhorio, ignorando as outras características, que para ele são apenas coincidências (apesar de possuírem significado noutros âmbitos, como no casamento ou nas relações sociais, e isto é considerado como sendo o geral). O propósito do pensamento do seu autor reside na combinação directa e precisa das letras, tornando-as aptas a revelar a sabedoria oculta nessas combinações, de modo que todos os que as observam adquiram essa forma por si próprios e se tornem tão sábios quanto ele. A sua intenção é criar uma nova criação, tão espiritual quanto Ele próprio, de forma semelhante ao desejo dos seres corpóreos—homem, ave ou animal—de preservar a sua espécie.
Este é o significado da preservação da alma para a eternidade, considerado como o ‘Chaf’ [uma das letras hebraicas] único que o tipógrafo adquire. Esta é o novo ‘Anochi’, pois nesse momento ele adquire uma nova forma, igual à do próprio autor, e passa a criar, por si próprio, boas combinações firmes, cheias de bênção e luz. Estas combinações permanecem para sempre como Kelim [vasos] de Hochma [sabedoria], e a sua única ‘Chaf’, que representa o seu ‘Anochi’, é abundantemente preenchida com prazeres de alegria, júbilo e preciosidade, que serão a sua herança eterna.
Conclui-se que o conhecimento e a escolha vêm como um só, pois o tipógrafo não tem livre-arbítrio enquanto imprime livros de outros, e não os seus próprios. Contudo, quando ele é recompensado com despir essa forma e vestir a forma de ‘Anochi’, torna-se um dos escolhidos entre a nação, escolhido por Deus do Alto, como está escrito na Midrash: “Portanto, escolhe a vida”, como aquele que segura as mãos do seu filho, coloca-as sobre uma boa porção e diz-lhe: ‘Escolhe isto para ti’, como está escrito, ‘Portanto, escolhe a vida.’”
Poderíamos dizer que o conhecimento impõe o ato, e se ele soubesse que o ‘Ani’ viria a adquirir o ‘Anochi’, então seria forçado a adquiri-lo. Nesse caso, qual seria a recompensa das suas ações? Este é o significado de: “Se caminharem ao contrário de Mim, Eu andarei convosco com ira”, para nos ensinar que a forma adquirida é um novo ser espiritual, criado ao despir a forma corpórea. Qualquer tipógrafo que abandona a sua forma acidental e se prepara para o Criador, o Criador também está pronto para remover a sua forma acidental e substituí-la por uma nova, espiritual. Ele cria nele um novo coração e um novo espírito.
Isto aplica-se àquele que imprime bons livros e se dedica a beneficiar deles na eternidade. Mas aquele que imprime más combinações, que apenas procura nelas o prazer e aquilo que já foi impresso nele desde o nascimento, apega-se à impureza [lit. emissão nocturna] de um mundo passageiro e efémero. Por isso está escrito: “Eu andarei convosco com ira”.
Fica assim claro que esta questão não pertence ao âmbito da espiritualidade, pois é impossível deduzi-la a partir da corporeidade. Por exemplo, se o Criador sabe que Rúben terá um filho, então Rúben teria obrigatoriamente um filho mesmo sem o acasalamento do masculino e do feminino. Tal coisa é impensável, pois, segundo o absurdo desta questão, deveríamos dizer que Ele sabia tudo o que a pessoa faria após todos os escrutínios e que é compelida.
E o impressor que se apega à impureza cai necessariamente na ira também, e não se deve dizer que não merece ser punido por não ter escolha ou livre-arbítrio, pois o castigo é a própria forma em que se encontra, tal como antes da criação e ausência. Não se trata de um castigo vindo do Criador, mas sim do facto de Ele não ter criado aquele que não deseja ser criado, deixando-o na sua forma acidental, sem que este assuma uma nova forma espiritual e eterna.
Nesse sentido, podemos questionar sobre o sofrimento das almas no Inferno. Isto relaciona-se com o ponto no coração antes de ele ser incluído na sua raiz. Ele precisa de expulsar a sua impureza do mundo material, e isso é um castigo amargo para ele, mas não é considerado uma vingança, mas sim uma grande salvação. Este é um assunto muito profundo, e compreenda-o como Arvut [(garantia mútua), que também pode significar “agradabilidade”], como um princípio universal.


Não Existe Pluralidade na Essência da Eternidade
…com efeito, aquele que semeia para obter pão não é meticuloso na escolha do lugar, um lugar em particular, mas sim na relação positiva entre o lugar e a sua semente. Qualquer lugar onde semeia e encontra pão suficiente, fica satisfeito, sem procurar lucro ou qualquer outro valor no próprio lugar, pois é o mesmo em toda a parte. Este é o significado daquilo que se deve dizer: "O mundo foi criado para mim", pois todo o mundo lhe é valioso. O mundo inteiro foi criado apenas para esta missão, pois não há pluralidade na essência, nem nos discernimentos da eternidade e todas as formas das almas são uma essência única e singular, pois não há "parte" na espiritualidade, e toda a questão da carência e da correcção é uma nova criação que ocorre ao despir-se a forma antiga. Estes são os entretenimentos do Criador, como está escrito: "O rei é glorificado na multitude do povo."
Devemos compreender que não há pluralidade de entretenimento no Criador, quer seja na redenção geral de todo o mundo de uma só vez, quer seja na redenção de uma única alma num único momento. É assim porque pessoas e corpos distantes não foram acrescentados sem tempo, pois um de cada vez é chamado 'dois acoplamentos', do céu e da terra. Já duas pessoas ao mesmo tempo são chamadas “um acoplamento”, e a alma pertence a ambas de forma totalmente igual, sem subtração ou acréscimo, independentemente da sorte, tempo, causa ou idade, pois todos os que nascem no mesmo tempo partilham o mesmo destino.
Assim, torna-se claro que o propósito principal da criação dos 6.000 anos é multiplicar as gerações e os tempos, nos quais os acoplamentos vão mudar e multiplicar-se, mas não os corpos. Caso contrário, seria difícil, pois Ele poderia ter criado todos os corpos dos 6.000 anos num único ano. Além disso, é sabido …que os corpos são renovados, e os primeiros reencarnam, regressando em tempos e gerações, ou seja, a sua "alma vital", que é a raiz do nível falante.
Portanto, o Criador não se importa de todo com qual corpo vai revelar o desejo, desde que o desejo seja revelado, independentemente de quem o revela. Tal como não importa a aparência do tipógrafo, desde que o livro seja impresso. Mas os tipógrafos em si, que são numerosos no mundo, são como a gota num balde e o pó da balança, consumidos e perdidos na sua própria ira. No entanto, precisamos de um tipógrafo hábil no seu trabalho, e quem se dedica a este trabalho recebe a sua recompensa completa e o conhecimento não exige um rosto em particular, mas sim todo aquele cujo coração é generoso, que eleve uma contribuição ao Senhor, e quanto mais depressa o fizer, melhor será, em si próprio.


A Criação é, Acima de Tudo, a Eternidade na Criação
Explicação: O Criador é omnipotente, e portanto, ainda que as criaturas sejam como os animais, aquele que é recompensado por anular o seu desejo diante do desejo do Criador, Ele concede-lhe e cria nele um novo espírito e um novo coração, colocando-o como soberano sobre todas as Suas obras, como está escrito: "Por Mim reinam os reis." Isto é semelhante a um vice-rei, a quem é entregue toda a governação do reino. E aquele que é favorecido por este que foi recompensado, Ele retira-o da providência atribuída às Klipot (cascas) e coloca-o sob a Providência estabelecida para a eternidade, e então, o Criador cumprirá a vontade dos que O temem. Este é o significado de: "Assim como Eu crio mundos, assim os justos criam mundos."
Isto acontece desta forma porque a criação é principalmente acerca da eternidade na criação, onde o eterno na primeira criação deste mundo, ou seja, Adam HaRishon (o Primeiro Homem), a criação do Criador, é atribuída ao Criador. Mas de Adam em diante, essa criação é concedida aos justos de cada geração. São eles que governam os mundos conforme desejam e querem, pois "O justo decreta, e o Criador cumpre."
Devemos saber que, por esta razão, a providência da corporeidade não necessita de mudança de forma alguma, pois a espiritualidade não está sujeita aos limites da corporeidade e é adequada à perfeição em todos os limites da realidade corpórea.
É por isso que o mundo está repleto de cadáveres inumeráveis, a ponto de, mesmo que se estabelecessem 600.000 justos, ainda assim teriam a capacidade de se ocupar na criação de novos mundos. Contudo, tudo segue a interioridade, que é a Providência, onde o justo decreta e o Criador executa. E o sentido de excedente nesse processo é como a gota num balde ou o pó da balança, pois a natureza não pode considerar aquilo que não tem valor.
A alma vital é considerada corrompida e prestes a ser queimada, sem valor de existência. Ela é chamada "poluição", para indicar que a sensação de existência própria está sob a ira da poluição, e é meramente acidental. Porém, uma alma que adquire uma parte de Deus do Alto é chamada "ser", e este é o significado de: "Para dar existência [“ser”] àqueles que Me amam, e encher os seus tesouros." Apenas deste "ser" podemos falar, e não de todas as Klipot que precederam a sua formação, cuja existência é apenas acidental, presente durante o trabalho, e finalmente destruída. Os céus e a terra vão gastar-se como um vestido e apenas o desejo adquirido vai permanecer para toda a eternidade.
Através desse "ser", existe pluralidade conforme as gerações e os tempos, como reencarnações. Por esta razão, não há divisão na inovação do "ser" entre um único corpo e todos os corpos do mundo, pois a análise e a pluralidade dependem dos "tempos".


(1) "Chaf" é uma letra na palavra "Anochi" (Eu).