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Michael Laitman

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A Essência da Sabedoria da Cabala

Antes de começar a elucidar a história da sabedoria da Cabala, sobre a qual muitos falam, considero necessário iniciar com um esclarecimento profundo sobre a essência desta sabedoria, que acredito que muito poucos conhecem. Naturalmente, é impossível falar sobre a história de algo antes de conhecermos o próprio objeto de estudo.
Embora este conhecimento seja mais vasto e profundo do que o mar, empenhar-me-ei com todas as forças e conhecimentos que adquiri neste campo para o clarificar e iluminar de todos os ângulos, o suficiente para que qualquer pessoa chegue às conclusões corretas, tal como são, sem deixar margem para erro, como frequentemente acontece em tais assuntos.

Sobre o que trata a Sabedoria
Esta questão surge na ideia de qualquer pessoa sensata. Para abordá-la adequadamente, darei uma definição fiável e duradoura: Esta sabedoria não é mais nem menos do que uma sequência de raízes que descem através de causa e efeito, seguindo leis fixas e determinadas que se entrelaçam num objetivo único e sublime, descrito como ‘a revelação da Sua Divindade às Suas criaturas neste mundo.’"


E aqui há uma conduta geral e particular:
Geral — toda a humanidade, está obrigada a alcançar, eventualmente, este desenvolvimento grandioso, como está escrito: "Porque a terra encher-se-á  do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar" (Isaías 11, 9). "E não ensinarão mais cada um ao seu próximo, e cada um ao seu irmão, dizendo: conhece o Senhor, porque todos Me conhecerão, desde o menor até o maior" (Jeremias 31, 33), e diz ainda: "O vosso Professor já não se vai esconder, e os vossos olhos verão o vosso Professor." (Isaías 30).
Particular — que mesmo antes da perfeição de toda a humanidade, esta regra é implementada em alguns indivíduos escolhidos, em cada geração. Estes são aqueles que, em cada geração, são dotados com certos níveis de revelação da Sua Divindade. Estes são os profetas e os homens de Deus, e como disseram os nossos sábios, "Não há geração sem tais como Abraão, Isaac e Jacó" (Midrash Rabbah, Beresheet, Porção 74). Assim, vemos que a revelação da Sua Divindade é implementada em cada geração, como proclamam os nossos sábios, em quem confiamos.


A Abundância de Partzufim, Sefirot e Mundos
De acordo com o exposto, surge uma questão: sendo que esta sabedoria tem apenas um objetivo, único, especial e claro, porque existe uma abundância de Partzufim, Sefirot e conexões permutáveis, tão predominantes ou recorrentes nos livros de Cabala?
De facto, se observarmos o corpo de um pequeno animal, cuja única tarefa é alimentar-se para que possa existir neste mundo o tempo suficiente para se reproduzir e perpetuar a sua espécie, encontraremos nele uma estrutura complexa de milhões de fibras e tendões, como os fisiologistas e anatomistas descobriram, e há muito mais que os humanos ainda não desvendaram. A partir do acima mencionado, podemos depreender a vasta variedade de questões e canais que precisam de se conectar para formar e revelar esse objetivo sublime.


Duas Condutas—de Cima para Baixo e de Baixo para Cima
Esta sabedoria é geralmente dividida em duas ordens paralelas, iguais e idênticas, como duas gotas de água. A única diferença entre elas é que a primeira ordem se estende de cima para baixo, até este mundo, enquanto a segunda ordem começa neste mundo e atravessa, de baixo para cima, exatamente pelos mesmos trajectos e configurações que foram impressos na sua raiz quando surgiram de cima para baixo.
A primeira ordem é chamada de “a ordem da descida dos mundos, Partzufim e Sefirot”, em todas as suas ocorrências, sejam elas duradouras ou transitórias. A segunda ordem é chamada de “realizações ou níveis de profecia e Espírito Santo.” A pessoa que é recompensada com isso deve seguir os mesmos percursos e padrões, e alcançar gradualmente cada detalhe e cada nível, exatamente pelas mesmas regras que lhes foram impressas na sua emanação de cima para baixo.
Isto porque a revelação da Divindade não aparece de uma só vez, como acontece com a revelação das coisas corpóreas, mas sim gradualmente, ao longo de um período de tempo, dependendo da purificação daquele que a alcança, até que se descubram todos os níveis preestabelecidos de cima para baixo. Visto que aparecem numa ordem de realização, um após o outro e um acima do outro, assim como os degraus de uma escada, são chamados de “níveis” [degraus].


Nomes Abstratos
Muitos acreditam que todas as palavras e nomes na sabedoria da Cabala são uma espécie de nomes abstratos, uma vez que esta trata de Divindade e espiritualidade, que estão acima do tempo e do espaço, onde até a nossa imaginação não tem alcance. Por essa razão, decidiram que tudo o que é dito sobre tais assuntos são apenas nomes abstratos, ou ainda mais sublimes e elevados do que nomes abstratos, pois estão completamente e desde o início desprovidos de elementos imaginários.
Mas não é esse o caso. Pelo contrário, a Cabala utiliza apenas nomes e designações que são concretos e reais. É uma lei inquebrável para todos os cabalistas que "tudo o que não alcançamos, não definimos com um nome ou uma palavra."
Aqui, é necessário saber que a palavra "alcançar/realizar espiritualmente" [Hebraico: Hasagah] significa o nível máximo de entendimento. Deriva da frase Ki Tasig Yadcha ["A tua mão alcançará"]. Isso significa que, antes de algo se tornar completamente claro, como se estivesse agarrado na própria mão, os cabalistas não o consideram alcançado, mas designam-no por outros termos, como entendimento, compreensão, e assim por diante.


A Realidade na Sabedoria da Cabala
Coisas reais encontram-se até mesmo na realidade corpórea diante dos nossos olhos, embora não tenhamos percepção nem imagem da sua essência. Tal é o caso da eletricidade e do magnetismo, chamados de "fluidum" (fluído).
Ainda assim, quem pode dizer que esses nomes não são reais, quando temos um conhecimento completamente satisfatório das suas ações, e não nos preocupamos minimamente com o facto de não termos qualquer percepção da essência do próprio assunto, ou seja, da eletricidade em si mesma.
Este nome é tão tangível e próximo de nós como se fosse inteiramente percebido pelos nossos sentidos. Até mesmo as crianças pequenas estão familiarizadas com a palavra "eletricidade," assim como estão com palavras como "pão", "açúcar," e assim por diante.
Além disso, se quiserem exercitar os vossos instrumentos de escrutínio, posso dizer-lhes que, no geral, assim como não há qualquer percepção do Criador, também é impossível alcançar a essência de qualquer uma das Suas criaturas, mesmo dos objetos tangíveis que sentimos com as nossas mãos.
Assim, tudo o que sabemos sobre os nossos amigos e familiares, no mundo da ação diante de nós, não passa de "conhecimento das ações." Estas são impulsionadas e nascem da associação do seu encontro com os nossos sentidos, o que nos proporciona uma satisfação completa, embora não tenhamos qualquer percepção da essência do assunto.
Além disso, não temos qualquer percepção ou alcance nem mesmo da nossa própria essência. Tudo o que sabemos sobre a nossa própria essência não é mais do que uma série de ações que se estendem a partir dela.
Agora, pode facilmente concluir que todos os nomes e designações que aparecem nos livros de Cabala são de facto reais e factuais, embora não tenhamos qualquer realização sobre o assunto em si. Isto porque aqueles que se dedicam a eles têm a satisfação completa de uma percepção inclusiva na sua plenitude máxima, ou seja, apenas a percepção de ações que são impulsionadas e geradas pela associação da luz superior com aqueles que a recebem.
Contudo, isso é mais do que suficiente, pois esta é a regra: "Tudo o que é medido e se expande da Sua orientação de forma a tornar-se realidade, a natureza da criação, é completamente satisfatório." É como alguém que não deseja ter um sexto dedo na mão, porque os cinco dedos já são totalmente suficientes.


Os Termos Corpóreos e os Nomes Físicos nos Livros de Cabala
Qualquer pessoa razoável compreenderá que, ao lidar com assuntos espirituais, e ainda mais com a Divindade, não dispomos de palavras nem letras com as quais contemplar. Isto porque todo o nosso vocabulário não passa de combinações das letras dos nossos sentidos e da nossa imaginação, e como podem estas ajudar onde não existem nem imaginação nem sentidos?
Mesmo se pegarmos na palavra mais subtil que possa ser usada nestes assuntos, por exemplo "luz superior", ou mesmo "luz simples", ela continua a ser imaginária e emprestada da luz solar ou da luz de uma vela, ou da luz do contentamento que se sente ao resolver alguma dúvida. Como podemos usá-las em assuntos espirituais e formas divinas? Elas não oferecem ao examinador mais do que falsidade e engano.
Isto acontece de forma ainda mais premente quando alguém precisa de encontrar algum fundamento nestas palavras para ajudar nos debates habituais na investigação desta sabedoria. Aqui, o sábio deve usar definições rigorosamente precisas para aos olhos dos leitores.
Caso o sábio falhe com uma única palavra mal sucedida, confundirá e induzirá os leitores em erro. Eles não compreenderão nada do que ele diz antes e depois dela, nem  tudo o que estiver relacionado com essa palavra, como é sabido por quem examina os livros de sabedoria.
Assim, devemos perguntar-nos como é possível que os cabalistas usem palavras falsas para explicar as interconexões nesta sabedoria. Também é sabido que não há definição através de um nome falso, pois a mentira não tem pernas nem fundamento.
De facto, aqui devemos primeiro conhecer a "lei da raiz e do ramo" pela qual os mundos se relacionam entre si.


A Lei da Raiz e do Ramo pela Qual os Mundos Estão Relacionados
Os cabalistas descobriram que a forma dos quatro mundos, chamados Atzilut, Beria, Yetzira e Assiya, começando pelo primeiro e mais elevado mundo, chamado Atzilut, até este mundo corpóreo e tangível, chamado Assiya, é exactamente a mesma em cada item e acontecimento. Isto significa que tudo o que surge e acontece no primeiro mundo encontra-se, de forma imutável, no mundo seguinte, abaixo dele. O mesmo acontece em todos os mundos que se seguem, até este mundo tangível.
Não há diferença entre eles, mas apenas uma diferença de nível, percebida na substância dos elementos da realidade em cada mundo. A substância dos elementos da realidade no primeiro, o mais elevado, é mais subtil do que nos mundos abaixo dele. E a substância dos elementos da realidade no segundo mundo é mais densa do que no primeiro, mas mais subtil do que tudo o que está num nível inferior.
Este processo continua de forma semelhante até este mundo diante de nós, cuja substância dos elementos da sua realidade é mais grosseira e mais obscura do que nos mundos que o precedem. No entanto, as formas e os elementos da realidade e todas as suas ocorrências permanecem imutáveis e iguais em todos os mundos, tanto em quantidade como em qualidade.
Compararam-no à conduta de uma chancela e a sua impressão: Todas as formas na chancela são transferidas perfeitamente em cada detalhe e minúcia para o objecto impresso. Assim é com os mundos: Cada mundo inferior é uma impressão do mundo acima dele. Portanto, todas as formas no mundo superior são meticulosamente copiadas, tanto em quantidade como em qualidade, para o mundo inferior.
Assim, não há um elemento da realidade ou um acontecimento da realidade num mundo inferior que não tenha a sua semelhança no mundo acima dele, tão idênticos como duas gotas de água. E estes são chamados “raiz e ramo”. Isso significa que o item no mundo inferior é considerado um ramo do seu modelo existente  no mundo superior, o qual é a raiz do elemento inferior, pois é aí que esse item do mundo inferior, foi impresso e originado.
Essa foi a intenção dos nossos sábios quando disseram: “Não há uma folha de erva abaixo que não tenha a fortuna e um guardião acima que a encoraja e lhe diz: ‘Cresce!’” (Omissões do Zohar, p 251a [fonte em hebraico], Beresheet Rabbah, Capítulo 10). Acontece que a raiz, chamada “fortuna”, obriga-a a crescer e a assumir o seu atributo em quantidade e qualidade, tal como na chancela e na sua impressão. Esta é a lei da raiz e do ramo que se aplica a cada detalhe e a cada ocorrência na realidade, em cada um dos mundos, em relação ao mundo acima dele.


A Linguagem dos Cabalistas é uma Linguagem de Ramos
Isto significa que os ramos indicam as suas raízes, sendo os seus moldes que obrigatoriamente existem no mundo superior. Isto porque não há nada na realidade do mundo inferior que não provenha do seu mundo superior. Assim como a chancela e a impressão, a raiz no mundo superior obriga o seu ramo, no mundo inferior, a revelar toda a sua forma e atributo, como disseram os sábios: a fortuna no mundo superior, relacionada com a erva no mundo inferior, encoraja essa erva e força-a a completar o seu crescimento. Por isso, cada ramo neste mundo define claramente o seu molde situado no mundo superior.
E desta forma, os cabalistas descobriram um vocabulário fixo e anotado, suficiente para criar uma excelente linguagem falada. Esta permite-lhes conversar entre si sobre os assuntos relacionados com as raízes espirituais nos mundos superiores, mencionando apenas o ramo inferior e tangível neste mundo, o qual é claramente definido pelos nossos sentidos corpóreos.
Os ouvintes compreendem a raiz superior a que este ramo corpóreo alude, pois está relacionado com ela, sendo a sua impressão. Assim, todos os seres da criação tangível e todas as suas manifestações tornaram-se para eles como palavras e nomes bem definidos, indicando as raízes espirituais elevadas. Embora não seja possível uma expressão verbal no seu lugar espiritual, dado que está acima de qualquer imaginação, adquiriram o direito de ser expressos através dos seus ramos, dispostos perante os nossos sentidos no mundo tangível.
Esta é a natureza da linguagem falada entre os cabalistas, através da qual transmitem as suas conquistas espirituais de pessoa para pessoa e de geração em geração, tanto oralmente como por escrito. Compreendem-se plenamente uns aos outros, com toda a precisão necessária para dialogar, na investigação da sabedoria, utilizando definições rigorosas que não permitem equívocos. Isto porque cada ramo possui a sua definição natural e única, e esta definição absoluta aponta para a sua raiz no mundo superior.
Tenha em consideração que esta linguagem de ramos da sabedoria da Cabala é mais adequada para explicar os termos da sabedoria, do que todas as nossas línguas habituais. É sabido, pela teoria do nominalismo, que as linguagens foram corrompidas pelas massas; ou seja, devido ao uso excessivo das palavras, estas vão ficando vazias do seu conteúdo preciso, resultando daí grandes dificuldades para transmitir deduções precisas de uma pessoa para outra, seja por via oral ou escrita.
Isto não acontece com a Linguagem de Ramos da Cabala: ela deriva dos nomes das criações e dos seus acontecimentos, dispostos diante dos nossos olhos e definidos pelas leis imutáveis da natureza. Os leitores e ouvintes nunca serão induzidos em erro na interpretação das palavras que lhes são apresentadas, pois as definições naturais são absolutas e inquebráveis.


Transmissão de um Sábio Cabalista para um Recetor Compreensivo
Assim escreveu Nachmanides na sua introdução ao seu comentário sobre a Torá, e Rav Chaim Vital também escreveu de forma semelhante no ensaio Pesi'ot: “Os leitores devem saber que não vão compreender uma única palavra de tudo o que está escrito nestes ensaios, a menos que sejam transmitidos por um sábio cabalista para o ouvido de um recetor sábio que compreenda com o seu próprio intelecto.” Além disso, nas palavras dos nossos sábios (Hagigah 11b): “Não se estuda a Merkavá [estrutura/epíteto da sabedoria da Cabala] por conta própria, a menos que seja sábio e compreenda com o seu próprio intelecto.”
As suas palavras são completamente compreendidas quando dizem que se deve receber de um sábio cabalista. Mas por que é necessária a sabedoria e compreensão do discípulo com o seu próprio intelecto? Mais ainda, se não for assim, ele não deve ser ensinado, seja ele a pessoa mais justa do mundo. Adicionalmente, se alguém já for sábio e compreender com o seu próprio intelecto, que necessidade terá de aprender com os outros? 
A partir do exposto, as suas palavras são compreendidas com total simplicidade: Vimos que todas as palavras e expressões que as nossas línguas pronunciam não podem ajudar-nos a esclarecer sequer uma única palavra sobre os assuntos espirituais e divinos, acima do tempo e espaço imaginários. Em vez disso, existe uma linguagem especial para estes assuntos, a Linguagem dos Ramos, de acordo com a sua relação com as suas raízes superiores.
No entanto, esta linguagem, embora seja muito adequada para a sua tarefa de aprofundar os estudos desta sabedoria, mais do que outras línguas, só o é se o ouvinte for sábio por si mesmo, ou seja, se souber e compreender a forma como os ramos se relacionam com as suas raízes. Isto deve-se ao facto destas relações não serem  de todo claras quando se observa do inferior para o superior. Ou seja, é impossível fazer qualquer dedução ou suposição sobre as raízes superiores observando os ramos inferiores.
Pelo contrário, o inferior estuda-se a partir do superior. Assim, deve-se primeiro alcançar as raízes superiores tal como elas são na espiritualidade, acima de qualquer imaginação e com uma realização verdadeira, como foi explicado no ensaio “A Essência da Sabedoria da Cabala,” Item 4, “A Realidade na Sabedoria da Cabala.” E uma vez que tenha alcançado completamente as raízes superiores com o seu próprio intelecto, poderá examinar os ramos tangíveis neste mundo e saber como cada ramo se relaciona com a sua raiz no mundo superior, em todas as suas ordens, tanto em quantidade como em qualidade.
Quando alguém conhece e compreende completamente tudo isto, ele tem uma linguagem comum com o seu Professor, ou seja, A Linguagem dos Ramos. Usando-a, o sábio cabalista pode transmitir todos os estudos da sabedoria, realizados nos mundos espirituais superiores, tanto o que recebeu dos seus Professores como as expansões na sabedoria que descobriu por si mesmo. Isto acontece porque agora eles têm uma linguagem comum e compreendem-se mutuamente.
No entanto, quando um discípulo não é sábio e não compreende essa linguagem por si mesmo, ou seja, como os ramos indicam as suas raízes, naturalmente, o Professor não pode transmitir sequer uma única palavra desta sabedoria espiritual, muito menos negociar com ele no escrutínio da sabedoria. Como não possuem uma linguagem comum que possam usar, ficam como mudos. Assim, é necessário que o Maase Merkava, que é a sabedoria da Cabala, não seja ensinado a menos que a pessoa seja sábia e compreenda com o seu próprio intelecto.
Devemos perguntar ainda: Como então, o discípulo se tornou tão sábio a ponto de conhecer as relações entre ramo e raiz através da investigação das raízes superiores? A resposta é que aqui os esforços do homem são em vão; é da ajuda do Criador que precisamos! Ele preenche aqueles a quem favorece com sabedoria, entendimento e conhecimento para obter feitos elevados. Aqui é impossível receber auxílio de qualquer ”carne e osso!”
De facto, uma vez que Ele se tenha afeiçoado a uma pessoa e lhe tenha concedido a realização sublime, essa pessoa está então pronta para vir e receber a vastidão da sabedoria da Cabala de um cabalista sábio, pois só agora é que possuem uma linguagem comum.


Designações Estranhas ao Espírito Humano
Com tudo o que foi dito acima, é possível compreender por que razão, por vezes, encontramos designações e termos que são muito estranhos ao espírito humano nos livros de Cabala. Estes abundam nos livros fundamentais da Cabala, como O Livro do Zohar, os Tikkunim, e os livros do ARI. De facto, é surpreendente perceber porque é que estes sábios usaram designações tão humildes para expressar noções tão elevadas e sagradas.
No entanto, vão entender perfeitamente isto assim que adquirirem as noções acima mencionadas. Isto porque agora está claro que nenhuma linguagem no mundo pode ser usada para explicar esta sabedoria, excepto aquela que seja destinada para esse fim, nomeadamente, a linguagem dos ramos, de acordo com as suas relações com as raízes superiores.
Assim, obviamente, nenhum ramo ou ocorrência de ramo deve ser negligenciado devido ao seu nível inferior, ou deixar de ser usado para expressar o conceito desejado nas interconexões da sabedoria, dado que não há outro ramo no nosso mundo que possa ocupar o seu lugar.
Como não existem dois cabelos que se alimentam do mesmo folículo, não temos dois ramos que se relacionem com uma única raiz. Portanto, ao deixar de utilizar um acontecimento, perdemos o conceito espiritual correspondente a ele no mundo superior, pois não temos uma única palavra que o substitua e indique essa raiz. Além disso, tal acontecimento prejudicaria toda a sabedoria em toda a sua vastidão, dado que agora falta um elo na cadeia da sabedoria ligado a esse conceito.
Isto mutila toda a sabedoria, pois não existe outra sabedoria no mundo onde as questões estejam tão fundidas e entrelaçadas através de causa e efeito, primário e consequente, como na sabedoria da Cabala, que está ligada de cima a baixo tal como uma longa cadeia. Portanto, perante a perda temporária de um pequeno conhecimento, toda a sabedoria escurece diante dos nossos olhos, pois todos os seus assuntos estão estreitamente ligados uns aos outros, fundindo-se literalmente num só.
Assim, não se podem surpreender com o uso ocasional de designações estranhas. Eles não têm liberdade de escolha quanto às designações, para substituir o mau pelo bom ou o bom pelo mau. Devem usar sempre o ramo ou o acontecimento, que aponta precisamente para a sua raiz superior em toda a sua extensão necessária. Além disso, os assuntos devem ser expandidos de forma a proporcionar uma definição precisa aos olhos dos seus leitores.